Discurso durante a 97ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre os protestos e manifestações populares que têm ocorrido no País.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Reflexão sobre os protestos e manifestações populares que têm ocorrido no País.
Aparteantes
Ataídes Oliveira, Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 18/06/2013 - Página 37626
Assunto
Outros > IMPRENSA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, EL PAIS, PAIS ESTRANGEIRO, ESPANHA, ASSUNTO, JUVENTUDE, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, LOCAL, BRASIL, OBJETIVO, REIVINDICAÇÃO, MELHORIA, SERVIÇO PUBLICO, CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, DEFESA, ALTERAÇÃO, MODELO POLITICO, MOTIVO, EXCESSO, CORRUPÇÃO.

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco/PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim; Senador Ruben Figueiró; Senador Valdir Raupp; Srs. Senadores e Sras Senadoras, “por que o Brasil e agora?” é a pergunta estampada em manchete no jornal El País, um dos grandes jornais no cenário internacional.

            Na matéria “Por que o Brasil e agora?”, diz-se que está gerando perplexidade, dentro e fora do País, a crise criada repentinamente no Brasil, surgindo protestos nas ruas, primeiramente em cidades ricas, como São Paulo e Rio de Janeiro, e, agora, estendendo-se a todo o País, inclusive a brasileiros que vivem no exterior. Isso é o que diz o jornal El País. “Por que saem às ruas para protestar contra a alta dos preços dos transportes públicos jovens que normalmente não usam o transporte público porque possuem carro, algo impensável [...]?”, questiona o jornal.

            Enfim, o final da matéria diz:

O que querem esses jovens? [Pergunta o jornal.] Querem eles, por exemplo, serviços públicos de primeiro mundo; querem uma escola de qualidade, que não existe, querem uma universidade não politizada, ideologizada ou burocrática. Querem-na moderna, viva, que os prepare para o trabalho futuro. [Eu estou traduzindo, por isso a dificuldade, Senador Ruben Figueiró.]

Querem hospitais com dignidade, sem meses de espera. Querem ser tratados como pessoas. Querem que não morram 25 recém-nascidos em 15 dias em um hospital de Belém, no Estado do Pará.

            E conclui a matéria:

Em faixas expostas nas passeatas [Senador Paim], lê-se: País mudo é um país que não muda. E também faixa dirigida à Polícia: Não dispare contra meus sonhos. Alguém pode negar a um jovem o direito de sonhar?

            É a repercussão internacional. Faço referência apenas a esse jornal, mas todos sabem que a imprensa internacional oferece um bom espaço às manifestações populares que estão ocorrendo no Brasil, nos últimos dias.

            É evidente que essas manifestações não têm por objetivo apenas protestar contra o aumento da passagem de ônibus, do transporte público. Há muito mais por trás dessa revolta dos jovens brasileiros. A vaia que a Presidente Dilma recebeu, monumental vaia, antecedendo ao espetáculo futebolístico no Estádio Mané Garrincha, no último sábado, não foi uma vaia em razão do preço da passagem de ônibus em Brasília. Não foi. Há muito mais por trás dessas manifestações.

            E aproveito frases de José Carlos de Azeredo: “Ainda há um resquício de brasa sob o silêncio aparente das cinzas”. É a tradução literária do que está ocorrendo no Brasil.

            O que estava por detrás das vaias no Estádio Mané Garrincha? O preço do transporte? Não. É muito mais do que isso.

            Hoje, governistas procuram dissimuladamente afirmar que a elite vaiou a Presidente, e nós sempre previmos no Brasil um estádio de futebol como o templo do povo trabalhador. Sim, o estádio de futebol é o palco do povo simples do Brasil. Repentinamente, os governistas afirmam tratar-se de elitistas que vaiaram a Presidente da República. Ora, eu estive lá. Não estive nos camarotes, onde estavam os representantes da elite. Eu estive nas arquibancadas, onde estavam representantes da população e vi que não era a elite que estava ali a vaiar. Era o povo brasileiro, classe média preponderantemente talvez. Não a elite. A elite estava ao lado da Presidente, nos camarotes luxuosos, com ingressos oferecidos como cortesia pelas autoridades que organizam a Copa do Mundo no Brasil. Lá estava a elite. O povo estava do outro lado, e quem esteve no estádio pode fazer a leitura correta: foi uma vaia espontânea, não preparada, repentina. Uma manifestação de indignação que explodiu, e explodiu inesperadamente.

            Mas é bom perguntar por que isso ocorre, por que os jovens estão nas ruas de São Paulo, nas ruas do Rio de Janeiro, em outras capitais do País, em outras cidades brasileiras. Pegam como gancho R$0,20 de aumento na passagem do ônibus, mas é apenas o gancho. Pergunte aos jovens que estão terminando seus cursos ou que terminaram suas faculdades. Um amigo do Paraná me pediu que fizesse essas perguntas aqui. Perguntem a esses jovens. Eles dirão que estão revoltados com tudo que tem que aceitar, principalmente com o que é imposto pelo Estado e pela sociedade mercadológica.

            O jovem de hoje quer uma sociedade mais solidária. Eles sabem que não podem fazer nada para arrumar o que gostariam de modificar. Tirar uma beiradinha em revolta contra o aumento de R$0,20 dos transportes passa a ser um ponto de satisfação ou de marcação de posição, como é a vaia à Presidente Dilma. Vejam, quem são os jovens que estão nas ruas do Brasil? Eles não são de partido político, não estão engajados em partido político, não são jovens abandonados pelos pais. São jovens abandonados pelo sistema. São jovens descrentes no sistema. Estão revoltados com os políticos de modo geral, com os governantes, com o sistema bancário, com o sistema educacional, com o sistema de saúde, com o custo dos transportes também, com a segurança; e muito mais estão revoltados agora com a polícia, com os policiais, mas, sobretudo, é preciso dizer: com a política e com os políticos.

            No Brasil, fala-se muito que está sobrando emprego; quase pleno-emprego. Mas não se fala que essa sobra é do subemprego. De cada cindo jovens que se formam em cursos superiores, quatro ficam desempregados no mercado para o qual estudaram, sendo obrigados a se submeterem a empregos de pequena remuneração, distante do que sonharam e para o que estudaram. Em parte é o mesmo fenômeno que já experimentou os Estados Unidos, quando sobravam vagas para o subemprego. Então, deixaram entrar os jovens de países subdesenvolvidos que para lá migraram.

            O que está acontecendo é o começo de um movimento de protesto, que deseja mudança de tudo. É no Brasil e em outros países do mundo que esse fenômeno vem ocorrendo. O quadro é difícil, e essa transição vai acabar ocorrendo, porque são poucas as possibilidades que os nossos governantes têm para construir uma sociedade menos violenta, mais solidária e mais responsável. Os jovens de hoje, em todo o mundo, querem o reconhecimento pela sociedade da sua condição básica, que elegem em primeiro lugar: o item dignidade.

            É evidente, Senador Ruben Figueiró, que a mola propulsora dessas manifestações, que alavancou também a vaia à Presidente Dilma no último sábado, em Brasília, é esse sentimento de indignação diante dos escândalos de corrupção que ocorrem no Brasil.

            Esses jovens não pretendem só a cidadania, com o mero direito ao consumo e aos seus deveres e obrigações para com as leis. Está em marcha um movimento pela mudança, só que a cegueira do ser humano, e principalmente daqueles que ainda rezam para um ser invisível, vai mais uma vez deixar... Estas são palavras de um amigo do Paraná. Vejam o que ele escreve: "Está em marcha uma grande mudança, só que a cegueira do ser humano, e principalmente daqueles que ainda rezam por um ser invisível, vai mais uma vez deixar passar tudo, seguindo mais uma vez pela contramão."

            Na verdade, há uma insatisfação latente contra o sistema vigente no País. Na última sexta-feira, daquela tribuna, fiz um relato sobre o que penso do sistema implantado no Brasil, consolidado nos últimos dez anos e que se tornou suprapartidário, que foi transplantado para Estados e para Municípios, o sistema da promiscuidade política, o sistema da desonestidade. É exatamente esse sistema que estabelece um processo de barganha interminável entre Poderes da República. É exatamente esse sistema que limita a capacidade de investir do Estado brasileiro em setores essenciais, como a saúde, como a educação, como o transporte, como segurança pública e infraestrutura. É exatamente a razão dos protestos que explodem País afora.

            E nós queremos manifestar a nossa concordância com os manifestantes das ruas do Brasil, como agora os manifestantes dos estádios luxuosos do Brasil, superfaturados. Nós queremos manifestar a nossa concordância com as manifestações pacíficas, porque democráticas e civilizadas. Evidentemente, não podemos manifestar a nossa concordância com a violência.

            É possível movimentos jovens pelas ruas do País sem violência, e nós não queremos, nessa hora, identificar responsáveis pela violência que vem ocorrendo, até porque não teríamos condições de identificar com correção e certamente cometeríamos injustiças. Temos que condenar a violência de parte a parte. Se há violência por parte de manifestantes, condenemos-na; se há violência por parte de policiais, condenemos-na. E há a possibilidade de a investigação apurar e identificar os responsáveis pela violência para que se estabeleça a punição que se exige, mas não podemos asfixiar manifestações democráticas. Não podemos condenar a vaia, porque não condenamos os aplausos.

            Ora, Sr. Presidente, Srs. Senadores, quem está sendo vaiado é o sistema. O protesto das ruas é um protesto contra esse sistema, que tem que ser destruído e que se popularizou pelo balcão de negócio que instalou, o balcão de negócios que favorece o aparelhamento do Estado em nome de um projeto de poder de longo prazo.

            Não há um projeto de nação como prioridade no Brasil. Não há. Há dez anos, dá-se sustentação a um projeto de poder. Em nome dele, idealizaram esse fantástico mensalão, que foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal. Em nome desse projeto de poder, construiu-se verdadeira fábrica de escândalos no Brasil, a partir do Governo da União, com filiais; a partir dessa matriz, filiais que se instalaram também em Estados e Municípios brasileiros.

            Não há dúvida de que aqueles que escreveram nesses dias, tentando interpretar o sentimento da juventude, haverão de concluir que a origem, que a força motora dessa movimentação rebelde é o sistema vigente no País.

            Como escreve Gaudêncio Torquato:

Um zumbido ecoa forte nos ouvidos de governantes dos mais diferentes recantos do planeta, fruto de manifestações que tomam conta de praças e ruas de tradicionais centros urbanos. (...) São Paulo e Rio de Janeiro são palco de movimentos que arrastam grupos dos mais variados setores da sociedade em passeatas que culminam em vandalismo. O foco das ações mais retumbantes nas duas principais capitais do país é o protesto contra o aumento das passagens de ônibus, (...). Mas palavras de ordem, ecos e ruídos de grupamentos diversos também se fazem ouvir pelo território, a expressar uma locução em defesa de interesses de classes, etnias, gêneros e religião, entre outras frentes. A par das intenções explícitas de cada movimento, que lição pode se tirar da efervescência social que se expande pelos continentes e que se acentua em nossos trópicos?

O pano de fundo sobre o qual se projeta o cenário de movimentos populares, protestos e ondas de insatisfação deixa ver duas crises: a econômico-financeira e a política.

            Crises que têm origem nesse sistema que temos que combater.

            Sr. Presidente, eu tenho insistido em afirmar que a principal missão de quem faz política no Brasil hoje é contribuir para que esse sistema seja destruído. Não é possível...

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte, Senador Alvaro Dias?

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco/PSDB - PR) - Pois não, Senador Suplicy.

(Soa a campainha.)

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco/PSDB - PR) - Antes digo que não é possível que nos conformemos com a tese de que a governabilidade exige um sistema de promiscuidade. Governabilidade não pode rimar com promiscuidade. Afirmar que, para governar o País, é preciso instalar um sistema de promiscuidade como o que temos no Brasil é se conformar com aquilo que devemos condenar.

            O que nós estamos verificando nessas manifestações de rua, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília e em outras cidades brasileiras, ou nos estádios de futebol, como no Mané Garrincha no último sábado, o que estamos verificando é o encontro do povo com o Brasil real.

            Há um confronto do Brasil ficção, plantado pelo marketing oficial, inteligente, sofisticado e caro, e a realidade vivida pelos brasileiros. Esse é o confronto atual.

            O Brasil real vai preponderar sobre o Brasil da ficção, ou nós vamos continuar alimentando a ilusão de que vivemos num paraíso e não temos problemas?

            Senador Suplicy, com prazer, um aparte a V. Exª.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Alvaro Dias, V. Exª nos fala a respeito das manifestações que ocorreram em diversos Municípios brasileiros, nas principais cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, e mencionou os problemas que, algumas vezes, preocuparam todos nós, por causa das violências, das depredações, da forma como a Polícia Militar diversas vezes reagiu, provocando ainda maior revolta e incidentes de grande gravidade. Eu queria ressaltar algo e acho que todos nós podemos aprender com isso. Ainda na semana passada, eu aqui registrei uma mensagem que encaminhei ao Governador Geraldo Alckmin, ao Secretário de Segurança Fernando Grella Vieira e ao Prefeito Fernando Haddad com respeito ao que havia ocorrido e estaria ainda por ocorrer. Eu quero ressaltar que achei positivo que, na manhã de hoje, o Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Fernando Grella Vieira, convidou os representantes, seja do movimento Passe Livre, mas ainda diversos outros, como representantes da Educafro e uma pessoa que tem tido uma grande interação com os movimentos sociais, de moradia e com os moradores de rua, Padre Júlio Lancellotti. Menciono isso porque eles estavam ali, presentes à reunião. Nessa reunião, o Secretário Fernando Grella ressaltou a importância de poderem os que irão participar da caminhada de protestos, ainda hoje à tarde, ter o procedimento considerado, digamos, adequado, para que não se repitam aqueles atos de violência, de agressão, inclusive com respeito a inúmeros jornalistas, como a repórter da Folha de S.Paulo, que foi agredida com uma bala de borracha em seu olho, quase causando a perda de sua vista.

            (Soa a campainha.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Mas isso se deu hoje, entre dez horas e meio dia. Pelas informações dadas pelos diversos participantes da reunião, foi combinado que, antes mesmo do início da manifestação, os participantes informarão à Secretaria da Segurança - o próprio Comandante-Geral da PM estava presente na reunião - qual será o trajeto da caminhada, que sairá do Largo da Batata, em Pinheiros, e se deslocará para outras regiões da cidade de São Paulo. Então, quero saudar o aspecto de se ter procurado, preventivamente, evitar a repetição dos atos lamentáveis por todos nós, porque, na terça e quinta-feira, ônibus foram depredados, cerca de 87, 89 ônibus, assim como instalações do metrô, vitrines, bancas de jornais de propriedade de pessoas relativamente modestas que também tiveram prejuízos, houve incêndios aqui e acolá, e os próprios organizadores, por exemplo, do movimento Passe Livre inclusive me disseram que a orientação deles era para que não houvesse quaisquer atos de vandalismo, de violência. Disseram que tais atos acabaram acontecendo por causa da reação tão abrupta da PM. Mas agora, com estas iniciativas, Senador Alvaro Dias, espero, inclusive, transmitir ao próprio Secretário Fernando Grella Vieira, que essa reunião teria um saldo positivo, como espero que efetivamente aconteça, para aquilo que está por acontecer a partir das 17 horas de hoje, no Largo da Batata e em outros lugares. Eu, então, avaliei que era importante registrar esta reunião na medida em que V. Exª tratava deste assunto também. Muito obrigado.

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco/PSDB - PR) - Muito obrigado, Senador Suplicy, pelas informações.

            O SR. PRESIDENTE (Ruben Figueiró. Bloco/PSDB - MS) - Senador Alvaro Dias.

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco/PSDB - PR) - Pois não.

            O SR. PRESIDENTE (Ruben Figueiró. Bloco/PSDB - MS) - Antes que a palavra retorne a V. Exª, eu gostaria de, em seu nome e em nome dos Senadores presentes, saudar a presença aqui dos alunos do Instituto Federal de Brasília. Sejam bem-vindos a esta Casa! (Palmas.)

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco/PSDB - PR) - Muito obrigado, Presidente. Sejam bem-vindos os estudantes, que, certamente, também representam o sonho daqueles que, nas ruas do Brasil, protestam, alimentando a esperança de viver um futuro melhor.

            Eu recolho o aparte do Senador Suplicy, apenas dizendo que considero o uso dessa bala de borracha um atraso imperdoável. Não é possível que não encontremos mecanismos mais modernos, mais eficientes para administrar a revolta popular. É evidente que nós podemos encontrar, sim, outras formas mais civilizadas, pacíficas, de enfrentamento.

            (Soa a campainha.)

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco/PSDB - PR) - Obviamente, a bala de borracha é o que se pratica no Brasil nos últimos anos, mas está na hora de pensarmos em outras alternativas, eliminando essa hipótese.

            Para concluir, Sr. Presidente, essas manifestações, repito, as vaias de protesto, as caminhadas pelas ruas do Brasil significam o brado do jovem brasileiro contra esse sistema político ultrapassado, que é a matriz de governos corruptos, escandalosos, coniventes com o crime, que provocam a revolta inevitável. É, sem dúvida, o protesto contra um Parlamento incapaz, é o protesto contra uma oposição impotente num sistema de desequilíbrio brutal em que a representação popular está estabelecendo um confronto desigual entre situação e oposição, com oposição numericamente limitada, incapaz de cumprir a sua missão no Parlamento.

            Nós temos que, humildemente, entender que essas manifestações de rua, que os protestos dos jovens brasileiros se dirigem a todos nós: às instituições públicas brasileiras, aos partidos políticos, aos políticos de forma geral, aos três Poderes, Poder Judiciário, Poder Legislativo, Poder Executivo, sobretudo, porque o Brasil não caminha bem. Nós estamos como um barco à deriva, porque - é bom repetir sempre - não há um projeto de Nação. O que há é um projeto de poder, e, com isso, as principais bandeiras populares foram rasgadas e jogadas na lata do lixo da história, nesses últimos dez anos, no País.

            Essa é a causa, sem dúvida, do protesto; essa é a causa da revolta.

            Se o Presidente me permite, ainda concedo um aparte ao Senador Ataídes, com satisfação, para depois concluir o pronunciamento.

            O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco/PSDB - TO) - Obrigado, Senador Alvaro. Eu tenho dito aqui, Senador, algumas vezes, que a situação do nosso País muito me preocupa. Eu disse aqui, algumas vezes, que a nossa economia está indo bem, mas está indo mal. Disso isso algumas vezes. E, como empresário que sou, lá na ponta, percebemos o que está acontecendo. Cheguei a dizer a alguns amigos que, a qualquer momento, o povo brasileiro iria se manifestar, principalmente os jovens, porque os jovens têm atitude. Não estou querendo dizer que os mais velhos não têm, mas o jovem, até por sua natureza, é mais atirado. Eu estava prevendo, sim, que, a qualquer momento, a nossa sociedade viesse realmente a se manifestar. Um amigo me disse o seguinte: “Mas por que brigar por causa de R$0,20 numa passagem de ônibus?”. Eu disse: “Não, eles não estão na rua por causa dos R$0,20. Eles estão na rua pelo que lhes é de direito”. Percebo, Senador Alvaro, analisando depois, carinhosamente, o que está acontecendo, que o fato maior que está levando nosso povo à rua, com toda a razão - e peço que seja pacificamente -, é a corrupção neste País. É a corrupção que está pegando esse salário do povo e o está devorando. Não é pelos R$0,20 da passagem dos ônibus que eles estão brigando. E acho mais: a tendência dessas manifestações é que sejam sucessivas. Portanto, o Governo Federal terá que tomar uma atitude imediatamente. Terá que olhar a nossa economia, o problema da nossa infraestrutura, da logística. Senador Alvaro, V. Exª que é tão conhecedor desta Casa, sabe que essa reforma política já deveria ter acontecido há muito tempo. E isso me preocupa muito. Mas a corrupção no País, que hoje, acredito, com a história da Copa, deve ultrapassar os R$150 bilhões, esta sim é maldita e perversa, corrói o salário do nosso trabalhador e é a causa dessas manifestações, acredito eu. Muito obrigado, Senador Alvaro Dias.

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco/PSDB - PR) - Muito obrigado, Senador Ataídes Oliveira. V. Exª valoriza sempre o nosso discurso com o seu aparte. Também agradeço ao Presidente Ruben Figueiró pela concessão do tempo.

            Concluo dizendo que é nosso dever fazer a leitura correta do que está ocorrendo no Brasil. Essas manifestações não estão ocorrendo porque os jovens resolveram se divertir nas ruas. Essas manifestações estão ocorrendo porque há uma causa latente que tem que ser identificada pelos agentes públicos.

            Ou nós, que representamos a população, ou eles, que governam o País - o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário -, mudamos o Brasil, destruindo esse sistema promíscuo, ou seremos atropelados pela sociedade brasileira.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/06/2013 - Página 37626