Discurso durante a 10ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque para a necessidade do respeito à liberdade de expressão.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. ESTADO DEMOCRATICO.:
  • Destaque para a necessidade do respeito à liberdade de expressão.
Aparteantes
Aloysio Nunes Ferreira.
Publicação
Publicação no DSF de 20/02/2013 - Página 4459
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. ESTADO DEMOCRATICO.
Indexação
  • COMENTARIO, FATO, REALIZAÇÃO, PROTESTO, LOCALIDADE, MUNICIPIO, FEIRA DE SANTANA (BA), ESTADO DA BAHIA (BA), OBJETIVO, IMPEDIMENTO, MANIFESTAÇÃO, CIDADÃO, ORIGEM, CUBA, AUTORIA, ENDEREÇO, INTERNET, LOCAL, PUBLICAÇÃO, MATERIA, ASSUNTO, POLITICA, PAIS ESTRANGEIRO, DEFESA, ORADOR, LIBERDADE DE EXPRESSÃO.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta, querida Senadora Ana Amélia, jornalista amante da liberdade de imprensa e de expressão, eu gostaria, primeiro, de saudar o meu querido Líder, Senador Wellington Dias, pelo pronunciamento que fez, relembrando o que se passou hoje no Palácio do Planalto quando a Ministra Tereza Campello e a Presidenta Dilma Rousseff falaram como o Brasil vai caminhar firmemente para, efetivamente, realizar o objetivo maior da Presidenta de extinguir a miséria e a pobreza extrema em nosso País.

            Eu quero, nestes próximos dias, voltar a esse tema para ressaltar a importância desse esforço extraordinário do Governo da Presidenta Dilma Rousseff, que dá passos adicionais àqueles que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu, em especial com o avanço do Programa Bolsa Família, do Brasil Carinhoso e da Busca Ativa.

            Todos nós, seres humanos, no Brasil, somos responsáveis, conforme a Presidenta Dilma ressaltou, por encontrar e descobrir onde estão aquelas pessoas que ainda vivem em condições de miséria, para que, efetivamente, venham a se inscrever em um programa como o Bolsa Família. Assim, é responsabilidade de cada um de nós, seja na Grande São Paulo, na Grande Rio de Janeiro, seja no interior do Acre, da Amazônia, do Rio Grande do Sul, em toda e qualquer parte do Brasil.

            Eu gostaria aqui de transmitir uma palavra àquelas pessoas que, inclusive agora, neste instante, estão se mobilizando para hoje, às 19h30, ali em Feira de Santana, no interior da Bahia, não distante de Salvador, realizar protestos, muitas vezes de natureza ofensiva, à blogueira Yoani Sánchez.

            Eu gostaria de transmitir a essas pessoas que no blog Generación Y, da Srª Yoani Sánchez, o que se encontra são palavras nunca ofensivas; são palavras que descrevem o cotidiano da vida de Cuba e que, estranhamente, encontram dificuldade de serem melhor divulgadas no próprio país de Yoani Sánchez por razões que envolvem a qualidade de seus textos.

            As crônicas sobre o cotidiano da vida de Cuba são hoje divulgadas em muitos países do mundo e pelo blog Generación Y, que é traduzido para mais de 17 idiomas, em razão do interesse pela qualidade dos textos de Yoani Sánchez.

            Mas eu quero aqui lembrar de algumas observações que me impressionaram em discursos do comandante e Presidente Fidel Castro nos anos 60, quando, num discurso vibrante, tão aplaudido pelo povo em Havana, dizia coisas, tais como: “El imperialismo tiene el miedo. El miedo! Y nada más que el miedo.”.

            Ora, eu fico pensando em todos aqueles que ontem não queriam a Srª Yoani Sánchez. Eu os convidei para sentar e dialogar, e, finalmente, consegui que se acalmassem um pouco e ouvissem as palavras de Yoani Sánchez, para, depois, então, formular perguntas. E ela as respondeu, mas, volta e meia, o tipo de ação daquelas pessoas eram por palavras de ofensa, inclusive a mim, como se eu fosse um traidor.

             Eu quero dizer que jamais serei um traidor com respeito às ideias que defendo. Desde que ingressei na vida pública, desde que fiquei persuadido, aos 21 anos, quando fui visitar os países socialistas da Europa Oriental, bem como os países ocidentais da Europa, do Mercado Comum Europeu, e vi como acontecia ali na União Soviética, na Tchecoslováquia, na Polônia, na Iugoslávia, na Bulgária, na Hungria - países que visitei - e também na Alemanha Oriental, e, sobretudo, quando testemunhei o que era o Muro de Berlim, eu, aos 21 anos, disse para mim mesmo: ”Sim, o socialismo tem muitas qualidades”.

            E é importante caminharmos na direção da construção de uma sociedade mais civilizada, mais humana e mais justa, com as características do que expressava Karl Marx quando disse que, numa sociedade mais amadurecida - depois de ele ter escrito o Manifesto Comunista, com Friedrich Engels, depois de ter escrito os volumes de O Capital, ele escreveu Crítica do Programa de Gotha, em 1875 - os seres humanos vão se portar de tal maneira a poderem escrever, como lema da sua sociedade, “ de cada um de acordo com a sua capacidade, a cada um de acordo com as suas necessidades”. E eu acredito nisso, até porque isso é tão semelhante ao que está na Bíblia sagrada. A palavra mais citada no Antigo Testamento, na Bíblia sagrada, é tzedakah. Está no Deuteronômio, em Davi, nos Provérbios, no livro do Êxodos. A palavra tzedakah foi 531 vezes citada no Antigo Testamento. Em hebraico significa justiça na sociedade, justiça social, o maior anseio do povo judeu, como também do povo palestino.

            Também está nas parábolas de Jesus. Falava Jesus que o senhor da vinha contratou inúmeros trabalhadores ao longo da jornada na primeira, na segunda, até a última hora do dia. E como cada um contratou o que ambos consideravam justo. Ao terminar a jornada, começou a fazer os pagamentos pelo último que ali chegou. Quando pagou o primeiro, esse lhe perguntou: mas o senhor está me pagando o mesmo que ao último que aqui chegou, e eu trabalhei mais do que ele? Ora, você não percebe que eu estou lhe pagando exatamente o que ambos combinamos como justo, e que o último que aqui chegou também deve ter o direito a obter o necessário...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ... para a sobrevivência de sua família.

            Eu não falei ainda 20 minutos a que tenho direito.

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco/PP - RS) - (Fora do microfone.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Perdão, mas me dê um tempinho mais.

            Quero aqui transmitir, prezada Presidente Ana Amélia, que as palavras de Marx também estão colocadas tão bem por São Paulo na Segunda Epístola aos Coríntios, quando disse que devemos seguir o exemplo de Jesus, que sendo tão poderoso resolveu se solidarizar, viver junto aos pobres, conforme está escrito, para que houvesse justiça e igualdade. Todo aquele que teve uma safra abundante não tenha demais. Todo aquele que teve uma safra pequena não tenha de menos. Essas coisas são comuns em Karl Marx, Jesus Cristo e em tantos filósofos e economistas que, tal como eu, defendem uma renda básica incondicional em cada país deste Planeta.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Mas quero dizer a esses rapazes e moças que protestaram tão veementemente, mas de maneira ofensiva, tentando impedir a palavra de Yoani Sánchez, que eles não compreenderam e elas não compreenderam que a vinda de Yoani Sánchez, com a nova lei de imigração cubana, que permitiu que ela finalmente viesse ao Brasil, pode ser um sinal fantástico para o Presidente Barack Obama finalmente acabar com o embargo, o bloqueio. Aquelas pessoas protestando queriam dizer a Yoani Sánchez como se ela fosse favorável. Ao contrário, ela esclareceu ali, ontem, que ela, sim, é crítica e propõe ao governo dos Estados Unidos acabar com o embargo. A vinda dela ao Brasil pode ser um sinal muito positivo de que isso venha acontecer.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Assim, como também que o Presidente Barack Obama venha a dar os passos para acabar com a prisão de Guantánamo, dar anistia aos cinco prisioneiros cubanos, personagens do livro de Fernando Morais, Os Últimos Soldados da Guerra Fria.

            Presidenta Ana Amélia, V. Exª sabe tão bem, e os que defendem a Revolução Cubana sabem tão bem que eu sou fiel aos ideais, por exemplo, da Rosa Luxemburgo, Senador Aloysio Nunes, que, certo dia, numa reflexão sobre a Revolução Russa, disse: “Liberdade apenas para os membros de um governo, liberdade apenas para os membros de um partido, por maior que ela seja, não é liberdade alguma. Liberdade só é liberdade para quem pensa diferente”.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Ora, Yoani Sánchez às vezes pensa diferentemente daqueles que defendem a Revolução Cubana, e eu sou partidário em defender a Revolução Cubana, mas quero que ela se mova na direção de prover efetiva liberdade de ir e vir, efetiva liberdade de opinião, efetiva liberdade de imprensa, de formação de partidos políticos. Aí, sim, creio que Cuba estará caminhando na melhor direção. Certamente, Senador Aloysio Nunes, os Estados Unidos estão observando bem esses sinais. A vinda dela para o Brasil é um sinal tão positivo, falar as coisas que ela tem falado, que poderá ser um sinal para que o Presidente Barack Obama fale: agora está na hora de darmos os passos para acabar com o embargo de mais de 50 anos.

            Com muita honra, Senador Aloysio Nunes Ferreira.

            Sr. Presidente, peço apenas que V. Exª permita um breve aparte do Senador Aloysio Nunes.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - Será muito breve, Senador Suplicy. Mas eu não poderia deixar de dar uma palavra de elogio ao discurso que V. Exª está proferindo, porque V. Exª, com sua colocação, demonstra que é perfeitamente possível defender-se a vinda da blogueira Yoani Sánchez para o Brasil. Colocar-se corajosamente, como o senhor se colocou, contra aqueles energúmenos, liberticidas, que tentaram impedi-la de falar, e, ao mesmo tempo, deixar de ser hostil à Revolução Cubana e ao regime cubano, colocando-se numa posição de quem conhece, valoriza os seus avanços, mas que é capaz de, mantendo a sua consciência crítica, verificar que é preciso que a Revolução Cubana, que o regime cubano avance muito mais, deixando de ser uma revolução e passe a ser uma democracia institucionalizada, com plenas liberdades para todos. Também registro com satisfação a observação que V. Exª faz, com a qual concordo inteiramente, de que a nova lei de imigração cubana foi um passo positivo, que demonstra que está a caminho - e esperamos que vá mais adiante - um degelo na situação política daquele país, rumo à liberdade e à democracia, como nós a entendemos.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Agradeço o seu aparte, Senador Aloysio Nunes.

            Gostaria de informar que há pouco recebi um telefonema do Deputado Otavio Leite, do PSDB do Rio de Janeiro, que me disse que está considerando realizar um convite - ele já o fez - a Srª Yoani Sánchez para, amanhã, junto com Dado Galvão, possivelmente passar num dos auditórios da Câmara dos Deputados o documentário sobre a Srª Yoani Sánchez. Talvez isso ocorra amanhã. Ele inclusive me convidou, caso aconteça até o início da tarde, uma vez que amanhã, a partir das 16 horas, eu e muitos Senadores do PT vamos participar, em São Paulo, da festa dos 10 anos de Governo do PT e dos 33 anos de história do Partido dos Trabalhadores.

            Agradeço a tolerância da querida defensora da liberdade de imprensa em nosso País, Presidenta Ana Amélia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/02/2013 - Página 4459