Discurso durante a 150ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação com a absolvição da Deputada Federal Jaqueline Roriz, ontem, na Câmara dos Deputados. (como Líder)

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CAMARA DOS DEPUTADOS.:
  • Indignação com a absolvição da Deputada Federal Jaqueline Roriz, ontem, na Câmara dos Deputados. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 01/09/2011 - Página 35883
Assunto
Outros > CAMARA DOS DEPUTADOS.
Indexação
  • REPUDIO, VOTAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, ABSOLVIÇÃO, DEPUTADO FEDERAL, GRAVAÇÃO, VIDEO, RECEBIMENTO, PROPINA, INCENTIVO, CORRUPÇÃO, DESRESPEITO, INTERESSE PUBLICO.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente; Srªs e Srs. Senadores; telespectadores da TV Senado; senhores ouvintes da Rádio Senado, depois da votação, na Câmara dos Deputados, que absolveu a Deputada Jaqueline Roriz, não me resta outra opção além de apresentar um projeto criando o Dia Nacional da Corrupção. É isso mesmo. Está na hora de se criar este projeto: o Dia Nacional da Corrupção, a ser comemorado anualmente em 30 de agosto.

            E outra não pode ser a nossa atitude, porque, do jeito que essa erva daninha tem grassado no Brasil, do jeito que a corrupção tem se institucionalizado nas mais diversas formas, é melhor criar um dia nacional para homenageá-la.

            Parece-nos que, lamentavelmente, a vergonha não existe mais: a vergonha de receber propina; a vergonha de pegar caronas em jatos particulares; a vergonha de fazer convênios fantasmas; a vergonha de se desviar o dinheiro público. Não há mais vergonha no Brasil! Existem argumentos para tudo, Srªs e Srs. Senadores. E, assim, vai se justificando a atitude imoral, antiética, antirrepublicana e antidemocrática.

            Senador Alvaro Dias, veja que nem mesmo o vídeo periciado pela Polícia Federal e comprovadamente verdadeiro, nem mesmo as imagens de uma candidata a Deputada Distrital, juntamente com o seu marido, recebendo dinheiro ilegal para financiar a campanha, nada disso teve força o suficiente para convencer os nossos Deputados a votarem pela perda do mandato da colega Jaqueline Roriz.

            Vejam que essa Deputada, Sr. Presidente, fez a seguinte defesa, Srªs e Srs. Senadores: “Eu não era Parlamentar. Eu não tinha nenhum parente no primeiro escalão”. Só faltou dizer: “Então, eu posso”. Prepare-se, porque quando terminar o seu mandato, ela vai fazer das suas novamente. É como se matar uma pessoa, antes de uma lei, fosse perdoável.

            Como fica a reputação do Parlamento? Será que impera mesmo o velho ditado: “O povo tem memória curta”? Será que predomina mesmo a certeza de que logo, logo a mídia não vai mais falar nisso? Isso tudo é muito triste e deplorável! É um lamentável silêncio secreto de cumplicidade! Um exemplo nefasto que a Câmara dos Deputados deu a esta Nação. Sim, porque apenas um Parlamentar ousou defender a Jaqueline Roriz, mas, sob o manto da votação secreta, foram 265 votos a favor da Deputada.

            Graças a Deus ainda há esperança! Cento e sessenta e seis Deputados votaram com o Relator Carlos Sampaio, do PSDB de São Paulo.

            Francamente, o que se institucionalizou nessa votação não tem lugar no mundo jurídico. Então, Srªs e Srs. Senadores, o que fizemos em nossas vidas antes de assumirmos nossos mandatos não importa? Não conta? Se matamos e roubamos, se cometemos um crime de pedofilia - mas foi antes do mandato -, estamos perdoados? Podemos seguir no livre exercício parlamentar?!

            Francamente, Srªs e Srs. Senadores, isso é um absurdo! Uma tese insustentável sob qualquer ângulo. Quando o Parlamento começa a ignorar o clamor da sociedade civil; quando o Parlamento vira as costas ao povo, legítimo detentor do poder originário expresso pelo voto, não há dúvidas, Senador Pedro Taques, o Estado de Direito perde o lastro e a sustentação. Diz-se que Capistrano idealizou para o Brasil um projeto de constituição simplificada que casa bem com a situação. Apenas dois escassos artigos:

            “Art. 1º Todo brasileiro deve ter vergonha na cara.

            Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário”.

            Sr. Presidente, nossa revolta com a situação é tamanha, nossa indignação é tão grande que não nos resta alternativa: o de criarmos um projeto para o Dia Nacional da Corrupção, celebrado, anualmente, em 30 de agosto.

            Muito obrigado, senhoras e senhores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/09/2011 - Página 35883