Discurso durante a 68ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Saudação às mães pelo transcurso, no próximo domingo, do Dia das Mães, destacando o seu papel como fiscalizadoras da escola de seus filhos.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Saudação às mães pelo transcurso, no próximo domingo, do Dia das Mães, destacando o seu papel como fiscalizadoras da escola de seus filhos.
Publicação
Publicação no DSF de 11/05/2013 - Página 25132
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, MÃE, COMENTARIO, IMPORTANCIA, FUNÇÃO, MULHER, RELAÇÃO, ACOMPANHAMENTO, EDUCAÇÃO, FILHO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Um bom-dia a cada um e a cada uma.

            Srª Senadora Ana Amélia, que preside esta sessão, Srªs e Srs. Senadores, o tema de hoje eu acho que - não resta dúvida - deve ser nossa homenagem às mães, como a Senadora Ana Amélia inclusive começou fazendo, e, obviamente, à maior das mães, que é própria cidade da gente.

            Eu quero também fazer uma saudação, mas lembrando que a mãe é duplamente mãe, porque, entre os seres humanos, nós nascemos duas vezes. Nós nascemos primeiro biologicamente. Hoje em dia - não no meu tempo de nascer, mas hoje em dia -, na maternidade. E cada um de nós nasce outra vez, intelectualmente, na escola. E é a mãe que provê esses dois nascimentos. É ela que dá à luz e é ela que leva à escola.

            Eu quero falar aqui deste duplo papel que tem uma mãe: o de dar à luz e o de dar a escola, de levar à escola.

            Se apenas der à luz biologicamente, não está preparando o filho para o futuro. E aí, Senador Mozarildo, ela está perdendo a chance imensa de receber dos filhos os presentes que aquelas que educaram os filhos conseguem: o presente de ver o dia em que o filho ou a filha começa a ler. Este é um presente maior do que aquele que a gente compra nas lojas para dar às nossas mães: o dia em que o filho começa a demonstrar um pendor para uma atividade intelectual, para a poesia, para a Literatura, para a Matemática, para a Física.

            As mães que não cuidam de levar os filhos às escolas perdem a chance de ter este presente maravilhoso, que é estar assistindo à formatura de um filho na faculdade. Tudo isso começa lá atrás quando, bem pequenininho, o filho ou a filha é levado ou levada para a escola.

            E alguns podem dizer: “Mas as mães que não estudaram como é que podem levar o filho para a escola?”. Igualzinho às que estudaram. Indo lá, olhando nos olhos dos professores, vendo se o prédio da escola está bonito, testando se a merenda é boa.

            Não precisa ser educado para saber se uma escola é boa ou ruim. Você quase sente no nariz uma escola boa e uma escola ruim. Não há escusa para quem não cuida da educação do seu filho. E se você sente - mesmo quem não é educado - que a escola não é boa, cobre, brigue.

            Jamais a gente pode imaginar uma mãe que não fiscaliza, cuida, briga e exige do médico, Senador Mozarildo, como o senhor. Mas ela não cuida, não briga, não olha o professor. O professor é tão importante quanto o médico. O médico, é mais urgente a necessidade que a gente tem dele, é ali ou nunca. Mas, do ponto de vista da construção da pessoa, o médico é, no mínimo, igualmente importante que cada um do professores e professoras de uma criança.

            Uma mãe que é capaz de fiscalizar com cuidado o papel e o trabalho de um médico, que é capaz de reclamar de um hospital, ela tem obrigação de acompanhar o trabalho do professor de seu filho e a qualidade da escola onde ele estuda. Por isso, minha primeira referência é a este papel duplo de ser mãe: a mãe de dar à luz e a mãe de levar à escola. Mas, ao mesmo tempo, esse trabalho não é feito só pela mãe. Aliás, nenhum dos dois, nem mesmo dar à luz aconteceria sem o pai. Levar à escola também exige que haja o pai por perto; a formação vem desse casamento que há entre a figura paterna e a figura materna.

            Por isso, eu quero começar citando aqui referências às mães, começando por aquelas que hoje - aliás, depois de amanha - vão comemorar o seu dia sem terem o marido ao lado, acompanhando, cuidando e criando a criança sozinha. Essas mães merecem nosso respeito de uma maneira ainda maior que as outras, e é cada vez maior o número delas. A mãe que tem que ser mãe e pai ao mesmo tempo todos os dias. É para elas que eu quero começar falando.

            Mas eu quero falar também, de uma maneira específica, para as mães de condenados presos, que nesse dia não vão poder receber o abraço do filho porque ele está preso por uma condenação. Não faço diferença aqui do crime que cometeu esse preso. Ele é filho e a sua mãe tem o direito de ser aqui lembrada. Falo também para as mães presas, prisioneiras, que no caso do Brasil está crescendo muito esse número, de mães que vão estar no domingo longe dos filhos porque ela, a mãe, cometeu algum crime e recebeu uma penalidade.

            Eu quero falar para as mães de crianças doentes, tanto aquelas doentes que precisam de um médico e que nem sempre a mãe consegue, e eu falo tanto para aquela mãe que tem acesso ao médico, ao remédio e ao tratamento como para aquela que não tem acesso a médico, ao remédio e nem ao tratamento. As duas sofrem, mas uma sofre sem ver saída, sem ver luz no fim do túnel, para que alguém cuide da sua criança. Eu falo para elas com o carinho, o respeito e a solidariedade.

            Eu quero falar para as mães daqueles que são doentes e que nem os médicos conseguem resolver, aquelas doenças crônicas, as mães dos autistas, dos que sofreram paralisia cerebral, dos que têm todos os tipos de doenças que são crônicas, que nem adianta procurar o médico buscando a cura, mas apenas a melhoria da qualidade de vida.

            Eu quero falar para aquelas mães que não vão ter presente domingo porque os filhos estão desempregados, e são muitos, e crescente o número dessas mães, cujos filhos desempregados não vão poder dar o presente que gostariam. E para aquelas mães que têm uma situação ainda muito pior, cujos filhos caíram na droga. Essas passarão o domingo, Dia das Mães, certamente, envoltas nas dificuldades de sofrimento que têm diante da dependência de um filho que está viciado.

            Eu quero falar para as mães que perderam o filho, que não vão receber presente de um dos filhos ou, talvez, até do único filho que teve, porque ele já não está mais vivo. Essas mães merecem o nosso respeito, o nosso carinho, a nossa solidariedade, a nossa compreensão e nossa lembrança, como estou fazendo aqui.

            Eu quero falar para as mães cujos filhos estão distantes, com saúde, estão bem, mas longe e que, por isso, não vão ter a presença do filho nesse momento.

            Eu quero falar para as mães que ficam com medo durante o dia da violência que seus filhos e filhas podem sofrer na rua, que têm medo quando a filha vai para a faculdade porque não sabe o que vai acontecer no caminho. Hoje, um número crescente de mães neste País sofre por causa da violência ao redor.

            Eu quero falar para as mães domésticas, aquelas mães que trabalham como domésticas e que dedicam mais tempo cuidando dos filhos de outras, para poder ganhar um dinheirinho, do que dos próprios filhos, ou que cuidam bem dos filhos das outras que lhes pagam salário, sabendo que, em casa, os filhos não estão sendo cuidados, ou que preparam os filhos de outras, patroas, para irem a uma boa escola, bem vestidos, carregando livros, sabendo que as suas crianças não irão para escolas boas, não levarão livros, não vão aprender para sair desse ciclo da pobreza.

            Eu quero falar para todas essas e acrescentar uma que a Senadora Ana Amélia me lembrou: as mães que não são biológicas, e que confesso que não tinha lembrado na hora de preparar a minha fala. Essas mães, que são tanto quanto as outras, do ponto de vista do carinho, e às vezes muito mais ainda, porque foi uma opção, não foi uma condição que levou a isso. Essas mães que escolheram, que fizeram a opção de cuidar de uma criança e que nem deram à luz biológica, mas todos os dias dão à luz espiritual, ética, mental intelectual. Para todas essas eu deixo aqui o meu abraço, dizendo duas coisas mais.

            Uma, que quando uma mãe cuida, dá à luz um menino, uma menina, dá à luz um brasileiro, uma brasileira; mas quando cuida da educação desse menino ou dessa menina, não está dando à luz o menino ou a menina, está dando à luz o Brasil. Quando se dá à luz biologicamente, é um brasileirinho, mas quando se educa esse brasileirinho, se dá à luz o Brasil inteiro. As mães dos brasileirinhos, quando educam os filhos, elas se transformam em mães também do Brasil inteiro.

            Mas para isso - e eu concluo - é preciso que cada um desses brasileirinhos e brasileirinhas deem o melhor presente que eu sei que uma mãe gostaria de receber: uma nota boa na escola, um comportamento condigno no dia a dia da vida, um exemplo, para que a mãe receba o maior dos presentes: o orgulho de ser mãe.

            Era isso, Srª Senadora, que eu tinha para colocar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/05/2013 - Página 25132