Pronunciamento de Vanessa Grazziotin em 18/06/2014
Discurso durante a 94ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Encaminhamento de voto de aplausos à Srª Maria Elizabeth Guimarães Teixeira, pela assunção à Presidência do STM; e outros assuntos.
- Autor
- Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
- Nome completo: Vanessa Grazziotin
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
JUDICIARIO, FEMINISMO.
HOMENAGEM.
ESPORTE.:
- Encaminhamento de voto de aplausos à Srª Maria Elizabeth Guimarães Teixeira, pela assunção à Presidência do STM; e outros assuntos.
- Aparteantes
- Cristovam Buarque.
- Publicação
- Publicação no DSF de 19/06/2014 - Página 62
- Assunto
- Outros > JUDICIARIO, FEMINISMO. HOMENAGEM. ESPORTE.
- Indexação
-
- ENCAMINHAMENTO, REQUERIMENTO, VOTO DE APLAUSO, MOTIVO, NOMEAÇÃO, MULHER, PRESIDENTE, SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR (STM).
- HOMENAGEM, ANIVERSARIO, ARTISTA, CHICO BUARQUE, COMENTARIO, DECLARAÇÃO, PUBLICAÇÃO, INTERNET, ASSUNTO, ALTERAÇÃO, POLITICA, BRASIL.
- REPUDIO, COMPORTAMENTO, POPULAÇÃO, ABERTURA, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, MOTIVO, OFENSA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, ORGANIZAÇÃO, EVENTO, ESPORTE, LOCAL, CIDADE, MANAUS (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), REGISTRO, ATRASO, OBRAS, INFRAESTRUTURA.
A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Sr. Presidente.
Penso que o que nos traz à tribuna hoje, todos nós, é o nosso desejo e a nossa decisão também de mostrar nossa indignação acerca do acontecido durante a abertura da Copa do Mundo, que é a competição que mais mobiliza mentes e corações no mundo inteiro.
Mas, antes de abordar esse assunto, Sr. Presidente, quero fazer dois registros. O primeiro registro é que encaminho à Mesa um voto, para que seja inserido na Ata, de congratulações e aplausos à Srª Maria Elizabeth Guimarães Teixeira, que é a primeira mulher a assumir a Presidência do Superior Tribunal Militar, o STM. Que esse voto de congratulações seja encaminhado a ela própria e a todos os membros do Superior Tribunal Militar.
Maria Elizabeth Guimarães Teixeira, Sr. Presidente, é a primeira mulher a assumir a Presidência do Superior Tribunal Militar, em 206 anos de existência deste Tribunal.
Doutora em Direito Constitucional pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Maria Elizabeth, 54 anos, foi indicada ao Superior Tribunal Militar no ano de 2007. No ano passado, no ano de 2013, ela foi eleita como Vice-Presidente da Corte para o biênio 2013/2014. Agora ela substituiu o seu Presidente, General de Exército Raymundo Nonato de Cerqueira Filho, que se aposentou
Maria Elizabeth ressalta a importância da presença das mulheres nas Forças Armadas e afirma que o empoderamento feminino aperfeiçoa a República. Entre aspas: “Uma democracia sem mulheres é uma democracia incompleta” - disse ela no momento da sua posse.
E eu faço este registro, apresentando este voto de aplausos, de congratulações, porque, no ato em que ela assume esse cargo de tamanha importância e relevância - em 206 anos, a primeira mulher a assumir esse cargo, ou seja, a presidir o Superior Tribunal Militar -, ela não apenas assume falando na democracia, falando no fortalecimento do processo democrático, na questão da defesa, da segurança nacional, mas abordando, inclusive, assuntos de gênero. Ou seja, dizendo, de forma textual, que a democracia não se completa sem que haja o empoderamento das mulheres.
Isso é muito importante porque, no geral, em nosso País, Sr. Presidente, assistimos ao fato de que algumas mulheres - e que bom que hoje sejam apenas algumas... A maioria - e eu incluo a própria Presidente Dilma nessa maioria, a nossa querida Presidenta - já tem clareza de que, quando assume cargos de relevância, cargos de direção, cargos importantes neste País, é preciso que utilizem também a sua posição de destaque para incentivar, para ajudar na luta das mulheres, para que possamos construir uma sociedade mais igual.
Então, encaminho à Mesa, Senador Suplicy, este requerimento, solicitando a inserção na Ata de voto de congratulações e aplausos à Maria Elizabeth Guimarães Teixeira.
O segundo registro que eu quero fazer é que amanhã...
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Permita-me...
A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Pois não, Senador Suplicy.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) -... solidarizar-me com V. Exª.
Fiz questão de também assinar a iniciativa de um voto de congratulação e aplauso à Ministra Maria Elizabeth Guimarães Teixeira, que agora assume a Presidência do Superior Tribunal Militar, ainda mais pela maneira como ela, de forma tão bela, assertiva, ponderou, conforme V. Exª salientou, a importância da igualdade entre todas as pessoas, todos os gêneros e que o Estado não pode admitir nenhum tipo de discriminação, inclusive no que diz respeito ao comportamento de qualquer pessoa ou gênero. Ela ponderou, inclusive, que devem os homossexuais ser tratados com todo respeito e igualdade no âmbito das Forças Armadas.
Eu a conheço bem. Ela, há algum tempo, quando lecionava na Universidade de Brasília, me convidou para fazer palestras para os seus alunos. Então, tenho grande afinidade com a Ministra Maria Elizabeth. Sinto muito não ter podido estar aqui segunda-feira, na sua posse, mas tenho o mesmo entusiasmo e, por isso, assinei o seu requerimento, Senadora, de aplauso à Drª Maria Elizabeth Guimarães Teixeira.
A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Muito obrigada. E tenho certeza, Senador Suplicy, de que todos os Parlamentares que aqui estivessem o assinariam porque, repito, ela, além de ter muita competência e capacidade, como V. Exª bem registra, é a primeira mulher, em 206 anos, a assumir este cargo, de tamanha relevância, de Presidente do Superior Tribunal Militar.
O segundo registro que faço, Sr. Presidente, é que amanhã, dia 19, Chico Buarque de Holanda completará 70 anos de idade. É outra figura que tem sido importante em nosso País, pois, mediante seus versos e suas belas canções, ele tem falado muito da liberdade, da democracia. Inclusive, tenho em mãos um dos seus posts, feitos em seu Facebook, em seu Twitter, ou seja, nas suas mídias sociais, em que ele registra, com muita ênfase, com muito entusiasmo, os avanços conquistados no Brasil nesta última década. E faz isto de forma quase poética, falando que passamos de um regime ditatorial, que marcou grande parte ou a quase totalidade da década de 1980, para um governo efetivamente comprometido. Ele analisa que, na última década, foram muitos os avanços políticos, os avanços econômicos e os avanços sociais no Brasil.
Entre esses avanços, ele destaca que não temos mais uma coleira nos ligando aos Estados Unidos, que também não estamos mais sob o comando do Fundo Monetário Internacional; que o nosso País foi elevado à sexta economia do mundo, fazendo com que o PIB saltasse de 1 para mais de 2,4 trilhões em uma década, que 50 milhões de brasileiros saíram da pobreza e que uma nova classe média, de mais de 100 milhões de pessoas, foi criada com emprego, renda, carteira assinada. Enfim, são avanços que ele considera extraordinários, Sr. Presidente. E ele diz que não reconhecem isso aqueles que têm, talvez, saudade de um passado classificado por ele como medíocre.
Então, quero, aqui, também, encaminhar a V. Exª, para que inclua nos Anais desta Casa, as parabenizações a Chico Buarque por ser esse homem que tem um coração do tamanho do Brasil e que consegue cantar a democracia, a beleza, a solidariedade que sempre deve existir entre os povos e, principalmente, aqui, no nosso País.
Quero desejar a ele sucesso, uma vida longa e que continue produzindo tanta beleza, tanta arte, como vem produzindo para o nosso País.
Mas, Sr. Presidente...
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Mais uma vez, só quero solidarizar-me com V. Exª em seu belo cumprimento a Chico Buarque, que tão bem expressa o sentimento mais legítimo pela liberdade e pela democracia do povo brasileiro.
Parabéns a V. Exª!
A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - E nós assinaremos juntos também o voto de parabenizações, que já está chegando aqui, ao plenário. O gabinete o está produzindo. O Senador Cristovam Buarque também o assinará. Ele já está sendo produzido e o assinaremos juntos.
Penso que é uma data... A imprensa já a vem registrando há alguns dias e nós, aqui, também devemos registrá-la com todo entusiasmo.
Mas, Sr.Presidente, eu quero lembrar aqui a última sessão ocorrida nesta Casa, que aconteceu na última quinta-feira, véspera da abertura da Copa do Mundo, ou seja, no dia 11.
Eu fiz questão de vir a esta tribuna fazer um pronunciamento falando da Copa do Mundo, porque estávamos na véspera da abertura desse evento, e fui brindada, Senador Suplicy, com um belo aparte de V. Exª, que me fez ver inclusive o que eu não estava vendo. Eu estava falando, mas não estava enxergando. Eu falava desse evento com muito entusiasmo, mas o entusiasmo era ainda maior quando eu me referia à minha cidade de Manaus, por ser uma das 12 sedes da Copa do Mundo.
Faço questão de vir após a abertura e alguns dias de jogos, aliás, belos jogos. Acabamos de assistir a um jogo quase dramático, um belo jogo entre Austrália e Holanda, que deu aquele show na sua primeira partida e que quase perdeu para a Austrália hoje. Porém, ela venceu por 3 a 2. Ou seja, é um campeonato, uma competição que vem brindando não apenas os brasileiros e as brasileiras, mas o mundo inteiro com belas e ousadas partidas de futebol e que tem se destacado pela organização, pela capacidade, do que já falaram tantos oradores que me antecederam.
Hoje, eu quero dizer, nesta primeira sessão após o início do campeonato, que eu me somo a V. Exª e me somo a todos os oradores que passaram por esta tribuna repudiando o que vem acontecendo, o que aconteceu com a nossa Presidenta durante o evento de abertura, mas, antes, me somo àqueles que têm visto nas ruas a emoção e a empolgação do povo brasileiro com a realização deste evento aqui, em nosso País.
Sr. Presidente, as pessoas de bem deste País, do mais simples, do mais humilde até aquele mais graduado, todos, em comum, tendo compromisso com o País, tendo compromisso com a liberdade, compromisso com o respeito ao ser humano, todos nós não escondemos a nossa perplexidade e indignação diante dos xingamentos de que foi alvo a Presidenta Dilma Rousseff, no estádio do Corinthians, durante o jogo de abertura da Copa do Mundo, o jogo entre Brasil e Croácia.
Muitos, incontáveis foram os registros, nas redes sociais, repudiando o que aconteceu naquele estádio, aquela atitude que não representa o pensamento e tampouco a atitude do povo brasileiro.
O jogador argentino Diego Maradona foi uma das pessoas, Sr. Presidente, que postaram algo a respeito do assunto. Ele, que se encontrava no estádio no jogo de abertura, disse ter ficado indignado e classificou o fato como um absurdo, uma vergonha, afirmando, inclusive, que teria ficado traumatizado com o comportamento dos maus brasileiros e que, depois disso, somente assistiria aos jogos pela televisão.
Some-se a isso, Sr. Presidente, o comportamento de parte da oposição, que, como já foi dito aqui por Parlamentares que me antecederam, tentou instrumentalizar esse episódio eleitoralmente.
Mas o que se seguiu foi uma gigantesca manifestação de repúdio a essa agressão e uma igualmente gigantesca manifestação de solidariedade de milhões de brasileiros. Falo agora não só como Senadora da República, como representante do Estado do Amazonas, como Procuradora da Mulher no Senado, mas, principalmente, falo como mulher, como uma cidadã, como uma brasileira, e quero somar a minha voz à daqueles que apresentaram sua indignação e também repudiar esse fato, porque nenhuma pessoa, nenhum homem, nenhuma mulher, nenhum rico, nenhum pobre, ninguém, absolutamente ninguém deve ou merece ser tratado da forma como a Presidenta Dilma foi tratada por alguns setores.
Eu não ouvi o pronunciamento de V. Exª, Senador Suplicy, que se encontrava no estádio e viu - é isso que tenho lido na imprensa - que, dos setores de onde vieram não só os apupos, o que é normal... Aqui mesmo, nós somos, quase diariamente, alvo de aplausos ou de vaias, o que é comum e até admissível, mas não é admissível a forma vergonhosa como pessoas, como gente brasileira tratou a Presidente Dilma. Não é possível gente de classe elevada, não apenas com elevado nível de educação, mas com elevado nível social, tratar a Presidente daquela forma, Sr. Presidente! Isso é inadmissível!
Quero dizer que assisti em Manaus a abertura da Copa do Mundo, pela televisão, e fiquei um pouco sem entender, porque, pela televisão, não ficou claro exatamente o que havia acontecido. Pelo som, não dava para que, de tão longe ou assistindo à transmissão, pudéssemos distinguir o que estava sendo dito em relação à Presidente. Mas, imediatamente, comecei a receber, pela Internet, pelas mídias sociais, gravações de quem estava postando do estádio. Mas a grande maioria, a esmagadora maioria protestava, indignada, contra aquela forma de protesto, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Se me permite, Senadora...
A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Pois não. Concedo um aparte a V. Exª.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Quando começaram aqueles xingamentos, muitas pessoas, inclusive eu, passaram a dizer, em voz alta, “Olé, olé, olé, olá, Dilma, Dilma”. Então as vozes foram se confundindo. Talvez por isso não se tenha distinguido tão bem, pela transmissão, o que se passava no estádio, para quem estava assistindo pela televisão. Mas houve uma reação de muitos que ficaram indignados com aquelas ofensas dirigidas à nossa Presidente da República. V. Exª tem toda a minha solidariedade neste pronunciamento em que expressa o respeito que todos temos e devemos ter para com a nossa querida Presidente Dilma Rousseff.
A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - E qualquer um, Sr. Presidente, qualquer brasileiro, qualquer brasileira, repito, do mais alto nível social ao mais baixo, da mais alta posição ao trabalhador comum, nenhum de nós deve estar sujeito a esse tipo de xingamento, porque foi um xingamento de baixo calão, de baixo nível. Que bom que a televisão não tenha captado isso com tanta clareza, porque a nossa vergonha, a vergonha que passaríamos diante de milhões de espectadores do mundo inteiro poderia ter sido ainda maior. Creio que todos aqueles que estavam narrando, que os jornalistas estrangeiros que estavam narrando o evento de abertura da Copa do Mundo devem ter se referido a esse fato, mas creio que também, na sequência, devem ter se referido ao fato de que aquilo não expressa a opinião do povo brasileiro, que era a manifestação de apenas pequena parcela, infelizmente, da elite brasileira, e que nem era a opinião da elite brasileira que eles estavam expressando ao faltar com respeito, fazendo aquela manifestação desrespeitosa à nossa Presidente. Eu lamento e gostaria muito de ver, daqui para frente, se possível, um a um, todos aqueles que gritaram essas palavras contra a Presidente, palavras de baixo calão, irem às mídias sociais falar do seu arrependimento, pedir desculpas, que é o mínimo que poderiam fazer diante do episódio triste que protagonizaram aos olhos do mundo inteiro, Sr. Presidente.
Em relação à Copa do Mundo, eu quero falar um pouco deste belo evento que se realiza no Brasil e falar também da nossa capacidade de organização, de organizar um evento de tamanha magnitude, afirmando que tudo aquilo que assistimos e estamos vivendo até agora, afirmando que os fatos por si só desmentem a “fracassomania” disseminada por alguns setores.
E volto a falar de Manaus, Senador Suplicy, porque, hoje, infelizmente aqui estou e, por isso, não poderei comparecer ao jogo entre Croácia e Camarões, dois times que compõem o grupo A, o grupo de que o Brasil faz parte. Não poderei ir ao jogo porque aqui estou, Senador. Lamento muito, mas, aproveitando que aqui estou, amanhã irei ao Estádio Nacional para assistir à partida entre Colômbia e Costa do Marfim. Todavia, quero falar do clima que a minha cidade de Manaus vive.
Todos sabem que eu não nasci em Manaus. Eu sou filha do Sul do País, mas, ainda muito menina, fui com minha família para o Amazonas, para a cidade de Manaus e, portanto, tenho toda uma vida construída naquela que considero a minha própria cidade. Nesse período longo, não vou declinar aqui o número de anos, mas nesse longo período, Senador Suplicy, eu nunca vi a nossa cidade viver tamanha efervescência. Eu já vi o Papa em Manaus, eu já vi e vivi muita coisa importante em Manaus; agora, nunca vi uma efervescência, uma animação como nós estamos vivendo hoje.
Eu fui ao jogo. Fui a pé da minha casa até o estádio de futebol, que não é tão perto, mas também não é tão longe. De qualquer modo, dei uma longa pernada e fui vendo as casas enfeitadas, fui vendo as pessoas nas calçadas e conversei com elas. E, mesmo chegando ao estádio, numa fila que andou muito rápido, pude ainda sentir esse clima.
Ainda no dia da abertura, pela manhã, muito cedo, eu saí de casa. Saí de casa muito cedo e fui visitar algumas ruas. Não pude visitar todas, porque muitas são as ruas que estão decoradas - e não diria enfeitadas, mas decoradas, porque o amazonense, não só o de Parintins, mas de todo o Estado do Amazonas, como todo caboclo pávulo, gosta de fazer sempre o mais bonito e fazer o melhor. Então, eu não creio que haja uma cidade tão decorada para a Copa do Mundo como a cidade de Manaus.
Então, eu visitei um número importante de ruas. Não visitei mais porque a hora do jogo de abertura se aproximava e eu tinha que correr. Ainda enfrentei não um trânsito igual ao de São Paulo, que fez com que o Pelé perdesse o primeiro tempo do Brasil hoje, mas enfrentei também um engarrafamento muito grande, uma vez que as pessoas saíam de seu trabalho para ir às suas casas assistir à Copa do Mundo.
Então, é um clima fantástico; e um clima fantástico abrigando e recebendo, de uma forma calorosa, extremamente calorosa, todos os visitantes: brasileiros que vão de todas as partes do Brasil e, principalmente, estrangeiros.
Eu fiquei impressionada com a quantidade e a organização dos ingleses. Eu fui torcer pela Itália, mas eu fiquei impressionada com a organização e a quantidade de ingleses que foram a Manaus, Senador Cristovam, algo impressionante!
Eu, como no estádio tinha amigos que estavam todos espalhados pelas arquibancadas, corri durante o intervalo para encontrar um grupo de amigos e, nesse momento, encontrei um grupo de seguranças da Arena Amazônia carregando uns tubos, como um corrimão. Eu perguntei a um deles - um grande amigo, que me disse que estava trabalhando na segurança, para a Fifa, dentro do estádio - o que era aquilo. Ele disse: “Não; foram os ingleses que tiraram”. Mas numa tranquilidade impressionante, Sr. Presidente. Então, quer dizer, houve um determinado problema que o estádio não viu, em momento nenhum o estádio viu.
A forma carinhosa como eles se encontraram com as pessoas, como eles iam aos restaurantes, como eles iam aos bares. É algo emocionante! É algo emocionante ver Manaus sendo debatida no mundo inteiro, e numa grande polêmica: gente falando mal do calor, gente falando mal da cidade, mas a maioria falando bem. Inclusive, também recebi, pelo meu telefone, uma mensagem com uma cópia do que a Grazi Masssafera, atriz da Globo, que faz telenovelas e participou do BBB, postou na internet acerca da Arena Amazônia, dizendo: “Olha, criticaram tanto Manaus e Manaus está dando o exemplo”.
Eu também, de manhã, cedinho, antes de ira ao estádio, fui comprar uma televisãozinha pequena, porque eu queria, ao mesmo tempo, estar na Arena e ver e ouvir o que diziam pela transmissão. E o que eu ouvi foram muitos elogios à cidade de Manaus, foram muitos elogios à Arena Amazônia.
De fato, ficaram muitas obras para trás? Sem dúvida nenhuma! Não estou, aqui, querendo pintar um mundo e uma realidade irreais. Muita coisa ficou para trás, mas foi como disse o Ministro Aldo Rebelo, meu querido amigo, como aquilo que diz a Presidenta e que tantos dizem, nós dizemos: que isso tudo que não pôde ser concluído agora, que não pôde ser feito agora, não comprometeria a realização dos jogos. De fato, não vem comprometendo a realização dos jogos.
É claro que eu queria uma Manaus com um BRT pronto; é claro que eu queria uma Manaus com um VLT pronto. Contudo, não foi possível isso, por uma série de razões. Alguns insistem em carimbar essa questão nas costas da Presidenta Dilma, e não é nada disso. Problemas existem, sempre existiram, e o nome desses problemas não é Dilma Rousseff. Querem carimbá-la por conta da proximidade das eleições, dizendo que o Brasil não tem capacidade de organizar eventos dessa magnitude, como estamos realizando.
Aqui quero registrar, Sr. Presidente, que uma pesquisa do Ibope, realizada entre as 12 cidades-sede, aponta que a população de Manaus, de fato, é a mais otimista em relação à Copa do Mundo no País. Ou seja, estou aqui até falando de forma empírica, mas aquilo que falo pelo sentimento, pelo coração está aqui. O próprio Ibope fez uma pesquisa nas 12 cidades-sede e mostra que Manaus é a cidade mais otimista em relação à Copa do Mundo.
De acordo com o jornal O Globo, 53% dos moradores da capital amazonense se dizem totalmente a favor da realização da Copa no Brasil; a pesquisa realizada, entre 30 de maio e 1º de junho, ouviu mais de seis mil pessoas e os manauaras estão entre os mais otimistas, Sr. Presidente. Esse é o clima sentido na nossa cidade.
O jornal The New York Times destacou a alegria dos brasileiros com a competição e que o Brasil, pintado de verde e amarelo, vai desmentindo, diz o jornal, todas as previsões do caos, para a satisfação dos brasileiros que amam e se orgulham do seu País.
Sr. Presidente, isso que é importante: “para a satisfação dos que amam e dos que se orgulham do seu País”.
Eu repito aqui o que disse há algum tempo desta tribuna: eu passei por Dubai, juntamente com outros Srs. Senadores, vindos de uma missão à China. Paramos em Dubai para uma conexão, Senador Cristovam. Dubai inteiro está pintado da Expo 2020, porque acaba de vencer uma disputa com São Paulo, inclusive, para sediar a maior exposição do mundo, que será a Expo 2020. E até à França, em Paris, onde aconteceu e foi divulgada a escolha, foram juntos o Prefeito de São Paulo, do Partido dos Trabalhadores, e o Governador de São Paulo, do PSDB; foram juntos os Srs. Geraldo Alckmin e o Prefeito de São Paulo, para representar o Brasil. Infelizmente, não obtivemos a vitória. E digo infelizmente, porque, se tivéssemos obtido a vitória, seria mais outro ganho para o Brasil. Repito, qual o país que não gostaria de estar no lugar do Brasil? Sediar Copa e sediar Olimpíadas! Creio que do ponto de vista econômico inclusive.
Em breve, quando se encerrar este evento, os números estarão postos. Como a matemática é uma ciência exata, portanto, nela não cabem muitas observações subjetivas. É tudo extremamente objetivo: ou é, ou não é; os números falam por si. Tenho certeza e convicção de que o balanço econômico também será extremamente positivo para o Brasil, assim como tem sido para todos os países que sediaram esses eventos nos últimos tempos.
Críticas, nós temos muitas, inclusive em relação à própria FIFA. Todos nós temos muitas críticas; mas, não dá para negar que o Brasil tem tido essa capacidade de fazer...
(Soa a campainha.)
A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB-AM) - (...) o mais belo campeonato desses últimos tempos. E olhem que não sou daquelas mulheres que só assistem futebol na época de Copa do Mundo. Eu sou uma torcedora, uma admiradora desse esporte que tanto agrega sentimentos em nosso Povo e em nossa gente.
Senador Cristovam, com muito prazer, ouço o aparte de V. Exª.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT-DF) - Senadora, embora eu tenha pedido a palavra para falar sobre Chico Buarque...
A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB-AM) - Vamos lá! Chico Buarque.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT-DF) - Não; mas, antes, eu não posso deixar de falar um pouco sobre a Copa. Eu continuo achando que nós desperdiçamos energia demais para fazer esta Copa. Nunca fui dos que acharam que seria um fracasso. E, de fato, vai ser um sucesso, mas um sucesso a um custo que não estamos medindo. Eu não penso no custo financeiro, não, que, embora seja alto, é pequeno diante do PIB brasileiro. Eu falo de energia intelectual, a energia política. Há meses que a gente não fala de outra coisa a não ser da Copa e do futebol. Nós estamos às vésperas de uma eleição presidencial, e nossos candidatos estão em casa assistindo ao jogo de futebol sem dizer para o que eles querem ser candidatos. E nós, aqui, em um vazio imenso, por causa da Copa, e discutindo a Copa. Eu, inclusive, agora ao responder sua colocação. Não há conversa, hoje, em nenhum lugar deste País, há meses, que não seja a Copa, inclusive os pessimistas, os otimistas, os futebolistas, os que discutem suas táticas, os melhores jogadores... Eu continuo achando que, na história do Brasil, quando se analisar o esforço que foi feito para a realização da Copa, com todo o sucesso que ela tenha, inclusive se o Brasil for campeão, vai pesar uma avaliação séria de que o Brasil desperdiçou alguns meses de sua inteligência, de suas posições políticas para um evento esportivo da grandeza da Copa, mas que nós poderíamos não fazer agora, como eu sempre defendi, mas no ano de 2022, porque é o segundo centenário da Independência. Então, ou não fazer agora, ou fazer de uma maneira mais austera do ponto de vista do tempo. Eu continuo achando que, dando certo, como tudo indica que vai dar, eu mesmo nunca duvidei, ainda assim nós cometemos um erro de prioridades ao fazer essa Copa aqui. Uma prova disso é o que a senhora falou aí, de repente, no meio de sua fala: que o Pelé não conseguiu chegar a tempo de assistir ao jogo. Não foi por causa da Copa; é porque o trânsito em São Paulo, hoje, e em qualquer cidade grande deste País, é impossível de ser vencido. Isso é prova de um esgotamento de dois modelos que se ligam. O modelo urbano brasileiro se esgotou. Nós temos que procurar outra concepção para distribuir a população à demografia brasileira, prestigiando as menores cidades, as cidades de porte médio. E há o fracasso de uma indústria que se baseia na indústria automobilística. Não tem futuro a indústria automobilística privada; ela precisa se reorientar para produzir outras coisas, como nos Estados Unidos durante a guerra, a indústria não fez um automóvel, mas tanques de guerra. Aqui, felizmente, a gente não precisa de tanques de guerra, mas podemos fazer ônibus, ambulâncias, promover o transporte urbano. Contudo, em vez de estarmos pensando nisso, nós estamos pensando que Pelé perdeu o primeiro tempo do jogo. Na verdade, todos os dias são dezenas de milhões que perdem, mas não é o primeiro tempo do jogo: perdem o jantar com a família; perdem ao não conseguirem chegar ao hospital na hora de dar à luz; perdem ao não chegarem a tempo de visitar uma pessoa ou de namorar; perdem ao chegarem atrasados para o trabalho. E nós não estamos discutindo isso. Não estamos! E, em parte, não estamos fazendo isso porque as energias brasileiras... E eu não falo da financeira, não; eu falo dessa energia maravilhosa que é do cérebro e da militância política aqui dentro. Eu vou continuar pensando que, dando certo, como tudo indica que vai dar, mesmo assim foi um equívoco. Nem sempre equívoco leva a fracasso. Equívoco, muitas vezes, leva a sucessos num dado instante, mas o que se vê ao longo do tempo, numa análise mais cuidadosa, é que não foi uma opção correta, embora não seja equívoco. Dito isso, eu quero falar do Chico. Enquanto a senhora falava aí, eu estava me lembrando: eu creio que a nossa Pátria é a nossa geração, a nossa Pátria é o nosso País, é a nossa cidade, a nossa região, o nosso Estado, mas é também a nossa geração. E, se eu tenho orgulho da minha Pátria Brasil, eu tenho profundo orgulho é da minha pátria geração, que tem um nome como o de Chico Buarque. Chico faz 70 anos quase na mesma época que um Sebastião Salgado, que um Caetano Veloso e que alguns outros, que, de repente, não sei como a natureza fez que se concentrassem naquele 1944, de 1942 a 1946, naquele intervalo de tempo da geração dos setentinhas, ou quase ou pouco depois dos setentinhas, que eu tenho orgulho de fazer também, com poucas semanas de diferença para eles. É uma geração que me orgulha muito.
A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Eu ia registrar isso. Faltava citar V. Exª nessa geração também, Senador.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu fico muito feliz de fazer parte dessa geração, que deu não só o que o Caetano falou - porque a mudança política do Brasil não foi só com essa geração, foram outras também juntas -, mas também deram essa coisa maravilhosa que é a arte brasileira feita por eles, especialmente na área da música. Eu fico muito feliz que a senhora tenha trazido um nome que permite que eu assine um manifesto, uma menção de apoio, de congraçamento, de alegria pelos 70 anos desse, que, certamente, ficará como um dos maiores brasileiros do século XX, que é o nosso Chico Buarque.
A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Eu agradeço o aparte de V. Exª. Em relação ao que se refere a Chico Buarque, assino embaixo. V. Exª também tem a felicidade de ser de uma geração que muito deu, continua dando e contribuindo para o Brasil.
Nessa direção, quero cumprimentá-lo pela forma como V. Exª, não de agora, mas de muito, faz a crítica de forma respeitosa. Que bom que todas as críticas fossem nesse tom e nesse nível, Senador! Que bom que fossem, mas a maioria delas não é assim. A maioria delas é uma mera crítica política,...
(Soa a campainha.)
A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - ... uma crítica - eu já concluo, Senador - destrutiva, e não construtiva. Eu aprendi, desde menina, que críticas são importantes e bem-vindas, mas que todas devem ser construtivas. E V. Exª tem essa capacidade. Então, de uma forma serena, eu ouso, mais uma vez, me colocar do outro lado em relação à opinião de V. Exª, abordando, inclusive, os aspectos.
Eu concordo. Até hoje se avaliam muito as manifestações de junho do ano passado como fruto de quê? Do despertar da Copa do Mundo. Mas de quê? De um descontentamento de cidades brasileiras onde nós não somos capazes de nos mover.
Em Brasília, nesta bela cidade planejada, não se anda. Em São Paulo, a maior metrópole, uma das maiores do mundo, não se anda. Em Manaus, lá no coração da Floresta Amazônica, aonde os estrangeiros têm chegado e tomado um susto porque imaginavam que lá era selva, uma cidade de dois milhões de habitantes, também não se anda.
(Interrupção do som.)
A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - A Copa trouxe a possibilidade desse debate, em relação à prioridade ou não. Futebol, pelo povo, sempre é visto como prioridade. Em 1986, fui candidata pela primeira vez, Senador Cristovam. Fui sem saber que seria, porque eu fui comunicada na véspera pela direção do meu Partido, que me colocou candidata de um Partido que estava ilegal até um ano antes, 1985, quando nós conquistamos a legalidade. Fui candidata para ajudar a divulgar uma legenda que passou anos e anos na ilegalidade, sendo alvo dos maiores absurdos. Dizia-se, inclusive, que comunista comia criancinha. Naquela época, nós fazíamos a campanha não de três, quatro meses, era campanha de um ano inteiro. Mas na Copa nós parávamos, e não adiantava discutir nada. Fazíamos, inclusive, tabelinha da Copa para distribuir, o que não era proibido, era permitido.
Então, Copa é o que vive o povo. É óbvio que, sendo no Brasil, a polêmica é mais longa, mas a boa polêmica: a polêmica da educação, a polêmica da saúde, a polêmica do despertar.
V. Exª fala do modal de transporte. Precisamos, sim, debater. Aliás, o vice-presidente norte-americano está no Brasil, veio assistir ao jogo da Copa do Mundo. Esteve com a Presidenta Dilma e disse que, além de falar de espionagem, um monte de coisas, vai abrir os arquivos da época da ditadura. Mas tem que abrir muito mais, porque muito do modelo da nossa economia vai por conta de uma imposição norte-americana, inclusive o modal rodoviário e não ferroviário, que é o que deveríamos ter. Mas, enfim, acho que a Copa traz este debate. Não só o debate, traz também a possibilidade de algumas saídas.
Então, agradeço muito o aparte e, mesmo sendo discordante do meu pensamento, incorporo-o plenamente ao meu pronunciamento.
Aqui venho para expressar a alegria daqueles que vivem lá no meio da floresta, que não são reconhecidos, nem no Brasil nem no mundo, e agora começam a ser vistos e, por isso, também a ser reconhecidos.
Parabéns a Manaus. Parabéns à nossa gente pelo belo espetáculo que está dando ao mundo inteiro, organizando muito bem a Copa do Mundo. A arena Amazônia lá estará, não só para shows, mas também para futebol e, quem sabe, para ajudar a desenvolver o nosso futebol também. Temos muitas indústrias - Samsung, Sony -, todas fabricam lá, todas ajudam o futebol de São Paulo. Vamos começar a ajudar também o futebol lá do nosso Estado, do Estado do Amazonas e de toda a Região Norte.
Obrigada, Presidente.