Discurso durante a 26ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Importância da visita que o Presidente norte-americano, Barack Obama, fará ao Brasil. (como Líder)

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Importância da visita que o Presidente norte-americano, Barack Obama, fará ao Brasil. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2011 - Página 6748
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, VISITA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), NECESSIDADE, DEBATE, MATERIA, INTERESSE, AMBITO INTERNACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, PROBLEMA, TERRORISMO, PROPAGAÇÃO, ARMA NUCLEAR, PRIORIDADE, COMBATE, POBREZA, MUNDO, IMPLEMENTAÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, DEFESA, DIREITOS HUMANOS, AMPLIAÇÃO, ACESSO, CIENCIA E TECNOLOGIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no final desta semana, o Brasil vai receber a visita de um Presidente dos Estados Unidos. Já recebemos diversos Presidentes dos Estados Unidos, mas esta visita se caracteriza por duas coisas extremamente diferentes, e eu quero propor uma terceira diferença.

            As duas primeiras dizem respeito ao Presidente Obama. A primeira é o fato de que é a primeira vez em que um Presidente norte-americano vem ao Brasil antes de o Presidente brasileiro ir aos Estados Unidos.

            Senador Humberto Costa, havia quase que uma espécie de beija-mão de Presidentes brasileiros em direção aos Estados Unidos. A Presidenta Dilma não foi aos Estados Unidos primeiro; ela será a primeira a receber o Presidente norte-americano.

            Claro que é mérito da diplomacia brasileira, da Presidenta Dilma, mas é um mérito muito especial do Presidente Obama. Diante do que representa a República americana, é visto até como natural que a ida de um Presidente norte-americano seja um gesto de boa vontade, e a ida do Presidente dos demais países seja quase um gesto de obrigação. Desta vez, o Presidente norte-americano vem ao Brasil antes que o Presidente eleito no Brasil vá aos Estados Unidos.

            A segunda diferença, Senador, é a característica de cada um dos dois.

            Quando se lê a biografia do Presidente Obama - e eu recomendo, não a biografia dele já Presidente, mas aquela escrita quando ele acabava de assumir o Senado, representando o Estado de Illinois -, vê-se que é uma autobiografia que lembra os jovens revolucionários brasileiros com os quais eu convivi tanto. As leituras que ele coloca no seu livro são as leituras dos grandes mestres internacionais, de críticos sociais incluindo Marx e grandes líderes negros norte-americanos. Não é por acaso que a sua autobiografia é uma referência ao seu pai, negro. E ele assume, ao longo de toda a sua história, até aquele momento, a importância do pai, negro, com quem ele teve uma convivência muito pequena ao vivo, embora uma convivência longa por cartas e por constante contato e até mesmo orientação do ponto de vista político, do ponto de vista existencial.

            Nós vamos receber a visita de um Presidente norte-americano diferente dos outros. Na sua autobiografia, ele chega a mostrar que houve momento em que, não por pobreza, mas até pela vida que tinha o jovem naquele momento, chegou a dormir fora de qualquer casa durante uma visita a Nova York, ou seja, na rua. Ele mostra como foi a vida dele de jovem como organizador social. Opção que fez diferente dos jovens norte-americanos que buscam emprego e procuram se organizar na vida. Nós vamos receber a visita não apenas de um Presidente norte-americano que aceitou vir ao Brasil antes que o Presidente brasileiro fosse aos Estados Unidos, mas de um Presidente completamente diferente dos anteriores, um Presidente que tem uma formação, uma visão de mundo - que nós podemos dizer -do lado da Esquerda, que muitos não querem mais falar, mas insisto em falar. Essa é uma diferença. A outra é que, do nosso lado, nós também temos a apresentar uma Presidenta que tem uma tradição ideológica, que tem uma posição clara e uma visão de mundo. Isso permite criar uma expectativa para aquilo que quero sugerir aos serviços diplomáticos brasileiros que procurem trabalhar.

            Nós temos, pela primeira vez, o encontro de dois líderes que, nós podemos dizer, estão à altura do seu tempo; não estão aquém deste tempo, porque este é um tempo muito difícil de se ter estadista. Era fácil ter estadista na Guerra Fria porque você tinha um lado e tinha o outro, assumia o seu lado e fazia um discurso para o mundo inteiro. Tanto os Presidentes norte-americanos como os outros Presidentes não falavam para os seus Países apenas; falavam para o mundo inteiro; criavam programas para o mundo inteiro, como o Plano Marshall, como alimentos para o País, como a criação de diversos bancos de desenvolvimento. Passada a Guerra Fria, os estadistas se apequenaram, voltaram-se para dentro dos seus Países, eles viraram até caixeiros-viajantes, preocupados com o comércio e não com o Planeta inteiro.

            Está na hora de surgiram líderes globais, e nós temos a possibilidade, neste encontro de fim de semana, de dois líderes assumirem posição de líderes globais.

            Para isso, eu acho que eles não podem e não devem ficar na discussão apenas do comércio entre os dois Países. Não devem ficar nem mesmo, Senador Gim Argello, na discussão apenas dos interesses bilaterais. Eles devem fazer um discurso para o mundo.

            Peço um minuto mais, Senador Presidente, se não for pedir demais.

            O SR. PRESIDENTE (Wilson Santiago. Bloco/PMDB - PB) - Dois minutos para V. Exª.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Obrigado.

            Eu tenho o atrevimento, como Senador e Vice-Presidente da Comissão de Relações Exteriores, de sugerir que eles formulem um documento em que, além dos interesses comerciais entre os dois Países e dos outros interesses entre os dois Países, tenhamos também assuntos de interesse do mundo inteiro. Por exemplo, é óbvio que tem de entrar o problema do terrorismo e o problema da disseminação de armas nucleares, sobretudo depois do que vimos e estamos vendo acontecer com a energia nuclear no Japão.

            Entendo que há outros quatro pontos que deveriam trabalhar. Esses quatro pontos seriam, em primeiro lugar, uma grande mensagem ao mundo de que é preciso enfrentar o quadro de pobreza que há no Planeta. Até o tempo dos estadistas globais, eles podiam falar no desenvolvimento. Não precisavam falar em pobreza, porque ela seria eliminada naturalmente pelo crescimento.

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Bastava falar em crescimento econômico que já se falava em diminuição da pobreza. Não é mais suficiente isso. É preciso fazer um discurso que diga: nós temos como erradicar a pobreza. E o Brasil tem exemplo de como fazer isso. O Brasil tem o Programa Bolsa Escola, o Bolsa Família, ou o programa em que a gente precisa avançar, de educação para o mundo inteiro.

            O segundo item é o problema do meio ambiente. Os estadistas globais Dilma e Obama têm de falar para o mundo sobre a necessidade de subordinar o crescimento aos interesses do equilíbrio ecológico.

            O terceiro ponto são os direitos humanos. É claro que devemos defender a autonomia de cada povo, mas essa autonomia tem de ser hoje considerada dentro da visão de um planeta que seja um grande condomínio: cada um é dono da parcela do seu apartamento, mas não pode tocar fogo no seu apartamento, não pode deixar a torneira aberta o tempo todo, tem de respeitar a comunidade global...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Finalmente, o último item é o problema do uso da ciência e da tecnologia a serviço dos interesses dos povos do mundo. Não podemos continuar deixando que milhões de pessoas morram porque não conseguem ter acesso à ciência e à tecnologia já disponíveis, que milhões de crianças não aprendam porque não têm acesso às tecnologias modernas da pedagogia.

            O quarto ponto, Sr. Presidente, de que espero falar nos segundos que está me dando, que eu gostaria de ver a minha Presidenta e o Presidente do Estados Unidos, que acho que todos temos de respeitar, abordando: o problema da subordinação do crescimento ao meio ambiente, o problema da luta pela erradicação da pobreza, o problema dos direitos humanos como valores fundamentais do ser humano e, finalmente, a ideia de que a tecnologia tem de servir a todos. Respeitemos os direitos autorais, mas a serviço dos interesses dos povos.

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Dois estadistas globais se reúnem, mas, para isso, eles têm de assumir a posição de globais. Eles não podem ficar prisioneiros dos interesses específicos apenas dos seus Países. Eles não podem ser caixeiros-viajantes discutindo apenas como vender mais um para o outro.

            Este era, Sr. Presidente, o pronunciamento que eu queria fazer, desejando muita sorte para o Presidente Obama e para a Presidenta Dilma, porque a sorte que eles tiverem vai repercutir para todos nós e para as gerações futuras, não só dos nossos dois Países, mas do mundo inteiro.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2011 - Página 6748