Discurso durante a 122ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise das mudanças na economia mundial nas últimas décadas, alertando para as fragilidades da economia brasileira.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Análise das mudanças na economia mundial nas últimas décadas, alertando para as fragilidades da economia brasileira.
Aparteantes
Alvaro Dias, Pedro Simon, Romero Jucá.
Publicação
Publicação no DSF de 15/07/2011 - Página 29713
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, NECESSIDADE, BRASIL, OBSERVAÇÃO, PROBLEMA, PAIS ESTRANGEIRO, GRECIA, MOTIVO, IMPEDIMENTO, DESVALORIZAÇÃO, PLANO, REAL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Eu esperei um pouco para poder dizer Srª Presidenta, em vez de dizer Sr. Presidente, com todo o respeito que eu tenho.

            Srª Presidenta, Senadora Vanessa Grazziotin, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, já faz uns 40 anos que comecei a estudar economia. Deixei a minha profissão inicial de engenheiro e fui estudar economia. Fui ser professor de economia e sou até hoje.

            Confesso - e o Senador Pedro Simon vai terminar concordando comigo - que nunca imaginei, 40 anos atrás, que eu teria tantas surpresas ao olhar ao redor.

            Quando eu comecei a estudar economia, a China estava mergulhada na Revolução Cultural. A China era um caos de mais de 700 milhões de habitantes naquela época.

            Quando eu comecei, a Coreia tinha a metade da renda per capita do Brasil e era um país saindo de uma guerra civil terrível, trágica, que dividiu o país em dois e matou milhares de pessoas. Naquela época, 40 anos atrás, a Finlândia era um país que ainda recebia ajuda externa porque era um país que estava saindo da derrota e que tinha perdido uma parte substancial do seu território para a União Soviética, era um país exportador de madeira.

            Eu, 40 anos atrás, via a disputa entre socialismo e capitalismo; os estudos econômicos quase que se restringiam a essas duas alternativas. E a Europa estava começando a se recuperar da Segunda Guerra, mas envolvida na crise de maio de 68, envolvida em uma Alemanha divida em dois, com uma cortina de ferro por perto.

            Hoje, quando a gente olha ao redor, cada dia tem surpresas - e surpresas imensas. Ontem, por exemplo, quando a gente assistia aos jornais da noite, o que é que a gente via? Duas notícias surpreendentes. Uma, a China cresce a 9% ao ano, e graças ao consumo da sua classe média. Isso era inimaginável alguns anos atrás - nem o crescimento de 9% e nem graças a uma classe média. Quarenta anos atrás não havia classe média na China, havia uma classe única, que era a média de todo mundo com a roupa igual. Aparece na televisão falando dos 9%, os aparelhos que a classe média hoje compra na China e os automóveis que compram. É uma surpresa total! E no mesmo momento, o que a gente vê, para a surpresa de todos, é que os Estados Unidos sofreram um rebaixamento na sua classificação de credibilidade no mercado internacional. Caiu do AAA para o AA. É como se um país que era sempre campeão passasse a ser vice-campeão, e não mais campeão. Isso era inadmissível e inacreditável poucos anos atrás.

            É uma surpresa também quando a gente sabe a maneira como essa nota é dada aos países. Uma instituição privada, um instituto de análise, cada dia, cada semana apresenta a nota de um país, como se o país fosse um aluno. A nota de Portugal, há pouco tempo, foi de reprovação; dos Estados Unidos, ainda não. A nota da Grécia foi de reprovação.

            As notas dos países europeus, salvo alguns, têm sido notas de preocupação, de quem está no limite entre a aprovação e a reprovação. É como se estivessem com nota 6, outros com nota 4 e alguns com notas 1, 2, 3, lá embaixo.

            Essas são surpresas que a gente tem. Um instituto chamado Moody’s que faz um indicador chamado Moody´s, o indicador Moody’s, dá notas de qualificação. A surpresa de os Estados Unidos serem rebaixados é uma surpresa realmente muito forte, mas, ao mesmo tempo, quando a gente compara quarenta anos atrás com hoje, a gente nota uma evolução do Brasil nessas notas.

            O Brasil passou da segunda categoria para a primeira categoria, embora lá atrás. É como se um time de futebol saísse da segunda divisão e fosse para a primeira, mas como lanterninha da primeira. Nós não somos mais das categorias BA, lá embaixo, mas somos das categorias BAA, que é de lanterna da primeira divisão.

            E essa nota que vem saindo é uma nota que inspira preocupação no Brasil e, aí, mais uma surpresa que a gente tem: como não aprendemos com as lições que são dadas todos os dias no mundo. Nem os políticos, nem os investidores, nem os economistas, nem os bancos, nem os empresários dão a impressão de estarmos aprendendo.

            Um livro recentemente saído, que tem por título Cobiça e que dá a história dos bancos americanos dos anos 70 para cá, é a história da repetição de crises, de fracassos, de ambições, de ganhos, claro, por alguns e, ao mesmo tempo, é um livro que mostra que ninguém aprende a lição, que nós continuamos cometendo os mesmos erros.

            A Grécia está aí como exemplo. A Grécia nos ensinou tanto no passado, ensinou democracia, ensinou arte. A Grécia hoje está nos passando uma lição maior, talvez, do que aquela de Sócrates, Aristóteles e Platão, com a diferença de que Sócrates, Aristóteles e Platão nos ensinaram pelo avanço que conseguiram na maneira de pensar, na maneira de fazer política, na maneira de fazer arte. A Grécia hoje está nos passando uma lição de como não devemos fazer.

            Mas a gente parece que não está aprendendo, Senador Alvaro Dias, parece que a gente não quer ver os riscos adiante. Parece que preferimos nos deslumbrar com a situação de que estamos bem, sem olharmos que vamos mal.

            No presente, graças aos últimos dois governos, sobretudo... Aliás, três, desde o Plano Real, com o nosso Presidente recém saído da nossa convivência, Itamar Franco, que iniciou essa revisão; Fernando Henrique, que tinha sido Ministro da Fazenda, portanto, teve mérito no primeiro momento e durante oito anos fez a consolidação e o Presidente Lula, que, ao longo do processo de suas derrotas anteriores, percebeu que não se brinca com a economia, a gente cria mecanismos de transferência de renda, mas é preciso fazer a renda. E os fundamentos da política econômica, a abertura hoje comercial, o funcionamento livre do mercado e a responsabilidade fiscal, com esses três pilares não dá para brincar e mexer. Felizmente, o Governo Lula entendeu e tivemos um período de tranqüilidade, com crescimento, embora muito baixo - o Senador Alvaro tem razão - quando comparado com outros países, mas uma estabilidade monetária e a recuperação rápida de uma crise que não chegou nem a afetar tanto aqui como em outros países.

            Quando olhamos adiante, temos que abrir os olhos para os riscos que aí estão. O risco do superendividamento das famílias, o risco do endividamento das empresas, inclusive endividamento em moeda estrangeira, que hoje é facilitado pelo valor do real. Mas amanhã podemos sofrer uma reviravolta completa, porque a balança comercial não pode nos dar a tranquilidade no que se refere à fortaleza do real. O real é forte, mas está caminhando em cima de um terreno frágil, e as mais fortes pernas afundam quando caminham sobre o pântano. Não estamos ainda no pântano, mas não estamos tendo saldos que tivemos no passado e nos davam tranquilidade para fortalecer a moeda. Nossa moeda está forte, muito mais do que antes, primeiro, por causa da responsabilidade fiscal, que nos dá uma estabilidade aqui dentro; segundo, pelo fluxo de moedas estrangeiras que vêm para cá, e só uma parte para investimento, que vai gerar retorno. A maior parte é para investimento especulativo, de curta duração, e até mesmo investimentos que não geram retorno de produção industrial e nem permitem exportação, como os grandes investimentos que outros países iludidos, como Portugal e Espanha, fizeram no setor imobiliário.

            Pois bem, as surpresas que temos tido devem nos despertar para sabermos que, se por um lado é muito agradável termos a surpresa de um real forte, a surpresa de uma moeda estável. Por outro, temos de nos preparar para surpresas, adiante, negativas, surpresas que podem nos trazer problemas muito sérios por não estarmos aprendendo as lições de outros países. Países que tiveram moeda muito forte, como a Grécia, que é o euro, que ficou amarrado a essa moeda. Países que gastaram dinheiro demais, também como a Grécia, que gastou dinheiro demais, inclusive fazendo Olimpíadas, como nós vamos fazer. Apesar de o nosso tamanho ser muito maior que o da Grécia, de qualquer maneira, vai haver um custo, sobretudo quando se soma ao da Copa. Só aqui, no Distrito Federal, vai ser feito um estádio para 70 mil, e nunca tivemos mais do que 10 ou 15 mil espectadores num jogo de futebol. Nem time, temos aqui, salvo o Gama, que é um dos nossos orgulhos, fora do Plano Piloto.

            Pois bem, precisamos aprender com as surpresas para abrirmos os olhos para as surpresas que podem estar guardadas para nos surpreender na esquina da história, dentro de mais um, dois...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF)  - ...três, cinco anos.

            Eu quero falar do entusiasmo que é viver num tempo de grandes surpresas. Este é um tempo em que não há monotonia. Este é um tempo em que quem lê jornal se deslumbra a cada dia até com as surpresas negativas, mas monótono não é ler jornais. Eu falo jornais na parte econômica, nem falo na parte política, porque aí temos ainda mais surpresas a cada dia, com gente que vai de um lugar a outro, com gente que muda e até com esses escândalos que surgem de corrupção.

            Eu quero chamar a atenção para algo: a beleza das surpresas pode ser muito boa para o existencial de cada um da gente, pois não temos monotonia e é uma vida divertida, de surpresas, mas, para um país, a surpresa se chama também tragédia. Para um país, tragédia e surpresa rimam, apesar de os poetas não poderem fazer essa rima do ponto de vista formal. E nós temos uma responsabilidade, Senadora Vanessa. Esta Casa não pode ser pega de surpresa, e ainda menos não podemos deixar que o povo brasileiro seja pego de surpresa por causa do nosso silêncio.

            A economia brasileira está bem, mas ela não vai bem, Senador Jucá. Ela não vai bem, quando a gente analisa os entulhos que, lá na frente, podem impedir a nossa caminhada.

            Era isso, Srª Presidenta, mas, aqui, há dois pedidos de apartes e não quero obviamente terminar a minha fala sem ouvi-los.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco/PSDB - PR) - Vou ser bem sucinto, Senador Cristovam.

            A SRª PRESIDENTE (Vanessa Grazziotin. Bloco/PCdoB - AM) - Pois não. Senador Alvaro, a Mesa concede o tempo para que o Senador Cristovam possa oferecer os apartes.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco/PSDB - PR) - Está bem. Muito obrigado, Presidente. É apenas, Senador, para destacar a importância do pronunciamento de V. Exª, porque é um pronunciamento insuspeito. V. Exª inclusive integra o PDT, que é um partido da base de apoio ao Governo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Exatamente.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco/PSDB - PR) - Então, um alerta que V. Exª faz tem que ser considerado e tem que ser, obviamente, motivo de preocupação do Governo. O Governo tem que se preocupar com esse alerta. Veja que a Lei de Diretrizes Orçamentárias acaba de ser aprovada pelo Congresso e, até surpreendentemente, o Congresso quis ser rigoroso e definiu a meta de déficit fiscal. O Congresso aprovou uma meta de déficit fiscal, gasto real entre despesas e receitas, em até 0,87% do PIB. Hoje, o déficit está em 2,24% do PIB. A Presidente Dilma Rousseff deverá vetar. É o que está escrito aqui, inclusive. Portanto, o Congresso está mais atento para o discurso que V. Exª está pronunciando que a Presidente Dilma. A outra questão é a trava nos gastos. O Congresso aprovou medida impedindo que as despesas com o custeio da máquina cresçam em percentual maior do que os investimentos públicos e gastos...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco/PSDB - PR. Fora do microfone.) -...em obras e programas. A Presidente Dilma deverá vetar. Este é um cuidado essencial: não se pode gastar mais do que se arrecada. Depois, tem a questão do superávit que eu, em função do tempo, não devo abordar. Mas há esses dois fatos, já que se fala no veto da Presidente Dilma, para que ela ouça o discurso de V. Exª antes de vetar esses dispositivos, incluídos na Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2012. Muito obrigado, Senador.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu que agradeço, Senador, porque o senhor me faz dar aqui uma sugestão à Presidenta Dilma. Se eu fosse a Presidenta, hoje eu buscava o meu melhor assessor, a melhor pessoa da área de economia, a mais confiável, e mandava fazer uma viagem à Grécia, à Itália, a Portugal, à Espanha, para saber onde eles erraram, para que aprendamos as lições deles, para que vejam a surpresa que eles nos provocaram, para evitarmos essa surpresa. Por exemplo - não precisa nem ir lá, em alguns momentos, basta ler bem os jornais -, Senador Pedro Simon, apesar de todo o bem que está na economia brasileira, a nossa Bolsa de Valores caiu ultimamente tanto quanto a de Atenas e a de Milão: 12%.

            Não podemos deixar de ver alguns indicadores preocupantes. Não podemos deixar de louvar o que o Governo do Presidente Lula conseguiu fazer durante oito anos, continuando uma política anterior e inclusive evitando a crise, por exemplo, com um crédito muito elástico, mas o crédito elástico não dura muito, como nenhum elástico dura muito quando esticado. O que caracteriza o elástico é que o esticamento dura pouco e ele começa a puxar ou rompe. Não podemos deixar que rompa. Então, temos que entender que esse crédito tem que ser cuidadosamente sintonizado, dosado. Se não percebermos os riscos, não vamos fazer a dosagem certa.

            Passo a palavra agora ao Senador Pedro Simon.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - V. Exª me permite?

            A SRª PRESIDENTE (Vanessa Grazziotin. Bloco/PCdoB - AM) - Perfeitamente, Senador Simon.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Obrigado. Acho muito importante o pronunciamento de V. Exª. Fico aqui analisando o momento, a diferença do pronunciamento de V. Exª e a realidade que a gente vive neste País. O assunto que V. Exª traz a esta tribuna é realmente quase inédito. Como diz V. Exª, o jornal dizer que está preocupado com os Estados Unidos às vésperas da possibilidade de um calote... Mas, em um momento como este, o que a gente vê no Brasil são as briguinhas, as picuinhas, as despreocupações. Não vejo em nenhum partido, nem no Governo, nem na oposição, nem na imprensa, nem em lugar nenhum a preocupação com a hora em que estamos vivendo. Era a hora de a Presidente poder chamar, convocar as lideranças de todos os Partidos: “Olha, a situação é essa, essa, essa. Como eles vão sair desse incidente?” Olha, essa preocupação do trem-bala, essa preocupação desses estádios de futebol é um problema que nós temos. Não tem aqui que cobrar de “a”, de “b” ou de “c” o que fez e o que não fez. Também não tem que querer dizer que vamos suspender as Olimpíadas, mas quais são as medidas que podemos tomar. Acho que, em um momento como este, é duro a gente ver o partido que perdeu o Ministro do Transportes brigando para manter e o partido tal... São brigas e picuinhas por meia dúzia de cargos, meia dúzia de favores, meia dúzia de vantagens e não se tem uma preocupação com o sentido da linha do Governo. Nesse sentido, parece-me que a Presidente está só. Ela não é íntima do PT. Ela não surgiu dos quadros do PT. Até dentro do PT, aceitaram em um momento em que o Lula, em um prestígio enorme, e ela, em um prestígio também...Tiveram que aceitar. Mas ela não tem a intimidade das pessoas que a cercam, como o Lula tinha, como o Fernando Henrique tinha. Então, seria necessário grandeza por parte das pessoas para sentarem com ela e buscarem um entendimento. Mas ela praticamente vive em uma guerra. No momento em que ela demitiu o Chefe da Casa Civil, ela fez o que tinha... Aliás, ela não o demitiu, ele se demitiu. Era uma coisa que tinha que acontecer, porque o incidente aconteceu. Agora, no Ministério dos Transportes, é a mesma coisa. Agora, tinha que dar uma linha no sentido de nos entendermos todos na hora em que nós estamos vivendo. Eu digo com toda a sinceridade: quando o Itamar assumiu a Presidência da República, ele reuniu todos os presidentes dos partidos e disse: “olha, eu não tenho credibilidade popular, eu estou aqui, porque o Congresso fez o impeachment. Eu peço a vocês, do Congresso Nacional, e a vocês, presidentes de partidos, para sentarmos aqui e nos reunirmos. A qualquer problema, vamos sentar juntos“. Eu acho que a hora que estamos vivendo comportava isso. Comportava ou a Presidenta convidar ou os presidentes de partidos se oferecerem para sentarem à mesa e conversarem, para discutirem uma fórmula através da qual... Claro que quem é oposição continua oposição, que quem é governo continua governo. Eu não estou pedindo nada em sentido contrário, mas ter um objetivo, ter uma média de pensamento, em que estamos todos juntos. Isso é que eu não vejo. Na profundidade do pronunciamento de V. Exª e no dia a dia e no diz que diz da conversa entre parlamentar e Governo, há uma diferença muito grande. V. Exª está no mundo real de quem quer resolver e nós estamos no mundo da “mentirinha”, onde cada um quer resolver a sua parte e, cá entre nós, tirar vantagem o quanto pode.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Pedro Simon.

            Eu concluo, Srª Presidenta, dizendo que, nos Estados Unidos, hoje, também a crise é fruto dessas briguinhas. Os EUA tinham uma tradição de bipartidarismo e os dois partidos se uniam, Senador Romero Jucá, como o senhor sabe, para encontrar saídas, mas está uma briga tão grande do Partido Republicano contra o Obama - não é nem contra os Democratas -, já imaginando a eleição do próximo ano, que estão impedindo o governo de tomar certas decisões que são necessárias. E é interessante que, nesse caso, o necessário é aumentar a margem de endividamento, o que aqui o Congresso não está querendo, por uma questão de responsabilidade. Lá, é por uma questão de necessidade.

            Eu tenho a impressão de que o simples fato de o indicador Moody’s ter definido que os EUA estão em perspectiva de rebaixamento, porque nem houve o rebaixamento ainda, pode já estar assustando. Lamentavelmente, o Brasil não parece assustado. É preciso assustar-se diante do que pode acontecer lá fora, até porque nós temos ido tão bem que agora o susto seria retroceder. E retroceder é pior do que ficar parado. Está na hora de assustarmo-nos com o que está acontecendo lá fora e tirar daí lições para continuar na marcha em que vínhamos caminhando nesses últimos anos.

            O Sr. Romero Jucá (Bloco/PMDB - RR) - Senador Cristovam.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Senador Romero Jucá, com muito prazer.

            O Sr. Romero Jucá (Bloco/PMDB - RR) - Apenas para rapidamente aplaudir o discurso de V. Exª e dizer que V. Exª levanta um tema que é fundamental para o País, para a humanidade. Nós estamos tratando das economias do mundo, a situação em que elas se encontram e a perspectiva de dificuldades. Eu quero, um pouco na outra linha, dizer que concordo com as colocações de V. Exª, mas registrar também que tenho ouvido dentro Governo as preocupações exatamente na linha do que V. Exª tem falado. Talvez essas preocupações não tenham sido ainda explicitadas em reuniões, como falou o Senador Pedro Simon, mas tenho ouvido do Ministro Guido Mantega e da própria Presidente Dilma. Ontem, em reunião com lideres do Congresso, ela explicitou a preocupação com a economia americana, com a economia da Europa e com os desdobramentos. O Governo brasileiro, o Banco Central tem tomado providências no sentido de monitorar o crédito. Vai haver medidas macroprudenciais que vão, ainda mais, ajustar esse tipo de acompanhamento. Então, na verdade, V. Exª faz um alerta importante, mas eu quero registrar que já há eco desse alerta dentro das hostes do Governo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Fico muito feliz, Senador Jucá, em escutar isso. Na verdade, falo do que vejo aqui dentro, até porque não tenho intimidade com o Governo para saber o que estão pensando. Falo com o que ouço aqui dentro. Eu não vejo esta Casa assustada com o que pode acontecer com o País, a ponto até de cobrar que o Governo nos diga as medidas macroprudenciais que está tomando, como tomou ao criar os 2% do IOF, que foi uma decisão corretíssima, talvez tenha até de aumentar; como cuidou com o aumento da Taxa Selic - foi correto. Muita gente reclama do aumento da taxa de juros, mas foi necessário. Há até dúvidas se não deveria ter sido mais. Como ao manter a meta de inflação, que eu, pessoalmente, acho que poderíamos baixar um pouquinho mais. Em vez de 4,5%, botar 4%, para que façamos aqui um esforço maior.

            Fico feliz ao ouvir a sua fala como Líder do Governo. O que estou querendo falar aqui é para colaborar, com a responsabilidade de Senador, para que não erremos. Quando eu digo nós não é o Governo, mas todos, porque, se não der certo, a oposição poderá até ganhar a eleição, mas vai pagar um preço muito alto como brasileiros que somos.

            Era isso, Srª Presidente, que tinha a dizer, desejando à senhora um bom recesso e a todos os outros.

            A SRª PRESIDENTE (Vanessa Grazziotin. Bloco/PCdoB - AM) - Cumprimentamos o Senador Cristovam.

            O que propõe o Senador Cristovam, penso que esta Casa deverá fazer semestre que vem: dar mais valor ao debate sobre a situação econômica no mundo e, sobretudo, do Brasil. Existem pontos extremamente divergentes, mas é exatamente na divergência que nós encontramos o caminho correto para o desenvolvimento.

            Cumprimentamos V. Exª, Senador Cristovam.

            Pois não.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu não devia falar depois da senhora, mas estou tão assustado que durante todo o discurso não usei a palavra educação. Deve ser a primeira vez em que eu subo aqui e a palavra educação não entra no meu discurso, porque, se a economia não der certo, não adianta querer fazer mudança na educação. Não vamos conseguir. Se a inflação volta, ninguém vai falar mais em educação nem em saúde. Vai falar em reajuste de preços.

            Era isso, Srª Presidente. Eu concluo porque a senhora lembrou por que estou tão assustado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/07/2011 - Página 29713