Discurso durante a 129ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca da cassação do mandato do ex-Senador Demóstenes Torres.

Autor
Pedro Taques (PDT - Partido Democrático Trabalhista/MT)
Nome completo: José Pedro Gonçalves Taques
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.:
  • Considerações acerca da cassação do mandato do ex-Senador Demóstenes Torres.
Aparteantes
Antonio Carlos Valadares, Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 12/07/2012 - Página 36154
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, SENADOR, DEMOSTENES TORRES, ESTADO DE GOIAS (GO), EXPECTATIVA, ORADOR, MELHORAMENTO, CONDUTA, EX-CONGRESSISTA, REGISTRO, VOTO, RELATORIO, CONSELHO, ETICA.

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco/PDT - MT. Pronuncia ao seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sra. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, cidadãos que nos assistem e nos ouvem pela Agência Senado, o homem que sou homenageia o homem que Demóstenes foi, porque eu saí de Mato Grosso,Sra. Presidente, e aqui encontrei um homem do Estado irmão de Goiás, em quem depositei - depositei - a confiança que somente damos em nossas vidas aos irmãos e aos camaradas de armas, pois a luta comum é uma forma de irmandade; ela não vem do sangue, mas une como se jorrasse do espírito. Camaradas de armas, eis o que nos tornamos numa luta que se acompanha em cada lar brasileiro, em cada mesa de trabalho, em cada rua onde duas pessoas de bem conversam.

            É a luta pela ética, Senador Mozarildo, pelo cuidado com a coisa pública, Senador Suplicy, pela honradez que o Brasil espera de cada um de seus representantes, tantas vezes de forma vã. Ética que percebi se sobrepor aos ruídos da Revolução Francesa, que separou a gironda da montanha, a direita da esquerda, a pequena burguesia dos despossuídos. Percebi, já como Senador, que não dobrar a coluna para o bezerro de ouro da velhacaria política é virtude que há em todos os partidos, em todos os Estados.

            Ouvi, lá nos verdes de Mato Grosso, Sra. Presidente, o chamado do homem que o Demóstenes foi, num coro que contava com a voz do inesquecível amazonense Jefferson Peres, dos bravos gaúchos Pedro Simon e Ana Amélia, do brasiliense Cristovam Buarque, do amapaense Randolfe Rodrigues, e de tantos outros colegas, como o Senador Mozarildo, de tantos Estados da Federação e partidos, que mostravam que a ética é a virtude que supera climas, distâncias e ideologias.

            Eu aprendi que há um grande Brasil, dos grandes brasileiros que não fogem de suas responsabilidades e do seu trabalho, que ganham a vida com o trabalho honesto e digno, sem tomar o que é dos outros, sem tomar o que é de todos. Ganham, com o suor na fronte, o dinheiro que sustenta esta Casa de representantes do povo e dos Estados e também o sonho comum de um país melhor num mundo mais justo.

            Mas o homem que Demóstenes foi parece agora um espectro diáfano e duvidoso.

            Aqui, Srª Presidente, desta tribuna sagrada do Senado da República, por onde já passaram cidadãos ilustres, como Visconde do Rio Branco, Ruy Barbosa, Afonso Arinos, Josaphat Marinho, Tancredo Neves, Fernando Henrique, Itamar Franco e tantos outros, faço a pergunta que decepciona o coração de milhões de brasileiros: como foi possível que um filho do bom povo de Goiás errasse tanto? Onde foi que a clava da Justiça perdeu um braço forte, trocado por uma “cachoeira” de mundanidades, subterfúgios e infâmias? Onde está o hoplita, o soldado da infantaria armada da Antiga Grécia, que eu e todos os que lutamos pela ética pensamos que estava ao nosso lado? É imensa, Sra. Presidente, repito, a minha tristeza ao perguntar desta tribuna se o homem que ora homenageio, o homem que Demóstenes foi, se deixou sobrepujar por esse que dizem, e os autos demonstram, que ele se tornou?

            Essas perguntas trazem para mim uma dor cívica, uma decepção, a maior delas que pude experimentar neste ano e meio de mandato. Em nome dessa decepção, eu clamo ao Sr. Demóstenes que prove na Justiça que tudo que dizem, e os autos demonstram, não seria verdadeiro, que o cavaleiro da ética nunca se perdeu nas facilidades das coisas pequenas, que a alma de um destemido não tem preço, que a clareza da alma não se turvou nos jogos da vida. Os camaradas que fomos, os brasileiros esperançosos que resistem em nós a todas as intempéries, os políticos ainda capazes de orgulhar nossa Nação orgulhosa, Demóstenes, todos esses esperam que o senhor demonstre, ainda que fora desta Casa, que não é um novo homem, de distinta e menor envergadura, mas aquele que eu e tantos outros aprendemos a admirar.

            Confesso que eu não desisti da luta pela ética, Srª Presidente, e juro, pela minha família, por meus eleitores e perante todos os brasileiros, que jamais desistirei, mas, em nome de alguém a quem tanto prezo, o homem que ele foi, rogo que não nos deixe pensar que, em todo esse tempo, nos enganamos e que aquele homem a quem homenageio hoje nunca existiu.

            São dois homens, Senador Suplicy: aquele e esse que hoje o Senado da República condenou.

            Sra. Presidente, Srs. Senadores, Sras. Senadoras, brasileiros que nos acompanham, o que diferencia um homem de bem de um corrupto, de um bandido? É a capacidade de fazer escolhas, senhoras e senhores, de discernir entre o certo e o errado, entre o justo e o injusto, a verdade da mentira. E não há nada mais trágico que saber o certo e não fazê-lo. Liberdade de escolha rima com responsabilidade. E chegou a hora de o Demóstenes responder pelas suas condutas.

            Sra. Presidente, no relatório que li na Comissão de Constituição e Justiça, busquei ser absolutamente técnico. Agora, como Senador da República, não posso deixar de dizer que, em nome dessa mesma República, em nome da Constituição e em nome do direito que cada cidadão brasileiro tem de acreditar e de confiar em seus representantes, votei favoravelmente ao relatório do Conselho de Ética, como 56 Senadores também o fizeram.

            Responsabilidade. Cada um de nós tem a responsabilidade de mostrar que este Senado da República não é uma casa de amigos, apesar de sermos amigos; não é um clube em que o corporativismo impera, Senador Valadares. Nós temos a responsabilidade da República. Por isso, cada um de nós leva a República no cargo que ocupa.

            Para minha honra, concedo um aparte ao Senador Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Pedro Taques, V. Exa. teve aqui um papel, hoje, de extraordinária importância e também nos últimos dias, desde que foi designado Relator na Comissão de Constituição e Justiça para examinar o relatório do Senador Humberto Costa, que veio do Conselho de Ética. Hoje, mais uma vez, V. Exa. nos trouxe a sua ponderação, o seu conhecimento jurídico, até como membro do Ministério Público que foi, em especial porque teve a responsabilidade de julgar não apenas um colega, mas também uma pessoa por quem - disso eu sou testemunha - V. Exa. tinha o maior respeito, como eu e todos nós aqui nesta Casa. A decisão que tomamos hoje foi extremamente grave, séria, preocupante e, de alguma forma, entristecedora. Mas eu quero cumprimentá-lo pela maneira como V. Exa. agiu. Quero aqui divulgar expressamente, porque é nosso direito, como V. Exa. acaba de fazer, que votei “sim”, em favor do relatório do Senador Humberto Costa, que contou também com o apoio de V. Exa. E digo que votei “sim” com tristeza, no sentido de cumprir com o meu dever, ainda que tenha achado muito bem elaborada a defesa feita pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay, assim como pelo próprio Senador Demóstenes Torres. Ele mostrou ser uma pessoa de grande conhecimento. Acho que tudo o que aconteceu significará para ele uma reflexão de profundidade, extremamente sofrida. Quem sabe ele possa até, um dia, voltar a esta Casa, como ele próprio pediu, pelo voto de seu povo, tendo em conta tudo o que aconteceu e terá ocorrido daqui para frente. Eu sei da seriedade com que V. Exa. procurou cumprir também com a sua extraordinariamente difícil missão de ser o Relator deste caso. Meus cumprimentos a V. Exa.

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco/PDT - MT) - Muito obrigado, Senador Suplicy.

            As pessoas perguntam se nós estamos tristes.

            Penso que existe - e já respondi a isso mais de uma vez, Sra. Presidente - um misto de tristeza e também de alegria, porque aquele que faz a coisa certa não merece castigo. Aquele que faz a coisa certa merece alegria.

            Para minha honra, concedo um aparte ao Senador Valadares.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Com a permissão também da Presidenta, eu queria me somar às palavras do Senador Suplicy em relação ao trabalho positivo de V. Exa. como Relator, na Comissão de Justiça, do caso do Senador Demóstenes Torres. V. Exa. sem dúvida alguma, com os seus conhecimentos técnicos, com o seu profissionalismo, assegurou àquela Comissão todos os meios indispensáveis ao seu convencimento jurídico para decidir a respeito de questão tão grave quanto a da cassação do mandato do Senador Demóstenes Torres.Também deu uma certa força e maior tranquilidade às decisões do Conselho de Ética do Senado, órgão do qual sou Presidente, porque o que V. Exa. escreveu foi aprovado pela unanimidade da Comissão de Constituição e Justiça e também teve o seu relatório ratificado in totum por 56 Senadores no plenário do Senado. Minhas congratulações a V. Exa.

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco/PDT - MT) - Muito obrigado, Senador Valadares.

            Esse relatório não poderia ser confeccionado sem que o trabalho anterior, levado a cabo por V. Exa e pelo Senador Humberto Costa, bem como pelos demais membros do Conselho de Ética, fosse muito bem feito.

            Encerro, Sra. Presidente, dizendo que a República vive um novo tempo. O novo tempo é o tempo da ética, o tempo da honestidade, o tempo do republicanismo.

            Não existe nada mais poderoso do que a força de uma ideia cujo tempo tenha chegado. Essa ideia é a honestidade e o tempo é este em que vivemos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/07/2012 - Página 36154