Discurso durante a 32ª Sessão Especial, no Senado Federal

Destinada a comemorar o Dia Internacional da Síndrome de Down..

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, POLITICA SOCIAL.:
  • Destinada a comemorar o Dia Internacional da Síndrome de Down..
Publicação
Publicação no DSF de 21/03/2014 - Página 10
Assunto
Outros > HOMENAGEM, POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, DEFICIENTE MENTAL, ORIGEM, GENETICA, COMENTARIO, PESSOA DEFICIENTE, FILHO, FOTOGRAFO, BRASIL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Deputado Romário, Excelentíssimos, além do Presidente Renan Calheiros, os Senadores que tomaram a iniciativa da solenidade, Wellington Dias, Rodrigo Rollemberg, Srª Deputada Rosinha, Sr. Marcelo Galvão, Ariel Goldenberg, Breno Viola, Rita Pokk, Maria Thereza Almeida Antunes e Walkíria Lúcio Lins de Araújo, esta é uma dessas solenidades em que dá gosto sermos Senadores, para podermos homenagear cada uma dessas crianças e jovens que vieram ao mundo com a Síndrome de Down.

            Como cada um de nós veio com outra síndrome, mais discreta, mais simples, mas ninguém deixa de ter uma síndrome. Mas, em vez de falar a todos, sobre todos, eu vou me reportar a uma pessoa que eu conheço, Rodrigo Salgado, que tem Síndrome de Down, é portador, filho de um grande amigo meu, que é o Sebastião Salgado, o grande fotógrafo do Brasil. Talvez, o nome mais conhecido do Brasil no exterior, salvo jogadores, como o Romário e outros dos nossos craques.

            O Sebastião Salgado, hoje, é o maior fotógrafo do Brasil, mas, não só fotógrafo, é um homem que viajou o mundo inteiro e nesse mundo inteiro fez fotografias que hoje estão nos grandes museus do mundo. Um livro chamado Genesis, que resume o mundo inteiro, como ele é hoje, como resistência do mundo primitivo que continua.

            O Sebastião e sua esposa, Lélia, são prova de que ter um filho, uma filha, com síndrome não traz impedimento para a realização pessoal; traz dificuldades, traz esforço adicional, como o Wellington, como o Romário têm sentido, mas não diminui a capacidade de realização.

            Sebastião e Lélia, quarenta anos fora do Brasil, viajaram o mundo inteiro para fazer as suas fotos, porque ele faz e ela edita. E, em nenhum momento, isso deixou de ser feito por causa do Rodrigo, hoje com 34 anos de idade, a quem eu conheço, inclusive de ir junto com os pais a um bar, tomar uma cerveja juntos.

            O Sebastião, esse homem, que, além de um grande fotógrafo, um aventureiro, no sentido de desbravador do mundo, no seu Livro que acaba de sair no Brasil, chamado “Da minha terra”, com “t” minúsculo, “à Terra”, com “t” maiúsculo, porque ele é homem universal, escreve:

Quando nasceu o Rodrigo, descobrimos que tinha Síndrome de Down. Com Rodrigo, entramos em um mundo de “descapacitados” [Estou lendo o livro como está, em Espanhol; estou traduzindo “descapacitados”. É como eles dizem.] do qual, desse mundo, não sabíamos nada. Tivemos que descobrir e dominar. É uma das grandes aventuras da nossa vida...

            E esse homem viveu aventura, e ela também, desde quando fugiram do Brasil por razões políticas, ainda tão jovens, quando eu os conheci.

            Ai ele diz:

É uma das grandes aventuras da nossa vida dolorosa. Também nos ensinado muito, Rodrigo, além de rir muito com Rodrigo. Quando era pequena era tão graciosa e adorável. É um tesouro de afeto e de doçura [Isto que é importante, Senador Renan.] Estou convencido de que, sem ele, minhas fotografias teriam sido diferentes.

            E conclui com esse trecho:

Ele me fez olhar os rostos de outra maneira, a cerca-me aos seres de forma diferente.

            Portanto, no lugar de ter sido um fato que dificultasse a sua vida, enriqueceu a sua vida apesar de trazer todas as dificuldades e aspectos dolorosos que acontecem.

            Eu presto homenagem neste sentido, portanto, a esse homem de 34 anos, que é o Rodrigo, e aos seus pais. Os três e mais outro filho foram capazes de fazer, profissionalmente, pelo mundo inteiro, ensinando a todos nós, a doçura como ele diz, a alegria e a maneira de ver um mundo diferente.

            Eu não posso deixar de concluir dizendo que, no meu caso, a situação não foi dessa forma, porque eu tenho um irmão que tem idade mental zero. Ele não é portador de uma síndrome que possamos ter algum contado com ele. Está com 65 anos, é o meu irmão Guilherme. Mesmo assim, é uma figura que compõe a vida da gente.

            Fica aqui o meu abraço, o meu afeto a cada um de vocês, a cada um dos Rodrigos que estão aqui, a cada um dos Sebastiões que estão aqui e das Lélias que estão aqui, que são capazes de ver a doçura do mundo pelos olhos desses meninos e meninas que têm Síndrome de Down.

            Meu grande abraço para cada um e cada uma de vocês. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/03/2014 - Página 10