Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2011, cujo tema será Fraternidade e a Vida no Planeta.

Autor
Vital do Rêgo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Vital do Rêgo Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO.:
  • Comemoração do lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2011, cujo tema será Fraternidade e a Vida no Planeta.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2011 - Página 6814
Assunto
Outros > RELIGIÃO.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, ABERTURA, SESSÃO LEGISLATIVA, SAUDAÇÃO, PRESENÇA, AUTORIDADE, CERIMONIA, HOMENAGEM, LANÇAMENTO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), ASSUNTO, ATENÇÃO, SOCIEDADE CIVIL, RESPEITO, PRESERVAÇÃO, NATUREZA, MEIO AMBIENTE, PLANETA TERRA.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. VITAL DO REGO (Bloco/PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, amiga valorosa, política do Estado de São Paulo, Senadora Marta Suplicy; Senadora Ana Rita, signatária desta sessão; Rev Sr. Dom José Belisário da Silva - em seu nome, saudamos todos os componentes da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil -; se ao Senador Crivella foi dada a honra de poder ouvir, várias vezes, o Senador Pedro Simon, falando dos seus encantos e desencantos neste Parlamento, para mim, foi a primeira vez, a primeira ao vivo, porque acompanho a trajetória desse cristão, mas, acima de tudo, desse homem de fé. Como dizia Paulo: “No bom combate, ele combate”. As minhas palavras, Srª Presidente, como último orador desta sessão, poderiam ser dispensáveis ante a eloquência, a vida, a doação do franciscano Pedro Simon.

            Como me honra estar no mesmo partido de V. Exª!

            Já se consolidou como uma belíssima tradição, neste Senado, e agora propiciada pela Senadora Ana Rita, a realização desta sessão da Campanha da Fraternidade lançada pela CNBB. Os temas escolhidos a cada ano nos imergem em profundas reflexões sobre os problemas que afligem a alma humana e a vida em sociedade.

            Acima de tudo, a Campanha da Fraternidade nos faz pensar e, principalmente, agir a respeito das atitudes necessárias para a superação desses desafios.

            Srª Presidente, venho de uma família católica e recebo sempre com o coração aquecido pela esperança cristã as propostas anunciadas pela CNBB.

            Ainda que patrocinada pela Igreja Católica, a Campanha já há muito superou diferenças de credo e religiões, pois expressa, antes de tudo, sentimentos comuns à essência de todas as religiões. Seu apelo é universal, é ecumênico, e a Campanha é pautada pelo amor ao próximo e pela boa vontade entre os homens. Seus efeitos benéficos se estendem a todas as pessoas, independentemente da fé que possam professar.

            O tema deste ano é “Fraternidade e Vida no Planeta”. A criação geme em dores de parto. Nada mais pertinente, pois a época em que vivemos é uma época de intensos desafios na área ambiental, que nos forçam a repensar sobre as nossas relações com as demais espécies, os nossos modos tradicionais de exploração dos recursos naturais e a nossa capacidade de interagir de forma sustentável com o meio ambiente.

            Desastres naturais como o do Japão - pesarosamente, estamos vivendo, assistindo, sofrendo com o que está enfrentando aquele país -, com prejuízos incalculáveis em vidas humanas e em patrimônio material, nos obrigam a refletir sobre a relação do homem com o seu ambiente, sobre a nossa pequenez diante da força dos fenômenos naturais, sobre a solidariedade e o amor ao próximo, que precisamos exercitar, plena e permanentemente, sobretudo nessas grandes tragédias naturais.

            Ouço um outro homem extraordinário, educador, companheiro e seu fiel discípulo, Senador Cristovam.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Vital do Rêgo, eu não queria interromper o seu discurso, mas não queria perder a chance de fazer uma participação, Srª Presidente, sem a necessidade de mais um orador. Fico feliz de ter escutado alguns dos pronunciamentos quando aqui cheguei, e pelo sistema que temos de rádio, para dizer da minha satisfação de ver mais um ano de campanha da fraternidade. Com a Campanha da Fraternidade a CNBB tem conseguido fazer aquilo que nós mais necessitamos neste País: despertar. Precisamos despertar este País. Precisamos alertar este País para os problemas que temos adiante. Talvez poucos sejam tão importantes quanto o problema do meio ambiente. Com esta Campanha, espero que consigamos avançar e despertar a opinião pública brasileira e os dirigentes de que é preciso subordinar o crescimento econômico a valores tão altos como a vida no planeta. Não é possível que continuemos comemorando o fato de São Paulo ter hoje sete milhões de automóveis. Isto é comemorar o suicídio, e a gente comemora. Fico muito feliz de, este ano, a Campanha da Fraternidade tenha escolhido um tema que, a meu ver, carrega a radicalidade que os tempos de hoje necessitam. A radicalidade em subordinar a ideia e o propósito do crescimento econômico à vida e ao equilíbrio ecológico no nosso planeta. Parabenizo-o pelo discurso. Agradeço a oportunidade do aparte, mas, sobretudo, parabenizo a CNBB. Agradeço a Presidenta pela generosidade do tempo. Parabenizo-a, porque podemos ajudar a despertar o Brasil para o fato de que o crescimento não pode estar acima dos valores fundamentais da vida do planeta.

            O SR. VITAL DO REGO (Bloco/PMDB - PB) - Senador Cristovam Buarque, os óbices constitucionais, com a pertinência da Senadora Marta, são muito menores do que a importância de ter o pronunciamento ou a declaração de V. Exª neste aparte a este modesto pronunciamento, eu que falo em nome do meu Partido, o PMDB.

            As tragédias que estão acontecendo, a insubordinação a que V. Exª se refere, dos tempos de hoje, em que os valores econômicos parecem subjugar o valor maior, a vida, fazem com que cheguemos a uma situação que poderíamos chamar de limítrofe. Precisamos de consequências imediatas, e a CNBB está atacando, com resolutividade e praticidade, essa questão, como bem disse V. Exª.

            Chegamos a um ponto em que os efeitos nefastos dos nossos atos serão sentidos não daqui a 100, 200 anos, mas hoje, daqui a alguns dias, como estamos sentindo em cada momento de tribulação dessa natureza.

            O tributo por nossos erros será cobrado. Hoje, já é cobrado e será mais cobrado dos nossos filhos e netos.

            Assim sendo, a CNBB, como é de costume, acerta em cheio no tema da Campanha da Fraternidade. Pela 47ª vez ao longo da Quaresma, a Igreja Católica promoverá um itinerário de evangelização cujos efeitos - já podemos antecipar - serão benéficos e transformadores.

            O principal objetivo da Campanha da Fraternidade deste ano, conforme aprendemos no texto base publicado pela CNBB, é a conscientização das pessoas para a gravidade do aquecimento global e das mudanças climáticas, estimulando-as a se engajarem em debates e em ações que visam a enfrentar esses problemas, preservando, assim, as condições de vida no planeta.

            Esse objetivo global, como acontece nas Campanhas da Fraternidade, desdobram-se em ações específicas que envolvem todas as comunidades católicas dos quatro cantos do País.

            Neste ano, entre as metas que a Igreja procura atingir, estão a formação de uma consciência ambiental no que diz respeito à questão do aquecimento, conjuntamente com a identificação de responsabilidade e das implicações éticas envolvidas; a discussão sobre os temas ambientais com ênfase no aquecimento global; o estabelecimento de conexões entre as ações que as pessoas realizam no âmbito local e regional com implicações nacionais e globais dessas ações e a troca de experiências e conhecimentos acerca da questão. Parte importante da estratégia da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil é a proposição de ações de atitudes simples, aparentemente pequenas, mas quando acumuladas provocam mudanças decisivas para a preservação da natureza.

            É o caso, citando apenas alguns exemplos, do descarte seletivo de lixo, do uso limitado de sacolas plásticas, da racionalização do uso da água, do estímulo ao transporte público em detrimento do automóvel, entre outras ações, que uma vez disseminadas e universalizadas entre a população farão a significativa diferença para o meio ambiente.

            Concluindo, Sr. Presidente, proponho que nos recordemos neste momento a figura e o exemplo, Senador Simon, de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais e do meio ambiente.

            Esse frade italiano, de santidade tão inconteste, que foi canonizado apenas dois anos após a sua morte, simboliza, Simon, a perfeita integração entre o homem e a natureza e a compaixão do homem pelas criaturas, sentimento que, definitivamente, deve estar na raiz de nossa postura diante de outros seres do mundo.

            Inspiremo-nos no exemplo e na mensagem deixada por São Francisco de Assis e tomemos parte em iniciativas como essas em prol do meio ambiente.

            O planeta é a nossa casa, compartilhada por todos os seres vivos, e cada um deve fazer a sua parte pela preservação do meio ambiente e pela sustentabilidade dos recursos naturais, que são finitos e, em muitos casos, extremamente frágeis.

            Que a Campanha da Fraternidade - finalmente - continue a ser essa referência para nossas reflexões, este guia para nossos debates e nossas ações, não apenas entre os católicos, mas entre todas as pessoas de boa vontade.

            Muito obrigado, Srª Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2011 - Página 6814