Discurso durante a 56ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

– Considerações sobre medidas necessárias à promoção de uma reengenharia da economia brasileira, e apelo ao setor financeiro para que pratique taxas de juros capazes de estimular o empreendedorismo e facilitar o acesso ao crédito.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
BANCOS.:
  • – Considerações sobre medidas necessárias à promoção de uma reengenharia da economia brasileira, e apelo ao setor financeiro para que pratique taxas de juros capazes de estimular o empreendedorismo e facilitar o acesso ao crédito.
Publicação
Publicação no DSF de 12/04/2012 - Página 11949
Assunto
Outros > BANCOS.
Indexação
  • COMENTARIO, ADOÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PROVIDENCIA, CRESCIMENTO, ECONOMIA NACIONAL, REFERENCIA, POLITICA FISCAL, SUPERAVIT, RENEGOCIAÇÃO, DIVIDA, ESTADOS, CREDOR, UNIÃO FEDERAL, REDUÇÃO, TAXAS, TAXA SELIC, JUROS, CONCESSÃO, CREDITOS, BANCO OFICIAL, NECESSIDADE, INCENTIVO, CONCORRENCIA, COMBATE, EXCESSO, LUCRO, BANCOS.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado Sr. Presidente Paulo Paim, Srªs e Srs. Senadores, TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, Srªs e Srs, ao longo dos últimos meses, temos ocupado a Tribuna para falar de medidas necessárias para promovermos uma reengenharia da economia brasileira, tão ousada quanto foi o Plano Real no processo de estabilização da moeda.

            Apontamos a necessidade de o Governo focar no superávit nominal e não apenas no superávit primário, na importância da renegociação das dívidas dos Estados e Municípios e em baixarmos a taxa Selic para garantir o acesso ao crédito mais compatível com os valores praticados no mercado mundial.

            Embora entendamos que as ações do Governo sejam mais pontuais e não façam parte de um plano estratégico para diminuir o custo Brasil, temos de reconhecer o esforço para se baixar a taxa Selic. Temos de reconhecer, também, a ação dos bancos públicos no sentido de reduzir os juros praticados no mercado e estimular a concorrência bancária.

            A Caixa Econômica Federal, por exemplo, reduziu a taxa de juros para empréstimos consignados em folha de pagamento para 1,2% ao mês, o que não é ideal, mas já diminui consideravelmente o spread bancário nessa operação.

            A conta é simples: o custo de captação da Caixa hoje está variando entre 6% e 9%, e a taxa do valor cobrado chega a 15,38 % ao ano, com a capitalização. Ainda é alta, mas sinaliza para uma nova diretriz no mercado financeiro.

            Os bancos públicos e privados passam da hora de praticar um spread bancário mais compatível com a realidade internacional.

            Isso seria fundamental, sobretudo num momento em que se torna necessário manter o ritmo da economia nacional em favor dos interesses maiores da Nação.

            O spread bancário é, sem qualquer dúvida, um dos maiores componentes do custo Brasil, porque onera o tomador de empréstimos com taxas impensáveis para o atual contexto da economia brasileira. O spread bancário elevado é um fardo para a classe média e obstrui o empreendedorismo: pegar empréstimos no Brasil é sinônimo, em boa parte das vezes, de contrair uma dívida impagável.

            S. Exª, o Senador Jayme Campos, como empresário, sabe o quanto pesa e o quanto é difícil encarar empréstimos com esses juros praticados no País.

            Vejamos, Sr. Presidente, algumas das taxas praticadas no mercado brasileiro. O cartão de crédito e o cheque especial são os dois maiores vilões da história. Um correntista que não pague rigorosamente as faturas do cartão em dia será taxado em 10,63% ao mês. Isto mesmo: 10,63% ao mês. A taxa ao mês é maior que o valor da Selic ao ano. Isso pode resultar em 236% de juros ao ano, para quem contrai dívidas em cartão de crédito. O cheque especial cobra 8,28% ao mês, o que representa 159% ao ano.

            Ora, não há argumento razoável para justificar taxas como essas, que contrariam até mesmo a Constituição de 1988. Na prática significa que, se um cidadão gastou mil reais no cartão de crédito e, por alguma razão, só consegue pagar o mínimo por mês, vai terminar o ano com a mesma dívida original.

            Depois de o consumidor ter pago 236% de juros ao ano sobre o saldo, a dívida nunca vai abaixar. Com o cheque especial, a história é, com certeza, bastante semelhante.

            Que se entenda aqui, não queremos estimular o endividamento sem propósito ou planejamento, mas, numa emergência, o pai e a mãe de família podem precisar utilizar esses mecanismos de crédito. Aí, Srªs e Srs. Senadores, provavelmente a emergência se tornará um calvário.

            A verdade dura é que a redução da taxa Selic não tem resultado na diminuição proporcional das taxas cobradas no mercado. Nos empréstimos pessoais nos bancos, de modo geral, paga-se a taxa de 58% ao ano. Nas financeiras de crédito fácil, a taxa chega a 158%.

            Para as empresas, o panorama não é nada favorável tampouco. O capital de giro é taxado a 32,61% ao ano, o desconto de duplicatas a 38,31%e a conta garantida, a 102%.

            Essa realidade se constitui num obstáculo ao empreendedorismo, um desestímulo a quem deseja abrir ou manter o próprio negócio. A taxa mais favorável na ponta do lápis é a do financiamento de veículos, 26% ao ano. Mas, ainda assim, é muito salgada.

            A sorte do setor financeiro, para o azar dos consumidores brasileiros, é que a população ainda não se acostumou a somar os juros anuais e compará-los ao valor da dívida contraída. Lamentavelmente, o cidadão médio ainda continua preocupado em saber apenas: a prestação cabe ou não no orçamento mensal.

            Mas isso precisa mudar se o desejo for criar as condições objetivas para uma economia dinâmica e moderna, compatível com o momento atual do Brasil. E não me venham argumentar que o spread bancário é alto apenas porque sofre os efeitos da inadimplência e dos impostos cobrados pelo próprio Governo. De acordo com a Febraban, os impostos diretos chegam a 21,9% da composição da taxa de juros, e o depósito compulsório fica em 4,1%. A inadimplência representa 28,7%, e o custo administrativo, 12,6%

            Mas o lucro líquido nos empréstimos bancários está em torno de 32,7%. É um negócio da China, Senhor Presidente! Para se ter uma idéia, a margem líquida do setor produtivo é da ordem - as maiores - de 10% a 12%. As maiores. A média é de 7%. Por outras palavras, é bem melhor emprestar dinheiro que produzir. Aí fica difícil, porque, numa economia emergente, o setor produtivo precisa de estímulos de toda sorte.

            O que nós queremos é gente ousada, com vontade de abrir pequenos e grandes negócios. O que nós queremos é fomentar o espírito empreendedor e criativo de todos os brasileiros.Mas com um spread bancário desses, nem o empreendedor em potencial se arrisca, nem a classe média quer contrair empréstimos. Não temos nada contra o lucro dos bancos, porque não há como construir uma economia forte sem um sistema financeiro vigoroso. Mas precisamos fazer prevalecer o interesse público e coletivo.

            Com a intervenção efetiva do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal no mercado financeiro, é bem provável que os bancos privados revejam as taxas de juros.

            Isso é uma questão de Estado.

            Os bancos precisam fazer um esforço conjunto para diminuir o spread bancário, porque isso terá um impacto positivo importantíssimo sobre a economia O caminho para o desenvolvimento sustentável passa necessariamente por taxas de juros mais compatíveis com a realidade internacional.

            Passamos da hora de rever essa questão.

            Por meio do diálogo, apelamos ao setor financeiro para que pratique taxas de juros capazes de estimular o empreendedorismo e de tornar o acesso ao crédito mais fácil.

            Aliada à busca pelo superávit nominal, a redução do spread traria um estímulo importante ao mercado. Essa é uma precondição para modernizarmos a economia brasileira, tão importante quanto a renegociação da dívida dos Estados e dos Municípios, tão importante quanto a gestão pública de resultados e a revisão do pacto federativo.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, obrigado, Srªs e Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/04/2012 - Página 11949