Pela Liderança durante a 76ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Em homenagem ao Dia do Pedagogo, defesa de melhorias na educação de base.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
HOMENAGEM, EDUCAÇÃO.:
  • Em homenagem ao Dia do Pedagogo, defesa de melhorias na educação de base.
Publicação
Publicação no DSF de 21/05/2013 - Página 27502
Assunto
Outros > HOMENAGEM, EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, PEDAGOGO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, PROFISSÃO, DESENVOLVIMENTO, EDUCAÇÃO, REFERENCIA, HISTORIA, PAULO FREIRE, ANALISE, FALTA, RECONHECIMENTO, FUNÇÃO, PEDAGOGIA, BRASIL, ENFASE, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, ATENÇÃO, PROMOÇÃO, MELHORIA, EDUCAÇÃO BASICA, MELHORAMENTO, INCENTIVO, PROFESSOR, OBJETIVO, APERFEIÇOAMENTO, SETOR.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - De qualquer maneira, Presidente, eu agradeço, eu agradeço, mas vou tentar fazer no tempo, até porque tenho uma reunião com o Senador Pimentel, às 14 horas e 30 minutos, para discutirmos como vai ser, amanhã, na Comissão de Assuntos Econômicos, o debate sobre o Plano Nacional de Educação.

            Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, é muito comum falar-se que não têm importância as datas comemorativas, que nós aprovamos tantas aqui, mas eu creio que cada uma delas permite trazer para nós a lembrança de algum fato, de algum grupo.

            Hoje é Dia do Pedagogo. Eu creio que nada melhor do que aproveitar esta data para trazer aqui uma reflexão sobre a importância, sobre o que fazer e sobre como será o trabalho dos pedagogos daqui para frente.

            Em primeiro lugar, sobre a importância. Senador Jorge Viana, o maior pedagogo no mundo, na segunda metade do século XX, foi um brasileiro chamado Paulo Freire, que tem estátuas em lugares diferentes do mundo. Eu mesmo já estive em monumentos a ele. Aqui, na frente do Ministério da Educação, há um, que foi colocado quando eu era Ministro. Essa é uma primeira lembrança.

            A segunda lembrança -- que eu vou ter que explicar por que eu a faço -- é que, quando a gente percebe que há 250 milhões de celulares no Brasil e que nenhum é brasileiro, que se fabricam 3 milhões de automóveis no Brasil e que nenhum é brasileiro… Hoje, o Brasil é um dos países com maior número de domicílios com televisão, raríssimas desenhadas ou fabricadas no Brasil, sendo que, mesmo para essas, os principais componentes são importados, como acontece com a empresa automobilística, que é brasileira, uma das grandes conquistas do Brasil, mas que tem sua parte mais sofisticada, chamada avionics, importada… Verdade que os outros países também importam de outros países. Quando a gente percebe que um país que tem 250 milhões de celulares e nenhum é brasileiro, a gente tem que se perguntar porquê. Eu diria que é pela falta de apoio aos pedagogos do Brasil, porque, aparentemente, o que se pensa é que falta de apoio aos cientistas que desenham esses novos equipamentos. Mas o desenho de um novo equipamento, a invenção de um novo produto passa por cientistas, tecnólogos bem vinculados ao setor produtivo, não isolados, e passa por uma boa universidade. Não uma, duas ou três boas universidades no País, mas uma no sentido do sistema universitário inteiro, porque o Brasil tem duas ou três boas universidades, não entre as melhores do mundo, mas não tão distantes delas. Mas três? Eu falo é sobre um sistema universitário de qualidade, que exige uma educação de base da maior qualidade.

            Não há possibilidade de um sistema universitário de qualidade sem educação de base de qualidade, e é impossível, havendo educação de base de qualidade, não haver universidades com qualidade. Os alunos não aceitariam. Os alunos que saem do segundo grau puxam a universidade para cima, se eles têm qualidade, ou puxam para baixo, se não têm qualidade. Hoje, o nosso sistema de educação de base está puxando as universidades para baixo.

            Demos um grande salto positivo, eu considero, ao aumentar o número de vagas nas universidades, mas está puxando para baixo. E alguns dizem: “Está puxando para baixo porque aumentou o número de alunos”. Não! Para aumentar o número de alunos na universidade, a gente tem que querer, tem que buscar. O problema é que aumentamos o número de alunos sem qualidade, porque não há com qualidade. Não há alunos com qualidade para preencher 6,5 milhões de vagas universitárias. Não temos, não adianta querer.

            Hoje, o número de alunos que terminam o ensino médio já é igual ao número de vagas na universidade naquele ano. Ou seja, não temos como selecionar os nossos universitários, a não ser as boas universidades, que escolhem os melhores. Isso obriga o Brasil, se quiser dar um salto na economia do futuro, a dar todo o cuidado à educação de base.

            Nós somos um dos maiores de consumidores celulares e um dos últimos na produção de celulares porque somos um dos últimos na qualidade da nossa educação de base, de acordo com a Unesco.

            Educação de base é, em primeiro lugar, o professor. Nem todo pedagogo é professor e nem todo professor tem, necessariamente, a profissão, a formação, o diploma de pedagogo, mas o pedagogo a gente pode usar no sentido coletivo de professor, de mestre. É por eles que passa a construção do futuro da educação e, portanto, do futuro do Brasil, mais do que por qualquer outra profissão.

            Se estivéssemos em guerra, eu diria “não, primeiro os soldados”. Mas não estamos em guerra. Primeiro, os professores, e hoje é o Dia do Pedagogo, embora não seja o dia dos professores.

            Temos de reconhecer que eles fazem o esforço necessário, mas não estão conseguindo dar o resultado esperado por falta de contarem com um sistema eficiente de educação. Aí, eu volto a insistir na minha peleia aqui: a melhora do atual sistema educacional não conseguirá colocar o Brasil entre as nações mais educadas do mundo. É preciso construir um novo sistema, que vá crescendo enquanto substitui o atual. O novo cresce e o atual diminui, como tentou Brizolla…

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - no Rio de Janeiro, como tentou o nosso colega Senador Collor, quando Presidente, com a meta de 5 mil CIACs. Conseguiu fazer 444.

            É claro que a gente precisa ter 200 mil escolas da maior qualidade, mas 5 mil teriam dado um exemplo interessante ao Brasil se tivesse continuado com essa meta até o final.

            Eu tenho defendido a necessidade de um novo sistema educacional que vá substituindo o atual. Esse novo sistema tem de começar pelos professores. Isso vai exigir uma carreira nacional para os professores.

            Por que funcionários de tantos órgãos são federais, porque funcionários de tantas empresas estatais são federais e os professores ficam condenados ao nível de riqueza da cidade onde eles trabalham?

            É preciso criar uma carreira nacional dos professores e colocá-los em escolas com qualidade federal. Insistamos: as escolas federais do Brasil são as melhores na média do Ideb, como o Colégio Pedro II, as escolas técnicas, os institutos de aplicação, os colégios militares. Por que não ampliar esse número através de uma carreira nacional e de escolas com qualidade?

            Esse sistema é possível se implantar num período de 20 anos, pagando aos professores dessa nova carreira um salário de R$9 mil por mês, o que faz com que o custo anual do aluno seja de R$9 mil. E, daqui a 20 anos, quando isso estiver implantado, isso custará 6,4% do Produto Interno Bruto, menos do que o índice que amanhã vamos discutir na Comissão de Assuntos Econômicos, em que se fala em 10%. É claro que, com 6,4% para a educação de base, a diferença pode ir para os demais setores da educação.

            Isso é possível, selecionando bem esses professores, criando um sistema de estabilidade na função, mas sob sistemáticas avaliações, para ver se eles continuam ou não na atividade. Falo de estabilidade, porque prefeito, governador e presidente não demitem. Mas é responsável a estabilidade. Se em um concurso ficasse demonstrado que determinada pessoa não estava preparada ou não era dedicada, ela teria de ceder o lugar para outro. Isso é possível de se fazer.

            Agora, além disso, quero fazer uma reflexão muito simples, curta, sobre o papel do professor. Daqui para frente, vai mudar o conceito do professor como eu, que pega um giz e, como um artesão, termina ali, na sala de aula, no quadro-negro, passando seu conhecimento.

            Primeiro ponto: hoje, o conhecimento move-se a cada dia, a cada hora. O professor vai ser uma espécie de antena ao colocar o aluno em contato com o conhecimento, que está fora do professor. A memória não está mais dentro da nossa cabeça. A memória, hoje, está no pen-drive, no HD, nos sistemas. Nosso professor vai precisar saber que ele é uma antena. E ele não vai ter um trabalho solitário, pois vai ter de estar em conjunto com alguém que entenda de colocar as aulas dele de maneira agradável para os alunos, usando as modernas tecnologias da informação, e, ao mesmo tempo, com algum especialista que coloque essa aula na rede inteira.

            Um novo pedagogo para o século XXI e um novo sistema educacional para o século XXI são duas coisas de que o Brasil precisa. E, hoje, no dia deles, dos pedagogos, creio que é um bom momento de lembrar, de refletir, de propor e de ter a esperança de que nós vamos fazer.

            Era isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/05/2013 - Página 27502