Pela Liderança durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo a favor do fim da greve dos professores das universidades federais.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
ENSINO SUPERIOR.:
  • Apelo a favor do fim da greve dos professores das universidades federais.
Publicação
Publicação no DSF de 10/07/2012 - Página 33245
Assunto
Outros > ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • CRITICA, GREVE, PROFESSOR, ENSINO SUPERIOR, MOTIVO, IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, ATUALIDADE, NECESSIDADE, ENTENDIMENTO, PROFESSOR UNIVERSITARIO, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Moka, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, Senador Presidente Moka, eu quero fazer um apelo para que o senhor, como Presidente desta sessão, comunique ao Governo brasileiro que nós já entramos no século XXI. Pode parecer uma afirmação tola, mas absolutamente necessária.

            Eu creio que o Governo não percebeu ainda, Senador, que nós estamos no século XXI, porque, no século XXI, não se justifica uma greve de professores durar sessenta dias. Na verdade, no século XXI, não se justifica nem mesmo greve de professores.

            Quando uma universidade para no século XXI, o País para na sua marcha a uma economia baseada no conhecimento. Cada dia perdido de aula na universidade são alguns momentos perdidos pelo País na sua marcha ao novo progresso, que caracteriza o desenvolvimento baseado no conhecimento.

            O Brasil não percebeu, Senador Moka, que estamos no século XXI e que não pode tolerar que a gente fique tanto tempo com universidades paradas. E não vamos mentir. Não há reposição de aula. Isso é um conceito que o Brasil inventou que não resiste à melhor análise do ponto de vista educacional. Um pedreiro, um mecânico, um operário metalúrgico, eles repõem o seu trabalho um, dois, três meses depois da greve. O lugarzinho do tijolo está esperando na parede, Senador Benedito, que o operário venha e coloque o tijolo onde parou um mês antes. Na educação, quando se para uma semana a aula, não se recupera igual. A cabeça dos alunos não é como uma parede esperando o tijolo colocado pelo professor. A cabeça do aluno tem uma carga emocional muito grande, tem uma dinâmica própria. Por isso, a gente tem as grades de aula. Quando essas grades são interrompidas, elas não são recuperadas.

            Eu temo que, dentro de algum tempo mais, antes de ir a um médico, as pessoas vão querer saber quando o médico se formou para saber quantos dias de greve houve durante a sua formação. E muitos vão deixar de ir ao médico porque sabem que o médico formado depois de períodos de greve é um médico que carrega algumas deficiências.

            Mas parece que o Governo não entendeu ainda que entramos no século XXI. Mas não vamos falar só do Governo.

            Os professores também não entenderam a importância da universidade no século XXI; senão, não fariam tantas greves, repetidas e tão longas; descobririam outro meio de fazer as suas reivindicações. Dariam aula de manhã e, de tarde, iam fazer manifestações no centro da cidade; dariam aula de tarde e, de manhã, iam ocupar esses estádios da Copa do Mundo, porque garanto que, se parar dois dias a construção de qualquer desses estádios, o Governo desperta. Mas os professores também não sabem, não perceberam que estamos no século XXI. Eles não percebem o prejuízo que trazem ao País com a greve demorada. Então, temos, de um lado, governos que não sabem que estão no século XXI e, do outro lado, professores que não estão ligando em que século nós estamos. Isso faz com que seja necessário que os professores universitários e o Governo entendam que há causas mais profundas para essas greves do que simples reivindicações de professores. E essas causas são, sobretudo, a falta de sintonia da universidade brasileira com as exigências do conhecimento do século XXI.

            Nós só devemos - e podemos - aumentar salários e recursos para a universidade na medida em que a universidade se incorporar no esforço do Brasil para entrar no século XXI, criando o conhecimento que é necessário. Se não fizermos isso, vamos...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Se não fizermos isso, é até possível um governo ceder às reivindicações; até atender reivindicações legítimas, mas o dinheiro não vai gerar o resultado que se espera.

            Para mais recursos gerarem retorno ao que o Brasil precisa, é preciso saber para onde vão esses recursos; é preciso que a universidade se comprometa com aquilo que o País está precisando. Por exemplo, é preciso que as universidades entendam que não dá para continuarmos privilegiando um número de alunos nas áreas das humanas, nas áreas clássicas, que são importantíssimas, mas deixando de lado as áreas das ciências, das tecnologias, da matemática.

            Nossos alunos de engenharia abandonam o curso, 30% deles, antes da conclusão. Isso significa que temos 30% menos engenheiros do que seria possível. E o Brasil precisa é de cinco, de dez vezes mais do que tem. É preciso que entendamos a responsabilidade da universidade na formação de professores para a educação de base; e nós não estamos cumprindo isso. É preciso que se entenda que o aluno hoje não se forma, pois ele tem de ser reciclado a cada tempo, e as universidades não se prepararam para isso. É preciso que a autonomia seja redefinida. Tem de ser uma autonomia da academia, responsável diante do País, responsável diante do futuro, responsável diante da sociedade.

            Isso exige uma autonomia em que a comunidade converse com os órgãos do Governo, para saber o que é preciso na saúde, o que é preciso no transporte. É preciso que eles conversem com o setor produtivo para saber o que é que vai ser, quanto e de que tipo de engenheiro vamos precisar nos próximos anos nas nossas indústrias.

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Nós precisamos que as universidades entendam que têm, sim, de se submeter a avaliações; mas não só isso: que as avaliações devem dar um resultado. Se um professor, depois de valorizado, continua sem dar a atenção devida ao seu processo de formação de alunos e de pesquisas, ele não pode continuar. Se a universidade é importante, não pode ter lugar para quem não se dedica a ela.

            Fica aqui, portanto, nesse curto tempo, Senador, e eu gostaria muito de aprofundar essa análise, o meu apelo para que o senhor comunique ao Governo que o Brasil já está no século XXI, e que os professores das universidades brasileiras despertem para saber da importância de suas instituições, dos seus trabalhos no século XXI. E, para isso, que haja mais recursos, mas que haja transformação da universidade velha do século XX.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/07/2012 - Página 33245