Discurso durante a 19ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Crítica às declarações da Presidenta Dilma Rousseff na Europa; e outro assunto.

Autor
Jarbas Vasconcelos (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PE)
Nome completo: Jarbas de Andrade Vasconcelos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA, POLITICA PARTIDARIA. IMPRENSA, POLITICA EXTERNA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Crítica às declarações da Presidenta Dilma Rousseff na Europa; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 27/02/2014 - Página 62
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA, POLITICA PARTIDARIA. IMPRENSA, POLITICA EXTERNA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, REALIZAÇÃO, SESSÃO, OBJETIVO, COMEMORAÇÃO, PLANO, TROCA, CRUZEIRO REAL, COMBATE, INFLAÇÃO, REPUDIO, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), RELAÇÃO, CRITICA, PROJETO.
  • COMENTARIO, PUBLICAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ASSUNTO, DESPREPARO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RELAÇÃO, DISCURSO, LIDERANÇA, UNIÃO EUROPEIA, LOCAL, PAIS ESTRANGEIRO, BELGICA, CIDADE, BRUXELAS.

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco Maioria/PMDB - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, ontem presenciei a sessão solene em comemoração aos 20 anos do Plano Real. Assisti parte do discurso de Fernando Henrique Cardoso, queria deixar registrado a minha admiração pelo ex-Presidente da República. E, dizer da experiência exitosa que foi o Plano Real, que completa agora 20 anos.

            Não foi apenas um Plano de combate à inflação. Os mais velhos sabem o que era o processo inflacionário, que incomodava a classe média, que incomodava os assalariados, os pobres. A inflação degradava o salário mínimo, o salário que era pago ao trabalhador.

            Trocou-se a moeda e foi importante criar o Real para que o País pudesse dizer, de fato, que tinha uma moeda.

            Eu era Prefeito da Cidade de Recife no início da década de 90, em 94, quando o Plano foi implantado. Como Prefeito, eu procurei ajudar esse processo. Ao contrário do Partido dos Trabalhadores que protestou contra o Plano Real e que tem a coragem de dizer que foi o Partido dos Trabalhadores que deu sustentabilidade, que deu consequência ao Real.

            Eu realmente fico pasmo com tamanho cinismo, porquanto o PT votou contra o Plano Real que ficou pendurado por uma medida provisória aqui por muitos e muitos anos, pois o PT não votava e ainda ameaçava ir à justiça. Votou contra a Constituição, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, que foi o principal suporte legal para que o Plano Real se sustentasse, desse certo como deu, acabando com o processo inflacionário no Brasil.

            Um Partido que votou contra tudo isso não pode chegar aqui e querer fazer o povo, a mídia, de bobos da corte. Esse processo não é de conhecimento somente dos mais velhos. Os mais jovens, hoje, têm acesso a todas as comunicações e podem acompanhar.

            Mas o que também me traz à tribuna, Sr. Presidente, eu não poderia deixar escapar, de forma alguma, é o editorial do jornal o Estado de São Paulo. O principal editorial de hoje tem o seguinte título: “Ela fala pelo Brasil.”

            Mas antes disso gostaria de relembrar um fato e reforçar minha admiração por Fernando Henrique Cardoso.

            De certa feita, eu, Governador do Estado, estava almoçando num restaurante do grande Recife, a televisão estava ligada, quando uma pessoa veio até a minha mesa, abraçou-me e me deu parabéns pelo pronunciamento que Fernando Henrique Cardoso estava fazendo na Alemanha, mostrou os braços dizendo que estava toda arrepiada porque o presidente estava falando em inglês, ele estava explicando a situação do Brasil. Essa pessoa, de classe média, estava empolgada - não tinha votado nele, havia votado em branco -, mas estava entusiasmada e admirada pelo fato de o Brasil ter um Presidente da República que, quando falava em português, francês ou inglês, deixava-os todos felizes.

            Aquela imagem ficou na minha cabeça. Depois, ainda como Governador e, agora, como Senador da República, pude acompanhar as falas de Lula e de Dilma no exterior.

            Lula fez um governo populista e usava uma linguagem bastante popular. De vez em quando, submetia todos nós a vexames, mas algo admissível.

            A Dilma, confesso aos senhores, quando vai falar, eu abaixo o volume da televisão. Não é por nada, eu fico torcendo para que ela não se atropele, para que ela conclua o que vai dizer. Eu fico torcendo, juro por Deus a vocês, para que ela diga coisa com coisa.

            O editorial de hoje do O Estado de S. Paulo, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, é sobre o discurso de Dilma na Europa. Ela Foi visitar os líderes da União Europeia. O título é:

      “Ela fala pelo Brasil.”

            Eu queria que os senhores prestassem a atenção, eu vou ler o editorial de hoje de um dos principais jornais do Brasil:

“Até mesmo o lusófono presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso - que é de Portugal e preside a União Europeia -, deve ter tido sérias dificuldades para entender os dois discursos da presidente Dilma Rousseff proferidos em Bruxelas - Bruxelas é a sede, que tem o Parlamento inclusive europeu - a propósito da cúpula União Européia (EU)-Brasil. Não porque contivessem algum pensamento profundo ou recorressem a termos técnicos, mas, sim, porque estavam repletos de frases inacabadas, períodos incompreensíveis e ideias sem sentido.

Ao falar de improviso para plateias qualificadas, compostas por dirigentes e empresários europeus e brasileiros, Dilma mostrou mais uma vez todo o seu despreparo.

            Não sou eu, Senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB de Pernambuco, quem diz, é o editorial do jornal O Estado de S.Paulo que diz que quando Dilma fala de improviso mostra todo o seu despreparo.

Fosse ela uma funcionária de escalão inferior, teria levado um pito de sua chefia por expor o País ao ridículo, mas o estrago seria pequeno; como ela é a presidente, no entanto, o constrangimento é institucional, pois Dilma é a representante de todos os brasileiros - e não apenas daqueles que a bajulam e temem adverti-la sobre sua limitadíssima oratória.

(Soa a campainha.)

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco Maioria/PMDB - PE) - Queria um pouco da tolerância de V. Exª.

Logo na abertura do discurso na sede do Conselho da União Europeia, Dilma disse que o Brasil tem interesse na pronta recuperação da economia europeia, "haja vista a diversidade e a densidade dos laços comerciais e de investimentos que existem entre os dois países" - reduzindo a UE à categoria de "país".

Em seguida, para defender a Zona Franca de Manaus, contestada pela UE, Dilma caprichou: "A Zona Franca de Manaus, ela está numa região, ela é o centro dela (...) porque é a capital da Amazônia (...). Portanto, ela tem um objetivo, ela evita o desmatamento, que é altamente lucrativo - derrubar árvores plantadas pela natureza é altamente lucrativo (...)". Assim, graças a Dilma, os europeus ficaram sabendo que Manaus é a capital da Amazônia, que a Zona Franca está lá para impedir o desmatamento e que as árvores são "plantadas pela natureza".

Dilma continuou a falar da Amazônia e a cometer desatinos gramaticais e atentados à lógica. "Eu quero destacar que, além de ser a maior floresta tropical do mundo, a Floresta Amazônica, mas, além disso, ali tem o maior volume de água doce do planeta, e também é uma região extremamente atrativa do ponto de vista mineral. Por isso, preservá-la, implica, necessariamente, isso que o governo brasileiro gasta ali. O governo brasileiro gasta um recurso bastante significativo ali, seja porque olhamos a importância do que tiramos na Rio+20 de que era possível crescer, incluir, conservar e proteger." É possível imaginar, diante de tal amontoado de palavras desconexas, a aflição dos profissionais responsáveis pela tradução simultânea.

Ao falar da importância da relação do Brasil com a [...] [União Europeia], Dilma disse que "nós vemos como estratégica essa relação, até por isso fizemos a parceria estratégica". Em entrevista coletiva no mesmo evento, a presidente declarou que queria abordar os impasses para um acordo do Mercosul com a [...] [União Europeia] "de uma forma mais filosófica" - e, numa frase que faria Kant chorar, disse [abro aspas]: "Eu tenho certeza que nós começamos desde 2000 a buscar essa possibilidade de apresentarmos as propostas e fazermos um acordo comercial".

Depois, em discurso a empresários, Dilma divagou, como se grande pensadora fosse, misturando Monet e Montesquieu - isto é, alhos e bugalhos. "Os homens não são virtuosos, ou seja, nós não podemos exigir da humanidade a virtude, porque ela não é virtuosa, mas alguns homens e algumas mulheres são e é por isso que as instituições têm que ser virtuosas. Se os homens e as mulheres são falhos, as instituições, nós temos que construí-las da melhor maneira possível, transformando... aliás isso é de um outro europeu, Montesquieu. É de um outro europeu muito importante, junto com Monet."

            E vem o trecho final:

Há muito mais - tanto que este espaço não comporta. Movida pela arrogância dos que acreditam ter mais a ensinar do que a aprender, Dilma foi a Bruxelas disposta a dar as lições de moral típicas de seu padrinho, o ex-presidente Luiz Inácio LuIa da Silva.

(Soa a campainha.)

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco Maioria/PMDB - PE) -

Acreditando ser uma [...] [estratégia] congênita, a presidente julgou desnecessário preparar-se melhor para representar de fato os interesses do Brasil e falou como se estivesse diante de estudantes primários - um [verdadeiro] vexame para o País”.

            Sr. Presidente, não é porque sou oposição que isso me inquieta. Eu fico incomodado quando a Dilma vai falar aqui no Brasil,...

(Soa a campainha.)

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco Maioria/PMDB - PE) - e ainda mais quando discursa em outros países. É realmente uma dificuldade enorme que ela tem de se expressar, porque ela imagina que entende de economia, não entende de economia coisa nenhuma. Acha que entende do contexto internacional, dessa dificuldade que a gente passa, e vai ao exterior tentar ensinar, como tentou ensinar à Chanceler alemã o que deveria ser feito para a Europa sair da crise.

            Era esse, Sr. Presidente, o registro que eu queria fazer. Quero agradecer a sua tolerância, e dizer aos companheiros petistas, sobretudo àqueles com quem eu mantenho uma boa relação, que não venho aqui no sentimento anti-PT, mas é porque eu acho muito estranho o PT querer combater o Plano Real...

(Soa a campainha.)

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco Maioria/PMDB - PE) - ... depois de ter votado contra ele e contra leis que lhe dariam sustentação, e ainda dizer que os governos de Lula e o governo de Dilma salvaram o Plano Real. Não é verdade! E isso não pode ficar registrado numa Casa como o Senado da República, mesmo esta Casa acanhada como se encontra. Além disso, trouxe a opinião do jornal O Estado de S. Paulo sobre as dificuldades que a Presidente Dilma tem de juntar coisa com coisa em seus pronunciamentos. Esse despreparo da presidente poderia ser tolerado aqui no Brasil, se tratando de política interna, de andanças eleitorais por aqui, mas representar o Brasil, lá fora, desta maneira, é realmente um vexame.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

DOCUMENTO ENCAMINHADO PELO SR. SENADOR JARBAS VASCONCELOS EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I, § 2º, do Regimento Interno.)

Matéria referida:

- Ela fala pelo Brasil, O Estado S. Paulo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/02/2014 - Página 62