Comunicação inadiável durante a 43ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários acerca do artigo intitulado “Maximização versus Otimização”, de Leonardo Boff.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE, SENADO.:
  • Comentários acerca do artigo intitulado “Maximização versus Otimização”, de Leonardo Boff.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2012 - Página 8007
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE, SENADO.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, INTERNET, JORNAL DO BRASIL, ASSUNTO, REDUÇÃO, RECURSOS, MEIO AMBIENTE, MOTIVO, AUMENTO, PRODUÇÃO INDUSTRIAL, CONSUMO, MUNDO, SUGESTÃO, ORADOR, CONVITE, VISITA, ESCRITOR, LOCAL, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL, OBJETIVO, PREPARAÇÃO, SENADO, REFERENCIA, CONFERENCIA INTERNACIONAL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), POLITICA DO MEIO AMBIENTE.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, gostaria, nesta tarde, de fazer uma reflexão, juntamente com Leonardo Boff, que há poucos dias publicou um artigo no Jornal do Brasil, uma das instâncias em que publica seus artigos, sobre algo que me parece muito relevante: “Maximização versus otimização”.

            Diz Leonardo Boff:

“Há uma ética subjacente à cultura produtivista e consumista, hoje vastamente em crise por causa da pegada ecológica do Planeta Terra, cujos limites foram ultrapassados em 30%. Nunca mais vamos ter a abundância de bens e serviços como até há pouco tempo dispúnhamos. A Terra precisa de um ano e meio para repor o que lhe extraímos durante um ano. E não parece que a fúria consumista esteja diminuindo. Pelo contrário, o sistema vigente, para salvar-se, incentiva mais e mais o consumo que, por sua vez, requer mais e mais produção que acaba estressando ainda mais todos os ecossistemas e o Planeta como um todo.

A ética que preside a este modo de viver é a da maximização de tudo o que fazemos: maximizar a construção de fábricas, de estradas, de carros, de combustíveis, de computadores, de celulares; maximizar programas de entretenimento, novelas, cursos, reciclagens, produção intelectual e científica. A roda da produção não pode parar, caso contrário ocorre um colapso no consumo e nos empregos. No fundo, é sempre mais do mesmo e sem o sentido dos limites suportáveis pela natureza.

Imitando Nietzsche, perguntamos: quanto de maximização aguenta o estômago físico e espiritual humano? Chega-se a um ponto de saturação, e o efeito direto é o vazio existencial. Descobre-se que a felicidade humana não está em maximizar, nem engordar a conta bancária, nem o número dos bens na cesta de produtos consumíveis. O fato é que o ser humano possui outras fomes: de comunicação, de solidariedade, de amor, de transcendência, entre outras. Estas, por sua natureza, são insaciáveis, pois podem crescer e se diversificar indefinidamente. Nelas se esconde o segredo da felicidade. Mas nas palavras do filósofo Ludwig Wittgenstein, citando Santo Agostinho: "tivemos que construir caminhos tormentosos pelos quais fomos obrigados a caminhar com multiplicadas canseiras e sofrimentos, impostos aos filhos e filhas de Adão e Eva" para chegar a esta tão buscada felicidade.

Logicamente precisamos de certa quantidade de alimentos para sustentar a vida. Mas alimentos excessivos, maximizados, causam obesidade e doenças. Os países ricos maximizaram de tal maneira a oferta de meios de vida e a infraestrutura material que dizimaram suas florestas (a Europa só possui 0,1% de suas florestas originais), destruíram ecossistemas e grande parte da biodiversidade, além de gestar perversas desigualdades entre ricos e pobres.

Devemos caminhar na direção de uma ética diferente, a da otimização. Ela se funda numa concepção sistêmica da natureza e da vida. Todos os sistemas vivos, procuram otimizar as relações que sustentam a vida. O sistema busca um equilíbrio dinâmico, aproveitando todos os ingredientes da natureza, sem produzir lixo, otimizando a qualidade e inserindo a todos. Na esfera humana, esta otimização pressupõe o sentido de autolimitação e a busca da justa medida. A base material sóbria e decente possibilita o desenvolvimento de algo não material que são os bens do espírito, como a solidariedade para com os mais vulneráveis, a compaixão, o amor que desfaz os mecanismos de agressividade, supera os preceitos e não permite que as diferenças sejam tratadas como desigualdades.

Talvez a crise atual do capital material, sempre limitado, nos enseje viver a partir do capital humano e espiritual, sempre ilimitado e aberto a novas expressões. Ele nos possibilita ter experiências espirituais de celebração do mistério da existência e de gratidão pelo nosso lugar no conjunto dos seres. Com isso maximizamos nossas potencialidades latentes, aquelas que guardam o segredo da plenitude, tão ansiada”.

            Leonardo Boff é autor de Tempo de Transcendência: o ser humano como projeto infinito, editado pela Vozes, em 2005, uma de suas principais obras.

            O seu artigo nos lembra ensinamentos importantes para a Rio+20. Faz lembrar também aquilo que o nosso Professor Paul Davidson e seu filho Greg Davidson falam em Economics for a Civilized Society - A economia para uma sociedade civilizada, que nós devemos levar em consideração, na hora de tomar decisões sobre instrumentos de política econômica, não simplesmente a busca do bem-estar para si próprio, mas também aqueles outros valores como a busca da ética, da solidariedade, do amor, da fraternidade, da liberdade, da democracia. Por essa razão, inclusive tendo essas reflexões em mente, considerei muito importante propor, e já o fiz na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, que Leonardo Boff possa ser aqui, convidado por esta Comissão, para trazer as suas reflexões às mesas redondas que estamos tendo, preparatórias de como o Senado Federal, como o Brasil se prepara para a Conferência Rio+20.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2012 - Página 8007