Discurso durante a 25ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso, hoje, do Dia Internacional da Mulher.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo transcurso, hoje, do Dia Internacional da Mulher.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2012 - Página 5387
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • LEITURA, TEXTO, ESCRITOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ASSUNTO, VIDA, MULHER, OBJETIVO, HOMENAGEM, ANIVERSARIO, DIA INTERNACIONAL, FEMINISMO.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Senador Waldemir Moka, Senadores e Senadores, quero falar aqui - e não poderia ser diferente - do Dia Internacional da Mulher, 8 de março. Já fiz um pronunciamento na segunda, mas quero continuar a falar pela importância desta data para o mundo.

            Faço a minha homenagem às mulheres, Sr. Presidente, apresentando um texto do poeta e escritor Rubem Alves.

            Rubem Alves fala, nesse texto, da caminhada de uma menina/mulher que percorreu as fases da vida com momentos ruins e momentos bons. Em seu texto, termina dizendo que o essencial faz a vida valer a pena. Vamos apresentar aqui o texto de Rubem Alves, Sr. Presidente. Diz o escritor:

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.

Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas.

As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.

Não tolero gabolices.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.

Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.

Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que, apesar da idade cronológica, são imaturas.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação" onde “tiramos fatos a limpo.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena.

            Falo deste texto do poeta Rubem Alves, e baseado nele, Sr. Presidente, venho aqui para dizer que esta menina, mulher idosa, tão pragmática, tão sensível, tão certeira nas suas afirmações, sabe o que quer.

            Ela gostaria de ver ainda em vida não o discurso, não à fala fácil, mas fatos, atos, ação. O que essa mulher gostaria de ver: o fim da violência contra as mulheres com a aplicação, de verdade, da Lei Maria da Penha.

            Essa mulher gostaria de ver o respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente; o respeito ao Estatuto do Idoso, ao Estatuto da Igualdade Racial para que ninguém seja discriminado por ser negro, branco, índio ou cigano; o respeito a nossa Constituição e à CLT. E que parem de dizer que a Previdência é falida e tem que aumentar a idade para a mulher se aposentar.

            O que essa mulher quer? Ela quer a aprovação do Estatuto da Pessoa com Deficiência, que beneficia 28 milhões de brasileiros e está parado na Câmara. Ah, como ela gostaria de ver aprovado o Estatuto dos Povos Indígenas; como gostaria ela de ver aprovado o Estatuto da Juventude.

            Sr. Presidente, como seria bom se ela pudesse ver aprovado, lá na Câmara, o fim do fator previdenciário, e uma política decente de reajuste dos benefícios dos aposentados e pensionistas e que os meus velhos amigos, homens e mulheres do Aerus, também fossem contemplados.

            O SR. PRESIDENTE (Waldemir Moka. Bloco/PMDB - MS) - Senador Paulo Paim, eu interrompo V. Exª, mas a Presidência gostaria de registrar a visita de 40 mulheres dos países da África e da Ásia. Sejam bem-vindas!

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Sejam aplaudidas por nós. (Palmas.)

            O SR. PRESIDENTE (Waldemir Moka. Bloco/PMDB - MS) - Obrigado pela informação.

            Desculpe-me a interrupção, mas achei que era oportuno.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - V. Exª fez muito bem.

            Essa luta é uma luta internacional.

            Sr. Presidente, essa mulher a que me referia ela faria uma festa, se pudesse ver, repito, em vida, alguns preceitos assegurados na nossa Constituição, como, por exemplo: educação, saúde, segurança e alimentação como, de fato, um direito de todos.

            Parece que estou vendo ela, pedindo que rufem os tambores, que toquem os clarins, porque enfim, o direito à terra e à moradia foram assegurados. Terra, sim, moradia, mas preservando o meio ambiente, a natureza, os rios, as florestas, percebendo que o Planeta, até então tão poluído, está nascendo outra vez.

            Sendo mãe ou não, como ela estaria realizada se lesse e ouvisse que as principais manchetes do País, no jornal, no rádio e na TV, estamparam: todos, neste País, têm direito ao trabalho, ao salário decente; as mulheres passaram a ter, na verdade, direitos e deveres iguais aos dos homens, não serão mais discriminadas no mercado de trabalho, por exemplo; as creches estarão em todos os bairros. Ela veria também estampado nos jornais: o vício das drogas foi varrido do Planeta, e ninguém, ninguém mais, será discriminado por motivo algum.

            Ela verá outra manchete: ficou acertado no Congresso, Câmara e Senado, que as crises econômicas na Europa, na América do Norte, ou em qualquer continente, não resultarão em perdas de direitos dos assalariados, dos trabalhadores, dos aposentados, das mulheres.

            Lerá também no jornal: fiquem todos tranquilos, as palavras “guerra, corrupção, mentira, roubo, assalto, assassinato, pena de morte” foram retiradas até do dicionário; as poetisas, como Cora Coralina, a partir de hoje, serão aplaudidas e entrarão para o livro dos heróis da humanidade; e as palavras justiça, democracia e liberdade estão sendo exercitadas dentro da plena verdade, porque já estão consagradas no Livro Sagrado. Ora, como elas iriam sorrir, sorrir muito, e estariam em estado de felicidade, se, nos últimos anos de suas vidas, percebessem que a ganância, a inveja e a avareza deram lugar ao amor, à fraternidade, à generosidade e à solidariedade.

            Sr. Presidente, talvez isso tudo seja sonho de uma jovem senhora idosa que idealizei no texto do poeta Rubem Alves. Mas, enfim, sonhar não é proibido!!! Deixem que a gente sonhe neste oito de Março, Dia Internacional das Mulheres.

            Eu só quero, Sr. Presidente, que todas as mulheres do mundo possam viver e envelhecer em paz, com amor e dignidade. Se isso acontecer, podem ter certeza, os homens serão contemplados como no berço, como no colo, na amamentação; eles serão embalados pelo amor exalado por elas, podendo desfrutar, assim, da mesma forma, da eterna felicidade.

            Sr. Presidente, era esse o meu pronunciamento no dia de hoje que foi, na verdade, uma continuação do pronunciamento que fiz na segunda-feira, homenageando as mulheres do Brasil e do mundo.

            Agradeço a V. Exª, Senador Waldemir Moka. Pedi um tempo maior e, por isso, falei depois da Ordem do Dia. E V. Exª assim me assegurou. Não vou precisar nem usar os vinte minutos. Fiquei com doze minutos.

            Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2012 - Página 5387