Comunicação inadiável durante a 123ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas aos pré-candidatos à Presidência da República pela falta de propostas concretas; e outro assunto.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Críticas aos pré-candidatos à Presidência da República pela falta de propostas concretas; e outro assunto.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 06/08/2013 - Página 51185
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • CRITICA, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, MOTIVO, AUSENCIA, PROPOSTA, MELHORIA, EDUCAÇÃO, SAUDE.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Ataídes Oliveira, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, muitos de nós hoje estamos preocupados com essas movimentações. Confesso que não tenho preocupação diretamente com elas, pois me preocupava quando elas não aconteciam, como se as coisas estivessem bem. E alguns de nós, eu inclusive, manifestamos preocupação sobre o rumo das coisas ou até mesmo sobre a falta de rumos, quando o Brasil exige uma inflexão, uma mudança de rumos, exige que se resolva a crise de um modelo que se esgotou.

            Mas hoje em dia, Sr. Presidente, tenho uma preocupação ainda maior do que tudo isso. Vemos o povo na rua, vemos dezenas de reivindicações e de manifestações que vão crescer - é natural que cresçam -, porque estamos no momento de uma guerrilha cibernética. Qualquer pessoa com computador em casa é como se estivesse em uma trincheira, já que, apertando alguns botõezinhos, consegue mobilizar dezenas ou centenas de outras pessoas. E centenas de pessoas juntas em lugar determinado podem trazer problemas sérios.

            Vemos esse povo se manifestando e não vemos manifestações claras das lideranças nacionais sobre para onde ir. Alguns dizem que não é hora de dizer para onde ir, pois são os jovens que vão dizer, os jovens que vão escolher. Pois bem, são eles que vão escolher, é o povo na rua quem vai escolher quem está falando certo ou não, mas isso não justifica a omissão, não justifica o silêncio das lideranças nacionais. E nós aqui não estamos dando o caminho que consideramos correto mesmo que o povo, os jovens digam que o que estamos propondo não faz sentido.

            E, de repente, vem a ideia de uma agenda positiva para enganar o povo. Vamos falar com franqueza. O povo quer mudanças. O povo não quer ajustes. O povo quer uma nova história, não quer pontos e vírgulas nos documentos oficiais. Essa agenda positiva é uma ilusão que estamos criando na população ou mesmo um engano. Mas é isso o que estamos fazendo.

            Ao mesmo tempo em que estamos fazendo isso, Senador Ataídes, quero cobrar de outro grupo que faça alguma coisa. Estamos a poucos meses de uma eleição presidencial.

            Esta era a hora de os candidatos estarem dizendo como veem o futuro do Brasil, para onde eles assinam que deve ir o Brasil, para que esse povo que se manifesta ouça e fique a favor ou contra, mas saiba que temos candidatos propondo que, a partir de 1º de janeiro de 2015, o Brasil iniciará um novo rumo, sairá desse marasmo, desse caos até em que vivemos hoje, sairá desse modelo que se esgotou e entrará em um novo modelo.

            Mas onde estão os candidatos a Presidente? Tenho lido, com o maior cuidado, a mídia, todos os meios de comunicação, inclusive as mídias sociais, em busca de propostas dos candidatos a Presidente, já lançados, sobre como veem o futuro do Brasil. Fico lendo e procurando o que eles estão dizendo para esse povo na rua que será seu cidadão e sua cidadã daqui a um ano e meio. E não vejo, não ouço.

            Qual é a proposta de cada um dos candidatos a Presidente - já temos diversos - sobre uma estrutura política que funcione sem corrupção, que funcione com eficiência, que seja capaz de ouvir o que o povo quer? Não vejo os candidatos falando sobre isso.

            Fico procurando onde estão os discursos que eles fazem dizendo como será o sistema de saúde, Senador Paim, que vai resolver a crise vergonhosa do País, que tem uma saúde que parece a de uma nação em guerra. O que eles têm a dizer do fator previdenciário? O que eles têm a dizer? São a favor? São contra? Têm uma proposta outra? V. Exª, que é a pessoa mais interessada nesse assunto, já ouviu algum dos candidatos dizer o que pensa a respeito disso?

            Estão trabalhando não com as propostas que eles querem para o País, mas com o silêncio que os marqueteiros lhes recomendaram. Estão falando não para ganhar votos, mas para não perder votos.

            O que eles têm a dizer sobre educação? Continuar no mesmo ritmo dessa melhora lenta que não permite que o Brasil acompanhe as exigências novas de educação, deixando-nos para trás? Os jornais de ontem e de hoje, Senador Ataídes - e esta é uma hora que lhe interessa -, falam que metade dos estudantes de engenharia no Brasil abandonam seus cursos. Metade! Em um país que está carente de engenheiros, que conseguiu matricular 105 mil faz cinco anos, metade abandonou no passado! Como vamos ficar, como Nação desenvolvida, sem engenheiros?

            Mas eu quero chamar atenção para o porquê de esses jovens terem abandonado o curso de Engenharia. Não foi por falta de dinheiro, porque as universidades públicas são grátis e as outras têm o ProUni. É por falta de conhecimento de Matemática básica para acompanhar o curso de Cálculo! É por isso que eles abandonam o curso. Eles abandonam o curso por insuficiência na preparação durante o ensino médio, que vem da insuficiência da preparação no ensino fundamental, que vem da falta de um candidato a presidente que diga o que irá fazer para resolver o problema do ensino fundamental. E nenhum dos candidatos está dizendo, ou, pelo menos, eu não estou conseguindo ouvir ou ver essa resposta deles.

            O que vão fazer para que o nosso novo modelo tenha uma solução para o fato de que, em São Paulo - vejam bem, São Paulo, o mais rico Estado do Brasil -, em cada cinco escolas, quatro não têm o quadro completo de professores. Vejam bem, falo de São Paulo, e não dos Estados pobres do meu Brasil. Em cada cinco escolas, quatro não têm o quadro completo de professores! Ou seja, as crianças estão sendo despreparadas para enfrentar o futuro.

            O que os candidatos a presidente têm a dizer?

            E aí, Sr. Presidente, temo que essa falta de um discurso claro deles, em tempo de ser ouvido pelo povo nas ruas, termine levando a algo trágico para o Brasil: um número de votos nulos capaz de quebrar a credibilidade, a seriedade, a representatividade de quem for eleito.

            Imagine que um eleito chegue com apenas 50% dos votos válidos, dos quais ele terá, vamos dizer, um pouco mais da metade: 30%! Como será um presidente que chegue lá com 30% dos eleitores votando a favor dele?

            E, no segundo turno, imagine que esses 50% não votem. O eleito vai disputar com o outro por apenas metade dos eleitores. Vai conseguir metade mais um, Senador Paim. Essa metade mais um significa apenas 26% dos eleitores!

            Que credibilidade vai ter? Que representatividade vai ter? Não adianta reclamar depois.

            Isso é o resultado de não estarem se sintonizando com a necessidade de uma inflexão na história do Brasil em direção ao novo modelo - na política, na economia, no social, na relação com a natureza. Eu lamento. Eu sou Senador e eleitor e confesso que ainda não vi qual é…

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - … o candidato que está trazendo uma proposta para ganhar o voto de cada um de nós.

            Eu quero, Presidente Ataídes, deixar aqui esse meu registro de preocupação. mas, ao mesmo tempo, ceder a palavra para um aparte do Senador Paim.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Cristovam, um minuto, só para cumprimentar, mais uma vez, V. Exª pelo pronunciamento. V. Exª vem à tribuna e faz uma provocação. No meu entendimento, provocação correta, propositiva, para que os candidatos à Presidência da República, já que a campanha está anunciada, comecem a colocar o seu ponto de vista sobre previdência, como V. Exª levantou. Qual é a posição em relação aos aposentados? Queremos só saber a posição. É isso. Qual é a posição sobre o fator? V. Exª também levanta essa questão. Sobre educação? Sobre saúde? Sobre segurança? Enfim, os candidatos têm que se apresentar ao País, mostrando seu programa, suas ideias, o que pensam, afinal, e o que podemos esperar daqueles que vão estar na disputa à Presidência da República. É claro que, além disso, há outros tantos temas. Qual é o ponto de vista sobre a reforma agrária? Qual é o problema? Ele vai expor o seu ponto de vista. Qual é o seu ponto de vista sobre a questão da livre orientação sexual? Ele deve colocar o seu ponto de vista, e a população vai julgar na hora do voto. Agora, o pior de tudo é não ter posição. E V. Exª está fazendo exatamente isto: que cada candidato ou candidata coloque a sua posição sobre os mais variados temas da conjuntura nacional. Por isso, mais uma vez, só posso, neste aparte, cumprimentar V. Exª pela provocação, repito, propositiva, afirmativa, para que o povo saiba o que pensa cada candidato ou candidata à Presidência da República. Meus cumprimentos.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Senador Paim, muito obrigado.

            Eu concluo, Presidente Ataídes, dizendo o seguinte: os candidatos talvez não estejam querendo falar, porque estão pensando nos outros adversários. Mas eu acho que qualquer candidato a presidente hoje deve olhar um adversário que eles não estão vendo: o voto nulo. Não é momento de saber como vai ganhar do outro opositor. É preciso trazer o eleitor a votar.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Porque hoje a vontade dos eleitores é não votar. Daí essa campanha imensa que eu tenho enfrentado do voto facultativo. E eu defendo o voto obrigatório, porque o candidato eleito com representatividade pequena não é bom para o País.

            Pois bem, há uma forte campanha pelo voto facultativo. Por quê? Porque as pessoas dizem: votar por quem, se é tudo igual? E ninguém está se diferenciando, ninguém está se mostrando diferente, até porque quando eles começam a pensar uns nos outros, quem é que vai ganhar de quem, é porque se sentem iguais. Eles não estão pensando algo diferente dos que estão aí. Eles não estão propondo o novo. Apenas o velho diferente.

            A próxima eleição não deve ser entre velhos diferentes, deve ser do novo contra o que for velho. É isso que o povo está querendo.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Os candidatos a presidente devem olhar com cuidado o grande adversário deles, chamado voto nulo, que pode fazer com que uma eleição, que é a grande chance de retomar a esperança, seja uma decepção e um enfraquecimento do rumo que o Brasil precisa tomar.

            É isso, Sr. Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Ataídes Oliveira. Bloco/PSDB - TO) - Senador Cristovam, para mim o seu pronunciamento é sempre um grande aprendizado.

            Ontem, eu estava vendo uma pesquisa e lembrei-me de V. Exª. Era uma pesquisa do IBGE sobre os jovens de 18 a 24 anos, os famosos “nem-nem”: nem trabalham nem estudam. E eu fiquei muito preocupado. Lembrei-me de V. Exª, que tem, ao longo dos anos, nesta tribuna e fora dela, defendido veementemente a educação no nosso País.

            É interessante, Senador, que, segundo a pesquisa, que acredito seja de conhecimento de V. Exª, o grupo desses jovens de 18 a 24 anos cresceu horrores. Hoje já ultrapassaram a casa de 16% os desempregados e os fora da escola. E nessa pesquisa conclui-se também que mais de 80% dos famosos “nem-nem” - eu não gosto muito desse termo -, desses jovens de 18 a 24 anos não tiveram oportunidade de fazer um curso profissionalizante. Aí está a minha maior preocupação. Esses jovens, tendo oportunidade de ter um curso profissionalizante, terão uma perspectiva de vida. Mas, assim sendo, da forma em que se encontram, esses jovens chegam no seu quarto, olham no seu espelho e percebem que não valem nada. Isso é um perigo para uma nação. Aí vai para a droga, aí vai para o crime, e depois só resta a esses jovens o famoso CC: caixão ou cadeia. O Governo, principalmente os nossos futuros candidatos à Presidência da República, tem que estar muito atento, e essa pesquisa saiu esta semana. Então, esses jovens de 18 a 24 anos - a situação é extremamente preocupante - têm que ocupar a mente. Deve-se dar trabalho a esses jovens.

            Eu tive esta belíssima oportunidade e o privilégio de falar com V. Exª sobre essa pesquisa que vi ontem. Gostaria até de ouvir V. Exª, se me permitir o próximo orador.

            Muito obrigado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu é que agradeço, Senador Ataídes. Eu é que agradeço a fala e queria dizer que sempre que há os “nem-nem”, Senador, há os “nem-nem-nem”: nem emprego, nem escola, e sempre vêm acompanhados do nem esperança. Sempre que não há nenhum dos dois, escola ou emprego, também não há esperança. É isso que está faltando hoje. E eu não vejo propostas claras para resolver os grandes problemas que são os dois “nens” de que V. Exª falou sobre a juventude: como criar emprego e como dar educação.

            Hoje, acaba de ser lançado o Estatuto da Juventude. O Estatuto da Juventude dá um marco geral. Não dá o rumo exato de como recuperar a esperança para a juventude. Não diz como é que vai ser criado o emprego. O estatuto é uma espécie de Constituição: ela rege, mas não governa. O governar era um programa claro de criação de emprego e de melhoria da educação, especialmente aquela que seja carregada de empregabilidade, em que o aluno, saindo do curso, tenha a facilidade de um emprego. E isso fecha o que eu venho falando. Eu não vi nenhuma proposta ainda, um aceno ainda, uma fala ainda dos candidatos a presidente sobre como vamos tratar os nossos velhos, Senador Paim, os nossos jovens e as nossas crianças. Não vejo essa fala.

            E concluo, lembrando: o grande adversário hoje de cada candidato a presidente é nulo. Não são os outros candidatos. É vencer a falta de vontade da população de, no dia da eleição, votar; e votar em um nome. Porque votar vão, porque é obrigatório.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Mas podem votar nulo, e isso vai trazer um problema muito sério de representatividade para o nosso futuro Presidente, que falta muito pouco para assumir. Menos de um ano e meio.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/08/2013 - Página 51185