Discurso durante a 30ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à restrição de visitas ao Senador boliviano Roger Pinto, exilado na Embaixada do Brasil na Bolívia.

Observação sobre a votação da Medida Provisória nº 586, que diz respeito ao pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA, PROGRAMA DE GOVERNO, EDUCAÇÃO.:
  • Críticas à restrição de visitas ao Senador boliviano Roger Pinto, exilado na Embaixada do Brasil na Bolívia.
POLITICA EXTERNA, PROGRAMA DE GOVERNO, EDUCAÇÃO.:
  • Observação sobre a votação da Medida Provisória nº 586, que diz respeito ao pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa.
Publicação
Publicação no DSF de 19/03/2013 - Página 10801
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA, PROGRAMA DE GOVERNO, EDUCAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, ACUSAÇÃO, BANCADA, OPOSIÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, BOLIVIA, LIMITAÇÃO, MINISTRO, ITAMARATI (MRE), VISITA, SENADOR, ESTRANGEIRO, SITUAÇÃO, EXILIO, EMBAIXADA DO BRASIL, MOTIVO, POSSIBILIDADE, PERSEGUIÇÃO, POLITICA, GOVERNO, PAIS ESTRANGEIRO, SOLICITAÇÃO, ORADOR, ALTERAÇÃO, ORIENTAÇÃO, ANTONIO PATRIOTA, MINISTRO DE ESTADO.
  • COMENTARIO, PROPOSTA, MEDIDA PROVISORIA (MPV), PACTO, AMBITO NACIONAL, OBJETIVO, ALFABETIZAÇÃO, CRIANÇA, REGISTRO, DEFESA, ORADOR, NECESSIDADE, REDUÇÃO, LIMITE DE IDADE, EFETIVAÇÃO, APRENDIZAGEM, LEITURA, CALIGRAFIA.

            O SR ALVARO DIAS (Bloco/PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Cícero Lucena, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, primeiramente, uma denúncia que vem da Bolívia e que se faz necessário o seu registro, da tribuna do Senado Federal, na direção do Ministério das Relações Exteriores.

            A oposição na Bolívia acusa o Ministro Patriota de limitar visitas ao Senador Roger Pinto, asilado na Embaixada brasileira desde maio do ano passado. Há poucos dias, elogiei o comportamento da Embaixada brasileira na Bolívia ao oferecer proteção ao senador de oposição, perseguido pelo governo do Presidente Evo Morales por ter feito denúncias de corrupção contra o governo boliviano. A oposição da Bolívia, neste domingo, acusou o Chanceler brasileiro Antônio Patriota de ter ordenado que se limitem as visitas ao Senador Roger Pinto, asilado há quase dez meses na Embaixada do Brasil em La Paz.

            A denúncia foi feita por membros de uma igreja evangélica da qual Roger Pinto é integrante. Diz o Senador Felipe Dorado, que também é da oposição, à agência de notícias Fides:

Tenho ligado para a embaixada e, finalmente, contatei o funcionário mais alto em serviço, que me confirmou que o mencionado na carta dos pastores é correto. A representação diplomática brasileira - que não atende aos domingos - não comentou a denúncia até o momento.

Lamentamos esta decisão do chanceler Patriota, que atenta contra os direitos humanos do Senador de oposição.

            No começo deste mês, Patriota acertou com o seu colega boliviano David Choquehuanca a formação de uma comissão binacional para revisar o caso do Senador Roger Pinto. É um Senador de direita na Bolívia que está na Embaixada do Brasil em La Paz, à espera de expedição do visto de saída, desde que Brasília lhe concedeu asilo, em 29 de maio passado, em sua delegação diplomática. O político chegou argumentando sofrer perseguição política por parte do governo boliviano.

            Dorado disse ter recebido denúncia por escrito da parte dos pastores evangélicos e considerou a medida injustificada.

            Nós estamos aguardando a visita do Ministro Patriota à Comissão de Relações Exteriores - e este é um dos assuntos na pauta - para que ele ofereça ao Senado um relatório sobre o que está ocorrendo na Bolívia.

            Roger Pinto tem 52 anos e fez várias denúncias de corrupção contra o governo do Presidente Evo Morales, razão pela qual, segundo ele, a situação entrou com cerca de vinte processos, a maioria por desacato, e, perseguido, ele se refugiou na Embaixada brasileira.

            Nós aguardamos, portanto, uma manifestação do Itamaraty, uma manifestação do Ministro Patriota a respeito dessa denúncia. E desde já o apelo, da tribuna do Senado Federal, para que o Ministro Patriota altere essa orientação, se possível, concedendo a possibilidade de visitas ao Senador Roger Pinto, que já está há cerca de dez meses num espaço limitado, portanto em precárias condições, refugiado na Embaixada brasileira.

            Essa era a informação primeira, Sr. Presidente, o registro que eu gostaria de fazer da tribuna do Senado Federal, certamente em defesa de prerrogativas constitucionais do Senador Roger Pinto, e, obviamente, a responsabilidade que tem o Brasil, através do Itamaraty, de preservá-lo e de oferecer a ele condições civilizadas para que possa, enfim, obter o visto de saída, protegendo a sua própria vida daqueles que, segundo ele, o perseguem em razão das denúncias de corrupção.

            O segundo tema, Sr. Presidente, diz respeito ao Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa. O Senado está para votar, provavelmente no dia de amanhã, a Medida Provisória nº 586, que versa sobre esse Pacto. Apresentei uma emenda - espero que os colegas a apoiem -, que tem por objetivo melhorar a proposta.

            Primeiramente, devemos estar atentos aos índices que o Brasil ostenta em matéria de analfabetismo infantil. A Região Sul é detentora do menor índice de crianças analfabetas (5,6%). Conforme dados do IBGE (Censo 2010), a taxa de analfabetismo em Santa Catarina é de 5,1%, no Rio Grande do Sul é de 6,7%, e no Paraná, 4,9%, o menor índice em todo o País. Na Região Norte, o índice é de 27,3%.

            Dentre os Estados com maior índice está o Acre, com 32,2%, seguido do Amazonas, com 28,5%. No Nordeste, o percentual total é de 25,4%: Alagoas, 35%, e Maranhão, 34%. No Sudeste, 7,8%, sendo o Espírito Santo com 10%, e o Rio de Janeiro com o índice de 9,3%. No Centro-Oeste, o total é de 9%, sendo o Mato Grosso com 10,9% e Goiás com 9% de taxa de analfabetismo. O índice nacional é de 15,2%, uma marca nada alvissareira.

            Tão logo foi anunciado o Pacto Nacional de Alfabetização, um dos pontos mais criticados pelos especialistas foi a meta estipulada pelo Governo para alfabetizar as crianças aos 8 anos.

            Em sintonia com a opinião de qualificados estudiosos, fomos estimulados a apresentar uma emenda fixando a faixa etária de alfabetização dos estudantes até os seis anos de idade.

            Na avaliação da consultora em educação Ilona (pós-graduada pela FGV-SP, especializações pela Harvard e mestrado pela PUC do Rio de Janeiro), “o mote de alfabetizar aos oito anos, ao final do 3º ano do ensino fundamental é péssimo. Foi uma escolha política confortável para o Ministério da Educação”.

            Ela prossegue afirmando que “a criança tem capacidade para se alfabetizar aos seis anos. Estamos sendo pouco ambiciosos". A leitura de textos simples e a compreensão de um ditado, para citar como exemplos, poderiam se dar aos cinco ou seis anos, como ocorre na maioria das escolas privadas, sustenta a mencionada especialista.

            Na mesma linha, opina Maria Izolda Cela de Arruda Coelho, Secretária de Educação do Ceará: “Oito anos é muito tarde. O País já paga muito caro pelo histórico de falta de atenção à educação. Então, se a ideia é mudar isso, temos de centrar esforços e apostar em metas mais ousadas".

            No tocante à meta estabelecida de oito anos, o neurocientista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Ivan Izquierdo destaca que pode parecer um mero detalhe, mas, nesse caso, um ano a mais faz diferença no direito dessa criança de se apropriar das coisas à sua volta: "Prejuízo intelectual não causa, porque sempre se pode alfabetizar depois, mas a criança perde espaço para participar do mundo". Também disse: "Não dá para trabalhar isolado. O cérebro é uma questão da neurociência. Aos três anos, a criança já tem condições de dominar e usar a linguagem. Aos seis anos, já pode estar alfabetizada".

            O Presidente do credenciado Instituto Alfa e Beto, Prof. João Batista Araújo e Oliveira, ressalta que seis anos é a idade na qual se alfabetiza na maior parte dos países que têm um idioma com complexidade parecida à da língua portuguesa, considerada semitransparente, isto é, que tem razoável correspondência entre grafema e fonema. Há línguas transparentes em que a correspondência é mais regular - como o italiano e o finlandês - e idiomas opacos, nos quais há muitas irregularidades entre a forma que se fala e a maneira que se escreve, como o inglês.

            Nesses idiomas, o processo seria mais demorado. "Considerando que a escolarização tem começado aos quatro anos, não dá para conceber que se leve outros quatro anos para que essa criança leia e escreva”, afirma Araújo e Oliveira.

            Em meio a essa torrente de análises, quero me associar em especial ao pesquisador da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília Antônio Testa. Ele reforça, com muita lucidez e visão estratégica, que o pacto pela alfabetização deveria ser trabalhado como uma política de Estado - e não de governo. Ele afirma: "Minha preocupação é que esse pacto saia da agenda rapidamente, como ocorreu com o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), e não se perpetue como uma política de Estado”.

            Um alerta que não pode ser ignorado nos faz refletir ainda mais sobre a moldura desse pacto.

            Outro ponto criticado diz respeito às "avaliações periódicas". Segundo a professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Silvia Gasparian:

Não podemos cair na loucura frenética de avaliar de forma demasiada. Hoje, as avaliações acabam se sobrepondo umas às outras, as federais, as estaduais, as municipais e as da própria escola. Precisamos racionalizar as práticas de acompanhamento dos resultados.

            Para concluir, Sr. Presidente, reitero a disposição de submeter essa emenda e solicitar o apoio das Srs. Senadores.

            Registro, mais uma vez, que a consultora educacional Ilona Becskeházy insiste que a prova concreta da possibilidade dessa alfabetização está nas escolas particulares: "Se o aluno do colégio particular aprende a ler e a escrever no primeiro ano, por que a expectativa para quem depende da rede pública é maior?"

            Inegavelmente a alfabetização tardia é uma questão cultural e mudar esse paradigma impõe que as políticas públicas considerem, além do olhar dos pedagogos, a visão de outros cientistas, como nos mostra o neurocientista Ivan Izquierdo. Repito: aos três anos, a criança já tem condições de dominar e usar a linguagem. Aos seis anos, já pode estar alfabetizada.

            Estaremos atentos ao desenvolvimento desse pacto no universo dos 5.182 Municípios que aderiram. A educação infantil merece toda a atenção.

            Portanto, o apelo ao final do pronunciamento é para que essa emenda possa ser aprovada, estabelecendo os seis anos de idade para a alfabetização nas escolas públicas brasileiras.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/03/2013 - Página 10801