Discurso durante a 91ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a percepção da população brasileira em relação às vertentes de corrupção em decorrência da realização da Copa do Mundo no Brasil.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CORRUPÇÃO, ESPORTE, MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Comentários sobre a percepção da população brasileira em relação às vertentes de corrupção em decorrência da realização da Copa do Mundo no Brasil.
Aparteantes
José Agripino.
Publicação
Publicação no DSF de 10/06/2014 - Página 688
Assunto
Outros > CORRUPÇÃO, ESPORTE, MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • COMENTARIO, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, REFERENCIA, CRITICA, EXCESSO, CORRUPÇÃO, LOCAL, BRASIL, RELAÇÃO, GASTOS PUBLICOS, DESTINAÇÃO, OBRAS, INFRAESTRUTURA, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, REGISTRO, AUSENCIA, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, POLITICA DE TRANSPORTES, BENEFICIO, POPULAÇÃO, ENCERRAMENTO, EVENTO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, eu vou falar de maneira diferente, mas sobre o tema de que o Senador Pedro Simon acaba de falar: o tema da Copa do Mundo.

            Primeiro, quero reafirmar que estou de acordo com ele em que, a partir de agora, se nós cometermos atos que ameacem o bom funcionamento dessa Copa - e eu fui contra, desde o começo, trazê-la para cá -, se nós fizemos qualquer ato, qualquer comportamento que a atrapalhe, nós estaremos prejudicando o Brasil. O Brasil. O Brasil inteiro. Não é o Governo da Presidenta Dilma, não é o presidente Lula, que inventou de trazer essa Copa para aqui. Aliás, eu, na época, dizia que era contra, mas, se era para trazer, eu sugeria que fosse em 2022, pelo segundo centenário da Independência do Brasil. Nós teríamos chamado a atenção dos brasileiros para a História. Vai passar quase em branco o segundo centenário da Independência. Teria sido parte de uma grande festa, a festa dos 200 anos do Brasil independente.

            Foi um equívoco, a meu ver, trazer; foi uma ineficiência a maneira como ela vem sendo feita, em suas obras; mas, pelo menos, que nós, brasileiros, nos comportemos de maneira que as coisas saiam bem e que, lá fora, digam que, apesar do Governo, nós conseguimos fazer a Copa, e não que o Governo diga que, por causa do povo, a Copa não deu certo.

            Eu estou de acordo com esse apelo do Senador Simon, mas quero falar, Senador, de dois legados que acho que a Copa já deixou.

            É cedo para saber se ficarão legados de mobilidade urbana. Eu não acredito. Além de que, sempre que se fala nos investimentos em mobilidade urbana, eu digo: “Mas, para fazer, não precisava da Copa! O dinheiro é brasileiro, não é a FIFA que financia. Para que a Copa?”

            Eu não sei se são os aeroportos modernos. Mas também para que a Copa? Os aeroportos podíamos ter feito. É dinheiro brasileiro. Os estádios eu não considero isso um grande legado, porque eles já existiam nas cidades principais, embora não tão bonitinhos; e não seria difícil, com dinheiro do Brasil, se o Brasil precisava de estádios maiores, fazê-los sem a Copa. Esse, Senador, é cedo para dizer se ficará como legado.

            Agora, há um legado, Senador, que eu acho que a gente pode mencionar. Graças à Copa, o povo brasileiro percebeu que existe uma coisa chamada corrupção nas prioridades.

            O povo brasileiro já sabia que havia corrupção no comportamento no Brasil. Já sabia que havia pessoas que se apropriam de dinheiro público para o bolso pessoal, privado. É a corrupção no comportamento, pelos corruptos. Mas o povo não tinha percebido que existia outro tipo de corrupção: a corrupção que não põe dinheiro no bolso de nenhum político, mas tira dinheiro de uma obra prioritária, que serve ao povo e que vai beneficiá-lo no futuro, para uma obra prisioneira do presente, para beneficiar poucos. Isso é corrupção.

            Tirar dinheiro do povo é corrupção se ele é posto no bolso de alguém, mas também é corrupção se é desviado para um projeto que não é prioritário, que não tem compromisso com o futuro do País, que não beneficia as massas excluídas do País.

            Graças à Copa, o povo brasileiro despertou para a corrupção nas prioridades. E isso é bom. Foi graças à Copa, ao fazer as contas, que o povo brasileiro percebeu que tinha algo errado nisso, e não só propinas que são pagas para a construção dos estádios, para a construção dos metrôs - até porque isso já havia muito antes da Copa. O povo percebeu que, num momento em que o transporte público não funciona - e foi isso que deslanchou as manifestações de junho -, a gente estava construindo estádios em vez de metrôs. O povo percebeu que, em lugar de fazer um açude para compensar a fragilidade da Cantareira, em São Paulo se fez um estádio. O povo percebeu.

            O povo brasileiro, nós todos nos acostumamos a não fazer as contas de quanto custam as coisas. Por um lado, porque nos acostumamos tanto com inflação que a gente não fazia as contas, porque o dinheiro não ia valer mais nada dali a alguns anos. Então, “gastemos logo hoje”.

            Nós somos manipulados pela baixa educação do Brasil. E, quando eu falo baixa educação, eu não falo baixa instrução, não, porque os instruídos no Brasil também são deseducados. Nós nos acostumamos a servir a uma minoria. Então, a gente não analisava o custo de tirar dinheiro de um lugar para outro. É como se desse para tudo no Brasil. De repente, a gente percebe que não está tendo uma porção de coisas - transporte, saúde, educação - e está tendo outras coisas: estádios, aeroportos especiais.

            O povo descobriu! O povo despertou para a corrupção nas prioridades, Senador, e aí foi para a rua. Dificilmente o povo teria ido para as ruas em junho se não fosse a Copa, se não fosse o fato de termos o Governo brasileiro e o Brasil, forçado pelo Governo, que não nos consultou...

            Eu falei aqui no aparte e repito: o Presidente Lula não nos consultou para trazer a Copa! Tinha que ter consultado o povo brasileiro. Eu não vou dizer que precisaria de um plebiscito. Tinha que mandar um projeto aqui para o Congresso analisar. Tinha que pedir que alguém dissesse se era certo ou errado, em vez de sair por aí vendendo tudo isso, sem nos consultar, Senador José Agripino.

            O senhor não foi consultado, eu não fui consultado. Soubemos pelos jornais. E eu critiquei desde o primeiro momento.

            Este é um legado da Copa: o povo despertou.

            Agora, eu temo por outro legado: é o legado que está passando de que nós, os políticos, os líderes nacionais, não estamos percebendo que o povo despertou. Nós não estamos despertando para o despertar do povo. E corremos o risco de não ser mais a Copa, mas o trem-bala; de não serem mais estádios, mas outros projetos desnecessários - palácios aqui em Brasília, como nós temos.

            A corrupção nas prioridades é óbvia no estádio que o Governo do Distrito Federal fez, mas vamos falar com franqueza: essa não é a primeira corrupção nas prioridades, pois grande parte dos palácios construídos em Brasília para diversos serviços, não só para os do Executivo ou para os do Legislativo, mas para os do Judiciário também, representa uma forma de corrupção nas prioridades.

            Não falo daquele Tribunal de São Paulo em que um Senador e um Juiz pegaram o dinheiro para eles. Isso é corrupção no comportamento. Falo daquele Tribunal em si. Mesmo que ninguém tivesse roubado, aquela seria uma prioridade equivocada quando, ao lado, a 200m, a 500m, a mil metros, havia gente sem água, sem esgoto. E há um prédio daquele porte!

            O povo despertou para a corrupção nas prioridades, e temo que ele esteja despertando para o fato de que nós, os líderes do País, não despertamos para o despertar dele, o povo. Aí é grave. Aí nós não estaremos sintonizados com o povo. E, ao não estarmos sintonizados com o povo, ele vai continuar inviabilizando o bom funcionamento, como vem fazendo com as mil manifestações de cem que estão ocorrendo no Brasil. Em junho do ano passado, quando disseram que o povo fez cem mil e foi para casa, eu disse: “Parou uma de cem mil. Vão começar mil de cem.” Duas coisas estão acontecendo: o descontentamento geral e a permissão pela internet da mobilização, sem precisar de partido, sem precisar de nenhum discurso aqui, sem precisar de rádio e de televisão. Hoje, o povo se mobiliza diretamente pelas redes sociais, sem líder, sem partido e também sem proposta.

            A prova de que o povo está despertando para o fato de que nós não despertamos é a relação do eleitor de hoje com os candidatos a Presidente, Senador José Agripino. A pesquisa recente, o que é que mostrou? A Presidenta cai, e os outros não sobem. A impressão é a de que não haverá vencedor. Haverá perdedores, e um perderá menos que o outro e aí toma posse. A sensação que tenho é a de que vai tomar posse quem perder menos, e não quem ganhar mais o espírito, a emoção, a vontade do povo. Vai se votar por exclusão, se os discursos continuarem como estão.

            Creio que ainda é tempo de os candidatos a Presidente perceberem que o povo despertou e que o povo quer prioridades. A discordância que a gente vê entre os candidatos é de comportamento, é de estilo de governo, não é de prioridade, até porque, para ser de prioridade, é preciso dizer não só qual é a sua prioridade, mas qual é a prioridade do atual Governo que você vai parar. Não dá para fazer todas as prioridades, porque aí não é mais prioridade. Prioridade quer dizer preferência; logo, opção; logo, parar algumas coisas.

            Nós corremos o risco de chegar às eleições sem que os candidatos tenham percebido que o povo quer prioridades, porque descobriu que há uma coisa chamada corrupção das prioridades, que fica como legado da Copa. Eu não sei - sinceramente, sou muito cético - se haverá outros legados. Eu sou cético. Não vejo como haverá outros legados. E, quanto aos pequenininhos que ocorrerem, eu me pergunto: a gente não podia tê-los feito sem Copa? O dinheiro é nosso. Não é a FIFA que financia metrô, não é a FIFA que financia BRT. Não! É dinheiro nosso. A gente podia ter decidido isso independentemente de Copa. Não vejo outros legados da Copa, mas vejo, sim, este grande legado que é o fato de o povo ter descoberto a corrupção nas prioridades.

            Espero que nós, os líderes, descubramos que o povo despertou e busquemos nos sintonizar com ele, redefinindo as prioridades para o futuro deste País. E que, até outubro - não precisamos ser nós, os líderes -, três, quatro ou cinco candidatos a Presidente percebam isso. Se não perceberem isso, acho que, dificilmente, eles crescerão no imaginário da população e empolgarão a população. A população, graças à Copa, descobriu que existe uma coisa chamada corrupção nas prioridades.

            Senador, era isso o que eu tinha para falar.

            O Sr. José Agripino (Bloco Minoria/DEM - RN) - Permita-me um aparte?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Quero muito ouvir o Senador José Agripino, que me honra com seu pedido de aparte.

            O Sr. José Agripino (Bloco Minoria/DEM - RN) - Senador Cristovam, inicialmente, eu o cumprimento pela sua análise, sempre lúcida. V. Exª sempre faz análises acima do padrão normal. V. Exª é um pensador de qualidade, é um brasileiro de grande espírito público, por quem tenho especial apreço e respeito.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador.

            O Sr. José Agripino (Bloco Minoria/DEM - RN) - Eu queria acrescentar um pouquinho à análise de V. Exª. Eu acho que os governos do PT, que têm seus méritos e seus defeitos, são marcados - principalmente os governos do ex-Presidente Lula - por uma dose acentuada de megalomania. Eu acho que o grande problema da Copa... Todo país - o Brasil é a sétima, a oitava, a nona ou a décima economia, pode variar por aí - teria o direito de pleitear ser sede da Copa, teria todo esse direito. Mas houve a presença de Lula naquela disputa pela Copa e pelas Olimpíadas, depois dos Jogos Pan-Americanos. Ele imaginou que o Brasil fosse continuar tendo aquela maré-enchente, que marcou seus governos, pelo resto da vida. Ele imaginava que as commodities e o preço do petróleo... Ele imaginava que o pré-sal fosse ser desenvolvido, que não fôssemos perder rapidamente a autossuficiência em petróleo, que a inflação não pudesse voltar por defeitos de condução da economia, que o Governo fosse incapaz de fazer a infraestrutura prometida para fazer do Brasil um País competitivo. Ele não pensou nisso, ele imaginou que a maré-enchente seria eterna e aí providenciou e conquistou a Copa do Mundo. A Copa do Mundo, na verdade, seria aplaudida pelo Brasil, mas não o é. V. Exª sabe tanto quanto eu que o Brasil guarda uma enorme reserva ao fato de a Copa ocorrer no Brasil, por razões óbvias: é que estamos gastando o dinheiro que não temos. Esse dinheiro deveria ser gasto na infraestrutura, na educação de qualidade, na saúde de qualidade, no transporte de metrô de qualidade, em coisas que o brasileiro que subiu de categoria e que viaja para a Europa, para os Estados Unidos e para o Japão vê no mundo desenvolvido. País rico não é país onde há gente que tem carro, mas é país onde há metrô que transporta as pessoas com segurança! Isso é país rico, e as pessoas percebem exatamente isso. Então, a Copa mostrou a chaga das deficiências dos governos do PT. Não souberam administrar a bonança e nos levaram para uma situação de protesto de rua. Foi a tomada de atitude do Governo que levou a consciência brasileira - pelo fato de termos uma democracia aberta, com os meios de comunicação livres, com a internet operando -, o brasileiro, indignado, a protestar contra uma coisa para a qual o Brasil não se preparou. O Brasil esteve preparado, mas não foi capaz de continuar o nível de preparação. E nós estamos hoje embrulhados aí, razão pela qual, como V. Exª coloca, nas pesquisas de opinião pública, a negativa à Presidente Dilma é clara. O brasileiro não identificou ainda em quem vai cair sua preferência, mas nela, com certeza, dificilmente recairá. Então, é isso que está ocorrendo, e, dentro disso tudo, há uma chaga maior, a que V. Exª coloca, que é a corrupção. Isso é produto de longevidade, Senador Cristovam. Num governo que permanece por quatro anos, por mais quatro anos e por mais quatro anos, os quadros se enraízam. Eles pensam e se julgam proprietários do poder. São donos do Governo. Habituam-se a isso e praticam a corrupção de forma sistemática, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Daí essa sucessão de denúncias de corrupção. É longevidade de permanência de um partido, de um sistema no poder, em cima de uma chaga. Uma coisa que poderia ser maravilhosa, o fato de sermos sede da Copa, com os grandes estádios e com as arenas lindas que estamos construindo, está despertando a preocupação e a comparação do povo. Como são destinados R$300 milhões para essa obra, se não temos hospital de qualidade para salvar vidas? Como são destinados R$500 milhões para essa obra, se não temos transporte de qualidade para nos levar para o trabalho todos os dias? Daí a indignação, daí o protesto! Dentro disso tudo, está a corrupção, que é o mal endêmico. É o que V. Exª, com muita propriedade, nesta tarde de segunda-feira, traz para o conhecimento do Brasil e do Plenário do Senado. Cumprimentos a V. Exª, com a modéstia da contribuição do raciocínio que faço em acréscimo às colocações que, com muita sabedoria, V. Exª faz.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador, o senhor me trouxe um bom aparte, que é aquele que nos traz ideias, que nos desperta para alguma coisa. O senhor me despertou para o fato de que, além da corrupção no comportamento e da corrupção nas prioridades, existe uma corrupção temporal: a de se gastar hoje aquilo de que nossas crianças vão precisar depois.

            Vendem-se terrenos públicos no Distrito Federal para conseguir R$2 bilhões para fazer o estádio, e isso é feito para que o dinheiro seja daqui, para não se submeter ao Tribunal de Contas, para que o Tribunal de Contas não analise as contas do Governo. São R$2 bilhões obtidos com a venda de terrenos do Estado, da sociedade. Isso é corrupção temporal, porque sacrifica hoje um patrimônio que é de todas as gerações futuras.

            O senhor traz, a partir daí, um problema que acho que é muito comum nos partidos do Governo, especialmente no Partido principal, que é o PT. Mas não tiro também a responsabilidade do Partido de que faço parte, que é o PDT. Falo do imediatismo. É um Governo que não consegue pensar dez anos adiante. Às vezes, acho que isso é fruto da maneira como o Presidente Lula se formou na política como líder, pois conseguiu, com a genialidade dele, o equilíbrio das forças, olhando a distribuição da renda no presente entre capitalista e trabalhador na luta sindical. Trabalhador e capitalista pensam na data-base, não pensam na “década-base”. Não existe a “década-base”. É o momento. Salário e lucro, salário e lucro, não o momento! Tenho a impressão de que isso levou o Partido dos Trabalhadores e os que estão no Governo a um imediatismo que está impedindo uma estratégia de longo prazo ou médio prazo. Isso está levando à degradação das estatais, vistas como “galinhas dos ovos de ouro” do presente, não como um instrumento, uma ferramenta de longo prazo.

            Vemos até bons projetos, mas eles não dão resultados. Vou citar um deles. O Ciência sem Fronteiras é um grande projeto, mas é visto na ótica do beneficiado de hoje, do estudante que recebe a bolsa para ir à Europa, não na ótica do que esse estudante vai trazer para o Brasil no futuro. É a privatização que o Governo Lula fez das políticas públicas. Eles não olham o beneficiado como uma ferramenta do futuro, mas o olham apenas como um beneficiado direto, porque isso dá voto.

            O aumento de vagas nas universidades do Brasil é um belo programa. Mas ele não foi feito olhando o Brasil, mas olhando o estudante. Se tivesse olhado o Brasil, teria, primeiro, melhorado a educação de base, para que esse jovem chegasse à universidade em condições de fazer um bom curso. Ignoraram isso. Fizeram de conta que era possível passar de aprender a ler para ser universitário. Se tivesse olhado o Brasil, o ProUni exigiria alguma contrapartida do beneficiado, como, por exemplo, participar de programas de erradicação do analfabetismo. Mas aí não haveria um benefício privatizado. Aí o beneficiado deixaria de votar no Governo que deu a bolsa para ele e pagaria um preço ao País.

            Nós privatizamos as políticas públicas no Governo Lula por causa desta terceira forma de corrupção: a corrupção no tempo, a corrupção temporal, a apropriação hoje daquilo que deveria servir às gerações futuras.

            Com isso, Senador, concluo minha fala sobre as duas corrupções: a que fica como legado da Copa, que é a percepção da corrupção nas prioridades, e a corrupção no comportamento, que todos já conhecem há muito tempo. E cito esta que o aparte do Senador José Agripino me trouxe, a corrupção temporal, pela qual nós nos apropriamos dos recursos do País, recursos que deveriam servir também às gerações futuras e que nós consumimos no presente.

            Era isso o que eu tinha para dizer, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/06/2014 - Página 688