Discurso durante a 17ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 30 anos da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 30 anos da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Publicação
Publicação no DSF de 28/02/2013 - Página 6364
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CENTRAL UNICA DOS TRABALHADORES (CUT), COMENTARIO, HISTORIA, CENTRAL SINDICAL.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Delcídio do Amaral, Senadores e Senadoras, 21h44, venho à tribuna porque não tinha como eu não registrar um grande evento que hoje se realizou em São Paulo, lembrando os 30 anos da Central Única dos Trabalhadores.

            Sr. Presidente, o Presidente Vagner, presidente da Central, me ligou e pediu muito que eu estivesse lá em São Paulo, porque eu fiz parte da primeira executiva da CUT, fui Secretário-Geral, há 30 anos.

            Eu disse ao Presidente Vagner que, infelizmente, não dava para ir, pois quarta-feira é dia de plena atividade aqui no Congresso, e estaríamos elegendo os Presidentes das comissões de que eu participo - por exemplo, Comissão de Assuntos Sociais, que foi o Senador Waldemir Moka, e o Presidente da Comissão de Educação, o Senador Cyro. E, também, articulamos, já, a votação da Presidência da Comissão de Direitos Humanos - de que também participo - em que será empossada, amanhã de manhã, a Senadora Ana Rita.

            Também dizia a ele que tínhamos votação, hoje, de autoridades e de duas medidas provisórias. De uma delas V. Exª, inclusive, foi Relator, com a competência de sempre, e foi aprovada por unanimidade.

            Mas não poderia deixar de vir à tribuna e de lembrar aquele momento histórico. Até porque, Sr. Presidente, eu - com muito orgulho digo isso - tenho uma relação excelente com todas as centrais sindicais, todas. Não há uma central, não há uma confederação, não há um sindicato com o qual eu não tenha uma relação do mais alto nível.

            Inclusive, no dia de hoje, eu recebi aqui a mais nova central que foi formada no Brasil, a CSB, cujo Presidente é o Antonio Neto. Eu, normalmente, despacho aqui no cafezinho do Senado pela manhã, e estiveram aqui mais de 100 dirigentes sindicais. Foram apresentados a mim, um por um: o Estado, a categoria, o que fazem, o que representam. E eu disse a eles que a central é bem-vinda e que o tratamento que eu dou para as outras centrais, naturalmente, darei para a CSB, a central da qual o Presidente é o Neto.

            Mas, Sr. Presidente, no dia de hoje, em São Paulo, nós tivemos o ato lembrando os 30 anos da fundação da Central Única dos Trabalhadores. Eu estava lá. Eu participei daquele momento marcante para todos nós.

            Até aquele período, Sr. Presidente, o movimento sindical estava unificado. Assim foi no Conclat. Depois do Conclat, surgiram outras centrais sindicais, como a CUT, a Força Sindical, UGT, CGT, força independente, e por aí foi. Mas, naquele período, eu presidia, no Rio Grande do Sul, uma central unitária - Central Estadual de Trabalhadores. Ela unificava todos os segmentos dos trabalhadores no Rio Grande. Eu presidia o Sindicato Metalúrgico de Canoas e presidia essa central unitária. Mas quis o destino que diversas centrais fossem criadas. E, nesse encontro em São Paulo, com a presença do Presidente Lula, lembro-me até hoje de Olívio Dutra, nós elegemos, então, a primeira executiva da CUT. Jair Meneguelli, Presidente; Avelino Ganzer, Vice; e eu fui eleito como Secretário-Geral. Por isso, eu faço questão de deixar registrado nos Anais da Casa.

            A primeira executiva da CUT, que foi homenageada hoje em São Paulo, tinha Jair Meneguelli, como Presidente; Avelino Ganzer, como Vice-Presidente; eu fui eleito Secretário-Geral. Depois, tínhamos na executiva Jacó Bittar, João Paulo Pires de Vasconcelos, Abdias José dos Santos - grande Abdias -, José Novaes e, como eu disse, Avelino Ganzer, que representava a área rural.

            Também hoje em São Paulo, Sr. Presidente, foram homenageados os ex-Presidentes da Central: Jair Meneguelli, já citado; o nosso querido Vicentinho, Vicente Paulo da Silva; João Felício; Luiz Marinho, que hoje é Prefeito de São Bernardo; Artur Henrique; e ainda outros nomes que ajudaram a construir a Central, como, por exemplo, Kjeld Jakobsen, Olívio Dutra, Gilmar Carneiro dos Santos, Mônica Valente, Rose Pavan.

            Meu amigo Vagner Freitas de Moraes, Presidente da CUT, faço questão de registrar, neste momento aqui, o meu reconhecimento pela luta dessa central tão querida de trabalhadores e trabalhadoras do Brasil. O que a CUT fez e faz, ano a ano, com dedicação e com garra, sempre firme na defesa dos direitos e conquistas dos trabalhadores brasileiros. É claro que isso é motivo de orgulho para todos nós que estivemos lá no momento da fundação.

            A Central Única dos Trabalhadores hoje começa, Sr. Presidente, os atos de lembrança dos 30 anos, mas ela foi fundada no dia 28 de agosto de 1983, no antigo estúdio da Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, em São Paulo. Participaram desse evento, me lembro hoje, e até hoje na minha página quem entrar vai ver um vídeo em que eu faço a defesa daquela executiva, que acabou sendo eleita e depois empossada. E houve a defesa muito firme também do Presidente Lula e de Olívio Dutra. Ambos não faziam parte. Estavam lá para defender aquela executiva em que eles acreditavam e, com certeza, deu certo.

            Participaram desse evento mais de 5 mil delegados, 912 entidades, 335 urbanos, 310 rurais e 134 associações pré-sindicais, 99 associações de servidores públicos, 5 federações, 8 entidades nacionais e confederações.

            O contexto econômico e social da época era impressionante. O Brasil estava mergulhado em uma crise praticamente sem tamanho. A inflação ultrapassava os 150%, a dívida externa chegava a US$100 bilhões, o desemprego crescia, o salário mínimo não chegava a US$50, os salários cada vez mais arrochados. Sem contar que estávamos vivendo um período de regime militar, uma ditadura que havia iniciado lá em 1964, com a deposição do Presidente Jango.

            Em plena época da ditadura, foi um gesto ousado, liderado, Senador Delcídio, não tem como não dizer, por Luiz Inácio Lula da Silva, quem liderou a formação da Central.

            A CUT surgiu exigindo, primeiro, o fim da Lei de Segurança Nacional, o fim do regime militar, combate à política econômica daquele governo, contra o desemprego, pela reforma agrária sob controle dos trabalhadores e trabalhadoras, reajustes trimestrais, brigávamos na época porque a inflação era maluca todo mês, exigindo liberdade e autonomia sindical, redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução de salários.

            Aqueles dias de agosto, 26, 27 e 28, final de inverno. Foi um dos momentos, eu diria, mais fortes da minha vida no movimento sindical e com certeza mexeu com as emoções de milhões de trabalhadores em todo o País. Eu me recordo aqui, Sr. Presidente, e cito na minha fala, quando um trabalhador do Nordeste, que acalantava esse sonho de termos uma central, me disse quase aos prantos: "Paim, o sonho de criar uma central se tornou realidade". E claro que foi um momento muito forte.

            No livro que escrevi de memórias de um trabalhador, lançado em 2006, eu lembro esse e outros fatos. Mas houve um momento especial, que meus amigos da Central sabem e não há como eu não comentar aqui, Senador Delcídio, e en passant, vamos já para o finalmente. Houve um momento em que o Rio Grande do Sul não estava na executiva. Eu liderava ou coordenava, não importa, toda aquela bancada de guerreiros do Rio Grande, e lembro que disse: olha, pela história do Rio Grande, história de lutas, de guerreiros, nas caminhadas que lá fizemos. Por exemplo, íamos de Canoas a Porto Alegre a pé, em plena ditadura. Sai de Canoas com cinco mil homens e cheguei em Porto Alegre, em frente ao Palácio, com mais de vinte mil homens e queria invadir o Palácio. Eu tive que usar, sem microfone, e a população repetia: “Não à provocação; não à invasão”. Não invadimos o Palácio, fomos recebidos pelo Governador em exercício e contei fatos como o deslocamento que fizemos para fora do Brasil na busca de pedir a liberdade de Lilian e Universindo. Se liberte!

            Deslocamento que fizemos à Nicarágua em plena época de guerra. Estivemos no fronte na Nicarágua, tendo uma posição firme e clara do movimento sindical gaúcho contra aqueles que queriam acabar com o Governo do grande líder, na época, era inspirado em Sandino.

            Sr. Presidente, quando disseram que nós não estávamos na Executiva, eu peguei o crachá - acho que foi por isso que, uma vez, quase rasguei a Constituição na Câmara quando queriam retirar o direito dos trabalhadores - e disse: “A Bancada gaúcha está se retirando”. Quando chego na metade de rasgar o crachá, o Lula disse: “Que que é isso?” E ele e Olívio Dutra nos chamaram para conversar e, depois de muita conversa, ajustamos e a Bancada gaúcha ficou então com a Secretaria-Geral da Central em uma noite histórica e acabei junto com o Olívio e o Lula fazendo a defesa, naturalmente, com o Meneguelli e tantos outros.

            Sr. Presidente, de fato, foi um momento forte e bonito para todos nós. A Central Única dos Trabalhadores é a maior central sindical do Brasil, é a maior sindical, eu diria aqui da América do Sul. É a quinta da América Latina. Eu diria que os dados mostram que ela é a quinta maior do mundo, com 3.438 entidades filiadas; 7.464.847 de trabalhadores associados, representando, nada mais, nada menos, que 22 milhões de trabalhadores.

            A CUT tem por princípio a igualdade e a solidariedade, tem por objetivo organizar, representar e lutar pelos trabalhadores do campo e da cidade, do setor público e da área privada. Tem como finalidade - e, por isso, defendo aqui sempre com muita convicção - a defesa dos trabalhadores da ativa, mas também dos aposentados e dos pensionistas.

            Lutar por melhores condições de vida e de trabalho, por uma sociedade justa e democrática, onde todos tenham direitos e oportunidades iguais.

            Parabéns, companheiros da Central Única dos Trabalhadores. Parabéns a todas as centrais sindicais, mas hoje eu homenageio a CUT pelos 30 anos de existência e de resistência.

            Faço aqui a minha saudação à atual direção e deixo um grande abraço a todas as entidades filiadas à CUT e a todas aquelas que são filiadas também às outras centrais sindicais.

            O momento é de lembrança, mas de uma lembrança gostosa, ciente do dever cumprido. Participamos, em cada momento da nossa vida, da nossa caminhada, sempre olhando para frente, Sr. Presidente. E uma frase marcou cada dia em que militei no movimento sindical. E a frase, depois usei quando optei pelo Partido dos Trabalhadores, logo após a fundação da CUT, para ser Deputado Federal Constituinte. Lá no congresso do Rio Grande do Sul que decidiu que eu deveria representar os trabalhadores gaúchos como candidato único à Constituinte - havia dois candidatos; o outro desistiu para que eu fosse o único -, eu usei a seguinte frase: a minha vida é a luta em defesa dos trabalhadores da área pública e da área privada, dos aposentados e pensionistas e de todos os discriminados.

            Esse foi o eixo da minha vida como sindicalista, e não mudei, Sr. Presidente. Continua sendo o eixo da minha vida aqui no Parlamento.

            Agradeço. Fiquei nos dez minutos para que os outros Senadores possam usar da palavra.

            É isso, Presidente. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/02/2013 - Página 6364