O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, trata-se de uma questão de ordem, baseada no Regimento.

            Quero encaminhar à Mesa requerimento com voto de pesar ao ex-Senador Abdias Nascimento, que faleceu esta manhã.

            Faço aqui, Srª Presidenta, a defesa do voto de pesar - não precisaria de defesa - ou a devida justificativa, falando um pouco de Abdias.

            Hoje pela manhã o Rio de Janeiro perdeu um dos seus maiores líderes. Abdias Nascimento tinha 97 anos. Uma das maiores referências da nossa gente e do nosso País. Escritor, poeta, artista plástico, diretor teatral, Senador pelo Estado do Rio de Janeiro, ator, jornalista, político, professor universitário, pesquisador da cultura negra, ativista das lutas contra qualquer forma de racismo e de discriminação. Esse é Abdias Nascimento, ex-Deputado Federal e ex-Senador da República.

            Ele deixa a esposa, Elisa Larkin, filhos e milhares de seguidores pelos quatro cantos do nosso País, que o reconheciam e o tinham como referência e estrela guia de coragem e de ousadia na defesa dos direitos humanos.

            Abdias Nascimento não é patrimônio só do Brasil. Ele continua sendo, pelas suas ideias, um patrimônio da humanidade.Faço de suas palavras um pouco das minhas: quando o assunto é igualdade racial, é o debate contra todo e qualquer tipo de preconceito.

            Srª Presidenta, quando Abdias completou 95 anos, O Itamaraty prestou-lhe uma homenagem internacional. Fui convidado, naquela oportunidade - peço tolerância a V. Exª, em nome de toda a comunidade negra -, e, naquele dia, eu tive o carinho, eu diria, de escrever um verso a Abdias. E vou terminar minha fala fazendo esta homenagem, lendo este pequeno verso. O que eu disse no Itamaraty? Eu disse:

Tua vida, Abdias, foi dedicada a essa causa, a nossa causa, à causa da nação negra.

Abdias, meu velho e querido Abdias, o nosso povo há de contar em versos e prosa a tua história. A história de um guerreiro, a história de um lutador.

Os poetas vão lembrar de Abdias falando de paz, rebeldia, e, tenho certeza, a emoção será tão forte como é hoje o que sentimos quando ouvimos nós a batida de cada tambor.

Falarão de um homem negro, de cabelos brancos, de barba prateada, que, independentemente do tempo, nunca parou.

Fez da sua guerra a nossa batalha, como ninguém. Abdias, foi dele e é nossa a bandeira da igualdade, da justiça e da liberdade.

Abdias, tu és exemplo para todos nós. Tu és um homem que viveu à frente do teu tempo.

Que as gotas de sofrimento arrancadas do teu corpo se tornem pérolas, luzes a iluminar a jornada do nosso povo, da nossa gente. Tu nos deixa uma lição de vida.

Viverás, Abdias, para sempre junto de nós. A rebeldia e a coragem de tuas palavras, que somente os guerreiros ousam, estão cravadas na história da humanidade, nos nossos corações, nas nossas almas, nas nossas mentes.

Sei, Abdias, que tu não estavas preocupado em agradar a todos, mas sei que sua mensagem sempre foi: jamais, jamais deixem de lutar e sonhar.

Sonhem, não aquele sonho bonito que tu gostarias que acontecesse num passe de mágica, mas, sim, o sonho que com nossa luta haveremos de tornar realidade. Esse, sim, será fruto da tua, da nossa vitória.

            Era esse o poema que eu fiz, em 95, a Abdias. E peço gentilmente a V. Exª que coloque em votação, no momento adequado, essa pequena homenagem a este líder, ícone da humanidade, que faleceu hoje pela manhã, com 97 anos: Abdias.

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