Discurso durante a 32ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a visita do Presidente norte-americano Barack Obama ao Brasil; e outros assuntos.

Autor
Vital do Rêgo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Vital do Rêgo Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. HOMENAGEM.:
  • Comentários sobre a visita do Presidente norte-americano Barack Obama ao Brasil; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 22/03/2011 - Página 7652
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. HOMENAGEM.
Indexação
  • APOIO, ORADOR, DECISÃO, GOVERNO BRASILEIRO, ABSTENÇÃO, VOTAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), INTERVENÇÃO, CONFLITO, PAIS ESTRANGEIRO, LIBIA.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, VISITA, PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), MELHORIA, IGUALDADE, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, MOTIVO, ATUAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, DEFICIENTE MENTAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. VITAL DO REGO (Bloco/PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Minha querida colega Senadora Gleisi Hoffmann, feliz estou eu por poder falar ao Brasil com a presença de V. Exª na Presidência dos nossos trabalhos na tarde e noite de hoje.

            Eu disse, no primeiro encontro que tive com o Sr. Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que a presença dele era bilateral nesse Governo. Tanto desempenhará no Ministério das Comunicações o mesmo brilho, competência e eficácia que teve à frente do Ministério do Planejamento como terá aqui um braço forte para falar do Paraná, do Brasil, da mulher brasileira, que vem constituindo o rico desempenho de V. Exª no meio de todos nós. Parabenizo V. Exª por extensão ao Ministro Paulo Bernardo.

            Meus companheiros colegas Senadores, queridíssima Presidente, nós temos vivido hoje, na imprensa nacional, dois assuntos de relevo no mundo. Primeiro, o acompanhamento das fricções bélicas que estão se desenvolvendo na Líbia. Queria comungar, já e de pronto, com o Senador Eduardo Suplicy, que me antecedeu há pouco, e com meu querido e fraternal companheiro Pedro Simon quanto à prudente avaliação brasileira à frente da ONU e sua manifestação clara pela abstenção de um conflito armado e aberto, tendo em vista o perigo da exposição de civis, que já somam algumas dezenas de abatidos por força da ação multilateral contra o Governo da Líbia.

            A outra notícia que varre o mundo - e esta é extremamente positiva - é a presença do Presidente Obama no Brasil. Sou de uma geração que, quando jovem, via com reservas as relações com os Estados Unidos, magistralmente sintetizadas nas palavras de ordem: American, go home. Não faltavam razões para a desconfiança: apesar de próximos, os países nunca foram íntimos, e a tentativa de estabelecer uma “relação especial” não prosperou.

            Retrospectiva histórica mostra que, durante a Segunda Guerra Mundial, houve o único período em que o Brasil ganhou com essa relação. E o Presidente Obama, em um de seus célebres discursos no País, citou essa relação acontecida durante a Segunda Guerra Mundial.

            Para piorar o quadro, o papel desempenhado pelos Estados Unidos no golpe militar de 1964 ajudou a reforçar essa visão pouco simpática minha e da minha geração. Sou, Senador Paulo Paim, extraordinário líder nesta Casa, um dos órfãos da ditadura militar. No dia 13 de janeiro de 1969, de uma assentada, fruto daquele movimento dito “revolucionário”, perdiam os mandatos de Deputado Federal o meu pai, Vital do Rego, e o meu avô Pedro Gondim. No mesmo dia, de uma assentada, na mesma hora, eles dois, paraibanos, foram vítimas do arbítrio e de uma cassação injustificada. Por isso, desde logo o papel desempenhado pelos Estados Unidos abastecendo e fortalecendo aquilo que foi dito como golpe em 64 feriu de morte a minha geração e, especialmente, a minha família.

            Os tempos mudaram, os Estados Unidos mudaram e o Brasil mudou junto. E não existe simbologia mais forte para retratar essas mudanças que a reunião de um presidente negro norte-americano com Dilma Rousseff, a primeira mulher a presidir o Brasil, uma ex-guerrilheira torturada por esse mesmo golpe de 64, por essa mesma ditadura. O Presidente Obama falou também nesse assunto.

            Complementando esse retrato no Theatro Municipal do Rio de Janeiro estava Alfredo Sirkis aplaudindo Barack Obama, ele que também cerrou fileiras contra a ditadura e gritou palavra de ordem em 64.

            A vinda de Obama ao Brasil, como bem ressaltou o Le Monde, coloca muitas interrogações. E sobre essas interrogações eu quero falar a V. Exªs. O que mobiliza a presença do Presidente dos Estados Unidos no País? A evolução surpreendente da crise no Oriente Médio, que dificulta o acesso norte-americano ao petróleo da região? Essa é uma primeira indagação. Numa situação como esta, o pré-sal brasileiro entra na agenda dos Estados Unidos e ganha a importância que merece.

            Para os Estados Unidos, a Índia aparece, ao lado da China e da Rússia, como centro-chave da influência no mundo, enquanto o Brasil, dia após dia, aparece com uma influência crescente nas decisões mundiais.

            A organização da agenda presidencial é sempre um gesto carregado de simbolismo aqui no Brasil, nos Estados Unidos, em qualquer parte do mundo.

            A primeira viagem internacional da nossa Presidente foi à Argentina, e não aos Estados Unidos, expressando o simbolismo da presença brasileira e mostrando para os dois países a importância vital, querido Senador Ferraço, que nosso País dá à relação no âmbito do Mercosul.

            Foi uma surpresa para mim e para todos nós o anúncio do Presidente Obama ao Congresso americano de que ele viria ao Brasil. O significado desse simbolismo é a disposição política de reatar relações de níveis melhores do que bom como existiam em algum lugar do passado, apesar das nossas diferenças ideológicas e posicionamentos discrepantes.

            Os discursos de ambos os Presidentes foram emblemáticos para desconstruir reservas e definir a posição brasileira no tocante ao papel do nosso País não apenas nas relações bilaterais, mas também no concerto das nações. Cordialidade e contundência definiram a tônica do discurso da nossa Presidente.

            Inicialmente, Dilma Rousseff registrou as identidades dos países que souberam erguer duas das maiores democracias da América e ousaram também levar aos seus mais altos postos um afrodescendente e uma mulher, demonstrando que o alicerce da democracia permite o rompimento de barreiras para a construção de sociedades justas, igualitárias, generosas e harmônicas.

            Fez questão de registrar também que, dos nove chefes de Estado norte-americanos que visitaram oficialmente o Brasil, ele, Obama, era o que encontrava o País em um momento mais vibrante.

            Ao longo do dia de hoje, eu acompanhei os retratos, os registros da imprensa nacional, essencialmente a imprensa televisa, falando da beleza que foi a manifestação popular de acolhimento ao Presidente Obama aqui em Brasília e especialmente na capital carioca. Nas visitas que fez à Cidade de Deus, nas visitas que fez ao Cristo Redentor, ao lado dos seus simpáticos familiares, Obama sempre teve a generosidade, o carinho, a alegria do povo brasileiro para dar enlevo especial à sua presença.

            Em síntese, Dilma defendeu a importância de romper uma retórica vazia que marcou as relações entre os dois países até o passado recente e bateu forte pelo fim das medidas protecionistas que tanto prejudicam o comércio do etanol, da carne bovina, do algodão, do suco de laranja e principalmente do aço, por exemplo, além de defender o alargamento das parcerias tecnológicas e educacionais para o futuro.

            A síntese econômica, o conceito econômico do Governo brasileiro foi muito bem expresso pela nossa Presidente quando pediu, de forma enfática, a quebra dessas barreiras protecionistas.

            Cobrou com firmeza o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Esse, sem dúvida alguma, foi um dos meus desencantos. Eu esperava que o Presidente Obama fosse mais enfático no apoio ao Brasil, em uma luta que não é apenas da nossa Presidente Dilma, mas, faça-se justiça, vem desde o primeiro momento, porque o homem que revolucionou a política brasileira nos últimos tempos, chamado Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu o papel de Presidente da República brasileira.

            Para bem fundamentar os seus argumentos, a Presidente lembrou do trabalho incansável feito pelo Brasil em prol da reforma na governança do Banco Mundial e do FMI e foi incisiva ao descrever o que move o Brasil em direção ao Conselho de Segurança: “a certeza de que um mundo mais multilateral produzirá benefícios para a paz e a harmonia entre os povos”. A multilateralidade dessas opiniões certamente serão fundamentais para a harmonia e a paz entre os povos, essencialmente pela importância que o Conselho de Segurança da ONU tem ainda para todos nós.

            Como capital inestimável, reafirmou o compromisso brasileiro com a paz, com a democracia, com o consenso. Orgulhosamente, detalhou que esse compromisso não é algo conjuntural, mas, diz a Presidente, “é integrante dos nossos valores: tolerância, diálogo, flexibilidade. É princípio inscrito na nossa Constituição, na nossa história, na própria natureza do povo brasileiro”.

            A esse propósito, Obama declarou apreço, ao contrário do apoio explícito que ofereceu à Índia, à proposta brasileira e defendeu regras para a participação do País ou dos países no Conselho.

            Para os analistas, o apoio poderia ter sido mais enfático, e para mim também, mas houve um avanço em relação às posições anteriores dos Estados Unidos, que agora já aceitam a criação de mecanismos para garantir maior equilíbrio entre o conjunto das Nações.

            Dilma foi também bastante feliz e assertiva ao cobrar de Obama uma solução para as desvalorizações competitivas da moeda norte-americana, que refletem uma política monetária que produz complicadores para os demais parceiros comerciais. Isso vale para a China. Isso vale para o Japão. Isso vale para o mundo.

            Ao garantir o cronograma da agenda no Brasil, mesmo depois de iniciado o conflito com a Líbia, o Presidente Barack Obama sinalizou com veemência a disposição de melhorar as relações Brasil x Estados Unidos. O valor simbólico dessa decisão servirá para definir uma nova agenda de negociação entre os dois países.

            Dos dez acordos assinados em Brasília, o intercâmbio entre instituições de ensino norte-americanas e brasileiras beneficiará mais de cem mil estudantes e professores e desponta como uma espécie de senha, cartão, para registrar as preocupações da Presidente com dois temas: educação e inovação.

            Igualmente feliz foi a defesa da tese de que uma aliança entre os dois países se faz, sobretudo, na forma estratégica, na construção comum, mas ela tem de ser uma construção entre iguais, por mais distintos que sejam os países em território, população, capacidade produtiva e poderio militar. Uma construção entre iguais.

            Foi assim, minha querida Presidente, que eu me senti ontem e anteontem como brasileiro. Não me senti mais subjugado pelo poderio norte-americano. Não me senti menor em nenhuma das relações política, econômica e social. Eu me senti do mesmo tamanho. E a construção desse sentimento não vem de agora. Não é um fato isolado. É resultado de um governo. É resultado de ações afirmativas de inclusão social. É resultado da ampliação do poder econômico do povo brasileiro. Hoje nós não somos mais colônia. Hoje nós não somos mais vistos como terceiro mundo. Hoje nós somos um país não em desenvolvimento, mas um país desenvolvido, graças a Deus e às políticas implantadas nesses últimos dez anos.

            Igualmente feliz foi o sinal que o Presidente Obama deu quando falou que nessa relação não há parceiros desiguais, são relações igualitárias. Citou Casa Grande, parceiro sênior e parceiro júnior. Afinal, o Brasil é hoje o quinto superávit dos Estados Unidos. Ou seja, com as nossas importações, estamos gerando emprego lá. Empregos esses indispensáveis para a recuperação da econômica norte-americana, quebrada, fraturada ferozmente nos anos passados. Logo, hoje, a relação de dependência é muito mais complexa, e eles é que já estão dependendo muito mais de nós. Com que alegria falo isso ao povo brasileiro!

            Por sua vez, Obama centrou na força da democracia toda a expectativa de uma parceria bem-sucedida, no que esteve plenamente afinado com o sentimento expresso pela Presidenta Dilma: “A democracia é o melhor parceiro do progresso humano”.

            Para coroar de êxito a visita, a cereja do bolo não poderia deixar de ser o comprometimento com a preservação do planeta por duas nações trilhando caminhos econômicos mais verdes, vencendo desafios energéticos com fontes limpas e renováveis. Nesse contexto, novas parcerias na área de energia certamente trarão embutidos o compartilhamento de tecnologia e a criação de novos empregos, configurando um legado mais saudável, mais limpo e mais seguro para as gerações vindouras.

            Essa é a minha posição, Srª Presidente, a posição do meu Partido, do PMDB, que orgulhosamente ocupa a tribuna nesta tarde e noite de hoje, para dizer: hoje, nós nos sentimos melhores na condição de brasileiros que somos.

            Para concluir, peço a devida vênia para fazer um registro, registro de coração, registro de quem conhece, no convívio interfamiliar, a vida por que passam os especiais. É com muita honra que saúdo a todos os homens e mulheres deste País integrados ao Dia Internacional da Síndrome de Down. Essa síndrome, expressa como uma anomalia genética, há muitos anos vem ganhando estudos e aperfeiçoamento e oferecendo uma vida cada vez mais socialmente inclusa às pacientes e aos pacientes portadores. O Deputado Federal Romário, que tem uma filha, uma linda filha, a Ivy, fez da sua campanha, da sua pregação, um gesto de amor, extrapolando o sentimento interno da sua família para levar ao Brasil a necessidade de se entender mais, de conhecer mais essas síndromes e todas as suas variantes. Hoje estamos vivendo o Dia Internacional da Síndrome de Down.

            E quero cumprimentar, como não poderia deixar de ser, por força de um sentimento paraibano e do necessário compartilhamento que tenho que ter com meu Estado - como a senhora tem com o seu Paraná -, três cidades que, durante o último final de semana, comemoraram suas emancipações políticas: Cruz do Espírito Santo, localizada a poucos quilômetros da capital, a bela cidade de Santa Rita, com população superior a 120 mil habitantes, na área metropolitana da nossa queridíssima João Pessoa, da maior fonte da melhor água mineral do Brasil; e a cidade de Camalaú, localizada a trezentos quilômetros de João Pessoa, uma pequena cidade, mas de um povo vibrante, um povo muito querido, e destaco o artesanato como vocação econômica daquela cidade.

            Muito obrigado, Presidente, pela atenção, pelo carinho. E na certeza de que as relações Brasil e Estados Unidos ganharão cada vez mais importância, a partir da visita do Presidente Obama ao Brasil.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/03/2011 - Página 7652