Fala da Presidência durante a 62ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem ao trabalhador brasileiro por ocasião do transcurso ontem do Dia do Trabalhador.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao trabalhador brasileiro por ocasião do transcurso ontem do Dia do Trabalhador.
Publicação
Publicação no DSF de 03/05/2011 - Página 13355
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, PARTICIPANTE, SESSÃO LEGISLATIVA, HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, TRABALHADOR, NECESSIDADE, CONTINUAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, LUTA, MELHORIA, TRABALHO.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Muito bem, Senador Alvaro Dias. Esses dois versos vão ser o encerramento da nossa sessão, na voz da grande “La Negra”, grande revolucionária de todo o continente.

            Mas permitam que eu faça um pronunciamento rápido aqui. Primeiro, para dizer que eu queria cumprimentar muito todos os senhores que estão conosco hoje, tanto aqueles que estão aqui como aqueles que tiveram que sair, porque têm suas atividades.

            Olha, acho que uma parte do movimento sindical, naturalmente não todo, ainda não entendeu a importância deste espaço aqui. Dia 1º de maio, nós estarmos aqui no coração do Congresso nacional, no Senado da República, dando oportunidade a cada dirigente de refletir e dizer das suas angústias, das suas reivindicações. Para mim, é uma data que deveria ser mais valorizada, porque é o símbolo da própria democracia.

            Por isso, meus cumprimentos a vocês que estão aqui, e aqueles que não puderam estar aqui quem sabe no ano que vem estejam conosco aqui. Vejam como foi difícil termos este espaço aqui. Vejam como seria importante... Nós falamos tanto nas 40 horas. Aqui nós poderíamos hoje, se assim fosse a vontade do movimento sindical, ter ficado das 9 horas até às 17 horas. Poderíamos ficar, sim, debatendo os grandes temas de interesse dos trabalhadores. Por isso, permitam-me vocês, em homenagem a todos os que estão aqui e aos que estão nos assistindo pela TV Senado, que eu lembre aqui - sei que já foi falado - o dia 1º de maio, a data máxima do trabalhador. Sua origem lembra os operários enforcados no dia 11 de novembro de 1887, em Chicago, nos Estados Unidos, depois de responderem a processo sumário, injusto, porque lideraram a jornada pela luta permanente contra o trabalho infantil e pela redução da jornada. Um tema que era atual lá e é atual aqui.

            Sabemos que é o Congresso que vai votar a redução de jornada de 44 horas para 40 horas, como fizemos na Constituinte, ocasião em que o movimento dos trabalhadores pressionou o Parlamento e, na Assembleia Nacional Constituinte, nós reduzimos a jornada de 48 horas para 44 horas. Esta é a hora da pressão, esta é a hora da mobilização. Por isso, quero enfatizar a importância deste momento, dizendo aqui também que a luta contra o trabalho escravo continua. Alguém tem dúvida de que temos ainda trabalho escravo neste País? Ninguém tem dúvida.

            Alguém tem dúvida de que tanto a Câmara quanto o Senado chegou a montar subcomissão para combater o trabalho escravo, o trabalho infantil e a exploração de crianças e adolescentes, inclusive a sexual?

            Este é o mundo real. Porque nós temos obrigação de fazer o bom debate. E não há problema nenhum. Eu quero dizer que aqui foram lembradas, sim, as obras do PAC. Ora, ou não vamos olhar as obras do PAC? Temos que olhar, sim, o que está acontecendo lá, o que nós entendemos que não deve acontecer e, por isso, os trabalhadores se movimentaram.

            Eu sempre disse e o fiz recentemente num fórum, aqui na Comissão de Direitos Humanos, de juízes que estavam em greve. Eu estava apoiando a greve deles, agora, na semana passada. Ninguém faz greve porque gosta. Acham que trabalhador da construção civil, metalúrgico, professor, juiz ou bancário faz greve porque gosta de fazer greve? A greve é um grito de alerta. É um grito de desespero para que as autoridades sentem e discutam as condições de trabalho, enfim, a situação do trabalhador.

            É assim que eu vejo o dia 1º de maio. Eu não contesto se quiserem sortear automóvel, caminhão, bicicleta, apartamento, mas que a marca nossa tem que ser mantida. É a marca das reivindicações, senão a gente fica num país de faz de conta. E vocês, dirigentes, têm obrigação de alertar e cobrar, inclusive de nós. Vocês têm que vir aqui e dizer como está saúde. Se acha que está bom, tudo bem, deixa como está. Mas eu sei que não é a visão de vocês.

            Estou apenas ilustrando aqui a minha fala. Temos problemas na educação? Temos. Temos que avançar? Temos. Queremos mais casas, queremos saneamento básico, queremos combater a violência. Este País é campeão de acidentes de transito, eu diria de doenças e, aqui foi dito também, no trabalho.

            Essa é a reflexão que temos que fazer. Falo a verdade que sinto saudades de uma caminhada que fiz em plena ditadura, 1983, de Canoas a Porto Alegre a pé. Saímos de Canoas com dois mil trabalhadores; chegamos em frente ao Palácio com cerca de trinta mil trabalhadores, exigindo fim da ditadura e as bandeiras que estamos reivindicando até hoje.

            Então, esse caminho, essa vida faz com que a gente, neste dia de uma rápida reflexão, é preciso, retome as grandes caminhadas. Às vezes, repito que a sociedade só se manifesta de forma positiva aqui no Congresso Nacional, atendendo reivindicações dos trabalhadores, dos aposentados, dos pensionistas, a partir das batidas dos tambores. Se os tambores não baterem nas ruas, o Congresso não reflete. Todas as vezes em que avançamos aqui em leis para os trabalhadores foi quando os tambores nas ruas foram batidos.

            Eu, quando estive na África do Sul, em nome do Parlamento, exigindo a libertação de Nelson Mandela, lembro-me do povo na rua batendo tambor e dizendo: amandla, amandla, amandla, ou seja, liberdade, liberdade, liberdade. E a liberdade lá aconteceu.

            Nós, aqui, com nossas bandeiras, seja do fim do fator, ou alguém tem dúvida de que o fator é um dos maiores crimes que cometeram contra os trabalhadores? Nós não mudamos ainda. É correto que o trabalhador que ganha R$1 mil, na hora de se aposentar, reduz pelo fator para R$500, para um salário mínimo? Enquanto que o Legislativo, Executivo, o Judiciário, o Legislativo do qual faço parte, não têm fator e o limite para se aposentar chega a R$27 mil.

            Essas coisas, o movimento sindical tem que dizer e com razão. Não é contra ninguém, é a favor dos trabalhadores do campo e da cidade, é a favor dos aposentados e pensionistas, é a favor da nossa juventude, é a favor dos professores que estão aqui. Enfim, é a favor daqueles que tocam a máquina deste País. Este País não é tocado sem os trabalhadores. Os heróis que tocam a máquina deste País são os trabalhadores.

            Claro que não vou ler este pronunciamento. Claro que tivemos avanços a partir do Governo Lula, mas não é por que tivemos avanços - e sou do PT -, que agora se vai dizer: tá tudo bem, tá tudo bem! Como tudo bem? Não é isso o que as ruas dizem. Temos que atuar mais, avançar mais, exigir mais, porque esse é o nosso papel; esse é o papel dos dirigentes. Nosso papel é esse, caso contrário não haveria razão de ser.

            Eu poderia aqui falar de questões pontuais, da luta dos trabalhadores, que listei aqui: da redução, do fator, dos aposentados, da saúde, da educação, de mais investimentos no ensino técnico, mas quero terminar somente com algo que escrevi aqui. E termino.

            Meus queridos amigos e amigas do movimento sindical, trabalhadores do meu querido País, que estão aqui ou que estão assistindo pela TV Senado a esta sessão de homenagem ao trabalhador, vocês sabem tanto quanto eu que as coisas só acontecem no Congresso Nacional e nos palácios de Brasília, ou nos dos Estados se os tambores estiverem batendo nas ruas.

            Temos que ter a coragem de voltar às grandes caminhadas, às manifestações, às cobranças, inclusive de mim, aqui no Parlamento. Se deixarem de cobrar de mim, estão errados; se não cobrarem do Paim cada vez mais uma atuação firme em defesa dos direitos dos trabalhadores, dos homens e das mulheres, das crianças deste País, porque fomos eleitos para isso. Não deixem de nos cobrar.

            Quando a gente marca uma sessão como esta, está claro que vocês não vêm aqui para nos homenagear. Vocês vêm aqui para cobrar. Cadê os projetos de interesse dos trabalhadores que esta Casa não votou? Se fizermos uma listagem rápida, dá mais de 100, no mínimo; só para uma simbologia, dá mais de 100 no Congresso.

            Quero dizer que jamais haverei de esquecer minhas raízes. Quero dizer que jamais vou esquecer os heróis que tombaram nas duras batalhas ao longo da vida em defesa dos trabalhadores. Jamais vou me esquecer daqueles que ficaram somente com as cicatrizes que o tempo deixou estampadas na pele; que não receberam medalhas, mas que continuam peleando, porque sabem muito bem que esse caminho, de luta permanente, é obrigação nossa.

            Thiago, que está aqui ao fundo; Frei David, que teve que fazer uma manifestação nas lojas, para que parem de, todo negro que entra, ir para cima, torturar, bater, prender, porque é negro, antes mesmo de conferir se cometeu algum ato ilegal ou não. Você me entregou um documento nesse sentido, hoje, mandado pelo Frei David, que ocorreu em São Paulo.

            Eu diria para vocês: é fundamental nos prepararmos para as novas batalhas que com certeza virão, pessoal! Temos que nos manter sempre, eu diria, de corpo e alma presentes, coração batendo e exigindo melhorias para os trabalhadores do nosso País, homens, mulheres, enfim, para toda a nossa gente.

            Termino somente dizendo para vocês: vida longa! Vida longa à luta dos trabalhadores do campo e da cidade! Sem batalha não há vitória, por isso quero ser fiel às minhas raízes, caminhando sempre ao lado de vocês.

            Muito obrigado a todos. (Palmas.)

            Eu pediria que encerrássemos, ouvindo a grande cantora Mercedes Sosa. Música: “Eu só peço a Deus.”

            Assim, encerramos a sessão.

            (Procede-se à execução da música “Eu só peço a Deus”.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/05/2011 - Página 13355