Discurso durante a 94ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários acerca da demissão do Ministro Antônio Palocci, no contexto da democracia. (como Líder)

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXECUTIVO. PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Comentários acerca da demissão do Ministro Antônio Palocci, no contexto da democracia. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 09/06/2011 - Página 22613
Assunto
Outros > EXECUTIVO. PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GLEISI HOFFMANN, MINISTRO DE ESTADO, CASA CIVIL, RESPEITO, BLOCO PARLAMENTAR, OPOSIÇÃO, OBJETIVO, APERFEIÇOAMENTO, ESTADO DEMOCRATICO, GOVERNO FEDERAL.
  • COMENTARIO, DEMISSÃO, ANTONIO PALOCCI, MINISTRO DE ESTADO, CASA CIVIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Também aproveito para saudá-los e dizer que aproveitem, estando aqui, para ver qual é o trabalho desta Casa.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nós tivemos, nestas últimas 24 horas, ou pouco mais, uma situação bastante, eu diria, interessante na democracia brasileira. Nós pudemos ver as vantagens da democracia. O que aconteceu com a saída do Ministro Palocci, com todo esse fato, teve um vencedor, Senador Jarbas Vasconcelos: a democracia. A democracia, inclusive, que permite consultores ganharem dinheiro, mas que permite à imprensa levantar suspeitas quando esse ganhador tem um cargo público. A democracia que faz com que esta Casa repercuta o que a imprensa diz ao descobrir. Foi uma vitória nossa.

            A democracia, também, que faz com que um ministro, sobre o qual pesam suspeições, tenha de deixar o cargo, apesar de sua importância. Tudo isso é prova da democracia e da vitória da democracia. Mas precisamos tirar lição disso para a democracia daqui para frente, Senador Aloysio.

            E aí que venho fazer aqui, em primeiro lugar, um apelo à Presidenta da República e também à nova Chefe da Casa Civil: que entendam que democracia se faz com o Congresso, e Congresso se faz com governo e oposição. Essa é a primeira coisa. É preciso respeitar a oposição, e falo como membro do bloco de apoio ao Governo. Por isso que, no aparte à Senadora Gleisi, eu lhe disse que sugeria vir aqui uma vez por mês para tomar um café e conversar com os parlamentares; inclusive, de preferência, com os da oposição. Citei até o Senador Aécio Neves como sendo o convidado dela para tomar café aqui.

            Pois bem. Eu creio que, no espírito da democracia, é preciso haver Governo e oposição, situação e oposição, mas, às vezes, é preciso encontrar posições suprapartidárias. Talvez este seja o grande desafio nosso hoje: encontrar pontos suprapartidários que nos unam em uma luta pelo Brasil.

            Eu cito cinco pontos, Senador Aloysio, e faço um desafio, Senadora Vanessa, ao Governo e a nós próprios.

            1º. Por que não chegamos a um compromisso rígido, de lá e de cá, entre nossos lados, sobre a estabilidade monetária? Aliás, isso tem sido feito ao longo desses últimos dezesseis anos, desde que o Presidente Itamar com o Ministro Fernando Henrique Cardoso construíram uma ideia que, naquela época, não teve o apoio do PT - fico à vontade, porque era do PT, mas eu a apoiei. Refiro-me ao Plano Real. Isso virou suprapartidário.

            Está na hora, no momento em que a gente vê riscos de inflação, de voltar a considerar como suprapartidária a luta pelo controle dos gastos públicos, visando a não deixar que a inflação saia do controle.

            2º. A consolidação da democracia. Isso tem que ser suprapartidário. Isso exige, portanto, que o Governo, que a situação entenda que não é possível continuar governando com medidas provisórias na liberalidade e da forma como é feito. É preciso chegarmos rapidamente a um projeto - e o Senador Sarney vem tentando - que ponha o Poder Legislativo com a força do Poder Executivo no que se refere à definição das leis. Por que a gente não consegue fazer isso de maneira suprapartidária, se até com o Código Florestal estão tentando fazer isso?

            3º. A luta pela erradicação da miséria. A Presidenta lançou um projeto. Eu não sei se é o melhor, mas nós não estamos nos envolvendo nisso. Por que a gente não dá sugestões, não combate alguns aspectos? Não com o objetivo de polemizar oposição e Governo, mas de chegar a uma posição comum de como, de fato,...

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Fora do microfone.) - Pediria um pouco mais de tempo.

            Pediria mais dois ou três minutos, no máximo. Dois minutos.

            Por que não tentamos chegar a algo suprapartidário, Senador Jarbas, sobre a consolidação da democracia, quebrando esse desequilíbrio que existe hoje entre o poder do Executivo e o poder do Legislativo?

            Quanto à erradicação da miséria, como eu dizia, por que a gente não chega a um programa comum que o Governo não comemore sozinho? E, portanto, não seja ele sozinho que elabore e aceite nossas críticas.

            O quarto, até para não sair do meu tema, é uma revolução na educação neste País. Isso não tem que ser uma bandeira de governo; tem que ser uma bandeira de toda a Nação brasileira. Por isso, exige oposição e situação.

            Finalmente, o risco da desindustrialização brasileira. Este País, que deu um grande salto na industrialização, está virando um país agrícola, está virando um país primário. Felizmente ainda o setor agrícola consegue manter a renda nacional crescendo. Mas um país que se baseia sobretudo na renda do setor agrícola não é um país de futuro. O país do futuro é o que se baseia na industrialização fundamentada em ciência e tecnologia.

            São cinco pontos, Senador Cyro, que sugiro. Pode ser uma coisa de Dom Quixote estar falando disso aqui diante da polarização que temos entre situação e oposição, diante de um governo que não ouve a oposição e diante de uma oposição que não traz propostas para o governo - falemos com franqueza.

            Quero aproveitar esse dia em que houve essa vitória da democracia para deixar aqui essa sugestão, esse desafio. Vamos tentar, pelo menos um grupo de nós, encontrar os pontos de acordo, de convergência, em nome da consolidação, de uma maneira mais ampla, da democracia e, para sua alegria, da democracia social no Brasil também.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/06/2011 - Página 22613