Discurso durante a 111ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apoio à posição do governo brasileiro em relação às ações do governo de Israel e críticas aos ataques direcionados à Palestina.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Apoio à posição do governo brasileiro em relação às ações do governo de Israel e críticas aos ataques direcionados à Palestina.
Aparteantes
Fleury.
Publicação
Publicação no DSF de 31/07/2014 - Página 14
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • APOIO, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, CRITICA, GOVERNO ESTRANGEIRO, ISRAEL, MOTIVO, CONFLITO, PAIS ESTRANGEIRO, PALESTINA.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu quero aproveitar este momento para fazer uma manifestação sobre a posição tomada pelo Governo da Presidenta Dilma, que levou o Governo de Israel a dizer que o Brasil era um anão diplomático.

            Eu creio que nós todos que temos profundo respeito pelo povo judeu, que temos amigos - e alguns dos mais próximos amigos são judeus -, que vemos a aventura da implantação do Estado de Israel como uma das epopéias do século XX, que admiram o trabalho de todos aqueles que, a partir do século XIX, começaram a sonhar com a ideia de um lugar onde o povo judeu se reuniria no seu Estado, todos nós que admiramos tanto a educação que, no Estado de Israel, é, se não a melhor, das melhores do mundo, todos nós que vemos a lista de prêmios Nobel e percebemos que nenhum povo tem um número tão grande quanto o povo judeu, todos nós sentimos dificuldade em nos manifestarmos como devemos diante do que acontece hoje em Gaza.

            Não é fácil, pelo respeito que nós temos por aqueles que estão cometendo esses fatos - respeito, aliás, não pelos que estão cometendo; respeito pelo povo do qual eles fazem parte. Falei disso, porque eu sou de uma geração, Senador Tião, em que nós tínhamos receio de criticar os crimes de Stalin, com medo de sermos acusados de anticomunistas, de agentes da CIA. Hoje, há muitos que têm receio de se pronunciarem sobre o que acontece em Gaza, com medo de serem acusados de serem anti o povo judeu, anti o Estado de Israel e antissemita, mas nós não temos o direito de ficarmos com esse medo. Nós temos que manifestar com clareza o nosso respeito e admiração e o direito de Israel existir. Nós temos que manifestar, sim, dizendo que jogar foguetes indiscriminadamente contra Israel é um ato terrorista, que deve ser combatido. Agora, não podemos deixar de dizer, de manifestar, não podemos nos calar diante do fato de que a maneira como se está tentando acabar com alguns terroristas é destruindo um povo inteiro. Isso a gente não pode deixar de falar. Não pode deixar de manifestar a nossa tristeza ao ver mais de mil civis mortos, dos quais uma percentagem grande são mulheres e crianças. Ou a gente diria que há uma incompetência muito grande na maneira como estão atrás de alguns terroristas, matando o povo, ou há uma insensibilidade moral muito grande na maneira como as Forças Armadas de Israel estão sendo usadas.

            Eu creio que a Presidenta Dilma fez correto o fato de chamar o nosso Embaixador, para manifestar o nosso descontentamento com a maneira como essa guerra está sendo feita, sem deixar de ter dito que Israel tem direito de existir, inclusive de se defender contra atos terroristas que venham de fora ou de dentro do próprio território. Mas, em nenhuma hipótese, podemos fechar os olhos à maneira como isso está sendo feito, à maneira de destruição sistemática de casas, de central, a única, de energia elétrica. O fim da energia elétrica em uma cidade gera consequências dramáticas nos hospitais, fecha as escolas, as pessoas perdem seus alimentos. E isso está sendo feito. E isso merece que se tome posição. Não dá para ficarmos com receio, por causa do respeito que temos a muitas pessoas, por causa das ameaças de sermos acusados daquilo que não somos, e ficarmos calados.

            Eu creio que a Presidenta Dilma tomou a posição correta ao manifestar o seu descontentamento em nome dos brasileiros. Ela falou em meu nome também.

            Nem sempre a gente tem a coragem de assumir posições que contrariam até tendências à história de cada um de nós, mas há momentos em que não podemos deixar passar. Neste momento, o que está sendo feito em Gaza é um crime de proporções que não podem ser toleradas pelo silêncio.

            Além disso, nós todos que desejamos, que sonhamos, que reconhecemos e respeitamos o Estado de Israel, temos o direito de manifestar a nossa ideia de que essa é uma maneira equivocada de defender o Estado de Israel nas próximas décadas, séculos e até milênios. Porque, diferentes de nós, brasileiros, que temos uns poucos séculos, o povo judeu conta a sua história em milênios. Não é o melhor caminho de assegurar a paz pelos milênios seguintes destruindo Gaza. Não vai dar certo.

            Mesmo que houvesse a solução final de matar todos que ali estão, outros virão. Senão dali, do ao redor, espalhados onde eles estão. Outros foguetes serão construídos, a não ser que se construa a paz. O futuro de Israel não se constrói na escuridão em que está vivendo Gaza nesse momento. A escuridão em Gaza não constrói o futuro de Israel.

            O Sr. Fleury (Bloco Minoria/DEM - GO) - Um aparte, Senador.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Por isso, eu creio que é preciso nos manifestarmos. A nossa defesa do Estado de Israel, a nossa crítica ao uso de foguetes contra o território de Israel. Sejam quais forem as desculpas que tenham, não é esse o caminho. Isso é terrorismo. Mas também nos manifestarmos, a tristeza, o sofrimento diante de mais de mil mortos civis, diante de quantas crianças aí estão mortas? E quantas traumatizadas pelo resto da vida? E quantas servirão, pelo traumatismo que vivem, como soldados da guerra, inclusive terroristas?

            Nós, a meu ver, temos que nos manifestar sobre isso. E, por isso, eu venho aqui deixar claro o meu apoio à posição da Presidenta Dilma, a quem eu tenho feito tantas críticas em muitos momentos. Fica registrada a minha posição porque eu não quero que passe para o futuro que eu fiquei calado diante do meu sentimento de que aquilo não está compatível com o espírito humanista do povo judeu. E mesmo com o humanismo que está por trás da ideia de surgimento e de instalação do Estado de Israel.

            Era isso, Sr. Presidente, mas eu quero passar a palavra ao Senador Fleury, que pediu um aparte.

            O Sr. Fleury (Bloco Minoria/DEM - GO) - Senador, V. Exª, que é considerado o homem da educação neste País, sabe a indignação que pode ter todo o mundo vendo essa guerra. Guerra não é para quem tem educação. E acho que as palavras de V. Exª cabem e têm legitimidade. Nós pedimos a quem for que não falemos mais em guerra. Nós temos países na América Central em que não existe Exército. Estamos gastando agora um absurdo com aviões para a guerra. Se o dinheiro de um desses aviões fosse para a escola, tenho certeza de que cada Estado teria grandes escolas, no padrão que V. Exª sempre lutou para que tivesse este País. Muito obrigado pelo aparte.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu que agradeço, Senador Fleury.

            E era esse o pronunciamento que eu queria fazer, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/07/2014 - Página 14