Discurso durante a 100ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Atribuição da responsabilidade pela deflagração das manifestações populares no Brasil ao equívoco no estabelecimento de prioridades pelas autoridades do Governo.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA, REFORMA POLITICA.:
  • Atribuição da responsabilidade pela deflagração das manifestações populares no Brasil ao equívoco no estabelecimento de prioridades pelas autoridades do Governo.
Aparteantes
Pedro Simon, Rodrigo Rollemberg.
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2013 - Página 38790
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA, REFORMA POLITICA.
Indexação
  • COMENTARIO, FATO, POPULAÇÃO, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, MOTIVO, REVOLTA, RELAÇÃO, ATIVIDADE POLITICA, RESULTADO, PRECARIEDADE, SERVIÇO PUBLICO, DEFESA, CONVOCAÇÃO, ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, OBJETIVO, EXCLUSIVIDADE, REFORMA POLITICA.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Pedro Taques, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil está surpreso com o que está acontecendo desde sábado. Eu quero dizer, Senador Paim, que a minha maior surpresa é estarmos surpresos!

            Quando a gente olha os últimos anos, todos os ingredientes foram colocados nesse caldeirão que levou a essa explosão. Todos os ingredientes. Tudo estava ali. Era impossível saber se seria neste sábado, no próximo sábado, daqui a um ano, dois anos, mas que isso iria acontecer era óbvio. E muitos de nós, eu inclusive, muitas vezes, aqui alertamos. Muitas vezes cheguei a dizer, e fui criticado, que. se continuássemos daquele jeito, Senador Taques - e o senhor ainda não estava aqui -, não demoraria para que o povo pedisse até para fechar o Congresso.

            Todos os ingredientes estavam ali.

            Comecemos pelos primeiros: os erros do Congresso. Nossos erros foram ingredientes que levaram a essa exclusão. A tolerância com a corrupção, por exemplo, não só nossa, mas em geral. Ou alguém tem dúvida de que o fato de que o mensalão ainda não colocou nenhum preso não tem a ver com a raiva das pessoas na rua, Senador Taques? - o senhor que acompanha isso melhor.

            O fato de não termos corruptos presos é um ingrediente que faz com que as pessoas terminem optando por essas mobilizações. A demora da Justiça em todos os casos, sobretudo naqueles em que um bom advogado pode ir protelando, protelando até porque a pessoa morre, e nós ainda não descobrimos como colocar um corrupto na cadeia, um corrupto morto. Isso vai gerando um ingrediente, isso é um ingrediente.

            A eleição com o voto secreto - e o Senador Rodrigo Rollemberg acaba de falar do voto secreto em si, e o Senador Paulo Paim é autor da proposta de abolição do voto secreto - gera um ingrediente. Na última votação para Presidente do Senado, o fato de a votação ser secreta gerou um descontentamento. Não vou discutir se foi a eleição do Presidente em vez do Senador Pedro Taques, que era o candidato de oposição. Não, não vou dizer que foi a eleição do Presidente! Mas a maneira como foi feita gerou um ingrediente. Uma eleição sem debate. Chegamos no dia da eleição e votamos. Sem debate, sem discussão, sem voto aberto.

            Os vetos que não votamos, ao longo de anos! O povo, de repente, descobre, se não me engano, três mil vetos engavetados. Isso é um ingrediente na crise que nós vivemos.

            E aquela tentativa de votar todos os vetos numa única tarde? Aquilo foi um ingrediente. Foi um ingrediente muito grave!

            E o voto da Lei dos Portos? Será que a gente não percebeu que o povo ouviu e se indignou? Isso é um ingrediente que leva a uma ruptura como essa do povo, que, em vez de ficar na casa, no trabalho, nas escolas, vem para as ruas manifestar a indignação que ele tem.

            O povo manifesta indignação, por exemplo - eu fiz um artigo na hora chamado “Sede de Indignação” -, quando o povo começa a ver que qualquer manifestação da Justiça contra a corrupção merece todos os aplausos, qualquer que seja a maneira como isso é feito.

            Nós estamos colaborando, ainda, com o que hoje acontece. Foi aqui dentro que foram causadas as manifestações de hoje, mas não porque nós tenhamos liderado, mas porque, por nossa omissão, por nosso trabalho contra a alma do povo, nós terminamos dizendo ao povo que só há um jeito: “Vá para a rua!” E ele foi.

            Será que a gente não percebe o ingrediente das prioridades equivocadas deste País, como o Senador Taques disse há pouco aqui?

            Será que a gente não percebe que algo passa na cabeça das pessoas quando se diz que esta é a sexta economia do mundo e uma das que tem dez milhões de analfabetos e uma das maiores, senão a maior desigualdade social de todo o Planeta? Isso é um ingrediente na insatisfação, e o ingrediente da insatisfação leva às mobilizações das massas nas ruas.

            Será que a gente não percebe que um dia cairia a ficha de que o dinheiro gasto nos estádios saiu das escolas, dos hospitais, e que o povo, que pagou pelos estádios da Copa, não iria assistir aos jogos? Será que alguém tinha dúvida de que um dia essa ficha ia cair na cabeça do povo, e que o povo, percebendo que pagou por um estádio onde não vai conseguir entrar para assistir a um jogo porque não tem dinheiro e saber que, quando passa em frente àquele estádio, cada tijolinho dali significou um tijolinho menos numa escola, num posto de saúde? É claro que esse foi um ingrediente que levou, Senador Rodrigo Rollemberg, a essa situação que nós vivemos. É claro! É claro que nós temos colaborado cada dia.

            Será que a gente não percebe que, nessas prioridades equivocadas, o povo é que sofre, sobretudo quando percebe que ele não define a prioridade, não é ouvido, não é consultado?

            Senador Taques, o senhor, que é o nosso grande constitucionalista aqui, na República, não se fazem gastos públicos sem consultar o Congresso, por meio do orçamento. O Presidente Lula consultou alguém quando decidiu trazer a Copa para aqui e colocar R$25 bilhões nisso?

            O SR. PRESIDENTE (Pedro Taques. Bloco/PDT - MT. Fora do microfone.) - R$21 bilhões.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - R$21, R$25, já vi R$30, já vi R$28, e eu acho que vai chegar a R$40 bilhões, porque, cada dia, sobe mais.

            Mas houve alguma consulta, Senador Paim? Não houve. Aí diz-se que o Brasil é a Nação de chuteiras. Chuteiras para ganhar jogo, não para ter a Copa aqui. Nós deixamos de ser o País das chuteiras e passamos a ser o País dos estádios, não é o mesmo. O que dá orgulho é ganhar a Copa, não é sediar a Copa. Ninguém foi consultado.

            Num primeiro momento, todo mundo se engana. Num primeiro momento, vem delírio da satisfação de que a Copa será aqui, de que a gente vai assistir aos jogos do Brasil, até descobrir que não vai. E, aí, vem aquela desculpa de que, graças à Copa, nós íamos fazer transporte público nas cidades sede, e o que é que a gente viu? Que o transporte público não veio. E o que é que eu sempre alertei aqui? Por que precisa de Copa para fazer um transporte público se o dinheiro é nosso? Se fosse a FIFA que financiasse as estradas, os VLTs, os metrôs, tudo bem, nós fazemos a Copa, e vem o dinheiro para fazer as instalações urbanas ao redor das quadras, mas o dinheiro é nosso, a gente podia tomar essa decisão sem precisar de Copa.

            Essas prioridades equivocadas são ingrediente fundamental que leva a essa situação. E o que dizer dos serviços sociais, de que o Senador Taques falou? É um ingrediente cada vez que a gente vê na televisão, nem digo quem vai lá, vê na televisão o drama da saúde no Brasil, e que dizer daqueles que vão à saúde pública? É um ingrediente.

            Aí, diz: “Mas os jovens é que estão fazendo.” Os jovens veem suas mães, seus pais precisando de atendimento médico, veem seus irmãos mais novos, veem o irmão recém-nascido, que faleceu por falta de uma UTI. Esse é um ingrediente forte, que, um dia, levaria a isso, com que a gente fica surpreso.

            Não há por que estar surpreso, a não ser com a surpresa de quem ache estranho que isso tenha acontecido. A surpresa é que não tenha acontecido antes. A surpresa é que não tenha demorado um pouquinho mais para acontecer.

            Mas o fato de acontecer não deve gerar surpresa em ninguém, era esperado, e muitos de nós alertamos aqui. Eu sou um que fiz repetidos discursos aqui dizendo que isso ia acontecer - nunca imaginei, talvez, essa dimensão -, mas é claro que ia acontecer. O que dizer de um país que é a 6ª economia do mundo e a 88ª na educação em um tempo em que a educação é tudo? Este é um ingrediente, e foi a causa afinal: a tarifa do transporte público - não só pela tarifa, mas pelo transporte em si.

            Os países árabes tiveram revoluções desse tipo, escreveu-se até um livro chamado Revolução sem Líderes. E tudo, Senador Paim, começou na Tunísia, porque uma pessoa, um jovem, foi maltratado pela polícia e, em protesto, ele se suicidou em praça pública, tocou fogo no corpo. A partir daí, ninguém mais segurou. Aqui, não precisou disso, aqui são os ingredientes diversos dos serviços sociais degradados, das prioridades equivocadas, dos erros dos líderes.

            E o que falar do ingrediente da arrogância com a qual o Governo trata o Congresso, com a qual o Governo trata o povo? O partido assumiu confundindo governo com Estado, Estado com partido, ou o contrário: o Estado se confundindo com o Governo e o Governo se confundindo com o partido que está no poder. Todos esses foram ingredientes.

            E o que falar do ingrediente da violência urbana? Será que esse não foi o fundamental? A violência todos os dias manifestada, mostrada, o medo de ir para as ruas? De repente, a melhor maneira é ir em multidões protestar, porque passear já não se pode, passear já é arriscado, ir à escola é arriscado, ficar numa parada de ônibus é arriscado, ficar em casa é arriscado, porque a violência hoje arromba as casas. É claro que essa violência um dia ia fazer com que o povo descobrisse que tinha que ir para as ruas, já que nós, os líderes deste País, não estávamos cumprindo com a nossa tarefa.

            Eu estou surpreso com a surpresa que, eu inclusive, tenho. Depois de tantas vezes dizer que isso ia acontecer, de repente fico surpreso. E estou surpreendido porque estou surpreso, porque tudo indicava que isso ia acontecer. O detonador foram vinte centavos e, um dia, quem sabe, a gente vai ter como título de livros “A revolução dos vinte centavos na tarifa de ônibus.” Vinte centavos na tarifa de ônibus provocaram uma revolução. Mas, por trás desses vinte centavos, está uma história de degradação dos serviços públicos, de prioridades equivocadas, de desrespeito total à opinião pública e ao povo, de política que desagrada a todo mundo. É uma surpresa que estamos surpresos.

            Mas aí, Senador Taques, vem a pergunta: o que fazer? Eu e o senhor, desde ontem à noite, conversamos sobre isso. O que fazer? O povo na rua não vai conseguir fazer a revolução sozinho, porque a revolução, queira ou não, no último momento, vai ter de ter uma forma de poder para conduzir o processo. A espontaneidade é fundamental para derrubar quem está no poder, mas dificilmente constrói uma ordem nova.

            Só tem um jeito: é conduzirmos o processo no sentido de fazermos a revolução que o povo quer. Eu falei a palavra “revolução”. Mas, não é revolução econômica hoje. Não se trata mais de fazer revolução para implantar um novo sistema econômico; não se trata mais de uma revolução para desapropriar o capital e colocar nas mãos dos trabalhadores.

            Qual é a revolução? Nem mesmo aquela que eu defendo de todas as crianças em escola igual, do filho do trabalhador na mesma escola do filho do patrão. Essa revolução não virá desse movimento, Senador Taques. Esse movimento ainda não está preparado para fazer essa revolução da escola do trabalhador igual à escola do patrão.

            Eu vejo uma revolução possível: a revolução na maneira como nós fazemos política. Esse movimento é o movimento da revolução na política. E para ser um movimento da revolução na política é um movimento contra a política, porque é contra a política que está aí. É por isso que eles não querem partido; e têm razão. Não têm de querer partido, porque partido faz parte do sistema. Por isso que eles não querem que nenhum de nós vá lá para dentro. E estão certos em não quererem que nenhum de nós vá lá para dentro, porque nós, mesmo simpatizantes deles, mesmo tendo alertado de tudo isso, nós somos do sistema.

            Nós precisamos fazer a revolução na política. Esse, para mim, é o grande desafio que está colocado hoje. Como fazer isso? Não dá para fazer essa revolução espontaneamente. É preciso marcos legais. E é aí que nós - Senador Taques, eu e outros, Senador Rodrigo Rollemberg, que aqui está, Senador Paim - entendemos que deveríamos ver como algo de reivindicação deles, que nós atenderíamos à ideia de uma reforma política.

            E aí nós passamos a perguntar: como fazer isso? Chegamos à ideia de que o que eles estão propondo - não somos nós, pois estamos apenas verbalizando dentro desta Casa o que eles querem -, a meu ver, a nosso ver, é um grupo de pessoas que faça a reforma política porque aqui dentro nós não vamos fazer.

            Há quantos anos já se fala em reforma política e nós sempre adiamos? E não é só isso. Nós políticos com mandatos se fizermos uma reforma política, vamos pensar na nossa eleição daqui a um ano. E pensando um ano na frente não se faz reforma política séria! Reforma política séria se faz pensando meses, não, décadas até. Só tinha uma maneira de ser feita: por pessoas que não têm mandato, a não ser o mandato de fazer a reforma política, Senador Paim, como uma espécie de constituinte específica, que não mexa na Constituição, porque aí seria outra revolução muito maior do que essa, mas que mexa na maneira como nos comportamos aqui dentro, que mexa na maneira como os três Poderes se relacionam, que mexa na forma como a corrupção será punida. Essa constituinte tem que ser específica para fazer reforma política, mas ela tem que ter outra especificidade: seus membros têm que ser tão radicalmente comprometidos com a reforma política que eles deverão ficar proibidos de disputar qualquer eleição, pelo menos por oito anos.

            Quando a gente juntar um grupo de pessoas eleitas para fazer uma reforma do marco da reforma política e que vão se reunir sabendo que não serão candidatos, que muitos desses, provavelmente, terão idade de que não vai deixar que dispute outra eleição depois de oito anos, aí a gente vai poder dizer: “Esses caras vão fazer uma reforma sem o interesse pessoal e, sim, na visão do interesse comum.” Mas não basta isso. Para sermos coerentes com aquilo que falam os meninos na rua e as meninas na rua, é preciso tolerar que a eleição desses constituintes se faça sem necessidade de partido nenhum. Por mim, até diria que seriam todos candidatos avulsos, todos candidatos sem partido. Quem tem um partido hoje e quer ser candidato retire-se do partido e, durante oito anos, não poderá participar de nenhum. Mas, no fim, depois de muito conversar, chegamos à conclusão de que a solução seria permitir a quem tem partido se candidatar, mas permitir-se também que quem não tem partido se candidate. Vou dizer aqui uma coisa, Senador Taques: vai ter muito mais voto quem não tem partido do que quem tem partido, qualquer que seja o partido.

            Essa é uma alternativa que pode levar a gente...

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - ... a fazer com que essa mobilização se transforme numa revolução. Esse é o grande salto que nos desafia hoje: como uma mobilização se transforma em revolução. A revolução precisa saber aonde chegará. Hoje, a revolução não é no sistema econômico, não é nem mesmo na estrutura educacional, não é no sistema de saúde. Hoje, a revolução é no que permita uma estrutura de funcionamento da política que, aí sim, ponha a educação em primeiro lugar, ponha a saúde em primeiro lugar, ponha o transporte público em primeiro lugar, na frente do transporte privado. Porque a estrutura política vai dar a relação do político com a alma do povo da qual nós descolamos há tanto tempo e hoje ficamos isolados, isolados aqui dentro, sem podermos participar da manifestação dos jovens, porque eles não nos querem lá.

            Há maior prova do descolamento da política com a juventude do que nós, políticos, qualquer um, não podermos ir participar da manifestação? Será que a gente não percebe que esse é um descolamento radical, um divórcio não amigável entre o povo lá fora e nós aqui dentro.

            Temo, Senador Taques, ter outra surpresa, que seria boa, a surpresa de que nós vamos fazer isso. Hoje, tenho profundas dúvidas de que tudo isso vai sair da mobilização e chegar à revolução, porque ela vai ter de passar por aqui e aqui ela esbarra. Só que, Senador, Senadores, há uma coisa diferente no ar. É o fato de que com os novos meios de comunicação as revoluções, as mobilizações, não param. No meu tempo de juventude, íamos às manifestações e depois íamos para a casa.

            Agora, a gente vai para as manifestações e, em casa, vai para o computador falar com os outros. As manifestações ficaram permanentes. Algumas, fisicamente participativas; as outras, virtualmente participativas, mas com força também. Não vamos dizer que têm a mesma força uma mobilização virtual e uma mobilização física. Não é a mesma, mas existe.

            Não esqueçamos: os jovens que hoje estão na rua, mesmo quando voltam para casa, continuam mobilizados. Isso vai exigir de nós mudanças muito sérias, porque uma mobilização física na rua tem mais força do que uma mobilização virtual dentro de casa, mas não se esqueça, gente, de que, a partir de agora, em duas horas eles fazem a manifestação virtual se transformar em uma manifestação de rua. Daqui em diante eles vão ficar ligados, e essa ligação permitirá outra vez virem para a rua, quando for preciso.

            Senador Paim, nós não temos o direito de ignorar os novos tempos das comunicações instantâneas. Ninguém precisa mais colocar anúncio no jornal convocando para uma manifestação. Ninguém precisa mais sair com carro de som na rua, Senador Paim, como V. Exª fazia como líder sindical. Hoje se faz uma manifestação com duas horas de mobilização pelos meios de comunicação, pelas redes sociais.

            Essa mobilização, para mim, já é vitoriosa, não apenas porque conseguiu reduzir a tarifa de ônibus. Não! Esse é um detalhe pequeno. As revoluções, aliás, sempre têm um pequeno detalhe que as deslancha.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Ela se faz mesmo por continuidade e por adoção de suas bandeiras pelas pessoas que podem, sim, transformar uma mobilização em uma revolução através dos instrumentos legais.

            Hoje, a meu ver, Senador Taques - e eu concluo -, o instrumento legal a que nós chegamos, com a sua participação, é a eleição de uma Constituinte específica e exclusiva para fazer a reforma política de que o Brasil precisa. E o momento está aí. Se nós decidirmos isso no próximo semestre, nós poderemos, na eleição de 2014, eleger - além do Presidente, dos Senadores, dos Deputados Distritais, dos Deputados Federais - os nossos constituintes para a reforma política.

            Se fizermos isso, esses jovens que hoje estão na rua não vão sair, mas vão ficar virtualmente ligados e rindo da vitória deles, com felicidade, que é o melhor instrumento para que as pessoas se acalmem, fiquem em casa, trabalhem, estudem. Está faltando felicidade, mesmo que esteja sobrando Produto Interno Bruto. Essa falta é que fez com que os nossos jovens despertassem, e esse despertar deles é que pode trazer o nosso despertar, o despertar daqueles que se elegeram para servir aos jovens que estão na rua e que, hoje, não estamos servindo. E eles não estão nos querendo.

            Senador Taques, para mim, essa seria a grande lição que poderíamos tirar. Essa seria a grande alternativa que poderíamos construir, para que, daqui a algum tempo, quando houver outra mobilização, nós tenhamos aprendido tanto, que o Senado não esteja vazio como está hoje. Que a nossa consciência permita que, na hora em que esse povo estiver na rua, nós estejamos também aqui dentro, em solidariedade, em comunicação, mobilizados também, em vez de inativos, como, vamos reconhecer, nós estamos.

            Este é o choque grande: um Parlamento inativo e o povo mobilizado. Não vai dar certo o País, enquanto houver esse divórcio. Ou o povo fica inativo - e não vai ficar -, ou o Congresso se mobiliza. E se mobiliza para fazer a reforma política, que fará com que o Congresso encontre o seu rumo, os três Poderes encontrem a sua convivência, e, juntos, construamos um grande País, mudando as prioridades, recuperando a credibilidade, casando com a alma do povo, fazendo os serviços sociais funcionarem, para os jovens deste País poderem, sim, se mobilizar quando quiserem, com a felicidade de estarem num País que não ameace o futuro deles, como nós, hoje, ameaçamos.

            Senador Taques, essa é a minha fala, mas eu creio que o Senador Rollemberg quer fazer um aparte.

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco/PSB - DF) - Senador Cristovam Buarque, eu quero registrar que, efetivamente, V. Exª, de todos nós Senadores, foi aquele que se mostrou, desde o primeiro momento, o mais crítico em relação à realização da Copa e em relação à questão da inversão das prioridades.

            Por várias vezes, V. Exª aqui questionou os gastos com os estádios e como esse recurso poderia...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco/PSB - DF) - ... ser utilizado em mobilidade urbana e em outros investimentos, sem que necessariamente ocorresse a Copa. Então, V. Exª tem muita autoridade para trazer este debate. Estamos nos somando a esta proposta de uma Constituinte exclusiva, com pessoas que, inclusive, ficariam proibidas, impedidas de serem candidatas nos próximos oito anos para que pudessem, efetivamente, construir um novo marco político no Brasil, uma nova legislação político-eleitoral que, efetivamente, não estivesse contaminada pelo processo eleitoral. Eu disse, aqui nesta tribuna, hoje, que, em uma das primeiras reuniões no início de meu mandato, quando eu falei que uma das prioridades seria a reforma política, o Prof. Octaciano Nogueira riu. Eu não entendi por que ele riu. Ao final, ele me disse que, desde a década de 60, quando assessorava alguns Senadores nesta Casa, que o assunto era o mesmo: iniciava-se sempre a nova legislatura com reforma política e não havia reforma política alguma, porque todos os Deputados e Senadores foram eleitos por este sistema político. Nós precisamos aprofundar esse debate. O momento é de muita preocupação e precisa ser de muita reflexão e de muita formulação e ação, porque também entendo que o que as ruas querem de todos nós, Executivo, Legislativo e Judiciário, é ação. O que estamos vendo no Brasil é que a esmagadora maioria das pessoas está se manifestando com contundência, mas de forma pacífica. A Senadora Ana Amélia acabou de relatar um episódio de uma pessoa, uma manifestante que, com pano e sabão, buscava limpar o monumento pichado, compreendendo que não faz parte dessa manifestação a degradação, a depredação do patrimônio público. Agora, infelizmente, acabei de ver cenas na televisão em que um grupo de manifestantes acabou invadindo o Itamaraty, quebrando vidraças, em um confronto bastante forte com a polícia. A Esplanada se transformou, na frente do Congresso, em uma verdadeira praça de guerra com a polícia tendo de usar da força, e o Bope, a polícia de choque entrou no Itamaraty para retirar esses manifestantes. Nós estamos diante de um momento de muita gravidade na frente do Congresso Nacional neste momento. É uma pena! É uma pena que manifestantes mais radicais extrapolem e produzam atitudes violentas, que, repito, não são as atitudes desejadas pela maioria do movimento, que tem se manifestado, em todo o País, de forma pacífica. Mas aqui V. Exª traz contribuições importantes para esta nossa reflexão sobre a mudança que precisamos fazer. Como eu disse há pouco, ou mudamos, ou seremos mudados. Muito obrigado, Senador Cristovam.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Obrigado, Senador.

            Antes de passar a palavra ao Senador Pedro Simon, eu queria dizer o seguinte: quando vejo um comportamento desses, Senador Simon, de quebrar vidraças de um palácio tão bonito, que é do povo, eu sei que a maioria começa a se perguntar: Como impedir? Eu me pergunto: onde erramos? Onde nós erramos? Não são só eles que estão errados, esse grupinho pequeno...

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - ... porque a maioria deve ter ido. Nós erramos. Nós erramos ao criar essa raiva que está aí. E eles estão com raiva. Nós erramos! Nós erramos tanto, que estamos criando um casamento entre jovens pacíficos que não veem os seus sonhos prometidos para o futuro se realizarem e jovens abandonados, com raiva do presente que estão atravessando. É um casamento trágico para o País.

            De um lado, os sonhos mortos; do outro lado, a raiva viva: a raiva viva pelo abandono da escola deles; a raiva porque sabem que não vão ter emprego. E os outros sonham, porque não vão ter um País onde possam ter felicidade.

            Eu creio que, ao mesmo tempo em que é preciso, sim, que a polícia retire aqueles que entraram no Palácio do Itamaraty, o papel da polícia, o nosso papel é nos perguntarmos onde erramos, onde estamos errando e, a partir daí, o que precisamos fazer. Erramos em termos um modelo econômico que está se esgotando, não mais como antigamente, quando que se esgotava porque o capital não dava mais lucro, e, por isso, era o socialismo o caminho. Não! Está-se esgotando não apenas porque o nosso Produto Interno Bruto não cresce, mas também porque a cara dele é feia.

            As pessoas estão reclamando que o PIB não cresce. Eu me preocupo mais é como ele fica bonito, porque o nosso PIB é feio, atrasado, concentrador, depredador.

            Onde nós erramos que, no Brasil de hoje, 7ª potência econômica do mundo, há 12 milhões de famílias precisando de uma mísera Bolsa Família de R$70,00 para alguns, de R$150,00 para outros? Onde nós erramos, Senador Simon, que é preciso ainda o Bolsa Família?! Felizmente, o erro já não é mais negar o Bolsa Família, que seria um erro muito mais grave, porque seria o erro da falta de generosidade. Mas onde nós erramos que é preciso generosidade no lugar da emancipação do povo?! Onde nós erramos que não conseguimos fazer o povo do Brasil emancipado da necessidade de bolsa?! Onde nós erramos que não conseguimos fazer com que os jovens que depredam os vidros tivessem uma escolaridade tão alta que lhes permitisse emprego garantido?!

            Nós erramos. Eles depredam, mas nós erramos. Eles depredam, mas nós erramos. E, se não entendermos os erros nossos, as causas deles, o porquê deles, como corrigi-los, nós estaremos errando mais ainda.

            Eu tenho escutado muito, Senador Paim, a ideia do vandalismo. Como eu disse aqui mais cedo, queimar um ônibus é um vandalismo de pessoas. Mas o sistema público de transporte no Brasil é um vandalismo ainda maior contra milhões de pessoas, milhões de pessoas que são vandalizadas no tempo roubado numa parada de ônibus desconfortável, no tempo perdido dentro de um ônibus apertado. Isso é vandalismo. Nós somos vândalos neste País.

            Quando eu vejo crianças quebrando o vidro de escolas, isso me incomoda, porque eu sinto crianças já vândalas. Mas, mais vândalas do que as crianças na escola, é a escola em si, Senador Paim, a escola onde as crianças não têm onde sentar com conforto, a escola onde o professor não vai, falta. A escola em que a greve dura três meses, dois meses, um mês, uma semana é uma escola vândala.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Está vandalizando o futuro da criança.

            Os hospitais públicos do Brasil vandalizam os doentes, vandalizam os recém-nascidos pobres. Nossos hospitais são administrados pelo vandalismo que tomou conta do País. E aí nós descobrimos o vandalismo de alguns que quebram a vidraça de um prédio, mas não percebemos o vandalismo de prioridades da política que condenam milhões a um sistema de transporte depredado, a uma saúde que não é satisfatória, a uma educação sem qualidade.

            Vamos, sim, criticar os meninos que quebram vidros, mas vamos nos perguntar onde nós erramos para que eles quebrem vidros. E a resposta a isso é porque não demos a eles aquilo de que precisam, aquilo que querem.

E aí eles saem quebrando vidros.

            Quando dizem, Senador Simon, que no Brasil as crianças ficaram violentas na escola, eu digo: as crianças são pacíficas demais diante da violência da própria escola sobre elas. O mesmo eu digo desses que estão quebrando vidraças e que a polícia tem que, sim, pegá-los, mas, nós é que estamos vandalizando-os ao longo de toda a vida deles; eles nasceram sendo vandalizados. Eles cresceram sendo vandalizados pela falta dos serviços que eles têm o direito de ter. E aí eles se vingam vandalizando aquilo que eles não veem como deles.

            Quantos brasileiros veem o Congresso como uma coisa deles? Quantos brasileiros veem o prédio do Itamaraty como uma coisa deles? Não veem. E aí eles cometem esses atos que, não há dúvida, têm um lado de barbarismo. Mas que menos dúvida ainda que haja, tem que haver uma causa da barbaridade deles. E essa causa vem de nós, vem dos nossos erros.

            Perguntemo-nos onde nós erramos, senão a gente não vai conseguir parar o vandalismo desses vândalos menores e o vandalismo maior de toda a política social brasileira.

            Senador Pedro Simon.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Sinceramente, a primeira grande preocupação que eu tenho é que termine aparecendo um morto. Aliás, há o comentário de que diversos grupos querem que o morto seja do grupo deles para eles serem a vítima. É o que está faltando. Na frente do Calabouço, o ambiente era normal, mas a morte do estudante Edson fez com que a coisa terminasse na república do Galeão e na morte do Dr. Getúlio. Eu digo com toda a sinceridade: eu creio que, a esta altura, não devem ser os jovens, os tradicionais, que passam o tempo todo pedindo entendimento, respeito e compreensão, que estão fazendo esse tipo de comando. Não quero crer que seja um jovem que está lutando por um Brasil melhor que tenha querido botar fogo no Itamaraty. O Itamaraty é a pérola de Brasília. Muita gente diz, amigos meus estrangeiros, que trago para conhecer Brasília, dizem: é bonita, mas bonito é o Itamaraty.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Não consigo entender! Não consigo entender que não tenha ninguém do Governo com preocupação de conversar, de falar, de vir para cá, no Senado, conversar com a gente, tentar fazer alguma coisa. Não consigo entender! Eu não consigo entender que o PT, o Presidente do PT, mandou os companheiros do PT botarem a camisa vermelha e irem para frente, em São Paulo, e assumirem o compromisso e toparem. Eu não sei; sinceramente, eu não sei. Eu diria que a crise está tão fora de propósito que nem tudo o que estamos vivendo neste momento. Os estudantes, os jovens, falam que querem mudanças. Cá entre nós, essa era a luta que nós levamos vinte e tantos anos, lutando contra a ditadura. Nós queríamos a democracia. Mas, nós, quando fizemos o documento da unidade democrática, fazendo acordo para a eleição do Tancredo, tínhamos um propósito, propósito que, justiça seja feita, na essência, foi cumprido pelo Senador Sarney. É verdade que tudo aquilo teve o impacto da morte do Tancredo. A morte do Tancredo gerou um caos na política brasileira, ninguém se entendia. No início tudo ia bem, porque o Dr. Ulysses e o Dr. Sarney se respeitavam e os dois conduziam, mas a imprensa e as pessoas foram muito cruéis e fizeram com que terminassem em desavença, o Dr. Ulysses e o Dr. Sarney. A Constituinte ficou boiando no ar. Por isso temos até hoje os pontos negros da Constituinte, os buracos negros que não tivemos competência de resolver até agora. A fidelidade partidária é um deles. A fidelidade partidária estava no texto fundamental da Constituinte, mas, na hora, o chamado “direitão” deixou o texto da fidelidade partidária, não tirou, mas botou um parágrafo único: lei complementar dirá de que forma será feita. E assim foi com a reforma agrária, assim foi um deus nos acuda, assim foi com o parlamentarismo, que derrubaram, na última hora, e deixaram as medidas provisórias. Mas alguma coisa foi feita. A anistia foi feita. Os partidos de esquerda, os partidos comunistas, abriu o PC, o PCdoB, o Partido Socialista, isso foi permitido. A tortura terminou, a imprensa veio livre. A convocação da Constituinte foi geral, total. Eu estava ouvindo o seu pronunciamento, dizendo que agora V. Exª acharia que o bom era até fazer uma constituinte...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - ... sem partido. Eu defendi essa tese lá na Constituinte. Uma das coisas, e foi aí o meu grande desentendimento com o Dr. Brizola, foi quando ele quis fazer os partidos organizados antes da Constituinte. Eu digo: “Dr. Brizola, vai acontecer o que aconteceu em 1946”. E, em 1946, foi tudo perfeito, a Constituinte foi perfeita. Olha, com todo o respeito, os constituintes de 1946 eram mil vezes melhor do que os nossos de agora, que vão ser mil vezes melhores do que os que vêm depois. Gente excepcional! Mas havia uma diferença, ali tinha PSD, que eram os velhos interventores nomeados pelo Getúlio, todo aquele grupo que governou durante os 15 anos da ditadura estava no PSD e no PTB, do lado do Getúlio, e na UDN. Gente até muito boa, de grande valor, de grande capacidade, era contra o Getúlio, foi ao poder. Então, a Constituinte foi uma anarquia. Tanto foi uma anarquia que a emenda da Petrobras, o monopólio da Petrobras, o Getúlio deu para um Deputado da UDN baiana em quem ele tinha mais confiança, de quem ele tinha mais certeza. Então, se nós tivéssemos feito isso, extinto os partidos, convocado a Constituinte, publicado a Constituição, seis meses para criar partido; durante seis meses, os partidos se organizariam, dentro de um percentual e cada um escolhia o partido que queria. Então, não aconteceu como em 1947, quando quem era Getúlio ia para o PSD e para o PTB; quem era contra o Getúlio ia para UDN, ou como aconteceu quando criaram Arena e MDB, quem era ditadura era Arena, quem era contra era MDB. Hoje estamos aqui, o partido sem nenhum conteúdo, sem nenhuma ideia, sem nenhum fundamento. Por isso, os partidos não têm nenhum significado, não têm nenhum valor. As pessoas mais importantes, que são os governadores e ex-governadores, os mais importantes já correram por três, quatro, cinco partidos e não há por que discutir porque estão procurando alguma coisa. Seria o ideal. Olha, admirei muito o PT. Na minha vida, quando era guri, vivi a democracia, vivi a criação da Petrobras - guri de faculdade -, subi na torre em Porto Alegre e gritei que o petróleo era nosso. A conquista da Petrobras foi uma conquista do povo. O projeto que o Getúlio Vargas mandou para o Congresso não tinha monopólio do petróleo, que era da Petrobras, mas que não tinha monopólio. Diz o Getúlio para as pessoas que conversaram com ele, quando cobraram o que íamos deixar para o Congresso votar, o que íamos deixar para valorização. E diz-se que ele, Getúlio, procurou a UDN, para dar para a UDN, porque aí o americano não poderia vir para cima dele dizendo que não foi ele, que foi o deputado fulano de tal da Bahia, da UDN, que fez. Logo depois, veio o suicídio de Getúlio e foi um terror. Aquela campanha que fizeram ali foi um terror.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Digo para V. Exª que foi um terror de infâmia que fizeram contra o Dr. Getúlio Vargas, contra a sua honra, contra a sua dignidade e contra o seu patrimônio. Queria ver Fernando Henrique, queria ver os militares, queria ver os companheiros fazerem o que Getúlio Vargas fez quando morreu, qual era o patrimônio dele. Metade do que ele tinha recebido do pai dele. Vinte anos Presidente da República, governador do Rio Grande do Sul, durante 50 anos o homem mais forte deste País, morreu com a metade do que ele recebeu do pai dele. Não tinha um imóvel no Rio de Janeiro. Não tinha um imóvel em Porto Alegre e, em São Borja, ele tinha a casa dele, a casa do pai e as fazendas que o pai tinha deixado. Essa é a realidade. Depois veio Juscelino. Olha, eu não tenho inveja de ninguém. Eu vivi a vida universitária com Juscelino, um homem fantástico! Acompanhei, acompanhei a sua campanha. Acompanhei o seu estilo, a sua maneira de ser. Em primeiro lugar, eu fiquei impressionado com a coragem dele de aceitar o Jango de vice. Botar o PTB, que o Jango tinha sido expulso pelos coronéis, tinha sido o início da crise que levou o Getúlio ao suicídio, e o Juscelino foi lá e trouxe ele de vice. E foi ali que ele ganhou. Fizeram algazarra para tentar impedir a posse do Juscelino, não deu em nada, ele assumiu e a primeira coisa que ele fez foi dar anistia para todo o pessoal que tinha feito movimentação contra ele. E fez um grande Governo. Mas, se eu for dizer a V. Exª o que eu sinto na minha vida, é que eu fui PTB. PTB de Pasqualino. E quem ganhou foi o PTB de Brizola, e o PTB de Jango. E eu fiquei falando sozinho, dentro do PTB. Eu fui MDB e digo com muito orgulho. Eu não vejo na história do Brasil página mais bonita do que a que nós vivemos na derrubada da ditadura. Eu era líder do MDB. Primeiro Vice-Presidente Nacional e Presidente do Rio Grande. Eu achava que ali nós éramos todos heróis. Matavam, prendiam, degolavam, faziam o que queriam e nós firmes ali. E ficamos firmes até pegar os primeiros cargos de Governo. Aí eu olhei para um lado, olhei para o outro: Mas isso não é o meu MDB! Aí passei a ter inveja do PT. Olhava aquele pessoal de pé descalço, chegava meio-dia, passava uma caminhonete, alguma coisa, e davam um pedaço de sanduíche, um copo de guaraná, não sei o quê, e eles ficavam o tempo todo... Essa gente é sensacional! Vi o PTB, o PT aqui, no Rio Grande do Sul, nos oito anos quando Fernando Henrique, contra o meu governo no Rio Grande do Sul... Esse pessoal tem valor. Até chegarem no governo. Chegaram no governo. Mas quando é que podíamos imaginar que estamos vivendo há dez, quinze dias, essa crise que nós estamos vivendo e ninguém tenha dito UNE? Salve a UNE! Olha a CUT! Mas, meu Deus do céu, quando é que a gente imaginava que isso podia acontecer?

            Mas como é que a gente imaginava que isso podia acontecer? Eu até pergunto: será que eles não estão todos presos? Será que não prenderam essa gente? Onde é que eles estão? É que o PT tomou conta de todos os instrumentos de política social. É CUT e é tudo, porque tinha lá a CUT, tinha uma que era do teu partido, a Força Sindical. Hoje tudo é PT. Como é que eles dividem? A CUT tem o caixa do Fundo de Pensão da Petrobras; a Força Sindical tem o caixa do fundo de pensão do Banco do Brasil. É assim que são as divisões. Esse é o PT. Eu lamento. Uma vez, tive com o Frei Beto uma discussão na missa nossa do grupo católico. Ele estava falando e comunicou ao grupo que havia saído do Governo, deixado de ser assessor do Presidente da República porque não queria mais. Eu até, de uma maneira meio irracional, me meti no meio e disse: o senhor errou. Ele olhou, eu pedi desculpas. “Quero que o senhor fale por que disse isso”, disse. E eu disse: o senhor errou. O senhor era uma das pessoas em quem eu tinha confiança, era um dos conselheiros da Presidente da República que estava ali com ele. Agora eu vejo que todas as pessoas estão saindo. E V. Exª tinha que ficar lá, até ele demitir, mas tinha que ficar lá para dar o conselho. E ele respondeu: “Mas é que eu já estava demitido. Ali, os caras estavam fazendo um negócio que ia me fazer sair dando um rompante no Lula. Por isso eu saí.” Mas um mar de gente do PT saiu. Deviam fazer como o Paim, que eu admiro demais. Deviam fazer como o nosso amigo do PT, o Suplicy, que eu admiro demais. Não fizeram. E acho que fez bem a nossa Senadora querida Senadora Heloísa Helena, porque, quando o partido, o PT, absurdamente, escandalosamente, fechou questão contra uma questão que fazia parte do programa do PT - em relação à Previdência -, está no programa do PT, e o PT fechou a questão de que tinha que votar a favor, nós conversamos, e o Paim conseguiu uma fórmula...

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS. Fora do microfone.) - A PEC Paralela.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Era a saída com dignidade. Quer dizer, não abandonava a causa, mas não dava a causa para ficar, para ser, para se dizer...

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS. Fora do microfone.) - Entramos com a PEC Paralela.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Então, entrou com a PEC Paralela. E eu disse para a Heloísa: mas vota essa, Heloísa. Ele votou, o Suplicy votou, e ela fez o que os caras queriam que ela fizesse: votou contra e foi expulsa do Partido, porque votou, na questão da Previdência, aquilo que está escrito textualmente no texto do Partido dela. Então, o PT era uma vez, meus senhores! Eu diria, com toda sinceridade: a Dilma pode ter ido, ontem, falar com o Lula, pode ter conversado com o Lula. A resposta não foi boa. Estava junto com eles o Presidente do PT, que mandou o PT botar a camisa vermelha e ir para a reunião. Não me parece que isso seja atitude de alguém que tenha bom senso e equilíbrio. Essa decisão dela, do PT, tomada com o Lula e com a Dilma presente, é um grande absurdo. Mas, com toda franqueza, agora nós chegamos ao limite, porque, a partir de agora, o que está acontecendo agora terminou: é o Lula e a Dona Dilma. Terminou. Não vão falar no Fernando Henrique, não vão falar no que aconteceu, não vão falar não sei o quê. Não, é quem está no comando. E a Dona Dilma, até agora, parece que não é Presidente. Não tomou uma providência. A única coisa que disse é que está ouvindo os reclamos do povo. Mas ela ouvia esses discursos desde que ela está no Governo, há dez anos, e ela está ouvindo o que o povo está dizendo hoje. Mas o que eles vão fazer amanhã? O que a minha consciência de um velho companheiro diz é tem gente esperando um cadáver. Como aconteceu com o Major Vaz na época do Lacerda. O Lacerda gritava, berrava, berrava... E todo mundo: “O que vai acontecer? O que vai acontecer?” Encontraram o cadáver. Como aconteceu com o jovem do calabouço. Confusão: “o que é? O que não é? Onde está?” Encontraram. Morreu o jovem. Encontraram o cadáver. O que estão fazendo agora... Cá entre nós, eu não acredito que tenham sido os jovens que quiseram botar fogo no Itamaraty. Eu duvido! Eu duvido que alguém de bom senso e com um mínimo de equilíbrio tenha tentado colocar fogo no Itamaraty, tenha quebrado os vidros do Itamaraty. Quem fez isso, fez de má-fé. Quem fez isso não gosta do povo brasileiro, não gosta do que está acontecendo e quer os piores caminhos. Por isso eu acho que, amanhã, nós temos de encontrar uma forma. Mas o silêncio da Presidente está, realmente, apavorando todos nós. Suspendeu a viagem para o Japão. Só faltava ela ir para o Japão! Acho que agiu corretamente. Fez o que tinha de fazer. Mas ela deve fazer. Acho que foi V. Exª que disse outro dia - ao menos saiu no jornal - sobre ela reunir o Conselho da República. Podia reunir. Podia convocar o Presidente Lula e o Presidente Fernando Henrique. Afinal, são dezesseis anos. Oito anos de um e oito de outro. Podia convocar. Acho que seria um gesto importante nesse sentido. Podia. Agora, sim, neste momento, eu sinto no meu coração... Falei isso quando ela assumiu. Rubriquei o discurso e mandei para ela. Resista! Mas senti que a corrupção é tão grande, é tão intensa, por todos os caminhos. Eu até creio que ela tem vontade, mas, sou sincero: não tem competência. Não uniu em torno dela um grupo que tenha competência...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Ela não tem um Zé Dirceu do bem. Aquilo que ele fez para o mal, que ela conseguisse fazer para o bem. Não encontrou. A Chefe da Casa Civil é uma bela companheira nossa. Eu tenho o maior carinho, o maior respeito por ela. Mas ela ainda não tem nem a facilidade de falar, de conversar, de andar. Vê-se que é alguém que está iniciando, a nossa ex-Senadora de Santa Catarina. É piada. Com todo carinho, com todo respeito, mas ela não tem. Então, a gente olha numa hora dessas para o Ministério. Na reunião que ela fez, levou o Sr. Carvalho, levou o Presidente do PT, que é Deputado Estadual de São Paulo, levou o Lula (fora do microfone.) ... levou o Mercadante, porque ele é o fenômeno que está aí, que conquistou a simpatia da Presidente, que o chama para tudo, desde a ida ao Vaticano, aos Estados Unidos, à Rússia, a São Paulo. É ele. Tudo bem, mas eu, nessa turma que ela reuniu, não vejo disposição. Até agora não se sabe nada que aconteceu. A única nota que saiu foi o Presidente do PT convocando os petistas para botarem a camisa vermelha e ir todo mundo para a parada e enfrentar. Eu não sei se nós conseguimos, Presidente. Nós ficamos aqui... Também não conseguimos falar com a direção da Mesa, com as Lideranças. Eu não vi Líder. Tivemos uma reunião importante - era para ser importante - no Ministério das Relações Exteriores, para discutir o problema do Mercosul. Havia uns três ou quatro ali e se via que havia algo no ar, que não era nada que mostrava que era uma coisa importante. Mas eu acho que os Líderes, a Mesa - cá entre nós, - vão reunir alguns e vão fazer fora do horário do Senado. Vão fazer fora do horário do Senado. Vamos nós assinar o nosso nome, nem que sejamos seis, sete, oito, nove ou dez, e vamos convidar as pessoas para virem discutir. Alguém tem que fazer. A Igreja não faz porque está atravessando uma hora difícil. O Papa vem chegando aí. É um papa novo. A Igreja não vai se meter, numa hora dessas, numa confusão dessas. A CUT nem sabe mais como é que se faz. A Une - meu Deus! - já tem uma bandeira enorme: sede própria, a mais bonita do mundo; carteira de estudante unida - só ela pode fazer e mais ninguém - e defesa do casamento de homossexuais. São três bandeiras importantes. Ela não tem tempo para uma outra bandeira. Então, eu acharia, com toda sinceridade, se a gente conseguisse alguém neutro, alguém, meu deus, se estivesse um Dom Hélder vivo, se o Cardeal de São Paulo não estivesse já tão velhinho, meio doente, se estivesse vivo o Presidente da Associação Brasileira de Imprensa, com seus 90 anos de idade, se estivesse o Presidente da OAB, quando nós fizemos a grande luta aqui das Diretas Já! Mas eu acho que nós podemos fazer isso, vamos tentar encontrar alguém e vamos chamar as pessoas, que venham e vamos ver o que vamos fazer, porque já vi que o Governo não vem. Desses jovens que estão aí, até gostei do projeto deles. Mas as passagens já passaram, o motivo foram as passagens, poderá até, no futuro, dizer como V. Exª disse antes que eu chegasse aqui: “vão dizer que essa luta toda foi por R$0,20 nas passagens”. Também se diz que a Revolução Francesa foi porque a Maria Antonieta mandou os caras: se não há pão, que comam bolo. É o que ficou, mas é evidente que não foi por aí. Mas uma frase fique. Eu concordo com V. Exª sobre a guerra, a luta dos R$0,20, mas eu acho que nós devemos pensar em fazer alguma coisa. O Presidente da Câmara está no exterior. Eu conto uma coisa muito interessante, não é pecado o que eu vou contar. Eu gostava muito do pai dele, o pai dele foi Ministro comigo, ele era Ministro da Administração, e ele tinha uma memória que era uma coisa fantástica. Nós fizemos uma viagem de dois dias por todo o Nordeste, ele passou dois dias falando, e eu ouvindo. Ele conta, ele sabe tudo e, com relação ao filho, ele acha que o filho dele é fantástico, e é; competente, e é; sério. Tudo que é qualidade ele tem, e ele só dizia uma coisa: “agora, oferece uma viagenzinha para o exterior, qualquer que for, um dia, dois dias, ele se apaixona, ele deixa tudo de lado e vai fazer a viagem.” Então, é normal, o Presidente está na Rússia. Mas também não é de esperar dele isso. Eu acho que V. Exª, eu acho que o Pedro Taques, o Paim, com esse jeito dele, afinal podemos botar o Paim na frente, é PT, mas também não podemos queimá-lo demais, porque sabemos que ele é um PT que está indo, está indo, mas há aquela que eu já disse mais de uma vez e disse para ele, numa reunião que nós tivemos, a única de que lembro que nós fizemos com o Lula Presidente e com a bancada de apoio dele no Senado, e levantamos a tese da discussão do projeto do Paim.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Fim do fator previdenciário e reajuste para os aposentados.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Fim do fator e reajuste para os aposentados. Aí falamos, todo mundo falou, eu falei. Aí ele ficou irritado, se levantou e disse: Eu quero dizer para vocês uma coisa. Eu já falei para o Paim e falo para vocês. Eu, na Presidência da República, tenho que tomar uma decisão. Ou eu uso o dinheiro que nós temos para servir o povo brasileiro na educação, na escola, nisso, naquilo, naquilo, ou eu uso o dinheiro que nós temos para cobrir as emendas do Paim. Veja a antipatia que ele tinha com as teses justas e compreensíveis do Paim. Mas eu acho que nós tínhamos que bolar alguma coisa diferente. Com toda sinceridade, eu acho que nós temos que tentar fazer alguma coisa diferente. Eu até acho que foi bom V. Exª não ter lido aquele manifesto na quinta-feira. Se tivesse lido, iam dizer: Tudo isso aí foi o Cristovam, o Cristovam é que começou. Porque era V. Exª falar e, de noite, o povo estava na rua. Mas, vamos dizer assim, foi o presidente do PT que mandou os caras irem para a rua. E o PT foi para a rua. Eu acho muito problemático o momento que nós estamos vivendo. Era o momento que se a Presidente Dilma resolvesse virar uma estadista, usar a personalidade dela, a firmeza dela, a dignidade dela... Não creio que a Presidenta Dilma tenha medo de qualquer coisa. Enfrentar o que ela enfrentou, com a coragem com que enfrentou, com a garra com que enfrentou... Não, eu não vejo problema nesse sentido, mas é claro que - vamos falar cá entre nós -, se eu estivesse no lugar da Presidente Dilma, eu também estaria meio preocupado. Enfrentar a cúpula toda do MDB - não vamos citar nomes, mas nós sabemos quem -, mais a do PT, mais a CUT, mais essa turma toda e mais outros partidos que não vamos citar - são vários outros partidos - e ser contra? É difícil. Mas se a Dilma resolvesse fazer isso amanhã, ela seria aplaudida, o povo de joelhos a saudaria na frente do Palácio. Se ela resolvesse: “Vamos fazer!” e começasse; começasse, um por um, chegando aonde deve chegar. Ela seria a grande brasileira. Caso contrário, querer não dar mais dinheiro para Pernambuco, porque o prefeito está alto; não deixar a Marina ter um partido, porque a Marina aumentou nas perspectivas dela; ela baixou dez pontos antes dessa confusão que está aí agora. Ainda não tinha começado essa confusão, quando saiu a pesquisa de que ela tinha perdido dez pontos. Não sei o que vai acontecer amanhã ou depois. E eu gostaria, se topasse... Ela não recebe. Várias vezes, eu tentei. Mas agora já estou naquela história: ela não quer falar comigo; eu não quero falar com ela. Não adianta. Eu vejo que ela não recebe ninguém. Eu nunca tinha visto isso. O Lula recebia, o Fernando Henrique recebia; os militares conversavam. Mas aqui é impossível. E quando me disseram que dos 39 Ministros pelo menos sete ainda não falaram com ela como Ministro; eu estou na fila com gente mais importante me esperando. Desculpe, mas nós estamos aqui andando. Eu sei que é um absurdo o que eu fiz, e o povo que está nos assistindo deve estar irritadíssimo: “Mas esse Simon aí está atrapalhando o discurso brilhante do Cristovam!” Mas o povo que está vendo televisão tem de entender que assim é a vida: tem os brilhantes, como V. Exª, e tem os que são mais apagados e, com as suas poucas luzes, ajudam V. Exª a brilhar. Muito obrigado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Senador Simon, fique tranqüilo - eu peço dois minutos, Senador Rodrigo - fique tranquilo, pois a sua fala enriquece o discurso de qualquer um, e neste caso especialmente.

            Eu quero começar dizendo um grande nome do País que pudesse, neste momento, encarnar. Senador Paim, nós hoje estamos tão carentes que só tem um nome, no Brasil, que poderia fazer este papel: Joseph Blatter, o Presidente da FIFA. Ele é o único que tem autoridade hoje para chegar e mandar na Presidenta Dilma, controlar o Brasil e pôr ordem nas coisas. A FIFA manda na gente hoje. Tudo é feito em função da Copa.

            Mas o senhor tem razão. Era preciso ter alguém que encarnasse uma voz, como Barbosa Lima Sobrinho, que dissesse: “Presidenta, está na hora de fazer essas coisas!”. Precisava dessa voz, até porque - vamos ser muito francos - nenhum de nós nesta Casa tem, porque o povo não receberia bem se fosse uma voz nossa. Então não adianta nada.

            O que o senhor trouxe aqui, para mim, de mais interessante é uma explicação de um dos erros que nós cometemos. Quando eu digo nós não somos nós apenas, é o Brasil. Um dos erros graves que foram cometidos nesses últimos anos foi a opção de governo do Presidente Lula, que a Dilma mantém, de monopolizar todo o poder, de eliminar todo tipo de oposição e recusar toda forma de crítica.

            Por exemplo: o senhor lembrou aí uma coisa boa, reunir o Conselho da República. Fazem parte do Conselho da República, se eu não me engano, o Presidente do Senado e o Presidente da Câmara. Os dois são ministros dela, eles foram nomeados. Ela determinou aqui que a base de apoio votasse nele e, na Câmara, que a base de apoio votasse. O Senador Taques foi nosso candidato a Presidente e sabe disso.

            Nós não temos, hoje, um Presidente da Câmara e um Presidente do Senado com autonomia para sentar com a Presidenta da República e dar sugestões. Não temos. Quanto à CUT e à UNE, foi um crime para a história do Brasil o que foi feito na cooptação da UNE, das centrais sindicais, dos sindicatos inteiros e até mesmo das ONGs em geral. Essa ansiedade de ter todo o poder, de eliminar toda forma de crítica, amarrou o próprio Governo.

            Sabe qual a imagem que eu tenho, Senador Pedro Taques? A imagem é de uma pessoa tão ambiciosa que respira tanto oxigênio, o oxigênio inteiro, que fica sem ar depois. O governo Lula e o Governo Dilma absorveram tanto poder no sistema democrático que temos que agora estão sem oxigênio para negociar com os que estão na rua. Não sabem a quem ouvir.

            Há pouco, disseram que vieram aqui umas pessoas para se encontrar com o Presidente do Senado, representando os meninos na rua. O Senador Paim estava como Presidente, e eu disse: “Eu não vou porque não sei como eles foram eleitos.”. Depois, descobriram que eram - não vou dizer picaretas -, mas como dizem por aí os jovens, fakes. Não eram verdadeiros. Acabou a capacidade de diálogo porque o Governo acabou com a oposição, cooptou todos que eram contra, salvo um pequeno grupinho do PSDB, que ao serem, inclusive, do PSDB, têm uma visão que pode não conciliar, mas tinha de ser ouvida. Acabou a UNE. É fundamental um governo ter oposição, é fundamental um governo ter grupos autônomos que, quando for preciso, digam: “Presidente, a Senhora está indo no caminho errado.” Hoje, o único o diz isso é o Lula. Mas quando o Lula diz que ela vai pelo caminho errado é porque quer que vá pelo caminho dele, que é o mesmo dos últimos dez anos.

            Nós não temos, Senador Paim, a não ser o Blatter, qualquer pessoa com autoridade acima da Presidente da República. Ela anula os próprios ministros. Nenhum tem coragem - pelo que me dizem, não tenho nenhuma intimidade - de chegar para ela e dizer: “Presidenta, vamos mudar isso?” Eles não têm. Com isso, se asfixia no oxigênio que respirou exageradamente, acabando tudo ao redor do ponto de vista político.

            Senador Rodrigo, era o que eu tinha a colocar, achando que amanhã nós deveríamos estar aqui, os que puderem; voltarmos aqui, porque estaremos em uma vigília permanente, pelo menos para dar a entender que alguns se preocupam, alguns se preocupam, e eu faço parte desses que se preocupam.

            Era isso, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2013 - Página 38790