Discurso durante a 11ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Homenagem póstuma ao pintor gaúcho Glênio Bianchetti.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem póstuma ao pintor gaúcho Glênio Bianchetti.
Publicação
Publicação no DCN de 07/05/2014 - Página 6
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, PINTOR, ORIGEM, MUNICIPIO, BAGE (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), COMENTARIO, INICIO, CARREIRA, ELOGIO, OBRA ARTISTICA.

A SRA .ANA AMÉLIA (PP-RS) - Caro Presidente desta sessão e autor do requerimento para esta justa e merecida homenagem a um dos artistas mais festejados com toda a justiça de nosso País, nosso conterrâneo Glênio Bianchetti.

      Eu queria saudar também o querido amigo, Deputado Marco Maia, que fez um bonito pronunciamento homenageando essa grande figura humana, mais do que um artista; o Ministro Sepúlveda Pertence; o Ministro Carlos Ayres Britto; o Secretário de Estado do Distrito Federal, da Secretaria de Cultura, Hamilton Pereira da Silva e a Sra. Helena Bianchetti, seus filhos, suas filhas, suas netas e seus netos que estão aqui presentes nesta cerimônia.

      Caros colegas, Sendores, Senadoras, Glênio Bianchetti, como referiu bem o nosso Deputado Marco Maia, é um dos artistas brasileiros mais completos da atualidade. Chamado também de “gênio” por muitos, ele começou sua bela e inspiradora história na atividade das artes plásticas lá em Bagé, um Município da Campanha gaúcha, que fica a 370 quilômetros da nossa capital, Porto Alegre, muito próxima do Uruguai, vizinha de Aceguá.

      E agora falava ali com uma ex-aluna de Glênio Bianchetti, que me disse: “conheci Bagé por causa do mestre”. Já é uma forma de vivenciar uma realidade e conhecer as origens de talentos tão relevantes quanto esse, que fez parte de um grupo de produtores culturais, artistas plásticos nascidos lá, no chamado Grupo de Bagé.

      Foi nessa cidade, em 1928, conhecida internacionalmente não só por esse Grupo de Bagé, mas também por um elevado grau de qualidade na feitura -- eu diria, puxando a brasa para o nosso assado, Deputado Marco Maia -- de uma obra de arte gastronômica, o famoso churrasco gaúcho... Bagé é, na prática gauchesca, exímia na produção disso, que é hoje praticado, reconhecido e consagrado internacionalmente.

      Também é conhecida pela exuberância dos seus campos, que estimulam ser Bagé hoje chamada também “a Kentucky brasileira”, porque lá os cavalos são criados, são produzidos e exportados.

      Bagé é também um centro exportador de carne bovina de excelente qualidade, e as lavouras de arroz e soja, hoje, ocupam parte da riqueza daquele Município.

      Ali Bianchetti deu os primeiros passos rumo ao aprimoramento da arte contemporânea brasileira, focado nos temas da classe trabalhadora e das populações mais pobres e de menor renda.

      Aliás, olhando as imagens dessas obras, lembramos muito Portinari, lembramos um pouco Volpi, porque a obra é cosmopolita, ela se insere. Lembramos também os impressionistas flamengos, e é exatamente essa beleza que faz dessa arte algo tão expressivo.

      Suas belíssimas obras, marcadas por muitas cores, pelo cotidiano e por predominantes cenas da cultura nacional, estão vivas como nunca e refletem, com a peculiaridade própria do artista, uma realidade social contemporânea, sem, sobretudo, fazer qualquer apologia à violência ou ao sangue.

      Em 1975, por exemplo, usou as formas geométricas e as cores quentes, como o amarelo e o laranja, para inventar a obra Pescadores, sobre a dura rotina dos trabalhadores brasileiros. Foi também o idealizador de telas com comoventes temas religiosos, como São Francisco, Via Sacra e Lázaro.

      Em muitos momentos, a criação foi aprimorada com pitadas de engajamento político, muito engajamento político. Sua defesa e empenho em relação à campanha das Diretas Já e à campanha presidencial de 1989 também transpareciam em suas criações.

É o caso de Garotos, pintura que retrata meninos ao lado da bandeira brasileira, com dizeres em favor da liberdade ao fundo.

      Enquanto aprimorava seu talento, esse inspirador gaúcho passou pelo Instituto de Belas Artes de Porto Alegre, fundou o Clube de Gravura de Bagé, inaugurou a Universidade de Brasília -- UnB, a convite do antropólo e professor Darcy Ribeiro, e incentivou e colaborou muito para a criação do Museu de Arte de Brasília.

      Nessa caminhada, o homenageado de hoje, artista, aprendeu a fazer gravuras com Iberê Camargo e desenvolveu, com empenho, dedicação e muito talento, a difícil profissão de artista ao lado de outros grandes nomes das artes plásticas do nosso Estado, caro Deputado Marco Maia, caro colega Senador, nossos convidados. Entre eles, estão: Danúbio Gonçalves, Carlos Scliar, Vasco Prado, Edgar Koetz e Glauco Rodrigues.

      Em cada uma de suas criações, não importava a intensidade nem a variedade das coloridas pinceladas impressionistas ou expressionistas e com muita emoção. Ao final da obra, sempre prevaleciam a sobriedade e a simplicidade da vida cotidiana, muito recorrente no dia a dia das pequenas cidades daquela sua encantadora Bagé.

      São, portanto, retratos do Brasil, que também passaram pelos corredores e exposições do Congresso Nacional e ficarão registrados não apenas naquele livro tão brilhante de José Paulo Berton, concluído em 2010, ou nos 52 minutos do histórico documentário dirigido por Renato Barbieri.

      Sem dúvida, a trajetória desse artista plástico que estamos homenageando, como eu disse, com muita justiça e oportunidade -- parabéns, Senador Cristovam Buarque --, pela sua vocação, ficará na memória dos humanistas e de todos aqueles que, de algum modo, se identificam com o modo de Bianchetti ver o mundo e os brasileiros.

      Como bem disse a sua neta Julia Bianchetti ao citar o avô: “O nosso guri -- como nós chamamos as crianças ou os jovens -- fará muita falta! E eu completo: já está fazendo muita falta.

      Muito obrigada.

      (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 07/05/2014 - Página 6