Discurso durante a 105ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Expectativa com a apresentação das propostas políticas dos Presidenciáveis.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA, ELEIÇÕES.:
  • Expectativa com a apresentação das propostas políticas dos Presidenciáveis.
Publicação
Publicação no DSF de 19/07/2014 - Página 130
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA, ELEIÇÕES.
Indexação
  • EXPECTATIVA, REFERENCIA, APRESENTAÇÃO, PROPOSTA, POLITICA, OBJETIVO, CONCORRENCIA, ELEIÇÕES, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, IMPORTANCIA, CRIAÇÃO, PROJETO, RELAÇÃO, FUTURO, POPULAÇÃO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, em primeiro lugar, meu agradecimento, minha gratidão ao Senador Mozarildo, como sempre, muito solidário toda vez que a gente precisa. Eu tenho um evento fora daqui agora.

            Mas, Senador, quero continuar o que venho falando nos últimos dias desta semana, que é da minha expectativa de que algum ou alguns dos candidatos a Presidente tragam para nós as propostas que eles têm para apenas dois problemas: para as perdas que o Brasil sofre todos os dias, todos os anos, numa sociedade desorganizada e para uma melhoria da qualidade de vida do brasileiro no presente e no futuro. É só isso.

            Eu citei aqui diversas perdas que nós temos sofrido todos os dias: perda de algumas crianças que nascem e não sobrevivem, das que sobrevivem e não terminam o ensino médio, das que terminam, mas não têm um bom ensino técnico que lhes permita ter um emprego, perda de assassinados, perda de mortos no trânsito, as diversas perdas que este País sofre, inclusive ontem, a perda do não crescimento do Produto Interno Bruto.

            Este ano, Senador Ruben, nós vamos perder R$200 bilhões, que é o que teríamos a mais se crescêssemos os 4% que, historicamente, o Brasil cresce em vez de 1,5%, que é o que vai crescer. São R$200 bilhões! Mil reais para cada brasileiro naquele ano! Cada brasileiro tem uma perda de R$1.000,00 este ano. Qual é o Presidente que está dizendo que vai parar essa perda?

            Eu quero continuar essa conversa e quero falar da perda de algo que, embora seja mais abstrato, é mais importante: a perda do futuro. Nós estamos jogando fora o futuro, não o futuro do ponto de vista da existência do Brasil, mas o futuro do ponto de vista da existência de um país eficiente na economia e harmônico na sociedade. Estamos perdendo. Esse futuro está-se esvaindo. O futuro está se esvaindo.

            Diz-se que o Brasil é um país de futuro. Era um país de futuro. Como ele está agora, não é um país de futuro, porque ele está se esvaindo. E a melhor maneira, Senador Ruben, de mostrar isso visualmente, de você ver o futuro do Brasil indo embora é olhando para a escola dele hoje. O futuro de um país tem a cara da escola pública do presente. Olhe para uma escola hoje e você vê o futuro do Brasil. E não é bonito. Não é bonito. Basta a gente ver, como a gente vê pela televisão todos os dias, as dificuldades em cada Estado deste País. O futuro do Brasil tem a cara de nossa escola pública no presente. Logo, o futuro do Brasil não tem uma cara bonita. E eu não vejo um candidato a Presidente dizendo que vai barrar a perda do futuro que nós estamos sofrendo, porque eles estão falando para o presente. Eles não estão olhando para o futuro.

            Imaginem se Juscelino, em vez de falar dos 50 anos em 5, tivesse dito “hoje eu vou tapar os buracos das ruas”. Não, ele disse “eu vou construir uma indústria automobilística”. Ele olhou lá na frente. Hoje a gente tem que dizer: vai substituir a indústria automobilística. Por quê? Porque não dá para continuar baseando o transporte público na solução privada do transporte. Esgotou! Esgotou! Acabou! E quem é que está propondo o pós-automóvel? Não é parar as indústrias; é não basear o transporte urbano no automóvel. Nós não temos como ter um futuro pensando apenas no presente.

            Hoje, de manhã, eu ouvi um candidato a Presidente, um dos que eu mais respeito, dizer uma frase que é uma espécie de, como se diz por aí, mantra, uma frase repetida para atender ao presente. Todos os eleitores que assistiram devem ter gostado do que ouviram dele, embora ele seja um dos candidatos pequenininhos, daqueles que nem recebem da mídia o apoio que deveriam receber. Ele disse: “Minha proposta é descentralização. Mais Brasil e menos Brasília”. Vejam que bela frase.

            Agora, eu pergunto: Vai parar o Mais Médicos? O Mais Médicos é um programa federal. Vai deixar que cada cidade se vire com seus médicos? Vai parar o programa dos livros didáticos? Quer dizer, cada cidade vai ter que fazer seus livros? Vai parar a merenda escolar? Cada cidade vai ter que fazer a merenda escolar para suas crianças e que se virar com o dinheiro que tem? Vai parar o Fundeb, que compensa apenas um pouquinho, mas compensa, a pobreza dos Municípios na hora de fazer certos gastos escolares?

            Ninguém pensa em dizer “mais Brasil e menos Brasília”, que devemos acabar com a Polícia Federal, que cada cidade vai ter sua polícia municipal. A gente não fala em acabar com a Justiça Federal, a gente não fala em acabar com o Banco Central, que cada Estado deve ter o seu Banco Central, como, aliás, até aconteceu por certo tempo nos Estados Unidos. Ninguém fala nisso.

            Senador Ruben Figueiró, quando um banco ameaça quebrar, o Brasil intervém e salva o banco, para que ninguém que tinha dinheiro ali perca dinheiro. Agora, as escolas quebram e a gente quer deixar isso na conta da própria cidade e, na verdade, do futuro das pobres crianças. Ou seja, é um discurso voltado para o presente. O futuro está morrendo, está se esvaindo. Ele já nem aparece nos discursos dos candidatos por medo de perderem votos, porque eles vão falar do futuro quando o eleitor quer resolver seu problema de hoje. Até podem resolver seu problema de hoje, mas sem sacrificar o futuro do País, sem sacrificar o futuro do País. Imaginem este País em guerra e cada um querer salvar apenas sua própria vida, não se importando com o País. O País está em guerra! O Brasil está em guerra, gente! Será que a gente não percebe que o quadro social que a gente vive é um quadro de guerra? E não falo só da guerra dos 50 mil mortos por homicídio, pois 50 mil mortos por ano já é um quadro de raras guerras no mundo; falo da guerra da desestruturação, da guerra do presente contra o futuro, da guerra dos excluídos contra os incluídos, da guerra, como o Senador Paim falou há pouco, dos que têm trabalho formal contra os que têm trabalho informal. Isso é uma guerra! Não sai sangue? Sai sangue, o sangue de não ter quem o atenda quando ele precisa de saúde, de não ter o seu filho numa boa escola.

            Estamos em guerra e não vemos nenhum dos candidatos falando em futuro, em enfrentar essa guerra. Precisamos, a meu ver, revisar muito o nosso processo de debate com os candidatos. Alguém falou aqui, esta semana - se não me engano foi o Senador Luiz Henrique -, que o marketing matou a política. O que a gente tem no processo eleitoral é o seguinte: um grupo de técnicos fazendo uma pesquisa do humor do eleitor e dizendo o que é preciso ser dito. O “marqueteiro” diz quais as palavras a serem usadas e qual a cor da gravata na hora de falar.

            E a política? Onde está a política, que é buscar o bem-estar não só dos de hoje, mas dos de amanhã, do longo prazo, até do próximo século. Onde está essa política? Essa política morreu, e com ela está morrendo o futuro do Brasil.

            Eu quero ver um candidato que diga que vai barrar a morte do futuro, como vai barrar tudo aquilo que representa uma perda, que está fazendo com que este País se esvaia, suma, deixando de ser a Nação cujos recursos permitem plenamente de ser: os recursos naturais e os recursos humanos. Só que os recursos naturais têm que ser protegidos para servir também ao futuro e os recursos humanos têm que ser desenvolvidos, por meio da escola, por meio da saúde, para sobreviver, da escola para avançar, para servirem como verdadeiros instrumentos e beneficiários do progresso do País. Está faltando o futuro nos discursos dos nossos candidatos a Presidente.

            Eu espero ter tempo, nas próximas semanas, para vir aqui e dizer que eu estava errado e não ouvi alguns dos discursos ou que eu estava certo, mas eles mudaram e passaram a ver que o futuro está morrendo. Quem faz a sobrevivência do futuro são os líderes do País. E não há ninguém mais líder do que quem quer ser Presidente da República, pelo menos não deveria haver ninguém mais líder do que quem quer ser presidente de um país, mas Presidente de um país não só para cuidar das coisinhas de hoje, mas também para dizer como vai construir um futuro para a nossa Nação.

            Vamos parar, entre tantas outras coisas de que eu venho falando aqui, vamos parar também a morte do futuro. Vamos parar a perda do futuro do Brasil que nós estamos tendo.

            É isto, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/07/2014 - Página 130