Comunicação inadiável durante a 51ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Necessidade de adotar outras medidas para o controle da inflação que não o aumento da taxa de juros; e outro assunto.

Autor
Vanessa Grazziotin (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Necessidade de adotar outras medidas para o controle da inflação que não o aumento da taxa de juros; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 17/04/2013 - Página 18940
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, ELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA.
  • COMENTARIO, EXPECTATIVA, ORADOR, RELAÇÃO, DECISÃO, COMITE, POLITICA MONETARIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), ASSUNTO, PROVIDENCIA, OBJETIVO, CONTROLE, INFLAÇÃO, DEFESA, AUSENCIA, NECESSIDADE, AUMENTO, TAXAS, JUROS.

            A SRa VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Senadora Ana Amélia.

            Quero cumprimentar aqui essa meninada, jovens estudantes do Galois. São essas meninas e esses meninos, Senadora Ana Amélia, que futuramente estarão aqui ocupando os nossos lugares. Sejam bem-vindos e bem-vindas!

            Mas, Presidenta Ana Amélia, antes de iniciar a falar do assunto que me traz à tribuna no dia hoje, quero abrir um parêntese para, desde já, manifestar e expressar os meus cumprimentos ao Presidente eleito da Venezuela, Presidente Maduro. Foi uma eleição disputadíssima, extremamente disputada, mas que um dos lados ganhou, e Maduro é o novo Presidente da Venezuela, cuja eleição foi reconhecida já por quase todos os países da América Latina.

            Infelizmente, as manchetes que a gente percebe nos jornais são as declarações de Capriles, que foi o seu principal opositor e também concorrente à presidência daquele país. Segundo os jornais publicam, houve uma manifestação expressa no dia de ontem, de Capriles, dizendo da ilegitimidade do governo de Maduro. Penso que, em um processo eleitoral, independentemente da diferença, um lado ganha e o outro lado perde. E o bonito da democracia é o lado que perde reconhecer o lado vencedor.

            Mas voltarei à tribuna, Sra Presidente, para falar exclusivamente sobre esse assunto, porque o que me traz hoje à tribuna é a reunião que começou hoje no Copom. E eu olhava aqui que o Senador Mário Couto já traz ao plenário da Casa um pacote de farinha e o açaí, porque de acordo com o último levantamento, Senadora Ana Amélia, feito acerca da inflação, foi exatamente no Estado do Pará o registro do maior índice inflacionário do Brasil, e por conta exatamente desses que são os produtos regionais: a farinha que é lá produzida e o açaí, que é fruto do extrativismo, produzido não só no Pará, mas também no meu querido Estado do Amazonas, no Estado do Acre. Então, a reunião do Copom - Comitê de Política Monetária - se inicia hoje e vai até amanhã.

            A grande interrogação é: qual será a decisão desse Comitê de Política Monetária em relação aos juros deste País? E isso decorre, Sra Presidenta, Srs. Senadores, da escalada inflacionária, ou daquilo que a gente pode dizer, de uma possível escalada inflacionária que está ocorrendo em nosso País. E, ao ler as matérias, Sra Presidenta, eu quero dizer, em primeiro lugar, que fico impressionada - impressionada! - com a pressão, Senador Mozarildo, dos setores rentistas deste País em relação à reunião do Copom e a uma possível, que é o que eles reivindicam, subida na taxa de juros.

            Impressionante! Todas as revistas editadas no último final de semana e até os jornais de sexta, de sábado, de domingo, de ontem e de hoje, terça-feira, todos eles trazem matérias tratando quase que como certo o aumento das taxas de juros, que deveriam passar, segundo as expectativas, segundos as previsões, de 7,25 para 7,75, ou seja, fazendo com que o Brasil volte à escalada, à subida de juros. E isso por quê? Por que essa grande pressão? Porque alguns acham que a subida da taxa de juros não é o melhor, mas é o único remédio para acabar com a inflação.

            Sobre a inflação, Srª Presidenta, creio que, entre nós, não há quem a defenda porque, quando a inflação ocorre, o mais prejudicado ou os mais prejudicados são exatamente os trabalhadores de um país, aqueles que vivem de salário e veem os seus salários corroídos pela taxa inflacionária. Quem não lembra? Quem não lembra que nós tínhamos quase que reajustes diários? As contas bancárias eram contas automaticamente remuneradas, para fazer frente à taxa de inflação.

            Então, absolutamente ninguém em sã consciência defende...

(Soa a campainha.)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB -AM) - a manutenção da inflação, muito menos eu, que também, como a maioria do povo brasileiro, sou uma assalariada. Claro que uma assalariada que ganha um salário um pouco maior do que a média nacional, mas também que vive de salário. Então, eu jamais viria aqui para defender a inflação.

            Entretanto, o que eu coloco em questionamento é se seria o único remédio para fazer frente à inflação a subida da taxa de juros, porque taxa de juros elevados é outro cancro da economia brasileira.

            Aliás, eu aqui quero destacar um artigo que foi publicado hoje, no jornal Brasil Econômico, assinado por Murillo de Aragão, que é Presidente da Arko Advice Pesquisas. Ele mostra que a subida da taxas de juros não é o único remédio para combater a inflação e fala que, toda vez que a inflação começa a subir, esses setores que muito se beneficiaram e que ainda continuam a se beneficiar levantam-se rapidamente na defesa da subida da taxa de juros.

            O que é uma taxa de juros elevada senão a transferência de recursos públicos para os setores rentistas, aqueles que não produzem nada? Porque, quando nós temos taxas elevadas de juros, o que vemos: setores migrando da produção para o rentismo. Sem produzir nada, ganham muito. É dinheiro que gera mais dinheiro, que gera mais dinheiro, que gera mais dinheiro, e para quem já tem muito dinheiro. Aliás, essa foi a questão central que levou à crise econômica internacional, sob a qual o mundo vive até hoje, primeiro nos Estados Unidos e depois na Europa, porque não há controle sobre capitais absolutamente.

            Então, Srª Presidenta, o Dr. Murillo de Aragão, que publicou uma belíssima matéria, coloca que há outras alternativas para conter a inflação, que não seja exatamente a subida da taxa de juros. Aliás, em primeiro lugar, nós temos que estudar o perfil da inflação...

            (Interrupção do som)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM) - ... Senadora Ana Amélia, qual é a marca da inflação? O tomate. Adianta subir juros para o tomate? Por que o tomate encareceu? Por questões climáticas. Por que a farinha, no meu Norte, por que o açaí, no meu querido Norte, está caro? Dez reais o quilo da farinha no Estado do Amazonas, no Estado produtor de farinha. Aliás, a senhora é uma grande apreciadora. Tive a oportunidade de trazer a farinha do Uarini para V. Exª, Senadora Ana Amélia, farinha típica lá da minha região. Uarini é o nome do Município que produz aquela farinha. Por que está ao caro? É o alimento básico do povo. Por conta de questões climáticas. E aí, subir os juros, a farinha vai diminuir de preço? Subir os juros, o tomate vai diminuir de preço? É claro que não. Mas os setores rentistas agradecerão muito e o povo brasileiro é que sofrerá.

            Portanto, quero concluir o meu pronunciamento lendo apenas o último trecho do artigo assinado pelo cientista político e presidente da Arko Advice, o Sr. Murillo diz o seguinte:

Muitos tentam - a qualquer pretexto - voltar aos tempos das vacas gordíssimas de uns. Mas sociedade e governo não devem ceder à pressão de uma lógica que não cabe mais em um mundo inundado de dinheiro barato.

            Ele se refere ao fato de que, para que o Banco Central continue sendo um banco respeitado como é, não precisa necessariamente aumentar a taxa de juros. Os jornais, os rentistas, os setores financeiros, não só nacionais, mas também os estrangeiros, colocam que, para uma confiança renovada no Banco Central, seria necessário o aumento da taxa de juros.

            Sou contra e espero que haja responsabilidade e que haja uma visão para o País, para a necessidade de crescimento e também para a queda da inflação, mas que isso não tenha que necessariamente ser feito com o aumento das taxas de juros, que será muito ruim para o Brasil e, principalmente, para o povo brasileiro.

            Muito obrigada, Senadora.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/04/2013 - Página 18940