Discurso durante a 196ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre o desempenho do PMDB nas eleições municipais do Estado do Paraná.

Autor
Sergio Souza (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Sergio de Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Reflexão sobre o desempenho do PMDB nas eleições municipais do Estado do Paraná.
Aparteantes
Cidinho Santos, Tomás Correia.
Publicação
Publicação no DSF de 24/10/2012 - Página 56027
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • ANALISE, ELEIÇÃO MUNICIPAL, PAIS, REDUÇÃO, RESULTADO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ELEIÇÃO, ESTADO DO PARANA (PR), NECESSIDADE, REFORMA POLITICA, BRASIL.

            O SR. SÉRGIO SOUZA (Bloco/PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, caros telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, senhoras e senhores, no próximo domingo, haverá eleições em mais de 60 cidades brasileiras onde o se disputa o segundo turno.

            Mais de 5,5 mil cidades do Brasil já definiram seus prefeitos no último dia 7 de outubro. No meu Paraná, cinco Municípios ainda não decidiram seus prefeitos, o que será feito no próximo domingo, dia 28 de outubro.

            Venho à tribuna hoje para fazer uma reflexão, Sr. Presidente, sobre o nosso PMDB e a sua drástica redução no meu Estado, o Estado do Paraná.

            O PMDB, no Paraná, caiu de 136 Municípios, dos 399 - o número de prefeitos eleitos que tínhamos nas eleições de 2008 -, para 56. Nenhuma das cinco cidades em que há disputa no segundo turno tem candidatos a prefeito do PMDB. Dessas cinco, no primeiro turno, somente uma cidade de mais de 200 mil habitantes, de mais de 200 mil eleitores, no meu Estado, teve candidato próprio do PMDB: a cidade de Londrina, que atingiu pouco mais de 5% dos votos. Dessas cinco cidades em que se disputa o segundo turno, duas delas têm o PMDB como Vice: Cascavel e Maringá. No entanto, a maior cidade que será governada no Paraná, uma cidade de pouco mais de 100 mil habitantes, é Toledo.

            Eu dizia, já há algum tempo, ao Vice-Presidente, Michel Temer, ao Presidente Nacional do PMDB, Senador Valdir Raupp, a muitos do PMDB que haveria uma encolhida radical do PMDB no Paraná, por uma questão óbvia: a de que, nos últimos anos, houve um descontrole do Diretório Estadual, permitindo que interesses pessoais de parlamentares estaduais, federais e de outros agentes políticos levassem à destituição de diretórios, à entrega do Partido a determinados grupos políticos que não eram peemedebistas natos.

            Foi muito claro isso quando, em 2002, o PMDB ganhou o governo no Paraná, com Roberto Requião e com o Vice-Governador Orlando Pessuti, ambos do PMDB. No entanto, em 2003, na preparação para as eleições de 2004, houve um assédio muito grande em cima dos prefeitos daquele momento, que eram prefeitos eleitos em governo anterior, o Governo de Jaime Lerner, um governo de oposição ao PMDB do Paraná, ao governo que se instalava em 2003.

            Houve, assim, manifestação de alguns segmentos do PMDB para conceder a militância ou o comando do partido em alguns Municípios do Paraná àqueles que não tinham em sua base a essência da militância peemedebista brasileira.

            Isso foi muito claro quando o PSDB assumiu o governo do Paraná, um governo até mesmo composto por agentes - parecidos ou os mesmos - que participaram do governo do Jaime Lerner, já que houve uma debandada geral dos que estavam no PMDB e que seriam candidatos pelo partido ao retorno da sua casa para o PSDB e para partidos aliados do PSDB no Paraná.

            Tivemos um baixo índice de inscrições de candidaturas a prefeitos do PMDB no Paraná em 2012. E o resultado, claro, foi o baixo número de prefeitos eleitos pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro no Estado do Paraná. Nós encolhemos 60%. Nas maiores cidades, tivemos tão somente um vereador; e em algumas, nenhum.

            Em Curitiba, o PMDB elegeu uma única Vereadora, a Noêmia, que foi reeleita. Em Maringá, não elegeu nenhum vereador. Em Londrina, também elegeu uma única Vereadora, Elza Correia, que é ex-Deputada inclusive. Na cidade de Ponta Grossa, um único vereador. Na cidade de Foz do Iguaçu, nenhum vereador.

            Isso é reflexo de um diretório que tem se descuidado das questões do PMDB. E não é só do PMDB. Começamos a perceber que há um crescimento de alguns partidos, mas por conveniência, não por ideologia partidária. É essa reflexão, Sr. Presidente, que trago à tribuna hoje.

            Primeiro, o meu descontentamento com a forma com que o Partido do Movimento Democrático Brasileiro tem sido conduzido no Estado do Paraná. Entendo que há necessidade de inovarmos, reformarmos, darmos uma nova cara ou resgatarmos o antigo MDB. É essa reflexão que venho fazer.

            O MDB, Movimento Democrático Brasileiro, foi criado em meados da década de 60, em 1965, quando da extinção dos partidos políticos no Brasil e da unificação do bipartidarismo. Constituiu-se a Aliança Renovadora Nacional - Arena e o Movimento Democrático Brasileiro - MDB, inclusive como forma de supressão, de repressão das manifestações ideológicas diversas que havia neste País.

            O MDB, desde 1965 e até conseguir a redemocratização deste País e as eleições Diretas Já, de forma implacável e inteligente, conduziu os mecanismos para que, de fato, houvesse a redemocratização no Brasil. Passou por momentos importantes, por atos heróicos. Chegando a 1988, antes um pouco disso, com uma articulação dentro do Colégio Eleitoral, elegendo Tancredo Neves e seu vice José Sarney, o MDB, inteligentemente, soube conduzir e ganhar as eleições, mesmo no Colégio Eleitoral comandado pelos militares.

            Após isso, vieram as eleições diretas, um ganho inegável do MDB, principalmente a Ulysses Guimarães; a Constituição de 88 e a redemocratização. Tudo isso luta do PMDB.

            No entanto, da década de 90 para cá, começamos a ver, nesses últimos 20 anos, que há uma necessária e abrangente despartidarização neste País. Percebemos que, cada vez mais, o eleitor vota na pessoa e não no partido político. Mas nós precisamos, Sr. Presidente, entender um pouco o sistema.

            O sistema brasileiro é perfeito; não foi feito para votar em pessoas, tanto que, se o eleitor prestar atenção, verá que o Congresso Nacional é conduzido por bancadas partidárias, por blocos partidários, e é dessa forma que são distribuídas relatorias, é dessa forma que são compostas comissões. O Governo Federal é composto por partidos, os ministérios são partilhados entre os partidos políticos - um tem dois, três; o outro tem um; de acordo com o seu tamanho, ele tem sua representação dentro do Governo.

            Qual é a sistemática correta? Um partido político, conforme seu programa ideológico, deve sugerir, ou deve impor, aos seus filiados uma ideologia que deve ser defendida dentro dos seus planos de governo, dentro das propostas que leva à população; e a população, quando for escolher nas urnas o seu prefeito, deve escolher a melhor proposta para a sua cidade, a melhor proposta para o seu Estado, quando da eleição de um governador, a melhor proposta para o seu país quando da escolha de um presidente da República.

            Essa proposta, no ano seguinte à eleição, tem de ser submetida ao Congresso Nacional, às assembleias legislativas e às câmaras municipais para ser transformada em leis, porque a diferença clássica entre público e privado é que, no privado, você pode fazer tudo o que quiser desde que a lei não lhe coíba e, no público, você só pode fazer o que a lei lhe permite. Sendo assim, a proposta que o candidato leva às urnas tem de ser transformada em leis, ir ao Congresso Nacional, ao Poder Legislativo, sob a forma de projeto de iniciativa do Executivo. E essa lei se chama PPA, Plano Plurianual. Todos os legislativos brasileiros, no ano subsequente à sua eleição e à eleição majoritária em seu Estado, Município ou País, vão analisar o Plano Plurianual, que nada mais é do que aquela proposta de governo, o plano de governo que foi oferecido ao eleitor durante o período eleitoral do ano anterior.

            Uma vez transformada em lei, ela será aplicada nos próximos 4 anos. E por que 4 anos? Porque um mandato no Brasil é de 4 anos. Se fosse de 5, a lei valeria por 5; se fosse de 6, a lei seria de 6 anos. Mas a lei é de 4 anos porque o mandato e a proposta vencedora nas urnas foi colocada para os próximos 4 anos.

            Mas, Sr. Presidente, caros Senadores e Senadoras, senhores telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, nós sabemos que, de fato, isso não acontece no Brasil, não acontece mais. E aí nós estamos, de certa forma, dando autorização a alguém para governar as nossas cidades, nossos Estados, inclusive a União Federal, sem a necessária reflexão da proposta, principalmente o eleitor dos Municípios brasileiros. Normalmente, ele não analisa a fundo, pelo menos em sua maioria, as propostas de seus candidatos.

            Eu acho que a eleição em que há vinculação direta do cidadão com o seu candidato é a eleição presidencial. Nas demais, o cidadão é altamente influenciado por vários fatores, inclusive o das lideranças locais e regionais que ajudam a formar a opinião.

            Então, Sr. Presidente, eu percebo que há necessidade de repensarmos os partidos políticos. Nós temos que repensar os estatutos dos partidos políticos, temos que promover a reforma política, por completo, aqui no Congresso Nacional. Enquanto não fizermos isso, o cidadão vai continuar votando na pessoa, e a pessoa, muitas vezes, vira um produto de marketing, como se estivesse sendo vendido durante o processo eleitoral, no rádio, na televisão, e apresentado como um produto que daria ao cidadão a solução para a sua cidade, para a sua família, para ele próprio, pelos próximos quatro anos. E não é assim. Tem que ter raiz. Tem que ter consolidação.

            Partido político é necessário. Partido político, minha gente, nada mais é do que a aglomeração de pessoas que partilham da mesma ideologia, da mesma ideia, e levam isso como fundamento para uma sociedade, levam isso para o debate entre as classes políticas locais, estaduais e nacionais. Partido político não pode ser meramente uma sigla utilizada como condição de elegibilidade, uma sigla sem a qual o cidadão não consegue promover o seu registro perante a Justiça Eleitoral. Partido político tem que ser aquele que forma a ideia do candidato. E essa ideia do candidato, que vem de dentro da ideologia partidária, daquela aglomeração de pessoas que partilham da mesma ideia, deve ser levada dentro da proposta de governo. Então, essa proposta de governo deve ser submetida ao cidadão, ao eleitor, que, por sua vez, deve escolher a melhor ideia, a melhor proposta para a sua cidade, para o seu Estado.

            Com muita honra, concedo um aparte ao Senador Cidinho Santos, do PR do meu querido Mato Grosso.

            O Sr. Cidinho Santos (Bloco/PR - MT) - Obrigado Senador Sérgio Souza. Cumprimento-o pelo pronunciamento. Na verdade, fui prefeito já por três mandatos, milito na área política e sei da necessidade urgente de termos uma reforma política. E até estamos nos preparando para apresentar um projeto de lei aqui no Senado, sobre essa questão do plano de governo. Como V. Exª colocou muito bem, considero estelionato eleitoral o fato de que as pessoas, numa campanha, prometem tudo aquilo que sabem que não vão fazer, iludem o eleitor, numa peça de marketing, por um marqueteiro que traz muitas vezes de outros Estados e não tem nenhum conhecimento da realidade daquele município. E, nesse projeto de lei que vamos apresentar, estamos colocando a responsabilidade sobre o candidato. Hoje, para você registrar uma candidatura, tem que apresentar um plano de governo para a Justiça Eleitoral. No entanto, a Justiça Eleitoral não cobra depois se você executou ou não aquele plano de governo. Então, basicamente hoje é uma peça de ficção o plano de governo que você apresenta na Justiça Eleitoral para registrar a sua candidatura. O que nós estamos querendo é que, através desse projeto de lei, o cidadão que apresentar um plano de governo para ser candidato seja acompanhado em sua execução pela Justiça Eleitoral, pelos órgãos controladores, sob pena de, se não cumprir pelo menos um percentual daquilo a que se comprometeu com a população, esteja impedido de disputar um próximo mandato. Se ele prometeu e não cumpriu e não teve um motivo para nano ter cumprido, ele tem que ser responsabilizado perante a Justiça Eleitoral numa próxima eleição. E V. Exª falou sobre a reforma política, uma reforma emergencial porque o que nós temos hoje são retalhos. A partir do momento em que se aprovou a reeleição no Brasil, temos situações em que o prefeito está no cargo e pode se candidatar novamente ao cargo, pode ser reeleito, mas qualquer parente dele, de segundo grau, se quiser candidatar-se a vereador, não pode ser candidato. Então, são discrepâncias que foram criadas com a questão da reeleição e das emendas que foram sendo feitas ao longo dos tempos. E transformamos a nossa questão eleitoral num retalho. Precisamos ter a coragem aqui, no Senado Federal, na Câmara dos Deputados, de enfrentar a reforma política, que é necessária, temos que definir se o financiamento de campanha vai ser público ou vai ser privado como está hoje. São temas que precisamos enfrentar aqui no Congresso Nacional. Era só isso. Muito obrigado e parabéns pelo seu pronunciamento.

            O SR. SÉRGIO SOUZA (Bloco/PMDB - PR) - Obrigado, Senador Cidinho.

            Nós temos que, de fato, reinventar o partidarismo no Brasil, e rápido, porque, se não o fizermos, Sr. Presidente, perderemos a essência da democracia, onde o coletivo e o bem comum devem prevalecer.

            Penso que, nestas eleições, há uma clara manifestação da personalização do voto: o cidadão está votando no seu candidato, na pessoa, e não no partido, e não no conteúdo que representa aquele candidato. E há uma manifesta intenção do eleitor de mudança, do novo.

            A exemplo, trago a capital do Estado do Paraná, Curitiba, onde o candidato da situação, daquela situação já colocada há quase 20 anos, em que um mesmo grupo governava o Município de Curitiba, que é o Município que tem a maior receita per capita do Brasil entre as capitais - perde tão somente para o Distrito Federal, que tem uma condição diferente; das outras 26 unidades federativas, Curitiba tem a maior receita per capita, com um orçamento que vai chegar próximo a R$6 bilhões para o ano de 2013 - é um exemplo.

            Então, eu vejo claramente essa personalização e a vontade de mudança, a vontade que o eleitor está tendo de promover a reforma, e nós precisamos fazer isso também dentro do partido político.

            Faço uma reflexão também dentro do meu Partido, do PMDB, no meu Estado, o Estado do Paraná. Entendo que precisamos fazer uma reforma, reformular pensamentos e a forma de conduzir o Partido. O Partido não pode ser tão somente um local que sirva de interesse para se ter um tempo de rádio e televisão durante o processo eleitoral, para conduzir alianças em determinadas regiões ou Municípios de acordo com a conveniência do político; o Partido deve ser um local para debater ideias, para se formar novas ideias, inclusive para pensarmos e sugestionarmos as cidades, os Estados e por que não o nosso País.

            Eu estou propondo uma reforma, um debate, pelo menos, para reformularmos o pensamento do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, que perdeu, nós últimos 22 anos, um pouco da sua essência. Ele ficou, sim, um velho MDB, não de guerra no mundo recente, porque ele foi velho de guerra da década de 80 para trás, mas, nos últimos 20 anos, ele precisa ser reinventado e inclusive atualizado para que tenha a velocidade da banda larga.

            Por fim, Sr. Presidente, eu sugiro ao Congresso Nacional que nós venhamos a dar a celeridade necessária à reforma política. Se assim não o fizermos, estaremos extinguindo o partido político deste País. E nós não podemos admitir isso, porque o partido político, repito, é aquele que aglomera as ideias ou aglomera pessoas que partilham de uma mesma ideia, de uma mesma ideologia, e essa ideologia sempre é em prol da democracia, em prol da manutenção de um sistema que tem dado certo neste País.

            Então, ressalto a todos os senhores e senhoras que, de certa forma, defendem, como eu, a democracia neste País, a necessidade da continuidade e da ênfase do que é um partido político e para que ele serve. Há personalização da eleição cada vez mais evidente, principalmente no Legislativo. Nós elegemos no Legislativo o vereador da ambulância, o vereador do ônibus, o vereador da condução da patrola, o prefeito da ambulância, nós elegemos aqueles que defendem, de alguma forma, para o Parlamento brasileiro ideias, ideologias, mas elegemos também aqueles que estão ali porque foram, em dado momento, artistas ou esportistas e, por este ou aquele motivo, entendem que conhecem e podem ser Parlamentares. Não estou dizendo que eles não representam dada faixa da sociedade; representam sim, mas eu acho que o partido político tem que estar por trás, inclusive, desses.

            Com muita honra, concedo um aparte ao nobre Senador do Estado de Rondônia.

            O SR. PRESIDENTE (Cidinho Santos. Bloco/PR - MT) - Senador Tomás, antes do seu aparte, um aparte, por favor. Apenas para registrar a presença dos alunos do ensino fundamental do Educandário Yara, de Goiânia, Goiás. Sejam todos muito bem-vindos aqui ao plenário do Senado Federal. Um abraço a todos e felicidades.

            O Sr. Tomás Correia (Bloco/PMDB - RO) - Muito obrigado. Senador Sérgio Souza. Estou ouvindo o pronunciamento de V. Exª com muita atenção. V. Exª traz algumas informações do Estado do Paraná sobre o PMDB que me deixaram um pouco preocupado. O PMDB no Paraná tem uma tradição muito grande. Veja V. Exª que ele já elegeu várias vezes o Governador do Estado do Paraná, tem grandes figuras naquele Estado, como é o caso do Senador Roberto Requião. Tivemos outras figuras do PMDB que foram eleitas Governadores, como é o caso do Richa, temos figuras extraordinárias que também pertenciam ao PMDB, como é o caso do Senador Alvaro Dias. E temos uma figura que considero uma pessoa fundamental, que tem uma história muito bonita no meu querido Estado do Paraná, que é o Deputado Alencar Furtado, que tive a honra de conhecer e de ser seu amigo. Tive o prazer de ser colega de turma de sua filha Stael Alencar Furtado. Do seu filho, fui contemporâneo de faculdade, Heitor Lopes de Alencar, que morreu tragicamente na década de 80, em 1982, na campanha eleitoral de 1982. Veja V. Exª, o PMDB tem, no Estado do Paraná, uma tradição de um partido forte, de um partido importante. Elegeu Senador e Governador por diversas vezes. Tem uma bancada grande de Deputados Federais naquele Estado. Elegia as principais Prefeituras do Paraná. Então, agora ouço o que V. Exª narra com muita preocupação e vejo que é necessária realmente uma remodelação, uma reforma, uma mudança, uma atitude no Diretório do Estado do Paraná. Entendo que, não querendo, evidentemente, entrar na discussão do Paraná, na parte interna do PMDB, isso preocupa a todos nós. Sou Presidente do PMDB do Estado de Rondônia, onde tivemos um relativo crescimento. Fizemos 15 Prefeituras no Estado de Rondônia. Tínhamos apenas 11 ou 12 Prefeituras e elegemos um pouco mais. Tivemos essa oportunidade. Lá, temos o Presidente Nacional do Partido, Senador Valdir Raupp, que recomendou, por decisão do próprio Diretório Nacional, que o PMDB tivesse candidato próprio, candidatura própria em todos os Municípios. Obviamente, onde não fosse possível, não teria. Essa foi a recomendação do Diretório Nacional, que tem a Presidência do Senado Valdir Raupp, em substituição ao Vice-Presidente Michel Temer. Agora o relato que faz V. Exª é de que o PMDB teve um decréscimo no Estado do Paraná de mais de 60%. Então, entendo realmente que é necessária uma discussão, é necessário o Diretório Nacional ter um debate, ter uma discussão, chamar a direção do Diretório Regional do Estado do Paraná para discutir e ver o que está havendo, porque o PMDB é o partido que fez o maior número de Prefeituras no País inteiro. Mesmo atendo caído um pouco no País inteiro, continua sendo o maior Partido. De sorte que eu queria dizer dessa preocupação que tenho. Como disse, embora seja uma questão local, regional, nós, do PMDB, somos um conjunto. O que afeta o PMDB do Paraná certamente afeta também o de Rondônia. Quero trazer aqui esse aparte e trazer essa minha preocupação e minha tristeza, porque o PMDB tem uma história tão bonita no Paraná, uma história tão importante, tão marcante. Imagine V. Exª que um Líder da Bancada do PMDB, na Câmara dos Deputados, que era o Deputado Alencar Furtado, foi cassado naquele tempo por ter uma posição muito autêntica, muito firme, muito determinada, muito ideológica, de defender as bandeiras das Diretas Já, da anistia, da reforma agrária. Defendia o salário dos trabalhadores, porque, naquele tempo, era um arrocho salarial enorme. Então, eu lamento sinceramente ter que dar este aparte a V. Exª, tendo essa informação de que no nosso Partido, no Paraná, houve esse decréscimo. Nesse caso, é lamentável. Eu gostaria que o discurso de V. Exª fosse para anunciar o crescimento do PMDB, como ocorreu em vários Estados. Muito obrigado a V. Exª.

            O SR. SÉRGIO SOUZA (Bloco/PMDB - PR) - Obrigado, Senador Tomás Correia. Eu também lamento muito ter que fazer essa reflexão e levar isso de forma direta a toda a Nação brasileira, através da TV Senado e através da Rádio Senado. Mas é algo sobre o que temos que refletir. E digo com bastante tranquilidade: não há nenhuma ação sem uma necessária reação. Aquela ação feita, lá no ano de 2003, aceitando a filiação de alguns naquele momento em que havia ainda a Resolução 22.721, do TSE, que regulamenta a fidelidade partidária, aquela ação, havendo demanda de muitos que não tinham afinidade com o PMDB, para o PMDB, por conta de que tinham o comando de prefeituras municipais, provocou a necessária reação que houve, agora, em 2012, em 2011, quando do momento da movimentação das filiações partidárias.

            E quem ganhou muito no Brasil, e por isso até a diminuição do PMDB em nível nacional, foi o PSD, porque o PSD se colocou, em 2011, como uma janela. Não foi para o PSD, com raríssimas exceções, nenhum candidato ou partidário que entendesse que essa era a ideologia que ele devia seguir. Eles foram para o PSD como sendo o cidadão que encontrava a janela necessária para uma candidatura na sua cidade. Essa é a regra.

            E eu digo com bastante tranquilidade, Senador Cidinho Santos, que preside a sessão neste exato momento: o partido que nascer em 2013 vai ser a maior janela de todos os tempos. Por isso é que nós temos que tomar o cuidado ao abrirmos mão - o Congresso Nacional - para outros Poderes, tanto o Executivo, quanto o Judiciário, legislarem, em detrimento desta Casa...

(Soa a campainha.)

            O SR. SÉRGIO SOUZA (Bloco/PMDB - PR) - ... porque, o Judiciário legisla. A Resolução nº 22.721 - salvo engano, é esse o número da resolução que regulamenta a fidelidade partidária - é uma legislação.

Não é um regramento a uma norma que já existe. Criou-se norma, inclusive procedimentos, inclusive prazos. E situações como essa são próprias do Poder Legislativo e causam consequências, porque não houve o debate necessário por toda a sociedade brasileira. Há o surgimento de oportunistas que criam partidos - não estou dizendo que com o PSD foi desta forma - e que vão para esses partidos porque é uma forma de janela, sem correr o risco de perder os seus mandatos.

            O PMDB diminuiu, numa análise prévia, no Brasil, em torno de 160 Municípios. Metade disso está no Paraná. Metade da diminuição do PMDB, no Brasil, ocorre por conta do crescimento do PSB em nível nacional - isso é fato; todos nós sabemos - e por conta do número de prefeitos que fez o PSD, do Prefeito de São Paulo, do Kassab, que fez 493. Partiu do zero, porque não tinha nenhum prefeito. É um partido que surgiu no ano de 2011. Agora, o PMDB encolhe em 160 Municípios. É lógico que ainda estamos disputando em 20 cidades o segundo turno, mas metade disso ocorre no Paraná, que é o berço do PMDB, é o berço da democracia, é a cidade que acolheu, por exemplo, o grande comício das eleições diretas, capitaneadas, naquele momento, por Ulysses Guimarães. Foi lá, na Boca Maldita, na cidade de Curitiba.

            Então, realmente, há uma frustração da minha parte. Faço esta reflexão no momento em que ocorrem, no próximo sábado, as convenções municipais no Estado do Paraná, em muitas cidades. Em pelo menos metade dos Municípios do Paraná haverá convenções municipais do PMDB. Agora, no dia 27 e no próximo dia 15 de dezembro, teremos convenção estadual no Paraná.

            Precisamos, de fato, fazer uma reflexão profunda para repensarmos a gestão do PMDB no Paraná e, lógico, analisarmos o partidarismo no Brasil, porque estamos, Sr. Presidente, no Terceiro Milênio. É outra velocidade, e temos que reaprender a fazer política. Temos que reaprender a fazer política, conversando, com transparência.

            Hoje, do Congresso Nacional, falamos para toda a população brasileira. O cidadão assiste aos julgamentos no Supremo Tribunal Federal ao vivo, por canais fechados e abertos. O cidadão acompanha a conduta e a vida do seu político pelos portais de transparência. Assim, isso tem que ser repensado e é preciso dar o devido respeito a esse ponto; é preciso perceber que, cada vez mais, somos homens públicos e, como tais, temos que ter a responsabilidade de retomar a rédea da democracia neste País através do partidarismo.

            Por isso, nós temos a grande necessidade de promover a reforma política no Brasil.

            Obrigado a todos os Srs. Senadores e a todas as Srªs Senadoras. Obrigado a todos que nos ouviram na tarde de hoje.

            Agradeço a cada um, fazendo, por fim, uma reflexão de que o partido político é um instrumento de democracia, porque o partido político é aglomeração de pessoas que partilham de uma mesma ideia e querem que essa ideia seja para a sua cidade, para o seu Estado e para o seu País.

     Uma boa tarde a todos!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/10/2012 - Página 56027