Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Explicações sobre episódio envolvendo S.Exa. e um repórter da Rádio Bandeirantes.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. IMPRENSA.:
  • Explicações sobre episódio envolvendo S.Exa. e um repórter da Rádio Bandeirantes.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Lobão Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 27/04/2011 - Página 12369
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. IMPRENSA.
Indexação
  • EXPLICAÇÃO PESSOAL, CONDUTA, REFERENCIA, CONFLITO, JORNALISTA, RADIO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, PUBLICAÇÃO, INTERNET, INTEGRALIDADE, ENTREVISTA.
  • APRESENTAÇÃO, PROJETO DE LEI, ALTERNATIVA, LEI DE IMPRENSA, GARANTIA, PRINCIPIO DO CONTRADITORIO, AGILIZAÇÃO, ACESSO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, RESTABELECIMENTO, VERDADE.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco/PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mozarildo Cavalcanti, Srs. Senadores, ontem, perdi a paciência. Reconheço que, ontem, perdi a paciência. Por quê? Pelas razões que passo a relatar.

            No plenário, fui procurado por um repórter da Rádio Bandeirantes. Assunto: os riscos da alta da inflação. Respondi a perguntas sobre o tema e, na sequência, o repórter busca vincular a inflação à pensão que eu recebo por ter sido três vezes governador do Paraná. Também respondi às perguntas dele sobre o assunto.

            Respondi a uma, respondi a duas e, na terceira vez, irritei-me com a insistência. Entendi que não era mais uma entrevista, que havia, nas perguntas, doses de provocação. Ao estilo CQC ou Pânico, o repórter queria como que me extorquir respostas, não para esclarecer o tema, mas para acuar o entrevistado, ao modelo desses programas que citei.

            Foi quando perdi a paciência e peguei o gravador do repórter.

            Por que o fiz? Para que ele não editasse a entrevista, não a picotasse, não a desfigurasse.

            Peguei o gravador, copiei a entrevista e a publiquei, na íntegra, em minha página na Internet. Quem quiser saber como foi a entrevista, acesse a página e a ouça: Robertorequião.com.br.

            Pois bem, o que ouvi e vi ontem à noite na mídia, o que li nos jornais? Duas informações absolutamente equivocadas. Primeira, que me recusei a responder perguntas sobre pensão que recebo como ex-Governador do Paraná. Não é verdade. A prova está na íntegra da entrevista que coloquei na Internet.

            Segunda distorção: tirei o gravador do repórter em uma tentativa de censurar a entrevista. Também não é verdade. A entrevista está toda ela na Internet, postada por mim. Quis evitar que a entrevista fosse editada. Não confiando no repórter, por ver nas perguntas dele uma tentativa de me pôr em armadilha, quis assim eu mesmo ter o controle da entrevista, publicando-a integralmente sem trucagens.

            E houve um jornalista que chegou a dizer que minha atitude, segundo ele, de “censura’, remetia aos anos da ditadura.

            Oh, Deus!

            Srªs e Srs. Senadores, desde que o Supremo fulminou, em boa hora, a Lei de Imprensa, não se dispõe, no País, de um instrumento hábil que regule e assegure o direito de resposta.

            Em meu outro mandato como Senador, apresentei, e esta Casa aprovou por unanimidade, projeto neste sentido. Foi aprovado aqui e arquivado na Câmara, como costuma acontecer com freqüência. Pois bem, estou reapresentando o projeto para garantir a parte que se julgar lesada, acesso rápido aos meios de comunicação para o restabelecimento da verdade. A falta de um instrumento como este tem me deixado, e a tantos brasileiros impossibilitados de defesa, quando vítimas de informações não verdadeiras.

            Srªs e Srs. Senadores, fui Deputado Estadual, Prefeito de Curitiba, três vezes Governador do Paraná e, pela segunda vez, represento o meu Estado no Senado. Tenho as mãos limpas. Não roubar, não deixar roubar, punir quem rouba, esta exortação de Ulysses Guimarães norteou a minha vida pública.

            Hoje pela manhã, um velho companheiro e amigo, o nosso ex-Deputado e ex-Presidente da República, Paes de Andrade, visitava-me em meu gabinete: “Requião, você é assim mesmo - dizia-me ele -: alma forte e mãos limpas”. Mas, às vezes, perco a paciência. Ontem, eu perdi a paciência. Talvez não devesse, mas a perdi. Há momentos em que paciência é virtude. Em outros, a virtude é a paciência. Há momentos, no entanto, em que a indignação é santa, como foi santa a indignação do Cristo no conhecido episódio dos vendilhões do templo.

            Srªs e Srs. Senadores, o jornalismo é, antes de tudo, a busca da verdade, da verdade factual, como diz Mino Carta.

            Eis a verdade dos fatos.

            E a ligeireza, a rapidez é inimiga do aprofundamento e da verdade.

            A Imprensa se acostuma, em determinados veículos de comunicação, plantar ruídos que se afastam completamente da verdadeira natureza dos fatos. Há momentos em que a indignação é uma virtude, em outros, a virtude é a indignação, como foi a do Cristo, ao responder com energia e firmeza aos vendilhões do templo.

            Presidente, obrigado pelo espaço que me concedeu.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte, Senador?

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco/PMDB - PR) - Quantos V. Exª quiser.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Se me permite, Presidente, eu gostaria de expressar ao Senador Roberto Requião que, ainda hoje, a TV Bandeirantes pediu-me uma entrevista e falei: “Olha, disponho-me a fazê-la, mas, antes, quero conversar com o Senador Requião, com quem sempre tive uma relação de muito respeito”. Sei da sua posição tão assertiva em cada momento. Acredito que, na maior parte dos temas, temos tido afinidade de propósitos, e sinto-me, aqui, como uma pessoa que quis lhe dar as boas-vindas por estar de volta ao Senado. No primeiro tempo em que fomos Colegas, tantas vezes batalhamos aqui por propósitos comuns de realização de justiça. Sobretudo, sempre vi em V. Exª uma pessoa que era a favor da transparência ao dizer as coisas com muita honestidade em tudo. Vejo V. Exª como uma pessoa aberta que, em algumas ocasiões, pode, conforme V. Exª há pouco disse, até mostrar a sua indignação, o seu espírito de rebelião com respeito a um eventual episódio, em que um jornalista quis saber de V. Exª opinião a respeito, conforme declarou há pouco, da verba indenizatória do tempo em que foi Governador, e que foi objeto da legislação da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Então, que V. Exª possa ter se indignado, mas eu avalio que, conforme o seu amigo Paes de Andrade lhe fez,...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ...acho importante que V. Exª tenha vindo aqui e, inclusive, dito que a entrevista está divulgada na íntegra. Pelo que tenho notícia, V. Exª devolveu o gravador, porque não caberia ter sido retirado. O jornalista mencionou que gostaria de ter de volta o conteúdo da entrevista, à qual V. Exª disse já estar divulgada, mas eu gostaria até de afirmar que era direito do jornalista lhe perguntar a respeito de assuntos que, como tantas vezes nos são perguntados aqui, sobre tudo o que acontece em nossas vidas, sobretudo àquilo que diz respeito à vida pública. Então, a pergunta relativa ao que se tem passado com a verba indenizatória de governadores é algo, obviamente, de interesse público. É natural que o jornalista pudesse, portanto, perguntar-lhe a respeito. Levando em conta isso, eu, como uma pessoa que se considera seu companheiro aqui no Senado, mas, mais do que isso, uma pessoa que tem tido muita afinidade com propósitos comuns, acho que cabe uma atitude - não sei exatamente como foi que o jornalista fez-lhe a pergunta - para que V. Exª possa recompor a sua relação com esse jornalista da melhor forma possível. Isso é o que eu aqui espero que possa acontecer. Falo como um amigo que aprendeu a respeitá-lo durante os anos de nossa convivência, inclusive quando V. Exª aqui, por vezes, tem reiterado críticas, de maneira construtiva, a eventuais divergências com respeito, por exemplo, à própria Presidenta Dilma, ao próprio ex-Presidente Lula, mas V. Exª sempre o faz com a atitude de quem quer o melhor para o Brasil e o melhor para a Presidenta Dilma, para o Presidente Lula.

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco/PMDB - PR) - Senador Suplicy, eu agradeço o aparte, mas gostaria de informar-lhe que, quando assumi o governo do Paraná, o governo que me havia antecedido tinha gastado, em números corrigidos, nos oito anos, pois ele completou também dois períodos, R$2 bilhões com a imprensa. E eu simplesmente retirei os valores do orçamento do Estado, para que sequer pudesse ser pressionado por esses gastos.

            O regime no Paraná era o regime de chantagem. Assumi e logo veio o recado: apanha o governo se não abrir as burras. A minha reação foi retirar da Proposta Orçamentária todos os recursos de publicidade. Eu fiquei sete anos e três meses sem dar uma entrevista ao vivo à Bandeirantes, à Globo, ao SBT ou a qualquer veículo de comunicação importante do Paraná.

            Eu recomendaria a V. Exª acessar o meu site e ouvir a entrevista. Foi uma entrevista de provocação. Inicialmente, provocação em relação ao Governo. Queriam tirar de mim críticas à política econômica da Presidenta Dilma. Insistiam em que eu devia concordar com que os investimentos públicos tinham de ser cerceados, porque eles estavam causando o processo inflacionário e o déficit do Brasil.

            Posteriormente, inseriram essa pergunta sobre a pensão. Essa pensão existe no Paraná há quarenta anos. Todos os ex-governadores a recebem. A única exceção chamava-se Roberto Requião, porque eu terminei o meu primeiro mandato constitucionalmente, podendo receber a pensão em 2004. E, como vim ao Senado, abri mão dela por dezesseis anos.

            Quando saí do Governo agora, cheguei a uma situação em que tinha dificuldade de receita pessoal para os gastos familiares comuns. Mas, mais do que isso, durante o Governo, denunciei falcatruas: um roubo da Copel de R$144 milhões; vendas de florestas de R$60 milhões por R$1,6 milhão. E denunciei ao Ministério Público todos os responsáveis. Ora, a Justiça é extremamente lenta e, no processo da lentidão da Justiça, andaram rapidamente ações por dano moral contra a minha pessoa, baseadas no fato de que os personagens que comprovadamente haviam metido a mão no Erário ainda não haviam sido condenados em instância final. Então, eu não poderia chamá-los de ladrão.

            É como se V. Exª, Senador Suplicy, encontrasse na Praça da Sé um cidadão roubando a bolsa de uma senhora e gritasse “Pega ladrão” e logo depois fosse processado por ter chamado de ladrão um indivíduo que ainda não havia sido condenado. Surgiriam n hipóteses. Afinal, a bolsa podia ser dele, da esposa dele, de uma amiga. Mas, na verdade, ele era o ladrão da bolsa, e V. Exª seria condenado por isso.

            Então, com danos pesados à minha economia pessoal e familiar, eu resolvi que utilizaria essa pensão, que é paga a todos os outros ex-Governadores: José Richa, por intermédio da mãe do atual Governador, Beto Richa; Jayme Canet, Paulo Pimentel, Jaime Lerner, o meu próprio Vice desta e de outras ocasiões, todos recebendo. E aqui mesmo no plenário devemos ter aí uma boa dúzia de parlamentares, ex-governadores, que recebem a pensão. Mas, não, a Bandeirantes veio com uma encomenda para uma provocação, para conseguir o que afinal conseguiu: irritar-me. Talvez esse tipo de irritação me atinja uma vez por ano, mas essa vez foi ontem. E eu achei que não iria ser depreciado, gozado e provocado impunemente por um estilo CQC de desmoralização dos políticos. Já basta a desmoralização em cima dos salários que recebem os senadores, que é, na verdade, inferior ao salário dos funcionários do Senado, estatutários em fim de carreira, e é inferior ao salário dos juízes, milhares de juízes.

            O Senador Pedro Simon foi constrangido até o desespero porque recebia R$11 mil por mês, enquanto os funcionários do seu gabinete recebiam duas ou três vezes esse valor. A pensão veio como uma compensação para ele que, como eu, não havia, por mais de uma dezena de anos, recebido isso.

            Então, quero dizer a V. Exª que se nesse momento recebi foi porque achei que não era imoral. Defendi o Erário por muitos anos, livrei o Estado de ladrões e de roubos monumentais. E essa tese do pagamento pelo serviço público se relaciona ao fato de que um governador aplica bilhões de reais num Estado como o Paraná a cada ano, e ele precisa ter uma segurança financeira que lhe garanta tranquilidade do período no momento em que ele deixa o cargo.

            Isso tudo se iniciou na Grécia Antiga, na Atenas de Péricles, quando Péricles estabelece a remuneração para os titulares de cargos públicos para que os mais pobres pudessem exercê-los e não, como antes, apenas os ricos. Ele abre para os metecos a possibilidade da assunção de um cargo na administração pública da Grécia.

            Então, Senador, a minha indignação foi muito grande. Fui alvo de uma provocação programada e reagi com irritação. Algumas vezes, Senador Suplicy, a indignação é santa, e nós temos de pôr um fim a esse bullying público que todos sofremos pelo simples fato de, ganhando uma eleição, assumirmos um mandato público.

            Senador Lobão, com todo o prazer, cedo-lhe a palavra.

            O Sr. Lobão Filho (Bloco/PMDB - MA) - Senador Requião, acredito - permita-me a liberdade - que V. Exª pode ter errado, conforme seu próprio discurso, ao tirar o gravador da mão do repórter, mas quero registrar aqui um posicionamento. Pode até ter errado, como também acho que errou, mas a sua história política, a sua história de vida, a sua biografia há de falar mais alto do que esses pequenos episódios. V. Exª já vem sendo julgado há muitos anos. A cada eleição V. Exª é julgado, no seu Estado, pelo seu povo, o povo do Paraná, e sempre julgado com sucesso. E não tenho como não dizer aqui, sendo do partido de V. Exª, que tenho uma grande admiração pelo posicionamento contundente em relação aos grandes temas brasileiros, em relação à sua defesa intransigente de todos os cidadãos do seu Estado. Venho acompanhando isso permanentemente. Portanto, esse é um episódio menor, que é pertinente, no meu entendimento, ao erro humano que todos nós cometemos. Não há ninguém, neste plenário ou fora dele, que possa dizer que, em algum momento de raiva ou descontrole, não tenha cometido um ato impensado. Esse ato, portanto, no meu entendimento, é muito pequeno para se contrapor à sua própria história de vida. Registro mais uma vez: sou profundo admirador de V. Exª pelas suas atitudes em defesa do nosso País, do povo do seu Estado e de todo o povo brasileiro. É o que eu tinha a dizer.

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco/PMDB - PR) - Que fique claro, Senador Lobão, que eu apenas me apossei do gravador para evitar a edição, para evitar o que se pretendia fazer naquele momento, uma edição de desmoralização de um parlamentar sério. Há coisas que eu faço, há coisas que eu não faço. Sou um Senador de atitude. Praticamente, não gasto dinheiro em processo eleitoral. Tomo posição diante de todas as coisas.

            Seria maravilhoso, para mim e para todos os cidadãos brasileiros, que esse episódio me ajudasse a, mais uma vez, aprovar a rapidez do direito de resposta para todas as pessoas agredidas. Já a aprovei quando fui Senador aqui, no plenário, por unanimidade, mas esse projeto acabou sendo engavetado na Câmara Federal.

            Agora, o STJ acabou com a famigerada lei de imprensa. Acho que é um momento correto para resolvermos esse problema e acabarmos com o abuso, com esse verdadeiro bullying que sofremos, nós, os brasileiros, parlamentares ou não, nas mãos de uma imprensa, muitas vezes, absolutamente provocadora e irresponsável.

            Sr. Presidente, pela sua tolerância, o meu muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/04/2011 - Página 12369