Pela Liderança durante a 29ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa da federalização da educação pública no País; e outro assunto.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL. EDUCAÇÃO.:
  • Defesa da federalização da educação pública no País; e outro assunto.
Aparteantes
Alvaro Dias, Ana Amélia.
Publicação
Publicação no DSF de 18/03/2014 - Página 140
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • APOIO, TRABALHADOR, VIAÇÃO AEREA RIO GRANDENSE S/A (VARIG), EMPRESA, TRANSPORTE AEREO, REFERENCIA, PEDIDO, PROVIDENCIA, PAGAMENTO, BENEFICIO PREVIDENCIARIO, APOSENTADO, PENSIONISTA, FUNDO DE PREVIDENCIA.
  • REGISTRO, NOTICIARIO, TELEVISÃO, REFERENCIA, SITUAÇÃO, PRECARIEDADE, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, ESTADO DE ALAGOAS (AL), ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ESTADO DO MARANHÃO (MA), COMENTARIO, VISITA, MUNICIPIO, PALMAS (TO), ESTADO DO TOCANTINS (TO), ENFASE, QUALIDADE, ENSINO, LOCALIDADE, PEDIDO, GOVERNO FEDERAL, ADOÇÃO, MODELO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Senador Paim, eu vim aqui com a intenção - e vou levar adiante - de fazer um discurso sobre o meu tema constante. Mas eu não posso deixar, em primeiro lugar, de manifestar meu apoio aos trabalhadores da Aerus. Não posso deixar de manifestar meu apoio e toda minha solidariedade. É inacreditável que nós tenhamos jogado, em condições precaríssimas, centenas de trabalhadores de uma empresa com a credibilidade, seriedade e dimensão da Varig. É inacreditável! E eles ganharam na Justiça... Mais inacreditável ainda é se não for cumprido, rapidamente, o que a Justiça determinou. E vocês não contem, aqui, apenas com o Senador Paim e eu; aqui os senhores e as senhoras têm muitos aliados.

            Também não era minha intenção falar sobre o Distrito Federal. Mas, depois do discurso feito pelo Senador Rodrigo Rollemberg, eu não posso deixar de dizer do constrangimento que eu sinto, como brasiliense e como Senador pelo Distrito Federal, quando vejo que a disputa para Governador se aproxima, e temos dois candidatos, um ex-Governador e um Governador, sobre os quais pesam suspeitas de diversos tipos.

            Senador Alvaro, são suspeitas fortíssimas, como foi dito aqui, pelo Senador Rodrigo Rollemberg. Eu não posso acreditar que nós não tenhamos competência, que nós não tenhamos força, para que o povo perceba que uma terceira alternativa é a única que pode retomar, no Distrito Federal, um bom caminho.

            Nesse sentido, então, eu quero deixar aqui patente a minha responsabilidade, a minha obrigação de trabalhar para que tenhamos uma outra alternativa, diferente dessas duas. O povo não pode ficar entre a incompetência e a corrupção, tem que ter uma alternativa decente e competente.

            Dito isso, eu quero falar, aqui, de uma matéria que passou no Fantástico no domingo. É a segunda vez que chego aqui, numa segunda-feira, para falar desse assunto. Na outra vez, foi para falar da vergonha que sentíamos com a matéria mostrando a terrível condição de escolas de Alagoas, Pernambuco e Maranhão. Hoje, é o contrário. Hoje, eu venho falar da matéria que mostrou uma solução positiva, que mostrou que é possível ter uma escola pública de qualidade no Brasil.

            A matéria trata de uma escola na cidade de Cocal dos Alves, no Piauí, uma cidade muito pobre, em um Estado muito pobre. A matéria mostra como nessa escola, Augustinho Brandão, as crianças estudam, as crianças aprendem. Tocou-me, profundamente, quando ouvi a professora dizer: “Todos os nossos alunos que disputaram uma vaga em uma universidade de qualidade passaram.” Todos.

            Na outra vez em que vim aqui falar sobre a má qualidade das escolas, eu disse que a única maneira de superar isso é com o Governo Federal adotando as escolas dessas cidades pobres; o Governo Federal federalizando a educação de base.

            Hoje, depois de assistir àquele programa que mostra como um Município pode fazer uma escola de qualidade, eu estou com mais firmeza, ainda, na ideia da federalização, porque mostrou que é possível, mas não dá para fazer todas daquela qualidade. Duvido que Cocal dos Alves consiga fazer todas as escolas com aquela qualidade.

            Só com recursos e força do Governo Federal, só com a adoção das escolas pelo Governo Federal é que a gente vai poder fazer com que todas elas tenham a qualidade da Escola Augustinho Brandão.

            No sábado, Senador Paim, eu fui a Palmas, onde já tinha estado e visto escolas da máxima qualidade que a gente pode desejar, escolas que podem entrar na categoria que chamo de escola ideal. Eu já tinha visto umas; vi outras. São escolas onde as crianças estudam das 7h às 6h10. Eu olhei o papel, porque quero deixar claro o número, não quis errar E aqui é uma entrevista que fiz com o secretário e com o prefeito.

            As crianças estudam de 7 às 6h10. Inacreditável! Uma escola pública municipal da cidade de Palmas. Essas crianças têm aula pela manhã de matemática e português, que, aliás, no currículo, dobrou a quantidade de horas de português e matemática, mas metade das aulas pela manhã é teórica; à tarde, em laboratórios, na prática, uma técnica lúdica.

            Por isso que, ao final do dia, tem criança que não ir para casa; antigamente, não queria ir para a escola. Eu vi isso, eu vi. Eu não estou dizendo que li propaganda do Governo de Palmas, eu visitei essa escola. É possível.

            Agora, Palmas tem 67 escolas. Até aqui, é a continuação do prefeito anterior, e esse continua. Então, são dez anos. Nesse período, das 67, 5 são desse tipo ideal, 4 serão inauguradas até o final do ano. Ficam faltando, portanto, 58 escolas das 67. E Palmas não tem condições de fazer todas.

            Nessa velocidade, 9 a cada 10 anos, para fazer todas, a gente vai precisar de 60 anos, 50 anos. Não dá para esperar. Não dá para esperar pelos bisnetos dos meninos de hoje entrarem na escola. Só tem um jeito de fazer as 67 escolas, todas elas, ideais, todas elas com aulas de 7 às 6h10 da tarde, com aulas da maior competência.

            A Prefeitura de Palmas leva grupos de professores, Senador Alvaro, para ver como é a educação. Já levou à Finlândia, a Cingapura, à Coreia. Eles ficam ali uma semana, duas, estudando, analisando, trabalhando, para, na volta, trazerem as experiências desses países para nós. Eles não têm condições de fazer todas.

            O próprio prefeito disse uma coisa interessante: já estão no limite da responsabilidade fiscal. Não é só questão de ter ou não ter dinheiro - e não tem. É questão de saber se pode ou não pode gastar dinheiro, porque fere a responsabilidade fiscal na hora de pagar os salários dos professores.

            Há muitas prefeituras hoje no Brasil que não podem pagar um salário minimamente descente, mas nenhuma pode pagar um salário realmente descente sem ferir a responsabilidade fiscal. Como sempre fui um defensor da responsabilidade fiscal, só vejo uma maneira: com recursos nacionais, com recursos federais. Se não for assim, a Escola Augustinho Brandão não será repetida no Estado do Piauí inteiro. Não será!

            Achei lindo assistir à escola, mas, na minha cabeça, e os outros? Os que, no lugar de Augustinho Brandão, estão nas escolas do tipo da que o Fantástico mostrou na semana passada, em Alagoas, Pernambuco, Maranhão? Também não devem ser muito diferentes das condições do Piauí.

            Essa é uma exceção que serve para mostrar que é possível. E serve para mostrar que é necessário ampliar esse número e chegar a todas as crianças do Brasil. Não há outra maneira, a não ser o Governo Federal adotando essas escolas, para que os recursos existam, e todas as crianças tenham essa escola.

            Eles praticam técnicas extremamente criativas, novas. Uma coisa simples, que me pareceu surpreendente: eles colocaram a pré-escola - e têm todas as crianças na pré-escola - na mesma escola dos primeiros anos do ensino fundamental. Com isso, eles eliminaram uma coisa que eu não tinha percebido - e olhem que a minha experiência não é pequena: o trauma da criança de entrar na escola no primeiro dia de aula.

            E eu me lembro como sofri para isso. porque, quando entra, aos três anos, não há esse trauma, não há essa percepção, até porque não vai para a escola; vai para o jardim de infância, vai para a pré-escola. Na hora de ir para a escola, de verdade, a criança fica traumatizada.

            Lá, eles colocaram no mesmo prédio. Então, as crianças da pré-escola convivem com as crianças dos primeiros anos do ensino fundamental - não dos últimos anos, obviamente. São técnicas como essa que me enchem de esperança de dizer: “Sim, é possível termos escolas de qualidade.”

            A ideia de que falo sempre, de que nós deveríamos ter nossos filhos nas escolas públicas, o que alguns dizem que é demagogia, é uma realidade em Palmas. Em Palmas, quando digo que o filho do trabalhador deveria estudar na mesma escola que o do patrão, que o filho do mais pobre deveria estudar na mesma escola do filho do mais rico, isso acontece em Palmas nessas escolas, nas cinco que já existem e nas quatro que existirão, e ninguém sabe quanto tempo vai levar para ter novas como essas.

            É possível e é necessário para o futuro do Brasil, mas não vejo condições, deixando nas mãos, nos ombros, nos recursos dos prefeitos de nossas cidades, pobres e, ao mesmo tempo, desiguais. Mas, mesmo as grandes. Fiquei chocado hoje - o Senador Paim estava presente, na audiência que fizemos sobre analfabetismo no Brasil - de descobrir que um Estado como São Paulo tem 1,3 milhão de analfabetos. Só a cidade de São Paulo tem 256 mil.

            Fiquei pasmo, porque é um Estado que tem renda per capita de países de média elevada, mas é a menor percentagem ainda do Brasil, uma das menores percentagens de analfabetismo. Nada a ver com o Maranhão, onde quase 50% é analfabeto - 48% -, nada a ver; a percentagem em São Paulo é pequena, mas o número é grande. E alfabetização não pode ser tratada como simples educação, é um direito humano. Você ser universitário é um problema da educação, mas você ser alfabetizado é um problema da decência nacional.

            Discutimos hoje de manhã como ninguém aceitaria a ideia de um Estado que tem menos tortura do que outro Estado. Não, ninguém aceita! Não adianta dizer: “No meu Estado há menos torturados do que no seu Estado.” Enquanto tiver um torturado, a situação dos direitos humanos não está respondida.

            Ninguém aceitaria a ideia de disputar quem tem menos escravos, ninguém. Ninguém aceita isso, porque a escravidão ficou indecente. Então, a gente não quer nenhum no Brasil, desde 1888, embora ainda haja alguns por aí, mas os que têm ninguém diz que tem menos do que o outro Estado.

            A mesma coisa é alfabetização. A gente não pode ficar nessa ideia de que um tem menos percentualmente que outros, que um tem mais absolutamente que outros. Temos que zerar isso, e é possível, no curto prazo, muito curto, Senadora Ana Amélia.

            A senhora, que vai ser governadora de um Estado, que, aliás, é o que tem menor índice de analfabetismo, o que o faz, portanto, ser o mais fácil de resolver - algumas das cidades já resolveram -, por que não espalha isso num programa? Talvez, não em quatro anos de um governo, mas pode começar em quatro e chegar a dez - nem precisaríamos de dez; com seis anos, se a gente quiser, resolve.

            É barato fazer a alfabetização, sem falar que isso gera uma renda ao contratar jovens como alfabetizadores. Brasília, para erradicar todo o analfabetismo - não fiz a conta direitinho recentemente -, deve precisar de, no máximo, uns R$10 milhões. Tivemos R$400 milhões de superfaturamento em um estádio! A construção de um estádio já é não necessária; o tamanho do estádio é menos necessário ainda; o luxo do estádio, ainda menos necessário. Agora, a roubalheira do dinheiro que deveria ir para o estádio é mais grave ainda!

            É insignificante o que se precisaria no Distrito Federal para erradicar o analfabetismo. E eu quero dizer que isso é fruto de 20 anos depois de eu ter sido. Eu, no meu governo, investi muito na educação de base, mas não tive o cuidado, não tinha a percepção de que deveria ter tido um programa para a erradicação do analfabetismo.

            Eu precisei ir amadurecendo para perceber isso, senão eu teria feito. Não tenham dúvida de que eu teria feito, porque não faltavam recursos necessários para isso, mas, naquela época, eu me preocupava com a torneirinha de que pingam analfabetos todos os anos que é a escola sem qualidade.

            Fechamos aquela chave, mas não dediquei tempo suficiente para erradicar, apesar de programas muito bons como pagar R$100,00 ao adulto que aprendesse a ler, um programa chamado Bolsa Alfa. Nós comprávamos a primeira carta que ele escrevesse em sala de aula.

            Fiz o esforço, mas sabe qual foi o erro? Eu não fui buscar o analfabeto onde ele estava. Eu criei um atrativo, mas, dos que não vieram, eu não fui atrás. Um erro. Nós precisamos ir atrás dos 13 milhões e, hoje, nós sabemos, no Brasil, com os dados de que dispomos, até o endereço de cada um deles, pelo menos dos que têm endereço, porque alguns nem isso têm.

            Então, Senador Paim, quero dizer que, na matéria do domingo passado, eu vi como é necessária a federalização, a adoção das escolas pelo Governo Federal, por causa da pobreza daquelas escolas. Hoje, eu venho defender a mesma coisa por causa da qualidade das escolas que foram mostradas. Na outra é pela tragédia das escolas; nesta é pela tragédia de que todas não sejam iguais àquela.

            O caminho continua sendo, para mim, o mesmo: o Governo Federal adotar as escolas das cidades que não têm recursos.

            Antes de concluir, Senador Paim, eu peço a licença para passar a palavra, o que muito me orgulha, para o aparte do Senador Alvaro, que, inclusive, teve a generosidade de me colocar no seu Facebook, em uma foto conosco.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco Minoria/PSDB - PR) - Senador Cristovam Buarque, realmente, no final de semana, fiz justiça a V. Exª dizendo que é, sem dúvida alguma, o Parlamentar que mais estimula o debate sobre a educação no Brasil. V. Exª é quem, no Brasil, estimula mais o debate sobre a educação. Nós podemos discordar das suas ideias, eventualmente, mas não podemos negar a sua persistência, a sua dedicação a este tema e a contribuição que oferece por promovê-lo, por estimular o seu debate. E V. Exª tem autoridade para se pronunciar porque, recentemente, aqui no Senador, agiu. Aqueles que não agem quando há a oportunidade de mudar as coisas perdem a autoridade para falar. V. Exª não. Nós perdemos, aqui no Senado - não por causa minha, de V. Exª, da Senadora Ana Amélia, do Paulo Paim, mas por força de uma maioria -, a oportunidade de darmos um salto de qualidade na educação do Brasil, quando tivemos em nossas mãos o Plano Nacional de Educação e tentamos impor exigências que determinariam o cumprimento das vinte metas estabelecidas para dez anos. Não impusemos qualquer responsabilidade pelo descumprimento. Nós tentamos - V. Exª e outros Senadores - valorizar o professor ao máximo e dar condições para sua formação de forma eficiente. Tentamos assegurar que 10% do Produto Interno Bruto seriam destinados à educação. Enfim, tentamos estabelecer responsabilidades e apontamos um caminho para a responsabilização dos que, eventualmente, desrespeitassem as normas aprovadas. Lamentavelmente, de cento e uma alterações que propusemos no relatório, apenas cinquenta foram acolhidas, e aquelas que eram essenciais para que esse plano pudesse ser executado não foram acolhidas, transformando o plano em mero estatuto de intenções, poderia ser o estatuto do futuro, estatuto da cidadania. Não, estatuto de intenções, promessas que, certamente, não serão cumpridas, infelizmente. Por isso, V. Exª tem uma árdua missão pela frente, que é continuar com esse entusiasmo, persistindo, defendendo os avanços, que são negados à educação brasileira, e nós queremos ser seus parceiros nessa luta, porque sabemos da importância da educação para o futuro do Brasil. Parabéns a V. Exª.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Alvaro. Eu fico muito contente de ter lembrado o parecer que o senhor fez para o PNE, que teria permitido dar um salto de qualidade no PNE. Como o senhor mesmo disse, eventualmente a gente discorda. Eu ainda achava que o seu relatório era modesto, a gente queria algo mais ambicioso, mas o seu teria sido um grande salto. Ficou esse aí que nem aprovado foi.

            Então, o seu trabalho, também, aqui tem que ser reconhecido na luta por uma boa educação, no Brasil inteiro e não só no Paraná.

            Senadora Ana Amélia, com muito prazer, passo a palavra a V. Exª e quero dizer que eu lhe fiz o desafio.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Senador Cristovam, aqui a gente está sempre aprendendo, em matéria de educação, com o caro colega. Claro, como disse o Senador Alvaro, nem em todos os seus pontos de vista a gente tem coincidência, mas eu diria que com 80% deles nós concordamos. Quando eu vi a matéria ontem, eu não tinha assistido à anterior, na edição anterior, no domingo, mas, no meu Twitter, houve uma reação muito forte e, até, atacando a classe política por conta dessas mazelas. Quando, ontem, a matéria apareceu, no interior do Piauí, e quando a imagem da escola apareceu no meio daquele cenário de pobreza, não de miséria, de pobreza, como é em grande parte da região nordestina, e existe pobreza no meu Estado, no Rio Grande do Sul, aqui, no seu Distrito Federal, igualmente, a má distribuição de renda, os problemas das diversidades regionais. Tudo isso acompanha esse cenário, e, quando a gente viu aquela escola, parecia um oásis no meio daquele cenário, primeiro porque me chamou a atenção que a escola não tinha uma pichação, Senador. Nada. Era uma casa de residência, muito bem cuidada. Então, já mostrou a diferença nessa forma de a comunidade e os alunos tratarem aquele lugar sagrado. Ele se tornou sagrado quando aquela diretora fez tudo aquilo que ela falou, com uma simplicidade, uma simplicidade...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - É verdade!

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - ...sem nenhum academicismo, sem palavrório bonito, sem palavra difícil, dizendo simplesmente que os professores precisavam ter curso superior porque quanto mais qualificados melhores seriam. Ela fez uma outra coisa: valorizar as pessoas do lugar. E isso não foi uma discriminação aos outros, mas quem não cuida dos seus não pode cuidar dos outros. E o que ela fez foi isso, ela deu uma lição para o Brasil inteiro. Para prefeito, para vereador, para deputado, para governador, para Presidente da República, com aquela simplicidade. E naquela mesma matéria se viu que aqueles alunos amam a escola. E o grande problema que nós temos hoje com absenteísmo, com as faltas - eu queria um apoio dos colegas ali e tal -, com as faltas que nós temos dos alunos, com a ausência. Por que isso acontece? Porque a escola está desfocada do interesse do aluno, e isso dá uma dificuldade no aprendizado e do próprio comportamento dele para um lugar que ele deveria amar; a escola ele deveria amar. É que eu fui normalista, meu querido professor, Senador, colega, Cristovam Buarque; eu fui professora, eu comecei, o meu curso de formação foi de normalista. Hoje não existe mais, hoje chama-se magistério. E, naquela mesma edição, vi uma outra cena muito bonita, de alunos - de novo a escola - ajudando gerações distintas. Jovens fazendo a diferença e melhorando a qualidade de vida de pessoas idosas, algumas com dificuldade até para comer e um menino dando na boca de uma senhora a comida que ela precisava. E tratando aquela senhora como se uma criança fosse. “A senhora tem que comer mais um pouquinho”. Ela disse: “Não, não quero mais comer”. Ele disse: “A senhora come mais um pouquinho”. O jeito daquele menino dizer à senhora que comesse mais um pouquinho. É um professor, é um aluno de uma escola que está ali aprendendo com uma geração muito diferente da dele a respeitar as pessoas idosas. Então, é bom quando a imprensa dá essa contribuição para não mostrar só as coisas ruins que nos deixam os domingos muito amargos, mas também terá, digamos, a responsabilidade social de mostrar coisas que nos comovem e que podem ser feitas no Brasil. Então, quero cumprimentá-lo pela oportunidade e dizer que é por isso que a periferia vem para a rua, é por isso que a periferia vem para o shopping de luxo, para mostrar que se pode fazer isso. Se se faz no Piauí, por que não se faz em Brasília? Parabéns, Senador Cristovam Buarque, mais uma vez.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senadora.

            Eu quero fazer uma correção. Quando eu lhe disse que fiz um desafio, retiro o desafio; eu coloco sugestão.

            Como governadora, faça uma coisa que eu não fiz. Faz 20 anos que eu fui eleito, não tinha percepção. Coloque uma placa, no final de seu governo, à frente do aeroporto, escrito: Você está entrando em um Estado que é território livre do analfabetismo.

            É possível, em quatro anos; é possível, em quatro anos, num Estado como o Rio Grande do Sul. No Maranhão, não. No Maranhão, vai ser preciso mais tempo, e depende de recursos, porque eu acho que devem ser recursos federais, mas fica a minha sugestão para o seu compromisso de campanha: vou cuidar para erradicar o analfabetismo de adultos, e eu quero dizer que erradicar não é zerar. Não se preocupe que algum dia a senhora diga: você está entrando em território livre de analfabetismo, e lá chegue um jornalista e descubra um analfabeto. Nem Suécia é zero, zero, zero, porque há pessoas que não vão aprender. Há pessoas que têm alguma dificuldade, deficiência, isso existe, pessoas com deficiência, inclusive pela idade, chega um ponto em que fica muito difícil, mas, em quatro anos, é possível erradicar pelo menos de todos que tiverem de 60 anos para baixo. Fica aqui a minha sugestão, Senadora.

            No dia de colocar essa placa, eu peço que a senhora me convide para estar presente.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Eu espero que o nosso Deputado Vieira da Cunha, que é candidato do seu partido ao governo do Estado do Rio Grande do Sul, não o esteja ouvindo agora, para que não lhe puxe a orelha, mas ele também merece, aliás, todos, não só o Vieira da Cunha...

(Soa a campainha.)

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - O agora candidato anunciado do PMDB, José Ivo Sartori, que foi Deputado, Prefeito de Caxias, o atual Governador, Tarso Genro. Essa é uma sugestão para todos, Senador Cristovam Buarque. Todos devem ter esse compromisso. Mas eu queria lembrar, Senador: nós estamos juntos num programa muito interessante, discutindo o Brasil do século XXI, e eu me esqueci, peço licença a V. Exª, de mencionar, por questão de justiça. Não sei se V. Exª estava no seminário, quando nós fomos visitar escolas no Rio de Janeiro. Eu visitei duas escolas: a Escola Chico Anysio, uma escola estadual, e a Escola José Leite Lopes, também uma escola estadual. Lá também eu percebi que os alunos gostam da escola, porque eles sugerem, inclusive, o cardápio da refeição, porque é escola em tempo integral. Aquilo que o Brizola sempre defendeu. Era um gaúcho, que aplicou, nos anos 60, a prioridade educacional. Então, no Rio Grande, terra da Varig. Estamos aqui com esses corajosos, destemidos, ainda esperançosos, esperando que agora o Executivo cumpra uma sentença judicial no caso Aerus. O Rio Grande do Sul, do Brizola, da Varig, pode fazer o que vimos lá, nessas escolas do Rio de Janeiro, algo que ele começou com o ambicioso projeto do Ciep, que foi - digamos - a vitrine maior daquilo que ele idealizou e que V. Exª sempre defende, que é a escola em tempo integral. Com essa escola Chico Anysio, que é do Estado do Rio de Janeiro, e com a escola José Leite Lopes, fiquei realmente impressionada. Conversei com os alunos. Nós ficamos conversando com os professores. Nós entramos na aula. Ela não fica naquele currículo fechado, hermético, de que o aluno não participa. Estavam todos sentados sobre um tatame, os sapatinhos deles na frente da porta, e todos eles discutindo, entusiasmados; nem notaram que havia pessoas estranhas dentro da sala. Isso é difícil entre adolescentes, Senador, o senhor sabe como educador que é. Então, há zonas de excelência maravilhosas. E desejo, sinceramente, que todos, no meu Estado, tenham esse compromisso de colocar essa placa, que V. Exª, com sabedoria, está sugerindo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Quero dizer, Senadora, que ao meu correligionário e amigo Vieira da Cunha darei igualmente. E, se houver outro candidato lá, avise-me, que darei igualmente. Agora, não darei ao Tarso Genro, porque já passou a vez dele, como a minha. Eu perdi a chance de fazer isso. Ele já perdeu.

            Além disso, a perda dele é coerente com a história dele no Ministério da Educação. Ele chegou lá, encontrou uma secretaria para erradicação do analfabetismo, que criei, mas a fechou, o que, aliás, é um gesto inacreditável no Brasil. Fechar uma caixinha do organograma é uma coisa... É preciso muita vontade para desfazer uma secretaria. Desfez.

            O programa de erradicação parou. Foi substituído pelo programa de alfabetização lenta, até que a biologia cuide de matar os velhinhos analfabetos. Parou o programa de publicar livros com linguagem própria para recém-alfabetizado. A alfabetização não é ensinar a decifrar as letras, é manter isso. Perde-se, como, aliás, o médico perde o conhecimento, se não praticar. O analfabeto perde, se não praticar.

            Nós tínhamos um programa que - lembro - traduziu até livros que serviram de base a novelas de televisão, porque isso atrai. A Academia Brasileira de Letras participou disso. Havia um programa de levar livro e deixar na casa pelo carteiro. O carteiro levava o livro e dizia: “Fique com esse livro aí; daqui a um mês, venho buscar”.

            Tudo isso foi parado. Então, não tem sentido eu perder tempo dando essa sugestão ao Governador Tarso Genro - a vez dele já passou, mesmo que seja reeleito -, mas ao Sr. Vieira da Cunha e aos outros eu darei, com muita satisfação, a mesma sugestão.

            É isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/03/2014 - Página 140