Discurso durante a 28ª Sessão Especial, no Senado Federal

Destinada a homenagear a Ordem DeMolay, em alusão ao Dia do DeMolay, nos termos do Requerimento nº 22/2014, de autoria do Senador Mozarildo Cavalcanti e outros Senadores.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Destinada a homenagear a Ordem DeMolay, em alusão ao Dia do DeMolay, nos termos do Requerimento nº 22/2014, de autoria do Senador Mozarildo Cavalcanti e outros Senadores.
Publicação
Publicação no DSF de 18/03/2014 - Página 11
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, MEMBROS, MAÇONARIA, REGISTRO, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, JUVENTUDE, ENTIDADE.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mozarildo, digamos que sou primo.

            Eu quero cumprimentar, obviamente, em primeiro lugar, o Senador -esse amigo que eu tenho aqui - Mozarildo Cavalcanti. E mais que isso, de vez em quando, passa-me receita quando estou com problema de saúde aqui sentado nestas cadeiras.

            Cumprimento o Grande Mestre Nacional do Supremo Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil, Sr. Sérgio Luiz Gonçalves; o Mestre Conselheiro Nacional do Supremo Conselheiro da Ordem DeMolay para o Brasil, o Sr. Yan Walter Carvalho Cavalcante; o Secretário Executivo do Grande Conselho da Ordem DeMolay do Estado da Paraíba, Sr. Dihego Amaranto; e o Grão-Mestre Adjunto do Grande Oriente do Distrito Federal, Sr. Lucas Galdeano.

            Mas eu quero cumprimentar, sobretudo, os jovens DeMolay que aqui estão e todos os outros - os duzentos mil - que estão no Brasil e até mesmo os milhões que estão pelo mundo afora.

            O Senador Mozarildo falou que sou simpatizante do trabalho de vocês. Eu o sou porque conheço a história do Brasil e sei o papel que teve a Maçonaria nos grandes momentos da história de nosso País, seja no momento da Abolição da Escravatura, no momento da República sobretudo - e eu até não duvidaria no momento da nossa descoberta, porque ninguém pode dizer se Pedro Álvares Cabral era maçom ou não era, pois já existia a Maçonaria.

            No passado, não há dúvida de que foi fundamental para o Brasil o trabalho de vocês. No presente, a gente sabe, também, que esse trabalho é feito, seja por meio de atividades diretamente junto aos brasileiros, individualmente, que precisam, seja, também, e às vezes de maneira discreta, na política, para mudar o Brasil. Isso é a Maçonaria.

            Aqueles que são DeMolay têm, além disso, uma característica especial: trazer a juventude do mundo ameaçador que aí está para uma prática com as sete, se não me engano, virtudes que vocês praticam.

            Hoje, nós estamos com uma juventude ameaçada, ameaçada pela falta de escolaridade, por exemplo; ameaçada pela droga, sob todas as formas; ameaçada pelo desemprego; ameaçada pelo consumismo que vicia tanto quanto droga; ameaçada pela falta de uma mística, de uma proposta que englobe todos os brasileiros na busca de um novo Brasil, e vocês representam uma exceção nesse mundo. Vocês representam uma juventude que, ao invés de cair nesses problemas que eu coloquei, não apenas ficou fora desses problemas, como luta para que esses problemas não mais existam para nenhum brasileiro.

            Aí, ficam, como eu gosto sempre de fazer aqui, inspirado pelo passado: provocar e cobrar para o futuro.

            Hoje, o que corresponde à Abolição da Escravatura e corresponde à República é a educação de qualidade assegurada para todos os brasileiros desde a primeira infância e com a mesma qualidade.

            Esta é a República, este é o fim da escravidão, esta é a construção de um País: a escola igual para todos, porque é aí que a gente faz um país. A gente não faz um país nas indústrias, nas estradas, nas pontes. Tudo isso é necessário, mas um país é feito na educação.

            Tem um exemplo muito claro de como acontece: a Itália, quando se formou, tinha diversos idiomas. Foi na escola que todos passaram a falar italiano e os maiores jovens, no exército. Imaginem se, hoje, não tivesse uma unidade integradora linguística naquele país.

            Agora, imagine o que é um país sem um sistema integrado, em que “jovem” não quer dizer uma coisa só; quer dizer uma coisa para os que estão dentro da modernidade; e quer dizer outra coisa para os que estão excluídos. Dia das Mães não dá para comemorar de uma maneira única por todas, porque há um tipo de mãe que tem os seus filhos bem cuidados, bem educados, e outro tipo de mãe que tem seus filhos abandonados; 500 mil encarcerados; quem sabe quantos na droga, no desemprego?

            Nós temos que lutar pela educação de qualidade igual para todos, e eu creio que a Maçonaria em si e o grupo específico dos DeMolay podem ter um papel muito grande nisso, Senador Mozarildo. Mas eu não falo na promoção direta de algumas ações - o que vocês provavelmente já fazem. Eu falo é na ação política para que este País se transforme em uma nação que ofereça igualdade na educação.

            Não é fundamental ter igualdade no tamanho ou na propriedade de carro, de roupa bonita ou não, de ter dinheiro para ir ou não em férias distante. Isso é desigualdade. Dá para tolerar. Agora, não ter escola igual é imoralidade. Isso não dá para tolerar. Isso desestrutura o País; isso escraviza os que não tiveram educação; isso não é uma república, quando a escola é desigual para um e para outro, seja pela renda dos pais, seja pela cidade onde vive.

            Por isso, concluo, ao mesmo tempo em que homenageio todos esses anos da DeMolay - desde 1919, se não me engano -, homenageio o dia de hoje, em homenagem à DeMolay, e o dia, se não me engano, 25 de março, em que foi iniciada realmente, e, ao mesmo tempo, homenageio, provoco e cobro.

            Vamos nos unir para que neste País nenhuma criança fique de fora de um sistema de qualidade; vamos lutar para que neste País a torneirinha do analfabetismo seja fechada, na medida em que todos concluam a sua educação. Isso, para mim, só vai ser possível com o que chamo de federalização da educação, que outros podem chamar de forma diferente.

            Na verdade, o conceito é que o Governo Federal adote as crianças do Brasil. Esqueçamos o nome federalização - muitos não gostam, nem eu. O que se quer é que o Governo Federal adote as crianças do Brasil como algo nacional, e não municipal; faça com que a criança, ao nascer, seja federal, e não municipal, como é hoje. Criança é nacional, porque criança é o futuro do País. Então, como a gente abandona as crianças conforme a renda daquela cidade e o gosto daquele prefeito pela educação?

            O caminho é a União assumir a responsabilidade pela educação de base no Brasil. E é isto que eu gostaria de pedir: que vocês, que têm o espírito do passado, que têm essa história, olhando o futuro, ajudem, lutem, façam com que o Brasil tenha uma educação de qualidade igual para todos, com conteúdos diferentes - liberdade pedagógica -, mas com a qualidade dos professores, dos equipamentos, do tempo de ficar na escola igual para todos.

            Um grande abraço pelo passado de vocês. Meus parabéns ao Senador Mozarildo, que sempre toma a iniciativa de prestigiar a Maçonaria em todos os aspectos. Muito obrigado a vocês, jovens, por estarem como DeMolay em vez de estarem perdidos em outras atividades.

            E fica aqui, depois de toda a homenagem e agradecimento, a minha cobrança: vamos lutar para que, no Brasil, aconteça aquilo em que ninguém acredita, pensam que é demagogia, mas que já aconteceu em muitos outros países; vamos lutar para que o filho do trabalhador possa estudar na mesma escola do filho do seu patrão; que o filho da mais pobre família tenha acesso a uma escola com a mesma qualidade do filho da mais rica família do Brasil. Isso é possível, isso é preciso, e o Brasil conta com vocês.

            Um grande abraço a cada um e a cada uma. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/03/2014 - Página 11