Discurso durante a 129ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração dos quatrocentos e vinte e seis anos de fundação do Estado da Paraíba.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos quatrocentos e vinte e seis anos de fundação do Estado da Paraíba.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2011 - Página 31632
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ESTADO DA PARAIBA (PB), ELOGIO, AUTORIDADE, EX MINISTRO, REGIÃO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Senador Wilson Santiago, Senadores Cícero Lucena e Vital do Rêgo, eu acho que essa foto dos três aí sentados merece a primeira página dos jornais da Paraíba, para que vejam a qualidade da representação que tem esse estado irmão do meu Pernambuco.

            Eu não vou fazer nenhum discurso contando a história da Paraíba. Outros já fizeram. Vocês a conhecem mais do que todos. Eu não vou falar sobre toda a dívida que nós temos no Brasil com a música paraibana, com a literatura, como foi dito aqui há pouco, com a história de firmes posições que a Paraíba assumiu na história do Brasil; com o sonho de uma grande universidade, como foi a de Campina Grande na época do Linaldo Uchoa de Medeiros, que inovou na maneira de ensinar.

            Eu quero falar curto e rápido sobre dois “paraibucanos”, dois paraibucanos que foram fundamentais na minha formação. Um chama-se Ariano Suassuna e o outro Celso Furtado. Ambos nasceram na Paraíba. Ambos fizeram suas carreiras e vidas em Pernambuco e, saindo da Paraíba através de Pernambuco, eles marcaram a cabeça dos brasileiros e da minha geração em particular.

            Ariano, que ainda está aí ativo, firme e forte, fazendo com que a gente aprenda e ria durante suas palestras, é um orgulho para todos nós brasileiros. Eu sei que no caso específico da política paraibana é um nome que gera contradições, conflitos e muitas vezes antagonismos, pelas relações familiares, pelas relações do passado, até mesmo por certas mágoas que ele ficou pela maneira como seu pai morreu. Mas não se pode negar que é um orgulho da Paraíba ter dado à luz a Ariano Suassuna. Nenhum - estou dizendo - dos grandes historiadores da cultura, no Brasil de hoje, nenhum tem a grandeza de Ariano Suassuna. Já tivemos alguns no passado com essa grandeza, mas hoje é ele, que simboliza mais do que qualquer outro, por um lado o conhecimento, por outro lado a firme defesa do “nordestinismo”, como poucos conseguem, e, terceiro, com a vivacidade, com a leveza, com o carisma com que deslumbra velhos e moços. Não existe idade para rir e aprender com Ariano Suassuna.

            Outro, Celso Furtado, que saiu de Monteiro, foi para Recife, ganhou o mundo e se transformou em uma das grandes figuras do pensamento no séc. XX em escala mundial. Não ganhou o Nobel, porque morreu um pouco antes. Certamente ganharia se tivesse ficado conosco alguns anos mais. Celso Furtado... Publiquei um livro de entrevistas com ele - então, o livro na verdade é dele -, chamado Foto de uma Conversa, mas o título ideal, que os editores acharam que não seria bom, seria O Primo do Cangaceiro que foi Doutor em Cambridge, porque ele fazia questão de dizer que era primo de um dos cangaceiros de uma das turmas dali; não sei se de lampião ou de outro.

            Esse homem marcou de tal maneira a economia que a história da economia brasileira é antes e depois de Celso Furtado. Alguns, claro, também influenciaram, mas ele deu a marca para fazer com que olhássemos o retrato, o filme, melhor dito, do passado da economia brasileira com lógica e não apenas pela vontade de algumas pessoas que faziam história. Foi ele que nos ensinou que existe lógica no processo, que aqui e ali acontecem coisas que ninguém espera, mas que existe uma lógica e que começou ali onde está a Paraíba, onde está Pernambuco, onde está Alagoas.

            Faço questão de dizer aqui que já fiz o teste com o compasso e verifiquei que na nossa região - não sei se prestaram atenção -, não sei se exatamente em Recife, em João Pessoa ou em Maceió, está a cidade mais distante de uma fronteira internacional em todo o mundo. Não sei se sabiam disso. Se você pegar um ponto no centro dos Estados Unidos, ele está mais perto do Canadá ou do México do que estamos de qualquer lugar. Se pegar um ponto no meio da antiga União Soviética, hoje Rússia, está mais perto de alguma fronteira. Tirando algum lugar vazio do Canadá, onde só tem água em alguns lugares, não tem nada mais distante de uma fronteira internacional do que a nossa região. Mais perto é a África, talvez a Guiana. Lá em baixo, no Rio Grande do Sul, se você adentra, está mais perto do Peru; se baixa, chega mais perto do Uruguai; se você sobe, chega mais perto da Guiana, se você pega o barco, chega mais perto da África. Talvez seja por isso que nós daquela região termos a pretensão de ser cosmopolitas, porque de tão longe de fronteiras temos que afirmar a nossa cultura, temos que nos afirmar, cada um de nós, com aquilo que nós somos. Eu me sinto um “paraibucano”, uma mistura de paraibano com pernambucano. Até porque casei, faz 40 anos com uma quase paraibana, que é da cidade de Goiana, ali bem pertinho da fronteira entre Pernambuco e Paraíba.

            Por isso é que estou aqui como “paraibucano”, para prestar homenagem não só à Paraíba, que outros já prestaram, mas prestar a homenagem a esses dois “paraibucanos” que foram fundamentais na minha formação, que fizeram a minha cabeça, o que permite que hoje eu esteja aqui dizendo essas palavras.

            Muito obrigado a vocês, paraibanos, por tudo que deram a nós brasileiros, especialmente por tudo que deram a nós pernambucanos. Um grande abraço para cada um dos senadores e para cada paraibano que estiver assistindo essa nossa sessão de homenagem, um grande abraço para cada um e para cada uma de vocês. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2011 - Página 31632