Discurso durante a 133ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos 100 anos dos bois-bumbás Caprichoso e Garantido.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 100 anos dos bois-bumbás Caprichoso e Garantido.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2013 - Página 54753
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ELEMENTO, FOLCLORE, ESTADO DO AMAZONAS (AM), COMENTARIO, EXISTENCIA, LOCAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), FESTA, INFLUENCIA, CULTURA, TRADIÇÃO, REGIÃO NORDESTE, REGIÃO NORTE.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP-RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Cara Senadora Vanessa Grazziotin, que preside esta sessão; caro Senador Alfredo Nascimento; Deputado Átila Lins; caro Vice-Prefeito de Parintins, Carmona Oliveira; caro jornalista e diretor artístico da Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido, Frederico Daniel Rolim de Góes - daqui a pouco vou até ler um texto seu, porque fiquei encantada com ele -, que representa, neste ato, o presidente da Associação Telo Pinto; e a integrante do Conselho da Arte da Associação Folclórica Boi-Bumbá Caprichoso, Larice Butel. É bom que as mulheres estejam também participando ativamente desse processo!

            Saúdo o Senador Cristovam Buarque, o Senador José Agripino e o Senador Romero Jucá, que esteve aqui.

            Mas como uma Senadora do Rio Grande do Sul, lá do outro extremo do Brasil, vem aqui se meter em uma festa de Parintins, uma festa do Amazonas, Senador Alfredo Nascimento? Acontece que a festa de Parintins, a festa do Boi Caprichoso e do Boi Garantido não é mais apenas uma festa e um patrimônio de Parintins, um patrimônio do Estado do Amazonas; é um patrimônio do Norte, é um patrimônio do meu Estado do Rio Grande, porque é patrimônio brasileiro, com esse valor, com essa extraordinária capacidade de se mostrar ao mundo e ao País.

            O meu sonho, vou dizer, é conhecer Parintins, porque quem não chega lá... (Palmas.)

             Os chineses têm uma grande frase que revela muito do que significa isso. Os chineses, com a sua sabedoria milenar, dizem o seguinte: “Ver uma vez vale mais do que ler mil vezes“. Então, por mais que se fale, que se vejam as fotos nessas maravilhosas revistas do Caprichoso e do Garantido, por mais que acessemos a Internet, vejamos as imagens e ouçamos a música, vejamos as cores, não conseguimos o principal: o contato com a gente que faz essa riqueza chamada Festa de Parintins, a gente de Parintins, os sons, os cheiros e os sabores, que são intocáveis pela Internet, ou seja, não podemos ter acesso a isso que faz parte fundamental desse patrimônio.

            Assim, queria cumprimentar a Senadora Vanessa e os demais Senadores do Estado do Amazonas por terem feito essa homenagem, no dia de hoje, ao centenário dessas duas grandes instituições.

            A tradição desse interior amazonense, o Festival de Parintins, é, hoje, um dos maiores festejos populares do nosso País. Estimativa da Amazonastur mostra que o evento leva, por ano, mais de 70 mil turistas a Parintins que fica a quase, como disse a Senadora Vanessa, 400 quilômetros da capital Manaus, ou seja, no coração amazonense.

            Esse Festival tem a sua história representada pelos grupos do Boi-Bumbá, divididos entre os currais do Boi Garantido, de coração vermelho - e que aqui deram uma grande demonstração de habilidade e de beleza - e o do Boi Caprichoso, da estrela azul. É fácil identificar, nas apresentações, componentes de várias culturas, como a ibérica e a árabe. No entanto, a cultura indígena, é característica predominante para a maior festa popular amazônica. Estão aqui os representantes deste povo indígena tão bem enfeitados com seus adornos que, então, identificam essa região.

            Os Bois de Parintins, Caprichoso e Garantido, existem desde 1913 - estamos, portanto, comemorando o seu centenário -, mas o festival só se tornou competição em 1966. O Bumbódromo de Parintins é dividido em duas partes rigorosamente iguais para as torcidas do Caprichoso e do Garantido.

            E eu, como disse, fiquei encantada com o texto do Fred Góes nessa magnífica revista que vocês receberam, que fala dos cem anos. Eu sublinhei:

O folclore [escreveu ele] é a vida do povo, é o povo mostrando, com simplicidade, sua evolução, sua revolução pelo saber popular. E não tem quem segure essa revolução de preto, de branco e de índio, que, ao longo da história, solidificam a miscigenação e a transfiguração cultural do nosso Planeta.

Cem anos de glória do Boi Garantido, cem anos de história de sua criação pelas mãos de um menino chamado Lindolfo, um mestiço de branco, de negro, de índio, que tomou para si o papel principal de fazer desse boi a maior expressão de um povo, que fez dessa brincadeira, sua bandeira de resistência, sua revolução cultural. Cem anos de Garantido da Baixa do São José, onde índios e negros fizeram trincheira defendendo a cultura de seus ancestrais, um legado de glória dessa brincadeira de um boi que nasceu de um “curuatá” e ganhou movimento nas mãos do menino Lindolfo, que lhe deu vida em um boi de veludo, cipó, sarrapilha e um coração na testa. Cem anos de um sonho que se tornou identidade cultural não só de Parintins ou do Amazonas, mas de toda a Amazônia brasileira.

            E, como eu não vou ficar com o meu coração partido - não sou louca - numa festa em que os dois têm força igual, encontrei, da Márcia Baranda, a Presidente do Boi Caprichoso, um texto que reflete, aqui, a força dos azuis:

O sentimento que nos leva a trilhar os caminhos memoráveis da história centenária de nosso Boi é o mesmo que nos leva à compreensão de uma paixão que nasceu e cresceu sob o brilho dos seus personagens que tiveram a ousadia de construí-la. “O Centenário de uma Paixão” não é apenas o sentir, mas o porquê sentir. Nessa jornada, uma legião de homens e mulheres se revezou na arte de interpretar o sonho de Roque e Cid, fundador do Boi Caprichoso. Fazer dessa brincadeira de Boi patrimônio cultural do povo de Parintins. E o sonho virou um dever; e o dever, um prazer. Aos olhos do mundo, brilhou a estrela de Parintins, ao revelar a diversidade da Amazônia, com suas crenças e lendas, ritos e mitos, danças e festanças. Aos olhos da floresta, brilhou a estrela do Boi Caprichoso, ao preservar com dinamismo os fundamentos desse folguedo, como sentinela, as transformações do tempo. Fortalecido na promessa de um retirante nordestino conhecedor da escassez do sertão e da desilusão da borracha, nasceu o Boi Caprichoso para balançar as estruturas da velha Tupinambarana, projetando uma identidade cultural que enriquece a nossa história. Nos terreiros do esconde, sob o clarão das lamparinas, lá estava o Mestre Roque, junto com a rapaziada, ensaiando os primeiros versos, os primeiros acordes, as primeiras toadas. Sob o clarão do luar, lá estava o mesmo Roque, unindo o azul com o branco, decretando as cores de uma nova paixão.

            Esses textos refletem muito bem a grandeza, a criatividade e o talento de todos que estão fazendo dessa festa um orgulho brasileiro.

            Em 2013, um novo Bumbódromo foi inaugurado. O espaço foi criado ali para receber melhor os turistas e garantir a qualidade da apresentação.

            O Garantido foi o vencedor da edição deste ano de 2013.

            Tamanha a importância e o destaque dessa festa que, desde 26 de junho deste ano, os bumbás Caprichoso e Garantido são patrimônio cultural do Amazonas.

            Essa medida veio para ajudar a divulgar o complexo cultural dos bumbás de Parintins, popularizar o conhecimento dessa tradição e articular, juntamente com os diferentes setores da sociedade, ações necessárias à salvaguarda desse patrimônio.

            Mas veja só, Senadora Vanessa Grazziotin; veja só, Senador Alfredo Nascimento, este Brasil é tão grande, é tão especial, é tão surpreendente que lá naquele meu Estado, no longínquo Rio Grande, distante alguns mil quilômetros de Parintins, distante milhares de quilômetros do Norte brasileiro, de Parintins, lá onde há o boi-bumbá, onde há o Caprichoso e o Garantido, no Vale do Rio Pardo, uma região bem no coração do Rio Grande, nós também temos um boi-bumbá.

            A tradição, a festividade do bumba meu boi está ali incrustada há 152 anos. Foi resgatada no Município de Encruzilhada do Sul, há mais de quatro décadas, por Firmino Silveira e pelo historiador Humberto Fossa.

            Desde lá, o conhecido mestre Firmino, falecido em 2007, comandou a festa por 40 anos. Em 2004, o mestre recebeu o troféu Cultura Gaúcha em reconhecimento à sua contribuição à cultura do Estado.

            Atualmente, o técnico em segurança do trabalho Diogo Silveira Kucharski é um dos responsáveis por manter a tradição viva nessa cidade. Kucharski é neto de Firmino da Luz Silveira.

            Diogo conta que, graças ao seu avô, que, quando criança, brincava com o boi, e ao pesquisador Humberto Fossa, essa tradição não se perdeu no Estado. O folguedo do bumba meu boi é uma herança trazida a todos os Municípios povoados por açorianos, como os do Vale do Rio Pardo, onde Encruzilhada do Sul está localizada.

            Firmino Silveira cresceu acompanhando desde pequeno a brincadeira nas ruas, após o carnaval, que é muito representativo nesse Município. Depois de adulto, viu a tradição ser esquecida e, para impedir que ela fosse definitivamente perdida, decidiu fazer o boi renascer. Por isso, seu nome jamais será esquecido na história cultural do nosso Rio Grande do Sul - conta o ex-Diretor do Departamento de Cultura de Encruzilhada do Sul, Volny Carvalho da Silva.

            Hoje a Prefeita é uma mulher, Laise Krusser, do PDT do Senador Cristovam Buarque e, tradicionalmente, a festa do bumba meu boi gaúcho ocorre no final do mês de junho, mas, em Encruzilhada do Sul, é realizada no primeiro sábado após o carnaval. Ela foi oficializada pela Prefeitura Municipal em 13 de fevereiro de 1991 e essa festividade faz parte do calendário oficial de eventos de Encruzilhada do Sul, e é uma das comemorações mais populares do Município e da região.

            A farra do boi, como é conhecida pelos gaúchos, é um pouco diferente das típicas festas do Norte, como a de Parintins que estamos festejando agora, e do Nordeste. Lá, no Rio Grande, a festa do bumba possui um único boi, o qual é feito com uma armação de varas de ferro, coberta de tecidos e alguns adereços. A cabeça é constituída de uma autêntica caveira de boi, forrada de tecido e os chifres, também originais, levam fitas, guizos e cincerros de bronze para fazer muito barulho.

            Aqui, o Garantido e o Caprichoso não fizeram barulho, mas mostraram uma leveza e uma beleza estética no seu formato e na sua alegria que nos encantaram a todos. Mas, como eu disse, repetindo os chineses, ver uma vez vale mais que ver mil vezes. Por isso, meu sonho é, um dia, chegar a Parintins e conhecer essa festa que já centenária, mas que está, já, no coração de todos os brasileiros.

            Parabéns ao boi Garantido!

            Parabéns ao boi Caprichoso!

            Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2013 - Página 54753