Comunicação inadiável durante a 94ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta para que a Presidente da República ouça mais os que criticam a política econômica do Governo.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Alerta para que a Presidente da República ouça mais os que criticam a política econômica do Governo.
Publicação
Publicação no DSF de 14/06/2013 - Página 36901
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DIALOGO, SENADOR, CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO FEDERAL, OBJETIVO, MELHORIA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, os jornais de hoje dizem que a Presidenta Dilma, em uma declaração em Lisboa, falou que aqueles que criticam, alertam, comentam a política econômica do Governo são como o Velho do Restelo, referindo-se, como os jornais mesmo dizem, a Os Lusíadas, de Camões, que, ao descrever toda a epopeia das descobertas, quando as naves saem, retrata um velho, na praia, que fica dizendo coisas do tipo:

Ó glória de mandar! Ó vã cobiça

Desta vaidade, a quem chamamos Fama!

Ó fraudulento gosto, que se atiça

C'uma aura popular, ...

            E lá mais adiante:

Nomes com quem se o povo néscio engana!

- A que novos desastres determinas

De levar estes reinos e esta gente?

            Ou seja, aquelas pessoas que saíam naqueles barcos, jovens em geral, segundo o velho, iam em busca da fama dos reis, condenados os jovens a perigos, a mortes, com base em promessa de reinos e minas de ouro.

            O que ela queria dizer é que os que criticavam - o Velho do Restelo, personagem de Camões, quando levantava esses riscos para os navegantes - faziam profecias do mal e que, hoje, nós que falamos sobre a situação da economia somos iguais àqueles. Eu coloquei a carapuça. Em geral, ninguém coloca a carapuça. Coloquei, porque tenho feito análises, alertas. Coloquei a carapuça como se fosse um daqueles velhos do Restelo.

            Mas há algumas diferenças. A primeira delas é que o velho estava na praia, Senador Jucá, e agora eu estou dentro do barco. Todos os brasileiros estão dentro da nave. Então, temos não apenas o direito, mas a obrigação de alertar o comandante - naquele caso, era Vasco da Gama, que se aventurou em busca de ouro nas Índias; hoje, somos nós, em busca do progresso e das promessas do progresso. E eu insisto: é com desejo máximo de que cheguemos às minas de ouro, de que cheguemos ao progresso, e com o otimismo de brasileiro que acredita que vamos chegar que faço meus alertas; não é desejando o contrário, porque seria uma estupidez, um suicídio e uma falta de patriotismo.

            Mas é preciso o Governo entender que a crise que atravessamos é muito mais grave do que vem sendo dito. E não digam que já falaram que faltaria luz, e não faltou; que o dólar subiria, e não subiu; que a inflação está fora do controle, e não está, porque a crise profunda não vem de repente; ela vem oscilando. Há momentos em que melhora, há momentos em que piora. As piores crises não vêm de repente, como a de 1929, que se anunciou por três anos. A grande crise da inflação, maior que já houve no mundo, da Alemanha, nos anos 20...

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - ... não foi de repente; a inflação vinha e revertia-se. A própria moeda, de vez em quando, se valorizava um pouco. A gente tem que estudar o que está nas entranhas da economia, aquilo que os economistas chamam de sua estrutura. E, aí, temos que estar preocupados - nem disse pessimistas, disse preocupados - com os gastos públicos; com a falta de inovação da economia brasileira; com a queda na nossa produtividade em relação a todas as outras economias; com a falta de competitividade internacional que leva nossas balanças a terem problemas - de repente, a gente volta a exportar mais um pouco, mas, no médio e longo prazo, a falta de competitividade vai nos arrastar -; com os acordos internacionais que estão nos deixando isolados - só nós e os países do Mercosul -, enquanto os outros se organizam em diversos outros fóruns e blocos; com a crise da educação, sem a qual não sairemos de uma maneira sustentável e permanente da crise; com a preferência pelo consumo no imediato, em vez de uma poupança que permita investir e consumir no futuro. Isso leva a nave a passar por turbulências muito fortes, mas não soçobrará, porque país não soçobra; país passa crise, atravessa. Mas não queremos que essas crises venham, não queremos dar um passo atrás.

            Lembro, para concluir nesse curto momento, Senador Jucá, que, em 1994, o atual Ministro Mantega fez, sobre o Plano Real, declarações do tipo do Velho do Restelo; e o Ministro Mercadante também, Senador Simon.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eles diziam que não ia dar certo, que ia fracassar, que era suicídio, que geraria um desemprego monumental, e eles não eram velhos do Restelo, apenas tinham uma visão diferente.

            Tenho a minha visão diferente de que não estamos no rumo certo. Talvez eu esteja errado! Mas Velho do Restelo não sou, porque estou dentro do barco, não estou olhando da praia, e porque sou um otimista em relação ao Brasil. E é, por ser otimista, que tento alertar: temos problemas, podemos consertar, e, para isso, a Presidenta precisa ouvir mais os que criticam e precisa dialogar mais - com os oposicionistas, inclusive -, para que o Brasil, que é maior do que o Governo, encontre o seu caminho, desmentindo os velhos do Restelo.

            Era isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/06/2013 - Página 36901