Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Reverência à memória do ex-Senador e ex-Presidente da República Itamar Franco.

Autor
Pedro Taques (PDT - Partido Democrático Trabalhista/MT)
Nome completo: José Pedro Gonçalves Taques
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória do ex-Senador e ex-Presidente da República Itamar Franco.
Publicação
Publicação no DCN de 11/08/2011 - Página 2271
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, AUTORIDADE, SENADOR, FAMILIA, PRESENÇA, SESSÃO SOLENE, HOMENAGEM POSTUMA, ITAMAR FRANCO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, CONDUTA, EX PRESIDENTE, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco/PDT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, senhores membros da Mesa, familiares do brasileiro Itamar Franco, Srªs e Srs. Senadores, Nietzsche, em uma de suas obras, falando da despedida, faz uma metáfora com uma concha que se encontra na praia. E as ondas levam essa concha.

            Existe um misto de alegria e tristeza: tristeza, em razão da despedida, da partida; e alegria, em razão de o destino estar sendo cumprido.

            Eu, como cidadão brasileiro, conheci o Senador Itamar Franco como Presidente da República, como ilustre mineiro. Como cidadão brasileiro, acompanhei a trajetória dele naquele momento histórico difícil em que muitos, como vice-presidente, praticariam a conspiração. E o Vice-Presidente de então cumpriu a Constituição, aguardou aquele momento. Quando muitos conspirariam, ele quis cumprir a Constituição.

            Como Senador da República, tomei posse aqui e, no dia da posse, fui, como aquele que exerce um primeiro mandato político, cumprimentar o ex-Presidente da República. E ali disse a ele: “Presidente, vim me apresentar ao senhor e dizer que sou um soldado para que possamos lutar por um Brasil melhor”. O Senador Itamar me disse, na sua simplicidade: “Não me chame de presidente. Me chame de Itamar, porque aqui nós somos iguais”. Muito bem. A partir desse dia, eu passei a tratá-lo como Itamar e, para honra minha, com ele fiz parte da Comissão Especial da Reforma Política.

            Eu sou um estudante das ciências jurídicas há mais de 20 anos e, com ele, na Comissão Especial da Reforma Política, eu notava que ele estudava todos os temas. Ele levava preparada a sua fala e definia os temas em detalhes. Eu fiquei impressionado com isso e comecei a sentar ao seu lado, para que eu pudesse, na minha inexperiência parlamentar, aprender e a sentir um pouco do Senador Itamar. Conversamos um pouco a respeito do combate à corrupção, que penso tenha sido a principal marca do brasileiro Itamar.

            Em razão disso, um belo dia, ele me chamou ali, na parte final do plenário, naquele umbral do plenário ali. Ele me chamou naquele canto e me deu este livro, O Livro Negro da Corrupção. Este livro demonstra que o Presidente Itamar, naquele momento histórico pós-impedimento do ex-Presidente Collor, hoje Senador Collor, encontrava-se preocupado com a corrupção. Este livro mostra o decreto que ele assinou, constituindo uma comissão especial para analisar os temas da corrupção e propor medidas contra a corrupção.

            Aqui temos o decreto do Presidente Itamar. Os temas são atuais, só mudam os nomes. Mas são os mesmo temas, as preocupações daquele momento histórico, são as mesmas preocupações de agora. Eu pedi a ele, ali: Itamar, você poderia autografar este livro para mim? Ele disse: “Não, eu não escrevi esse livro”. Isso mostra a sua honestidade intelectual. Se fosse outro, poderia ter assinado esse livro. Eu compreendi, naquele momento, mais ainda, a importância desse brasileiro. Com a sua morte, com a tristeza de sua ida, nós aqui, no Senado, e eu como Senador de primeiro mandato, eu como brasileiro e cidadão a exercer um cargo eletivo pela primeira vez, quero expressar à família do Itamar a honra de ter aqui no Senado compartilhado, quase seis meses, de sua simplicidade e de sua honradez. Eu não poderia deixar de trazer as homenagens do povo do Estado de Mato Grosso a esse grande brasileiro. Presidente, Prefeito, Governador, não interessa, ele foi um grande brasileiro, grande brasileiro, e para mim, como um cidadão que nunca disputou um cargo eletivo, estar ao lado de Itamar Franco é um motivo de honra. Nós só temos a pensar que ele está num lugar melhor do que este, mas isso não basta, Senador Pedro Simon, não basta. Nós não podemos esquecer Itamar, não podemos esquecer as suas lutas, não podemos esquecer a sua honradez, não podemos esquecer a sua simplicidade e, sobretudo, não podemos esquecer a sua decência. Decência, a decência revelada ali, em pé, nos apartes e nas questões de ordem. Eu ficava observando e pensando: o que leva um cidadão com essa idade, que já exerceu todos os cargos que um político poderia exercer, a defender com tanto empenho, com tanta disciplina, o seu ponto de vista? O que leva a isso? E eu busquei aprender um pouco com ele. O que leva a isso? A pergunta deve ser respondida por todos nós para que nós não possamos esquecer o brasileiro Itamar. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 11/08/2011 - Página 2271