Pela Liderança durante a 66ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre os obstáculos que o Brasil precisa enfrentar para se desenvolver.

Autor
Inácio Arruda (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/CE)
Nome completo: Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.:
  • Reflexão sobre os obstáculos que o Brasil precisa enfrentar para se desenvolver.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 09/05/2013 - Página 24345
Assunto
Outros > POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.
Indexação
  • REGISTRO, FATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), REALIZAÇÃO, SEMINARIO, LOCAL, CIDADE, SÃO PAULO (SP), OBJETIVO, DEBATE, ASSUNTO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO, BRASIL, ENFASE, NECESSIDADE, MELHORIA, INFRAESTRUTURA, TRANSPORTE, EDUCAÇÃO, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, IMPORTANCIA, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, PAIS.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, um dia especial para o Senado Federal, de grande atividade. Votamos a indicação de vários diplomatas para defenderem o nosso País e, digamos assim, estabelecerem esse processo de integração entre as nações. Votamos vários representantes para o Conselho do Ministério Público, que é muito importante. Votamos também os diretores da Agência Nacional de Águas, que para nós é muito importante no Semiárido e, claro, em todo o Brasil, com o potencial hídrico que tem a nossa Nação; da Agência Nacional do Petróleo, outra riqueza espetacular, o Brasil está cada dia descobrindo novas áreas produtoras; e também da Agência Nacional de Cinema, outro espaço também fabuloso do Brasil, que é a arte, a cultura popular, a produção de audiovisuais.

            Nós, que votamos as cotas, votamos o Fundo de Cultura, reforçando o papel da produção audiovisual, e só a cota, meu caro Senador Paim, são três horas de exibição, de produção nacional, em 168 horas semanais. Foi uma peleja aqui, acompanhada pelo Senador Jucá, especialmente, que trabalhou intensamente para que nós fizéssemos o acordo de usar três horas em 168. Isso só está abrindo o mercado de forma espetacular em nosso país.

            Cito esses espaços, das nossas agências, os nossos embaixadores, a Agência Nacional de Águas, a Agência Nacional de Petróleo, a Agência Nacional de Cinema, para mostrar a importância deste debate sobre a questão econômica brasileira, o debate sobre o desenvolvimento do Brasil, sobre um projeto de desenvolvimento do nosso País.

            Nós realizamos agora, no sábado e no domingo, um seminário do nosso Partido, do PCdoB, em São Paulo. Foram dois dias de debates intensos entre amigos nossos, dirigentes partidários. Lá fizemos uma mesa que reuniu o PCdoB, o PT, o PDT e o PSB, para discutir o Brasil, discutir os rumos da nossa Pátria, da nossa Nação, que tem ganhado projeção razoável no cenário político e econômico mundial. A nossa economia colocou-se em outro patamar. Nossa relação política colocou-se em outro patamar, e nós do PCdoB temos examinado, cotidianamente, a realidade brasileira, onde estão os gargalos dos nossos problemas, onde estão as nossas limitações, quais são as questões que nós precisamos examinar; essa questão da infraestrutura no Brasil; a questão da logística no Brasil.

            Agora mesmo, só para termos ideia do que isso significa, um dos principais problemas da estiagem no Nordeste estava ligado à questão da silagem, de ter uma segurança, porque você hoje tem uma segurança alimentar para a população, você tem água, você tem alimento para a população, mas você não teve alimento para os animais. E, mais uma vez, nós tivemos que vender o nosso rebanho ou vê-lo morrer. Então, é um problema da logística também, de silagem, de armazenagem de alimentos.

            Aqui, o Mato Grosso disse: “Está aqui o milho, venham pegar.” Nós não tínhamos como levar o milho - nem o transporte. Quer dizer, a carreta, o meio rodoviário quase como sendo o único meio de ligação no País. Como lá estava na estiagem e aqui estava chovendo, lá nós estávamos precisando do milho, aqui tinha milho sobrando, mas as estradas não permitiam os carros trafegarem por este Brasil afora. Então, nós vemos um desses gargalos gigantesco.

            Veja o problema de outro gargalo que nós enfrentamos no Brasil: a preparação do povo, a formação do povo - formação técnica, formação superior. E isso só tem grande quantidade para você dizer “o nosso povo está pronto para responder a qualquer necessidade” se você tiver grande quantidade na sua base, na sua formação que é ali, na educação infantil, escola de ensino fundamental e uma formação média com características de formação profissional, que é um pouco do que o mundo tem.

            Nós estamos na seguinte situação: temos que buscar o profissional fora do Brasil, porque nos foi anunciado aqui, pela diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, num debate na Comissão de Infraestrutura, que nós precisaríamos, só para o setor de petróleo nos próximos anos, de mais ou menos uns 150 mil engenheiros; que nós precisaríamos formar 150 mil engenheiros-ano, e vamos alcançar, depois de um incentivo extraordinário, vamos conseguir chegar a atender um terço dessa necessidade. Um terço da necessidade só para uma área, só para um setor!

            Quer dizer, ao pedir que o País se desenvolva, ao pedir que o País cresça, ao oferecer condições mínimas para o desenvolvimento, para o crescimento, nós encontramos um gargalo aqui ao lado: a questão da formação, do preparo da população brasileira para responder a essa necessidade.

            Então, Sr. Presidente, nós nos debruçamos sobre esses temas, os temas da realidade econômica, social e política brasileira, ante a necessidade de nós darmos uma nova arrancada. É como se nós tivéssemos, especialmente no final do primeiro governo do Presidente Lula e início do segundo governo, nós tivéssemos começado, assim, uma arrancada razoável, com vários programas de porte no Brasil, entre eles o Minha Casa, Minha Vida, para atender um déficit gigantesco que nós tínhamos, de mais de 7 milhões de unidades novas, que precisávamos construir, além da necessidade de recuperar milhares, ou milhões de moradias no Brasil.

            Então, ali, digamos que nós tivemos uma largada boa. Agora nós precisamos avançar mais, e aí precisamos enfrentar problemas cruciais que nós temos trazido aqui constantemente e consideramos que eles são responsáveis, digamos assim, por parte dos freios que mantêm a economia brasileira num patamar de crescimento limitado. Um deles, em que nós temos insistido muito, é a questão do nosso câmbio. E eu ouvi pelos jornais agora que nós vamos ter uma nova derrama de dinheiro internacional. É a vez de o Japão fazer a sua derrama. Então, o Japão vai injetar US$1 trilhão na economia mundial - os americanos já mandaram US$4 trilhões; os japoneses vão entrar com mais US$1 trilhão; os europeus também já mandaram os seus trilhões de euros; esse dinheiro, uma boa parte, dito pelos analistas e especialistas, é dinheiro especulativo; não tem meio-termo, eles já avisam logo: “É dinheiro especulativo. Eu quero entrar no seu país, faturar uma grana e sair o mais rápido possível da sua nação”.

            Então, veja que esse é um problema crucial nosso. Que mecanismos nós vamos utilizar nessa questão do câmbio para ver se é possível nós tratarmos essa questão?

            Como vamos tratar essa questão do câmbio no Brasil? Como? Então, nós vamos trabalhar recebendo esse dinheiro? Como é que vamos fazer com esse dinheiro japonês? Ele vai chegar aqui, ele está batendo à nossa porta, ele vai pressionar a nossa Nação. Como é que nós vamos fazer? Esse dinheiro vai entrar para nos ajudar na produção ou esse dinheiro vai nos ajudar só na especulação?

            Temos que examinar como vamos tratar essa derrama japonesa na economia mundial. É sempre um pouco assim: como é que vamos cuidar da nossa moeda frente a uma nova ofensiva trilionária? Vamos dizer somente que são bem-vindos os trilhões do Japão? Como eles vão ser aplicados no Brasil? Vão entrar onde? Vão nos ajudar na produção? Vão trazer tecnologia? O que vai ser feito com esse dinheiro japonês no nosso País?

            Assisti a um comentarista, em um desses programas de economia globais, muito vistos aqui no Brasil, dizendo o seguinte: “Não, esse negócio de 0,25% de aumento nos juros, tem que botar os juros em 10% logo, agora. Esse aumentinho fraco de 0,25% não faz nem cócegas. É preciso haver um aumento grande dos juros”. Então, veja como é o debate no Brasil. E são os articulistas mais ouvidos, os que dominam a Internet, dominam a TV aberta, dominam a TV por assinatura e dominam os jornais e revistas de maior circulação do País - pedem e clamam. Porque a autoridade monetária no Brasil só é vista como autoridade monetária quando aumenta juros; quando diminui, dizem que é intervenção do governo; quando aumenta, é uma autoridade maravilhosa. Então, estão pedindo que os juros cheguem a 10% na economia brasileira.

            Outro tema crucial que temos buscado discutir, que temos que debater: você imagina que o quarto maior mercado de automóveis do Planeta é o Brasil. Nós somos o quarto país do mundo que mais compra automóveis. No entanto, nosso País não tem nenhuma marca - nenhuma marca! - de automóveis. Todas as marcas são estrangeiras, são multinacionais que faturam horrores e que nos obrigam a fazer transferências gigantescas.

            Celulares. Avisou-nos ontem o Senador Cristovam Buarque, ao debater o problema do ICMS, que é uma questão nossa, digamos assim, interna, do comércio, entre nós, os Estados brasileiros. O Senador Cristovam anunciou que não existe um celular, um celular que tenha marca brasileira, nenhum. E nós talvez sejamos, não sei, o terceiro ou o segundo maior comprador de equipamentos celulares, de comunicação móvel do mundo, e não temos uma marca nossa sequer.

            Na aviônica. Esse é um problema crucial, diz respeito à defesa inclusive do País. Nós não investimos praticamente mais nada, do Marechal Montenegro para cá, depois do falecimento do Marechal Montenegro, meu caro Cristovam Buarque, praticamente parece que nós resolvemos abandonar a aviônica no Brasil. Acharam que já era suficiente ele ter feito a Embraer, ter feito o ITA, mais uns quatro institutos de tecnologia ali no CTA e só isso bastava.

            Eu levanto essa questão aqui, que foi fruto do debate que realizamos entre partidos, partidos irmãos nossos, com quem lidamos há muitos e muitos anos, e entre amigos, convidados que levamos para discutir a economia brasileira e as possibilidades do Brasil. Mais ou menos assim: há condições favoráveis, vamos aproveitar ou não vamos aproveitar para dar uma arrancada na economia brasileira?

            E um ponto crucial, que temos discutido muito, nós e a juventude que vem aqui. O Senador Cristovam é um dos que têm se preocupado cotidianamente com a questão da educação, e aqui tem recebido estudantes da UNE, UBES, o pessoal da SBPC, o pessoal das associações de professores, de secundaristas, universitários, para discutir os investimentos na Educação.

            O Senador Cristovam tem proposto a federalização da Educação. Eu considero que um passo inicial nesse sentido foi dado: o piso nacional. Esse piso nacional, se garantido, ampliado, fortalecido, vai criar uma situação muito favorável para nós, no Brasil inteiro. Esse é um dos problemas do Brasil. Esse está posto como um dos grandes problemas, que foi fruto do debate que realizamos nesse final de semana, preparando também o nosso congresso.

            Nós vamos ter um congresso nacional, para discutir não só a nossa direção partidária, mas discutir o nosso programa, o nosso projeto, as ideias que vamos defender para o Brasil nessa arrancada que consideramos que seja possível, meu caro Senador Cristovam, a quem concedo um aparte.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador, aproveito a tolerância do Senador Jucá, até porque não é muito regimental dar aparte a quem fala pela Liderança do Partido, mas só por um minuto, para dizer como fico satisfeito de vê-lo trazer, aqui, esse problema da tecnologia. O Brasil está perdendo, mais uma vez, o bonde! Perdemos na primeira Revolução Industrial; perdemos na revolução do consumo, em que ficamos só como montadores; e estamos perdendo, agora, esta revolução científica e tecnológica. Hoje de manhã, numa audiência na Comissão de Assuntos Econômicos, o Economista Luciano Coutinho, que é o Presidente do BNDES, disse: “Nós tivemos uma década e meia perdida!” O problema é que não estamos dando o salto ainda, continuamos comemorando o aumento de exportação de commodities, a produção de metal mecânica, aqui dentro, e dos aviões da Embraer. Mas, mesmo assim, como V. Exª lembrou bem, dentro daqueles aviões, toda parte mais sofisticada de aviônicos, como V. Exª disse, é importada, não conseguimos desenvolver. É verdade que, hoje em dia, com a globalização, mesmo os países mais desenvolvidos importam muito das partes sofisticadas, mas um país exporta uma coisa, outro exporta outra, e eles se cooperam. Nós, não; nós só importamos. E V. Exª lembrou bem o que falei ontem, temos 200 milhões de telefones celulares, e nenhum é brasileiro.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Quer dizer, o número é maior do que a população!

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Sim, e nenhum é brasileiro, como nenhum carro é brasileiro, como nenhuma televisão é brasileira mais, porque já houve um tempo em que era - nada mais tem conteúdo brasileiro. Isso é falta de investimento em ciência e tecnologia, de investimento em universidade, mas, sobretudo, falta de investimento em educação de base, que é o que levanta tudo mais. Hoje de manhã, também, o Luciano Coutinho falava da importância do banco de desenvolvimento, por exemplo, da Coreia. Mas ficou claro: a Coreia combinou um trabalho como o que o BNDES vem fazendo com educação de base. E lá eles não financiavam empresas que não fossem do setor de tecnologia. Essa Samsung começou produzindo têxteis. Não tinha R$1 do governo. Quando passou a fabricar coisas sofisticadas, passou a ter dinheiro do governo. Antes não tinha. É esse tipo de política que a gente não está tendo. Falta uma visão de longo prazo, de onde é que nós queremos chegar. E corremos o risco de perder esse outro bonde, que é da revolução científica e tecnológica. Países que estavam atrás de nós - cito China, Coreia, Índia - estão saltando à nossa frente.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Praticamente todos os Tigres Asiáticos estavam atrás da gente.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Todos estão saltando à nossa frente, e nós comemorando sermos um celeiro. Até quando? Os chineses começam a produzir soja na África. Quando fizerem isso, aqui nós não vamos ter para quem vender soja. Por quê? Porque, no mercado de soja, você só come certa quantidade por dia. Mas telefone você troca em dois meses, três meses, quatro meses; basta aparecer um novo. Então, eu felicito seu discurso. Esse é um debate que a gente deveria ter mais, sobretudo agora, porque ontem foi aprovada aqui a ideia de criar uma Comissão para o Futuro, no Senado. É o lugar para a gente debater esse tipo de problemas.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - É um espaço que se cria sem precisar você ficar naquela correria do quórum e na correria de que tem que votar hoje, amanhã, etc. Pelo que eu entendi, é uma comissão temática, para discutir temas importantes para o País. Eu me regozijo com essa iniciativa.

            Então, Sr. Presidente, eu quero agradecer a ilustrada participação do Senador Cristovam. Acho que ele é uma das pessoas que tem batido fortemente nessa tecla da questão tecnológica, da questão da formação, da questão da educação de base do nosso povo, como sendo talvez o ponto mais destacado para darmos essa arrancada. Se não fizermos isso, nós vamos ficar travados.

            E a Presidente Dilma tem tido essa preocupação intensa, Senador Cristovam - não sei se o senhor tem tido a oportunidade de conversar com a Presidente. Há essa tentativa de buscar royalties, de buscar fundo social, de buscar recursos que permitam atingirmos essa meta de 10% do PIB. Acho que isso é muito significativo para que nós possamos dar esse salto.

            Então, Sr. Presidente, eu levanto esses temas que estão sendo...

(Soa a campainha.)

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - ... fruto do diálogo interno no nosso Partido para contribuir com a nossa Nação, porque é isso que nós queremos: ajudar o nosso País, como V. Exª tem feito aqui conosco em várias matérias difíceis de serem resolvidas, com opiniões controversas, e V. Exª tem ajudado a resolver, para chegarmos a acordos que permitam ao País avançar mais rapidamente, porque é uma necessidade para o Brasil.

            Veja o problema da segurança pública. Se você não desenvolve o Brasil, não cresce o País, não dá qualidade na formação, na educação, termina que uma boa parte do povo - pequena, felizmente - parte para a droga, para o crime. Eu acho que temos condições de impedir que isso ocorra, buscando um caminho mais ousado para o Brasil.

            Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/05/2013 - Página 24345