Discurso durante a 150ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lamento pelo falecimento de Goiandira Ayres de Couto, pintora goiana.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Lamento pelo falecimento de Goiandira Ayres de Couto, pintora goiana.
Publicação
Publicação no DSF de 01/09/2011 - Página 36054
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, PINTOR, ESTADO DE GOIAS (GO).

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os grãos de areia continuariam ali, esparsos, difíceis de serem notados, praticamente imperceptíveis nas encostas dos morros e dos montes de Serra Dourada.

            Mas havia uma mão, uma mão iluminada pela Força Divina, para colher os grãos em cor natural e lhes dar linhas, formatos e contornos... para transformá-los numa pintura viva.

            Esta era a habilidade da artista Goiandira Ayres do Couto, que, lamentavelmente nos deixou no fim da tarde do dia 22 de agosto, em Goiânia, aos 95 anos.

            Goiandira era uma dessas pessoas abrilhantadas pela mão do Criador. Uma artista que se distinguia entre os próprios artistas pela originalidade de seu trabalho com areia em tela.

            Impressionava com as 551 tonalidades da areia da Serra Dourada que retirava para criar telas destacando a paisagem de Vila Boa de Goiás.

            A técnica que lhe deu projeção internacional brotou quando Goiandira tinha cinquenta e dois. Consistia em riscar o desenho na tela, passar cola e salpicar nos dedos areia de pedras trituradas.

            Era tão original e singular que Goiandira vendeu praticamente todas as telas que produziu ao longo da vida.

            As telas traziam casarões antigos e paisagens de Vila Boa que podem ser encontrados na ONU, em museus e em mãos de renomados colecionadores.

            Como consta da própria biografia da pintora, sua obra está dividida em duas fases distintas: “a primeira - fase do óleo - vai de 1933 a 1967, e o início de sua segunda fase, de 1968 até a sua morte - a fase de pintura com areia.

            Até o final da década de sessenta, jamais lhe ocorrera usar as areias coloridas como elemento pictórico. Mas, numa manhã, sem outra explicação que a de ordem espiritual, sobrenatural, a pintora ouviu claramente uma voz que lhe determinou: ‘faça uma casa com areia’.

            Mais surpresa do que assustada, a pintora começou a pergunta-se: ‘Mas, como?’.

            Poucas horas mais tarde, sobre uma lâmina de duratex, embasado a óleo branco, seguindo linhas-guia e detalhando de improviso, surgia diante dos próprios olhos a primeira tela pintada com areia.

            Técnica difícil de ser explicada e mais difícil ainda de ser aprendida.

            O grande segredo reside exatamente na maneira como os seus dedos iam semeando os grãos de areia, a sensibilidade escolhendo e dosando cores e tudo se transformando em luz e sombra, em formas e dimensões, arte e beleza.”

            Sr. Presidente, Goiandira conhecia a nossa querida Cora Coralina, a quem tivemos o prazer de homenagear nesta Casa por iniciativa do Senador Rodrigo Rollemberg.

            Temos certeza de que Goiandira, assim como Cora, há de tornar o céu mais colorido e doce pela arte de trazer da própria natureza os grãos de areia, que, em toques leves e contornos sutis, fazia brotar nas telas os becos e os casarões, de que nos contava em verso Coralina.

            Externo aqui nossa saudade dessa goiana que tanto elevou o nome do Estado no Brasil e no mundo.

            Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/09/2011 - Página 36054