Discurso durante a 127ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do Cardeal Dom Eugênio Sales.

Autor
Ana Rita (PT - Partido dos Trabalhadores/ES)
Nome completo: Ana Rita Esgario
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Pesar pelo falecimento do Cardeal Dom Eugênio Sales.
Publicação
Publicação no DSF de 11/07/2012 - Página 35283
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CARDEAL, ARCEBISPO, ATUAÇÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DA BAHIA (BA), ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), ELOGIO, VIDA PUBLICA, AUXILIO, CIDADÃO, PERSEGUIÇÃO, DITADURA, REGIME MILITAR, CRIAÇÃO, PROGRAMA ASSISTENCIAL, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, LUTA, GARANTIA, DIREITOS HUMANOS, PESAMES, FAMILIA, IGREJA CATOLICA.

            A SRª ANA RITA (Bloco/PT - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, público que nos acompanha na tribuna de honra, expectadores da TV Sendo, ouvintes da Rádio Senado, assim como alguns Senadores já se pronunciaram na tarde de hoje, eu também quero me manifestar dizendo que a Igreja Católica do Brasil e do mundo está de luto. No fim da noite de ontem, a Arquidiocese do Rio de Janeiro informou o falecimento do mais antigo cardeal da Igreja Católica em nosso País, Dom Eugenio de Araujo Sales. E é com muito pesar que subo nesta tribuna para falar dessa perda.

            Dom Eugenio faleceu aos 91 anos de idade. A maior parte de sua vida dedicada ao sacerdócio, nada menos que 69 anos nesse ofício. O arcebispo emérito do Rio de Janeiro deixa um enorme legado, sobretudo social, em nosso País, destacando-se na luta em defesa dos perseguidos políticos. Sabemos de suas posições extremadas dentro da Igreja, mas temos muito a salientar de sua trajetória à frente do catolicismo.

            Segundo Dom Orani Tempesta, atual Arcebispo do Rio de Janeiro - e faço questão de aqui citar esta fala importante de Dom Orani; abro aspas -:

“Ele era um homem de Deus e serviu a Jesus Cristo. Sempre esteve presente nos momentos importantes do Brasil, principalmente na questão dos refugiados e na defesa dos perseguidos e teve presença marcante na Igreja do Brasil e do Vaticano. Trabalhou em educação de base e na evangelização nas arquidioceses do Rio [de Janeiro], Natal e Bahia. Ele foi alguém que sem dúvida soube viver dando continuidade aos ensinamentos.”

            Fecho aspas.

            Destaco que Dom Eugênio foi um dos grandes responsáveis pela criação da Campanha da Fraternidade. Em 1961, três padres responsáveis pela Cáritas Brasileira idealizaram uma campanha para arrecadar fundos para as atividades assistenciais e promocionais da instituição e torná-la autônoma financeiramente. A atividade foi chamada de Campanha da Fraternidade e realizada pela primeira vez durante a quaresma de 1962, em Natal, no Rio Grande do Norte. No ano seguinte, 16 Dioceses do Nordeste realizaram a campanha. Não teve êxito financeiro, mas foi o embrião de um projeto anual dos Organismos Nacionais da CNBB e das Igrejas Particulares no Brasil, realizado à luz e na perspectiva das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral (Evangelizadora) da Igreja em nosso País.

            Dom Eugenio teve destacada atuação no Secretariado Nacional de Ação Social da CNBB, sob cuja dependência estava a Cáritas Brasileira, que fora fundada no Brasil em 1957. Na época, ele era o responsável pelo Secretariado de Ação Social e Presidente da Cáritas Brasileira.

            Foram vários os avanços a partir das Campanhas da Fraternidade, sendo ele, dom Eugenio, o responsável por dar voz a diversos temas importantes, muitos deles esquecidos.

            Fiel seguidor da Igreja, o Cardeal tinha autêntica devoção ao Sumo Pontífice e foi universalmente reconhecido por isso. Amigo pessoal de Paulo VI, do Papa João Paulo II e do atual Papa Bento XVI, sempre se ouviu de sua boca que devia seguir o Papa, em suas mínimas orientações, mesmo que isso o fizesse impopular.

            Dom Orani disse, ainda, que Dom Eugenio - abro aspas -,

“silenciosamente, como ele mesmo gostava de dizer, protegeu os presos políticos, ajudou-os materialmente e foi a sua voz junto às autoridades de então, e sempre foi ouvido pelo respeito de suas posições claras, não se comprometendo nem com os detentores do poder e nem com a luta armada. Muitos conhecemos histórias, vimos fotos da proteção e asilo dadas a perseguidos não só a nacionais, mas também dos países vizinhos. Socorreu, protegeu pessoas cujas posições ideológicas estavam, por vezes, em nítido contraste com a fé católica; mas, para Dom Eugenio, sua ação não poderia ser diferente, impulsionado pelo cumprimento simples e objetivo da moral católica que diferencia o pecado do pecador”.

            Fecho aspas.

            Muitas ações de Dom Eugenio foram consideradas fundamentais na vida da cidade do Rio de Janeiro, como foi o caso da Favela do Vidigal, cujos moradores não foram removidos graças à sua intervenção por meio da Pastoral das Favelas.

            Destaque também para a Pastoral do Menor, ambulatórios e abrigos para carentes, aidéticos no Rio de Janeiro. Todos erguidos com a ajuda do cardeal.

            Enfim, uma perda irreparável e lastimável. Certamente, a visão social e humana que Dom Eugenio tinha fará falta à Igreja e à sociedade, pois todos se beneficiavam com isso.

            Sr. Presidente, era isso que tinha a dizer.

            Quero aqui me congratular com todos os familiares de Dom Eugenio e com todas as lideranças das comunidades que fazem parte da Arquidiocese do Rio de Janeiro e também me solidarizar com toda a Igreja Católica do Brasil e do mundo. Realmente, é uma perda irreparável, mas entendemos que a missão da nossa Igreja continua, com o mesmo valor, com a mesma força, com o mesmo impulso, com o objetivo, com certeza, de fortalecer as pastorais sociais, de fortalecer o trabalho pastoral nas Comunidades Eclesiais de Base e de fortalecer a atuação corajosa, firme, de muitos leigos, que doam suas vidas em defesa de uma sociedade cada vez mais justa, solidária e fraterna.

            Era isso, Sr. Presidente, que eu gostaria de dizer.

            Muito obrigada pela atenção de todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/07/2012 - Página 35283