Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Exaltação à memória dos Srs. José Saulo Pereira Ramos e Paulo Vanzolini, falecidos recentemente.

Autor
Luiz Henrique (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Luiz Henrique da Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Exaltação à memória dos Srs. José Saulo Pereira Ramos e Paulo Vanzolini, falecidos recentemente.
Aparteantes
Ana Amélia.
Publicação
Publicação no DSF de 01/05/2013 - Página 22688
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ADVOGADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CIENTISTA, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco/PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Nobre Senador Jorge Viana, que preside esta sessão; Srªs e Srs. Senadores, vou iniciar falando para essa criançada que está aqui nos honrando hoje com a sua audiência.

            Quando eu era da idade de vocês, uma professora inesquecível, que se chamava Antonieta de Barros - que foi a primeira e única afrodescendente a ser eleita deputada estadual do Estado de Santa Catarina -, olhou para nós e disse: “Estudem, meninos, que vocês serão prefeitos, deputados, governadores, advogados, médicos, engenheiros! Estudem que vocês ocuparão função de destaque na sociedade!”

            E eu, Senador Jorge Viana, imaginei naquele momento: “Mas isso é impossível! Eu, filho da costureira Dª Tide e do jornalista de província Sr. Moacir, ser prefeito, ser governador, ser Deputado, ser Senador?”

            Pois bem, eu quero dizer a vocês: eu estudei e hoje estou aqui, saudando a presença tão importante de vocês todos que aqui compareceram ao plenário do Senado.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo esta tribuna hoje para exaltar duas personalidades que já pertencem à história deste País: o advogado Saulo Ramos; e o cientista e compositor, o cientista e poeta Paulo Vanzolini.

            São duas perdas irreparáveis, dois protagonistas dos acontecimentos históricos deste País nas últimas seis décadas.

            Paulo Vanzolini era um pesquisador, um cientista, um zoólogo de fama internacional. E, ao mesmo tempo em que se dedicava à sua atividade no Instituto Butantan, ao mesmo tempo em que produzia conhecimentos, principalmente na área da herpetologia, era um boêmio, que, na noite paulista, produziu joias do cancioneiro popular brasileiro, como “Ronda”, “Na Boca da Noite” e “Volta por Cima”.

            Ao mesmo tempo em que se apresentava como sambista e que se reunia com músicos e outros compositores da noite paulistana, Paulo Vanzolini articulava a criação da importantíssima Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a Fapesp.

            Paulo Vanzolini era um homem universal. O poeta mineiro dizia: “Há pessoas que não morrem, encantam”. Paulo Vanzolini nos encantou durante toda a sua vida.

            E o que dizer do advogado José Saulo Pereira Ramos? Ele que nasceu na mesma Brodowski de Cândido Portinari. Ele que vai exaltar, pelo resto dos tempos, a pequenina Brodowski, tendo lá nascido. Ele que também era poeta, escritor, jurista, que teve uma vida marcante nos tribunais deste País.

            Mas eu quero exaltar do advogado Saulo Ramos a articulação que fez para que Mário Covas ainda jovem, inexperiente, se alçasse a uma candidatura à Prefeitura de Santos.

            Foi aquela candidatura que representou o primeiro passo na construção da carreira magnífica desse grande brasileiro, desse inesquecível brasileiro, desse brasileiro que se afigura sempre na nossa memória como uma das maiores reservas morais deste País. Pois Saulo Ramos estava lá articulando o jovem Mário Covas como candidato a prefeito.

            Mas eu quero exaltar do advogado Saulo Ramos a sua presença na defesa dos direitos humanos, dos perseguidos pela ditadura, daqueles que foram estigmatizados pelo regime autoritário, e a grande obra de Saulo Ramos, ele que era discípulo da figura inexcedível de Vicente Rao.

            Eu quero elevar a luta que teve como culminância todo o processo de estabelecimento da verdade em relação à morte de Vladimir Herzog. Foi através da pena de Saulo Ramos, através de sua inteligência...

(Soa a campainha.)

            O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco/PMDB - SC) - ... não podendo fazer na área criminal, mas fazendo na área civil, que a Nação começou a cobrar, a Nação começou a pedir, a Nação começou a exigir a verdade sobre a morte de Vladimir Herzog, que foi torturado e assassinado no silêncio da masmorra.

            Saúdo, portanto, neste momento a memória desses dois grandes brasileiros.

            Paulo Vanzolini, que Deus o tenha no meio daqueles com quem conviveu, outros poetas paulistas e paulistanos que já se foram, fazendo o melhor samba, a melhor canção, a melhor música, que representa o que há de melhor, a criação e a alma brasileira. Saulo Ramos, que a tua luta em defesa dos direitos humanos, no episódio mais conturbado da vida brasileira, te exalte para sempre, na memória do nosso povo!

            O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco/PT - AC) - A Senadora Ana Amélia estava pedindo um aparte, Senador.

            O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco/PMDB - SC) - Concedo um aparte, com muito prazer, a esta nossa colega guerreira!

            A Srª Ana Amélia (Bloco/PP - RS) - Caro Senador Luiz Henrique, queria associar-me à homenagem que V. Exª, da tribuna do Senado, faz a esses dois personagens encantadores! Deus dá talentos às pessoas e, como dizem as Escrituras, temos a obrigação de multiplicá-los. No caso de Paulo Vanzolini, acho que ele foi generoso nas duas áreas, a da ciência e a da música. E o que ele deixou de legado, além de toda a admiração do campo científico, foi também em relação à produção da música maravilhosa - e todos sabem, mesmo os não paulistas sabem, de cor, algumas das músicas mais memoráveis que ele produziu e escreveu, refletindo a realidade de São Paulo. Queria também fazer uma referência à memória de Saulo Ramos, que conheci como Consultor-Geral da República - esse era o nome que se dava a essa designação, no governo do ex-Presidente, nosso colega, o Senador José Sarney. É uma pessoa de fino trato, de bom trato, um homem muito cavalheiro, muito cioso das suas posições e das suas idéias. Também concordo com V. Exª sobre a preocupação dele com os direitos humanos, mas, quando li o livro Código da Vida, encantou-me a facilidade do intelectual Saulo Ramos e, sobretudo, a história que ele narra no livro, que é um, digamos, um enredo muito interessante, prende a atenção. Só que não são personagens fictícios, são personagens reais, e um deles passei a conhecer e admirar mais, que foi o caso do Ministro Cezar Peluso. E a outra narrativa que ele faz, no mesmo livro, é de uma história de pescadores.

(Soa a campainha.)

           A Srª Ana Amélia (Bloco/PP - RS) - Usando a linguagem dos pescadores da região do interior de São Paulo, com um pouco de mineiro, que parece quase um Graciliano Ramos ou Guimarães Rosa, pela forma como escreve e traduz aquela linguagem desses pescadores. Então, quero saudá-lo pelas duas homenagens justíssimas que faz a esses dois grandes brasileiros.

           O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco/PMDB - SC) - Agradeço a V. Exª, Senadora Ana Amélia.

           Em junho de 2012, escrevi um artigo no jornal A Notícia, onde compareço todo domingo, a respeito desse livro extraordinário. Eu peguei o Código da Vida e fui até o fim, de uma sentada, como diziam os antigos.

           É um livro que tem uma estrutura que nos instiga a prosseguir até descobrir o desfecho do caso que ele relata ao longo de todo o Código da Vida.

           Mas eu escrevi o seguinte: “O Código da Vida, ao qual estou me referindo, é aquele que revela um escritor que eu não sabia de um advogado que eu conhecia”.

           Saulo Ramos foi uma figura estelar na advocacia brasileira. Uma figura polêmica, como todo advogado o é, mas certamente ocupará um lugar importante na história, seja na história forense seja na história da vida pública nacional.

(Soa a campainha.)

           O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco/PMDB - SC) - Paulo Vanzolini de noite este País vai rondar a cidade a te procurar e vai encontrar a tua presença na tua obra.

           Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/05/2013 - Página 22688