Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas às políticas econômicas adotadas pelo Governo Federal.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas às políticas econômicas adotadas pelo Governo Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2013 - Página 34058
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO FEDERAL, REGISTRO, APREENSÃO, ORADOR, RELAÇÃO, FALTA, CONFIANÇA, INDICAÇÃO, POLITICA FISCAL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Jayme Campos, Srªs e Srs. Senadores.

            Senador Jayme Campos, creio que vale a pena despertarmos para certos riscos de que venho falando da economia brasileira.

            Eu tenho há anos - três anos pelo menos - citado repetidas vezes que a economia está bem, mas ela não está indo bem; ela não vai bem daqui para frente. Nesses três anos, em vez de eu mudar o fato de que a economia não vai bem, eu mudei foi o fato de que a economia está bem. Ela agora não mais está bem no presente nem dá a impressão de que irá bem no futuro. Há uma crise que decorre de muitos itens. Eu tenho trabalhado 15 deles. Mas há um que está se expressando, crescendo, ampliando e que pode virar a causa maior do agravamento da crise. Chama-se credibilidade dos responsáveis pela economia.

            Quando eu comecei, e faz muito tempo, estudando Economia, dizia-se que a economia era o resultado de três fatores: terra, o recurso natural, as máquinas, o capital, e, obviamente, também o trabalho humano, como, aliás, o principal vetor. Trabalho, capital e terra. Era daí que saía a produção.

            Pouco depois, começou-se a mostrar que havia um quarto fator, chamado tecnologia. Usava-se, então, a expressão americana know-how. Não adiantava ter terra, não adiantava ter capital, não adiantava ter trabalhador se eles não eles não soubessem como fazer, que era a tecnologia.

            Com a globalização, nós temos que reconhecer que surgiram mais dois novos fatores. Além da terra, além do capital, além do trabalho, além do know-how, ou seja, tecnologia, surgiu a logística como um fator fundamental e a credibilidade dos agentes da economia. Esses dois fatores têm uma razão de ser porque houve uma globalização. Houve uma facilidade de mobilização de pessoas, de recursos, de mercadoria. Aí surge a necessidade da logística. Você pode ter todo o capital do mundo, Senador Paim, todos os trabalhadores, as melhores matérias-primas, saber fazer, mas, se você não souber levar as coisas de um lugar para outro, tanto a matéria-prima para chegar à fábrica, como da fábrica para chegar ao consumidor, a economia não irá bem. E hoje nós sabemos que estamos vivendo uma crise de logística muito grande. Prova é a região do nosso Presidente, que, neste momento, preside a sessão, Senador Jayme Campos: a produção pelo trabalho, pelo capital, pela mão de obra está indo bem.

            Ou seja, a terra é boa, o trabalhador está lá, o capital está lá, sabe-se como fazer, graças, em parte, à Embrapa e ao empresariado, mas eles produzem e não têm silos, como eu vi no noticiário, ou tem silo mas não tem porto.

            Pois bem, hoje nós temos cinco fatores de produção, mas eu quero falar de um deles, Senador Jayme Campos. É a credibilidade.

            Lamentavelmente, a credibilidade que o Brasil conquistou a partir de 94, que os agentes econômicos tiveram a partir de 94, passando de um presidente a outro, passando, inclusive, de um partido a outro, mas todos com credibilidade...

            Aí vale a pena fazer um elogio à figura do Presidente Lula. Quando assume o governo, numa crise provocada pela falta de credibilidade do PT em relação à economia - todos sabem que havia profunda desconfiança -, o Presidente Lula chega, senta na cadeira e passa credibilidade, graças - é preciso lembrar - ao papel de duas figuras: o Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o Ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Esses dois souberam recuperar a credibilidade perdida nos meses da campanha, tranquilizar o mercado e fazer a economia funcionar bem.

            Hoje, temos que reconhecer que nossas autoridades econômicas não estão passando nem tranquilidade, nem segurança, nem, muito menos, credibilidade. Isso se deve, em primeiro lugar, à imagem de que estão perdidos. Prova disso são os pacotes. Um dia desoneram uma coisa, outro dia desoneram outra. Não conseguem ter uma política de controle da inflação. Então, passam a usar controle de preços por meio de desonerações, de adiamento do aumento do preço do combustível, chegando a asfixiar a Petrobras em certo momento, de impedimento do aumento da tarifa de ônibus, fazendo com que algumas empresas entrem em crise.

            Tudo isso beneficia cada um de nós, ilusoriamente, porque não corrige o problema central do aumento de preços. Isso está gerando um descrédito na opinião pública, nos agentes econômicos brasileiros e internacionais.

            Qual o empresário que, hoje, toma a decisão de investir sem saber se o concorrente dele vai ter desoneração ou não, sem saber se, em vez de investir nesse setor, não seria melhor investir em outro que terá desoneração?

            Em economia, você não calcula só quanto ganha; você calcula quanto deixa de ganhar se fizer outra coisa. É o que se chama de custo de oportunidade, o custo de não aproveitar uma oportunidade, uma janela de investimento. Hoje os empresários, donos do capital, não estão sabendo, com tranquilidade, se, nos próximos anos, um setor que ele escolheu para investir é o melhor ou não, porque depende da vontade do Governo, e a vontade muda. E, sobretudo, o descrédito pelo fato de que muitas decisões são tomadas pensando no voto e não na economia, pensando no imediato, Senador Jayme Campos, e não no longo prazo.

            É uma crise que as pessoas não estão percebendo. A crise de credibilidade, hoje, é maior do que a crise do aumento da taxa de juros, do aumento do dólar, das dificuldades dos portos e das estradas. Esse é o principal entrave a nós termos uma economia saudável.

            Veja o descrédito que vem na política fiscal. Muitos analistas e cidadãos mais bem informados já não acreditam no esforço fiscal do Governo. Foi duro criar responsabilidade fiscal para dar credibilidade do Brasil no mundo. Foi duro, mas o Presidente Lula teve a coragem, a força, a lucidez de deixar claro que faria esforço fiscal. E aqui eu quero lhe dizer, Presidente, que eu fui Ministro dele por um ano e sofri por isso. Sofri porque eu não tinha dinheiro para a educação. Mas era a hora de fazer o esforço fiscal, para dar credibilidade.

            O Governo divulgou o número para obtenção do superávit primário, em termos nominais; ele promete um resultado de 3,1%. Ora, isso equivale a R$155,9 bilhões, mas ninguém acredita que esse número será obtido. O mercado - como se costuma dizer - já acha que isso não vai ser conseguido. O mais provável é obter, em 2013, um superávit primário da ordem de 0,9 a 1,8% do PIB, o que é muito menos do que os 3,1% que se deveriam ter para dar tranquilidade. Claro que o superávit primário é um estorvo, porque é um dinheiro que é guardado em vez de ser gasto. Mas, se esse dinheiro for gasto em vez de guardado, quebra a credibilidade. É bom gastar esse dinheiro hoje, mas, daqui a cinco anos, a gente vai pagar um alto preço por não ter feito o dever de casa na hora.

            A imprensa está repleta de artigos que apontam esta perda de confiança nos indicadores fiscais. Perdeu-se a confiança.

            Revistas que eu leio deixam claro e até passam riso diante de algumas falas do próprio Ministro, porque ele já diz que vai fazer de um jeito e acontece de outro. Diz que vai fazer de um jeito e não faz daquele jeito que havia previsto.

            Mais preocupante é ver que, mesmo órgãos do Governo, de alta respeitabilidade, apontam preocupações com relação ao desempenho fiscal - por exemplo, o TCU, o Ipea e o Banco Central.

            Não podemos dizer que o Banco Central é do Governo, embora eu defenda o Banco Central independente. Eu acho um absurdo presidente do Banco Central ser ministro. Ou seja, por definição, já está na caneta do Presidente mantê-lo ou não. Isso tira a credibilidade. Presidente do Banco Central tem de ter um mandato para ter credibilidade. O Tribunal de Contas também não é entidade subordinada ao Governo. Mas são entidades públicas.

            Nos últimos três dias do ano passado, com a finalidade de aumentar artificialmente o superávit primário do exercício fiscal daquele ano, o Governo sacou 12 bilhões do Fundo Soberano do Brasil, criado para ser utilizado em períodos de dificuldades econômicas, e antecipou sete bilhões de dividendos que deveria receber da Caixa Econômica Federal e do BNDES.

            Ao longo de vários anos, esse dinheiro deveria chegar, e antecipou-se tudo. Isso não é o que se considera esforço fiscal, o que é necessário para que se configure superávit primário. Não é, mas foi usado como tal, porque, para fechar as contas, o Governo também abateu das suas despesas, como era permitido até pela Lei de Diretrizes Orçamentárias, 39,3 bilhões em investimentos do PAC.

            O que a gente vê hoje? A gente vê que o Tribunal de Contas da União, que examina as contas do segundo ano do Governo Dilma, mostra uma série de ressalvas. Uma das mais fortes se refere à política fiscal. O relatório aponta que “mudanças metodológicas e transações atípicas cada vez mais complexas” implicaram um acompanhamento de fiscalização do indicador superávit primário “um verdadeiro desafio” - isso está em aspas - para todos os brasileiros, inclusive para o TCU.

            Ou seja, o que ele quer dizer? Traduzindo isso: atípicas, complexas e desafio. Ele diz o uso de “transações atípicas” - ou seja, coisa esquisita, atípico quer dizer esquisito - e, ao mesmo tempo, “complexas”, ou seja, enroladas. O que é enrolado e o que é esquisito não merecem confiança. A confiança exige simplicidade, objetividade e, ao mesmo tempo, transparência.

            O Ministro José Jorge, nosso companheiro aqui, Senador até há pouco tempo, chega a afirmar, no seu relatório, que o cumprimento da meta fiscal hoje é “mera formalidade” - entre aspas. Quando um Tribunal de Contas faz isso, é lido no mundo inteiro, Senador Jayme. O mundo inteiro lê. Os presidentes de bancos do mundo inteiro leem, porque o Brasil é um país importante. Os empresários do mundo inteiro leem para saber se vale a pena ou não investir aqui. E eles: “é mera formalidade”. Isso assusta, porque tirou a credibilidade.

            O relatório do TCU adverte que os supostos ganhos que resultaram dessa prática de maquiar o superávit primário - agora, entre aspas - “podem ser suplantados pela perda de credibilidade do indicador”. Ou seja, o superávit primário, como indicador do esforço do Governo, perde credibilidade. E aí vem a desconfiança. E aí vêm os reajustes de preços.

            A questão central é: “por mais criativas e complexas que sejam as manobras contábeis...” Vejam o que estou falando: criativas e complexas as manobras contábeis. Contabilidade nunca devia vir depois da palavra manobra, não poderia. É o mesmo que você manobrar o termômetro para esconder a febre do doente. Não pode existir termômetro manobrável. Termômetro manobrável não serve. Contabilidade manejada não serve.

            Volto ao relatório do Tribunal de Contas da União: “Elas [essas manobras contábeis criativas e complexas] acabam sendo identificadas e quantificadas pelos demais agentes do mercado, que passam a desconfiar [desconfiar é o contrário de acreditar, prova de descrédito] da real capacidade do Governo de obter tal resultado” - entre aspas.

            Essas medidas criativas e complexas, resultado de manobras contábeis, acabam sendo identificadas e quantificadas pelos demais agentes do mercado, que passam a desconfiar da real capacidade do Governo de obter tal resultado, seja o resultado do crescimento do PIB, seja o resultado dos limites da taxa de inflação, seja o resultado da taxa de câmbio. Fica-se perplexo.

            Esta semana mesmo, a taxa de câmbio começou a subir o dólar. Isso pressiona a inflação, embora melhore a indústria, a agricultura exportadora. Aí, o Governo diz que não vai fazer nada, de repente, começa a comprar dólar. Não consegue. Aí, retira o IOF do capital que chega. Ou seja, é uma loucura, complexa e criativa, e sem crédito.

            A política monetária do Banco Central tem tomado ações, até certas, tardias. Eu sei que nada tira mais voto do que você dizer que tem que aumentar a taxa de juros, mas o Banco Central tinha que aumentar a taxa de juros, e, talvez, não tenha diminuído no momento certo. O problema é que, agora, ao aumentar a taxa de juros para controlar a inflação, tentando restringir o consumo, o que é que vai acontecer? Vai, por causa desse aumento da taxa de juros, restringir o crescimento. Vai diminuir a inflação, mas vai restringir o crescimento.

            A hora de ter feito isso é quando a gente estava no auge. Agora é perigoso. Mas não vai ter outro jeito. Por quê? Porque nós cometemos erros, aí corremos atrás de corrigir o erro, e não na direção de fazer o certo, com tranquilidade e com credibilidade.

            Uma reportagem recente da revista The Economist apontava que as ações do Banco Central vieram com defasagem, com a autoridade monetária correndo atrás do prejuízo, que eu estou falando. E isso implica elevados custos para a sociedade brasileira. Custos para a sociedade brasileira. Medidas tomadas fora do tempo, medidas contraditórias umas às outras.

            Há um certo sentimento de tolerância com a inflação ao longo dos últimos doze meses. De certa forma, o aumento da Selic, de 7,5 para 8, na última reunião, é uma medida correta, uma ação ousada, mas defasada, insuficiente para recuperar a credibilidade. E não é à toa que o Presidente do Banco Central, Presidente Tombini, deu três entrevistas entre a reunião do Copom e a divulgação da Ata.

            Eu não sei, Senador Jayme, se muitos perceberam isso. O Presidente Tombini, por quem eu tenho o maior respeito, até porque foi meu aluno na Universidade de Brasília, e é uma figura realmente séria, ele não aparece tanto, o que é bom para um País. Quando um Presidente do Banco Central aparece muito, a economia não vai bem. Da mesma maneira que quando um Ministro das Forças Armadas aparece muito, a democracia não vai bem. Sempre que as pessoas sabem o nome dos Comandantes do Exército, a democracia não vai bem. Sempre que o povo sabe o nome do Presidente do Banco Central, a economia não vai bem.

            Pois bem, ele que é reservado, deu três grandes entrevistas entre os dias 29 de maio e 05 de junho. Qual era o objetivo? Era recuperar a credibilidade. Como? Explicando-se. Quando se tem que explicar, a coisa já não vai bem.

            O ponto central da discussão é identificar qual seria a denominada taxa de juro real, de equilíbrio, a que os economistas chamam de juro neutro, aquele juro que ajuda o crescimento sem piorar a inflação. Isso aí não se está conseguindo.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Nós temos, Presidente - e eu não quero tomar muito tempo, pois isso aqui mereceria um debate muito grande -, de falar um pouco da questão cambial. Recente medida de zeragem do IOF cambial para investimento estrangeiro no mercado de renda fixa no Brasil é prova de procurar fazer hoje o que não faz muito tempo foi criado, desfazendo agora, criando essa oscilação de medidas que geram, sim, uma queda na credibilidade das autoridades da economia brasileira. Uma quebra da credibilidade das autoridades da economia brasileira, dos responsáveis pela economia no setor público. Isso faz com que o setor privado fique perplexo também. Aí o investimento termina sofrendo; aí o capital termina deixando de vir e alguns até indo embora.

            O intervencionismo do Estado, que, em alguns momentos é extremamente positivo, mas que em alguns é negativo, sobretudo quando ele oscila, quando ele vira uma espécie de biruta ao vento, apontando para um lado ou para o outro, em vez de ser um ponteiro de bússola a apontar sempre para o Norte. Esta é a diferença entre uma economia que vai bem e a que não vai bem: a política da bússola aponta o Norte; a política da biruta se ajusta ao vento, aí não se controlam as coisas.

            Os investidores estão mais desconfiados hoje do que no início e durante o ano de 2012. A viagem que foi feita pelas autoridades financeiras em busca de capital, a que os americanos chamam de Road Show, sair por aí fazendo show, não trouxe o resultado que se esperava. A entrada de investimento direto não deve ser suficiente para financiar o déficit das transações correntes este ano. Nós vamos ter um déficit extremamente elevado, que vai superar 3% do PIB, e não se terá esse dinheiro vindo para cá para cobrir esse buraco. Isso vai forçar uma evasão

de divisas do Tesouro, do Banco Central. Nossas reservas talvez tenham que diminuir, e aí a credibilidade diminui mais ainda.

            Nós estamos sofrendo, por exemplo, com a perda de credibilidade dos dirigentes da Petrobras, porque se submeteram a uma política de preço determinada pelo Governo para maquiar a taxa de inflação. Porque fazem atividades de uma maneira não muito eficiente, como são os leilões, atrasados, depois deixando margem a riscos de que não funcionem. Tudo isso, Presidente - eu concluo -, leva à perda de credibilidade.

            E aí vem o que mais aparece no bolso do povo - a inflação está alta, disseminada e resistente. Este é o tipo ruim de inflação. Ela é resistente aos instrumentos que a gente usa para baixá-la. Ela é disseminada em todos os setores. Não é como aumentou o tomate; não, aumenta a alface também. E ela está alta, porque a meta é 4,5% e está em 6,5%. Ainda dentro do limite? Sim, mas acima do que a gente espera.

            Daí a gente vê já previsões, como a do Banco Itaú, de que o PIB deste ano não passa de 2,4%. Dois vírgula quatro é muito baixo! Sobretudo quando a gente olha que no ano passado foi menos e que no anterior foi pequeno.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Aí, quando você soma o período, dá uma taxa bastante baixa.

            O baixo investimento - este é o ponto grave. Por quê? Porque os responsáveis pela economia brasileira preferiram fazer com que o PIB crescesse o máximo, o mais rápido possível. Aí tomem incentivos ao consumo! Taxa de juro baixa, prazos longos de pagamento, exonerações fiscais, para aumentar o consumo. Não conseguiram.

            Mas o pior é que, nessa tentativa de aumentar o consumo, a poupança cai. Aí o investimento não sobe como deveria. Até porque subiu pouco, 4%, o que não é nada comparado com a perda de crescimento no passado. E sem investimento, no futuro, não vai haver o consumo e vai haver inflação.

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu digo tudo isso, Sr. Presidente, para concluir, de uma maneira muito rápida, que talvez aconteça aquilo que pode trazer o pior do descrédito ou a solução para o descrédito.

            Eu temo - lamento que não tenhamos aqui mais pessoas para debater - que talvez a atual equipe da política econômica brasileira não resista muito tempo no cargo. Eu temo que isso possa acontecer num prazo curto, a substituição de autoridades da economia. Isso, ao mesmo tempo que pode trazer a credibilidade de volta, pode ser pior ainda, porque gerar uma perplexidade. Quem vai fazer a diferença se substituírem o Ministro da Fazenda para ser a melhor situação ou, pior, o nome de quem substitui.

            E hoje nós temos que reconhecer que a situação está tão grave que não vemos muitos nomes para essa substituição dos nomes da atual equipe. O que agrega mais um problema. Uma equipe sem credibilidade e nenhuma equipe ao lado para substituí-la. Por culpa inclusive dessa ideia de concentrar-se com a arrogância de que tudo está bem, então ninguém precisa pensar em alternativas. Não se dialoga com a Oposição. Tem que dialogar com a Oposição quando os interesses nacionais estão em jogo e a economia titubeante exige um diálogo amplo, com todas as autoridades e, tecnicamente, com todas as linhas dos economistas.

            Isso está faltando e isso, Senador Jayme Campos, é assustador. Eu hoje estou assustado com os riscos que nós temos diante de nós por conta da fragilidade da economia devido a muitos itens. São 15 que coloco, inclusive a euforia, que é um problema sério, mas, sobretudo, hoje, eu venho falar de um, que talvez seja o mais grave do ponto de vista da imediaticidade, do imediato, do já: a credibilidade. Na hora em que o povo olha no olho dos responsáveis pela economia e se tranquiliza dizendo: ele está fazendo certo e ele vai continuar nessa linha.

            Hoje, a gente nem vê a ideia de que está fazendo o certo e nem sabe se amanhã ele estará fazendo o mesmo ou outra coisa diferente.

            O SR. PRESIDENTE (Jayme Campos. Bloco/DEM - MT) - Senador Cristovam, me permite, só fazer um adendo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu concluo, só para dizer que concluí, mas com o maior prazer, eu lhe permito o aparte.

            O SR. PRESIDENTE (Jayme Campos. Bloco/DEM - MT) - V. Exª foi ao cerne da questão, abordou praticamente todo o assunto aqui, todo. Falou verdadeiramente aquilo que o povo brasileiro está tendo como sentimento, quando V. Exª falou que o governo está perdendo a credibilidade. É o governo do remendo - vamos ser bem práticos aqui - remenda aqui, remenda acolá.

            Chegou ao cúmulo do absurdo de tirar o IOF agora para, naturalmente, haver mais entrada de dólar; e o dólar em vez de baixar, subiu.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Subiu.

            O SR. PRESIDENTE (Jayme Campos Bloco/DEM - MT) - Então o governo perdeu a credibilidade. O governo não tem um conjunto de ações que tenha feito para que possamos, com certeza, como o senhor falou, cumprir a própria responsabilidade fiscal. Haja vista, que o Nelson Barbosa, que é um grande, um competente técnico, pediu demissão da Secretaria Geral.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - É.

            O SR. PRESIDENTE (Jayme Campos Bloco/DEM - MT) - Porque, lamentavelmente, não estão pensando no Brasil como um todo, estão pensando só nas eleições do ano que vem. Isso é muito ruim.

            V. Exª falou que já anteciparam recursos da Caixa Econômica Federal, não sei de onde. Está esquecendo que agora estão pleiteando R$23 bilhões também de Itaipu. Estão pleiteando agora antecipação até dois mil e... O senhor se esqueceu de dizer.

            Então o que ocorre? Está tomando um rumo ruim. Eu acho que não vai haver muita saída aí. A tendência do País é explodir lá no futuro. O cumprimento do Orçamento da União não está sendo feito coisíssima alguma.

            Vou lhe dar um dado. O Ministério dos Transportes, em conjunto com o DNIT, tem hoje um orçamento da ordem de mais ou menos R$18,6 a R$19 bilhões. O senhor sabe quanto foi executado neste ano de 2013? Apenas 12% dos valores. Estamos quase na metade do ano. Metade do ano, pelo menos 30%. Até agora, 12% apenas do Orçamento. Então o governo está brincando com coisa séria. É o termo que gosto mais de usar.

            Lançaram o Plano Safra, Ministro, Senador Cristovam Buarque. Anteontem um, e agora o da Agricultura Familiar, me parece que no dia de hoje ou de ontem. O que ocorre? Lançam o Plano Safra, a política agrícola do Brasil, R$130 bilhões. Mas o agricultor não está tendo acesso, não. Ontem, fui procurado por um grupo de agricultores que não tem acesso. Eles querem renegociar algumas dívidas já antigas. Quando procuram o Banco do Brasil, não conseguem. São encaminhados para a Procuradoria da Fazenda Nacional. Chegam lá, mandam que entrem no 0800. O 0800 é uma caixa eletrônica que não negocia com ninguém.

            Então eu acho que a coisa está pegando, está muito séria. O senhor tocou em todos os assuntos. O governo vai ter que dar um choque urgentemente. Não sei se eles aguentam, se suportam até as eleições de outubro do ano que vem. O que está sendo feito é um remendo para segurar as eleições. Não sabemos o que vai acontecer depois de outubro de 2014.

            A coisa está tão feia, o rombo é tão grande que o governo, após as eleições de 2014, vai ter que tomar algumas providências, caso contrário o Brasil vai à bancarrota.

            O País perdeu a credibilidade, V. Exª disse aqui, em relação aos investimentos, estradas, portos, hidrovias e ferrovias. Qual empresário que vem disputar um mercado como este aqui se ele não tem segurança jurídica. Ele afugentou o capital, poucos dias atrás, com a questão do setor elétrico. Nenhum cidadão, ou seja, o investidor não quis vir para o Brasil porque não tem segurança jurídica coisa alguma. Então, a coisa é séria.

            O senhor fez, aqui, uma fala, hoje, oportuna, que merecia um grande debate, não um debate de 40 minutos, mas de três, quatro, cinco horas, convidando as autoridades da área econômica do País, seja o Presidente do Banco Central; o Ministro da Fazenda, Sr. Guido Mantega; e outras autoridades, certamente, para discutir. Aqui se está como biruta, se tocando como vai o vento.

            O senhor está de parabéns. Quero cumprimentá-lo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Muito obrigado.

            O SR. PRESIDENTE (Jayme Campos. Bloco/DEM - MT) - Uma bela fala que o senhor fez na tarde de hoje, como já é contumaz, mas, na de hoje, o senhor foi perfeito, não houve falha nenhuma. Muito pelo contrário, falou tudo aquilo que o povo brasileiro já está sabendo e V. Exª já está alertando, porque poderá acontecer no futuro.

            Parabéns, Senador!

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Como aconteceu em outros países que estavam muito bem.

            Mas concluo com uma frase, Senador: para mim, o grande problema, hoje, das autoridades econômicas brasileiras está nos olhos; olhos que não veem longe e olhos que não passam credibilidade. Talvez o que as autoridades econômicas do Brasil precisem é de oculista, para acabar com a miopia de ficarem presos ao curto prazo e passem mensagens com confiança, cada vez que olhamos nos olhos das autoridades, quando elas falam sobre economia.

            É isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2013 - Página 34058