Discurso durante a 141ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à intervenção de outras nações na Síria; e outros assuntos.

Autor
Inácio Arruda (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/CE)
Nome completo: Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO TRABALHISTA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR, DESENVOLVIMENTO REGIONAL. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Críticas à intervenção de outras nações na Síria; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 29/08/2013 - Página 57843
Assunto
Outros > MOVIMENTO TRABALHISTA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR, DESENVOLVIMENTO REGIONAL. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, CONGRESSO, CENTRAL SINDICAL, TRABALHADOR, BRASIL.
  • REGISTRO, VISITA, ORADOR, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, OBJETIVO, DEBATE, NECESSIDADE, CONSTRUÇÃO, BARRAGEM, LOCAL, MUNICIPIO, CRATEUS (CE), ESTADO DO CEARA (CE), RESULTADO, MELHORIA, ABASTECIMENTO, AGUA, REGIÃO NORDESTE.
  • CRITICA, DECISÃO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), INVASÃO, PAIS ESTRANGEIRO, SIRIA, AUSENCIA, CONFIRMAÇÃO, PRESENÇA, ARMA BACTERIOLOGICA, DESRESPEITO, SOBERANIA, GOVERNO ESTRANGEIRO.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco Apoio Governo/PCdoB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Delcídio do Amaral, espero que marchemos unidos para o bem do Pantanal e do Brasil, brevemente.

            Quero registrar que o tema que V. Exª acabou de tratar é um tema que considero, de fato, muito importante, embora também bastante controverso. Temos de sempre agir com essa tranquilidade com que V. Exª se pronuncia. Com conhecimento, com firmeza, mas com tranquilidade, porque é o Brasil inteiro, são as nossas várias Regiões, são as nossas diferenças gigantescas.

            Eu mesmo, às vezes, brinco com uma realidade dura que a gente vive no Ceará. Eu falo que a gente tem 80% do território num cristalino, e às vezes a gente tem estiagens que chegam a três anos. Algumas regiões do Brasil conhecem estiagens de três meses e ficam superaflitas. Estiagens de três anos são muito duras, e em cima do cristalino, que é não um cristal de prateleira, é uma pedra dura, que dobra qualquer peça, qualquer ferramenta que a gente utiliza para a agricultura. Então, são realidades do Brasil.

            Considero que, com essa tranquilidade, com essa paciência de V. Exª, nós podemos chegar, quem sabe, a um bom acordo. É uma matéria bastante controversa, e talvez a gente esteja caminhando para um amadurecimento, mas vamos sempre ponderar, com muita insistência, na realidade de cada Região, dos instrumentos que a gente pode oferecer, e, quem sabe, o Governo Federal possa oferecer ao conjunto das Regiões, para que elas incrementem o desenvolvimento do seu espaço regional.

            Eu sempre considero o Nordeste uma espécie de China do Brasil. Se nós atentarmos e pudermos ter a capacidade de deslocar parte do que investimos, às vezes, em uma região, ou parte do que investimos, às vezes, em um Estado, poderíamos dar instrumentos fortíssimos para o conjunto das regiões. Isso vale para o nosso Nordeste, mas também vale para o Centro-Oeste e para o Norte do País, que são as regiões que mais precisam de suporte do Governo Federal, para avançarmos no crescimento econômico do País como um todo. É uma matéria que vamos tratar com tranquilidade, assim como fez V. Exª levantou.

            Quero fazer dois registros que também considero importantes.

            Do último final de semana até hoje, tivemos, primeiro, a realização do Congresso da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, um congresso muito importante da CTB, firma uma central sindical com características classistas. Isso tem um viés muito importante no movimento sindical brasileiro, é inovador, porque coloca ali interesses mais largos dos setores mais populares do Brasil.

            Ao mesmo tempo, os 30 anos da Central Única dos Trabalhadores, central que os comunistas ajudaram a construir, participaram do seu processo de construção, desde a 1ª Conclat, em 1981, quando firmamos uma espécie de pacto de todo o movimento sindical. Não foi possível manter essa unidade que se deu na Conclat. Criaram-se várias centrais sindicais, mas há um espírito convergente em determinados temas, inclusive no tema nacional. Isto é algo que podemos considerar como conquista do movimento social brasileiro: o movimento sindical passar a ter compreensão das batalhas econômicas, não apenas no seu interesse particular, mas pensar também um pouco mais o nosso País. É também algo distinto da batalha política para o movimento sindical da atualidade.

            Eu também queria registrar a visita que fiz hoje ao Ministro Fernando Bezerra, com o Prefeito de Crateús, cidade do interior do Estado do Ceará, que precisa muito do suporte daquele Ministério, porque passa pelo drama de ser um dos Municípios do Nordeste setentrional, estar naquele perímetro do Semiárido que tem estiagens prolongadas e precisa acumular água. Confirmamos ali a licitação, o processo licitatório para a construção de uma barragem de 500 milhões de metros cúbicos de água no Município de Crateús. Vai barrar o Rio Poti, vai começar barrando ali no Ceará, mas também teremos uma barragem no Rio Poti, no Estado do Piauí, o que vai, ao mesmo tempo, garantir água para aquela população de Crateús e Nova Russas, todo o entorno dos Municípios de Crateús e Nova Russas e Municípios vizinhos. E também com a barragem de Castelo, no Município de Castelo do Piauí, vamos resolver o problema das enchentes no Município de Teresina. Existem essas estiagens de três anos, e, quando chove no Ceará a água corre toda para Teresina, inundando Teresina e deixando o Ceará seco. Agora vamos acumular essa água, uma parte no Município de Crateús e outra parte no Município vizinho, na fronteira, que é o Município de Castelo do Piauí.

            Então, quero cumprimentar o Prefeito Carlos Felipe, que levou essa demanda e já quer que, simultaneamente, se faça todo o sistema de adução para aqueles Municípios, assim como o projeto de irrigação, para que possamos produzir riqueza naquela região do Semiárido brasileiro, no Município de Crateús.

            Mas, Sr. Presidente, eu disse a V. Exª que trataria aqui dessa questão da legalidade internacional. Depois de tratar do meu Estado, que é a minha obrigação primeira, do Brasil, temos que olhar o que acontece neste mundo. Podemos estar sendo levados, mais uma vez, à invasão de um país por um bloco de países sustentado numa versão a que já assistimos outras vezes, como foi o caso do Iraque, em que os Estados Unidos inventaram armas de destruição em massa, inventaram uma mentira, levaram a mentira para o Conselho de Segurança das Nações Unidas e insistiram para que o Conselho de Segurança admitisse aquela mentira.

            O Conselho não admitiu, inclusive com forte oposição do governo conservador da França. Imagine, o governo conservador da França se opôs àquela falsidade, àquela armação, àquela mentira insólita, que foi tentada pelos Estados Unidos especialmente, mas já com o apoio de outros países, especialmente da Inglaterra, que levou o seu Primeiro Ministro até hoje a responder no parlamento inglês pela mentira que praticou.

            Depois, o Primeiro Ministro da Inglaterra chegou ao desplante de dizer que era mentira mesmo, que eles tinham que mentir para poder cometer as atrocidades e as barbaridades que cometeram no Iraque, destruindo um país inteiro, dividindo o país, destruindo a infraestrutrura, matando milhares e milhares de pessoas. Mais de cem mil mortes eles praticaram criminosamente no Iraque e deixaram o país arrasado, completamente arrasado.

            Agora colocam como alvo a Síria, que já vem sendo alvo. Quer dizer, toda a guerra civil na Síria é praticada a partir dessa ação, especialmente dos Estados Unidos, com apoio da Inglaterra especialmente, mas estranhamente com o apoio da França, com o governo dito socialista da França, o que é uma loucura.

            O governo conservador e de direita da França se opôs à invasão do Iraque. Aí me vem agora um governo dito socialista, que apoia a invasão da Síria, com o argumento de que existem armas químicas, de uso de arma química. A única arma química que vi ser usada abertamente foi usada pelos Estados Unidos no Vietnã, está certo?

            Foram eles que usaram armas químicas, porque são eles que têm o maior arsenal de armas químicas do mundo, de todos os tipos de arma eles possuem, e buscam achacar as nações, desmontar governos, destruir governos.

            Também foram os principais responsáveis pelas ditaduras na nossa região. Isso, abertamente. Hoje está aí escancarado para todo mundo que lê e faz a história ter conhecimento.

            Agora estão exatamente armando uma nova invasão, um novo ataque a uma nação que já enfrenta uma guerra civil. Mas as potências coloniais, as velhas potências coloniais, Estados Unidos, agora associados à Inglaterra e também à França, usando da brutalidade, vão com aquela ideia de que são a polícia do mundo, eles que são a civilização. Eles que mataram, assassinaram, crucificaram, em nome da tal civilização, vão mais uma vez usar o Conselho de Segurança das Nações Unidas, ou tentar usar o Conselho de Segurança, e eu espero que o Conselho não se vergue a esse tipo de atitude que querem praticar com o Conselho.

            Já ouvi, ou li, praticamente a primeira declaração do Ministro das Relações Exteriores do Brasil de que o Brasil não vai aceitar que nenhum país seja atacado sem o aval e sem o apoio das Nações Unidas.

            Que as Nações Unidas - é a nossa expectativa - não se curvem, de forma nenhuma, a uma agressão insólita ao Estado Sírio, que já enfrenta uma guerra civil. Uma coisa de louco! Já enfrentam uma guerra dentro do País. E agora os Estados Unidos adotam um lado, como aconteceu na Líbia, um lado também de gente feroz, e chegaram também destruindo tudo.

            É bom que todos se lembrem que quem criou, financiou, pagou a al-Qaeda, do chamado Bin Laden, foi exatamente o Serviço Secreto dos Estados Unidos da América. Foram eles que organizaram, criaram, montaram e usaram aquela força mercenária internacional para atacar o Afeganistão, levaram o Afeganistão a mais uma guerra civil e, em seguida, houve a ocupação do próprio país.

            Isso leva a uma região do mundo inteiro, uma região rica em petróleo, rica em gás. Por ali, naquelas regiões, passam dutos de gás que vêm da Rússia, que abastecem a China, que vão para a Índia, que circulam naquele pedaço do mundo.

            Então, não é uma coisa simples que está se preparando. Na própria Síria há uma base ali uma Russa que se mantém até hoje, naquele pedaço que sobrou do espaço do mar da Síria. Ali também tem uma presença militar da Rússia.

            Então, vejam o que está se armando no mundo, que tipo de coisa está se armando no mundo, patrocinada pelos EUA da América, com o apoio da Inglaterra e da França, buscando associar as intrigas regionais para servir aos interesses desses países que ainda atuam como verdadeiras colônias no mundo de hoje. Não aceitam que essas nações tenham a sua autodeterminação, que organizem os seus governos, que estruturem o seu Estado. Desmontam a infraestrutura do Estado.

            E ali também está como alvo o próprio Irã. O Irã que é conduzido por um grupo religioso. Nós defendemos um estado laico, mas também defendemos a autodeterminação dos povos. Se aquele povo decidiu que aquele é o seu estado, que aquele é o seu governo, que tem ido às eleições, de que participa tranquilamente toda a população do seu país. Agora acabaram de escolher o seu novo dirigente.

            Pois o Irã também é alvo dessa loucura internacional, dessa tentativa imperialista de atropelar todas as nações, em que todos têm que se dobrar aos seus ditames.

            E nós não podemos, o meu Partido... Considero que os democratas, as forças populares não podem aceitar que os Estados Unidos da América, juntamente com a França e a Inglaterra, queiram impor mais um ataque, armando uma mentira internacional, que passa a ser repetida milhões de vezes, pelo o que se chama de mídia ocidental, como verdade; e, depois, cinicamente, passados um ano, dois, três anos, depois de destruir uma nação inteira, cheguem e digam que não tinha nada, não tinha arma de destruição em massa, não tinha arma química, não tinha nada. Mas, agora, eles já destruíram a nação, já destruíram o país, já cometeram os maiores crimes e as maiores barbaridades, de forma brutal, como aconteceu no Iraque. Basta ver as imagens, os crimes de tortura, as humilhações, fotografadas pelos americanos. E, depois, as imagens são usadas com o achincalhamento do povo.

            É isso o que se quer cometer, novamente, agora. É isso que se está armando na Síria. E querem calar todos e querem considerar que ninguém pode se opor.

            Eu lembro que foi muito importante essa declaração do nosso Ministro das Relações Exteriores. Mas lembro da coragem do Presidente Lula quando realizou no Brasil um encontro dos países árabes. A própria mídia brasileira atacou o Presidente Lula, dizendo que era um absurdo. Como o Lula queria reunir aqui? Quem é esse Lula para reunir, no Brasil, os países árabes?

            Reuniu aqui, para mostrar que nós tínhamos independência para determinar a nossa política de relações externas. E dizer, naquela época, que nós não aceitávamos a invasão do Iraque, que era um crime que estava sendo cometido pelos Estados Unidos. E, de fato, foi.

            Mas esse povo não se emenda, e vão cometer outra barbaridade internacional, invadindo uma nova nação, como tem feito seguidamente. E querem calar todos, para que todos fiquem assombrados, com medo de falar, porque você pode ser colocado do lado do mal; porque eles já decidiram que apoiar a Síria é mal, é ruim, é péssimo, e que você vai ficar também no canto da parede. Porque todos têm que ficar com medo, porque todos têm que ficar com receio e que ninguém pode levantar a sua voz. Nós queremos levantar a nossa, porque nós conhecemos esse tipo de ação, conhecemos já há um bom tempo na história da humanidade como isso se dá e os resultados de tudo isso.

            Por isso, nós queremos deixar registrada a posição nossa, do meu Partido, do PCdoB, que é contrária, absolutamente, a esse tipo de intervenção, que é de respeito à autodeterminação das nações e que nenhuma outra nação pode se arrogar como polícia do mundo e querer determinar a todos como cada um deve se comportar. Isso é inaceitável, porque seria o caso de perguntar: aceitarão alguma interferência nossa nas suas determinações internas, se nós considerarmos que erros são cometidos naquela nação? Com certeza, não. Então, é bom que comecemos a respeitar os outros, especialmente outras nações.

            Então, Sr. Presidente, eu gostaria de fazer esse registro, deixar clara a nossa opinião, para que não haja também tergiversação sobre o posicionamento das forças políticas no nosso País em relação a esse episódio.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/08/2013 - Página 57843