Discurso durante a 103ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à Presidente Dilma Rousseff e à sua gestão no Governo Federal.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Críticas à Presidente Dilma Rousseff e à sua gestão no Governo Federal.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 17/07/2014 - Página 505
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RELAÇÃO, GESTÃO, ECONOMIA NACIONAL, ELOGIO, CONSCIENTIZAÇÃO, POLITICA, POVO, BRASIL, PERIODO, REALIZAÇÃO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, LOCAL.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco Minoria/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Jorge Viana.

            Srªs e Srs. Senadores, aqueles que nos acompanham pelo Sistema de Comunicação do Senado, senhoras e senhores, eu me sinto na obrigação de me manifestar, especialmente depois de ouvir, ao longo desta semana e da semana passada, tantos e tantos Senadores dizendo dos pessimistas de plantão etc., etc., e, assim, também rebater algumas das críticas que foram feitas aos nossos partidos.

            É inacreditável como a Presidente Dilma não perde qualquer oportunidade para ficar bem na fita. Não faz nem duas semanas, estava colada na imagem do agora ex-técnico da seleção brasileira, dizendo que o governo dela tinha "padrão Felipão". Já que o sonho do hexa não se realizou e o Felipão caiu na boca do povo, ela resolveu tirar proveito da nota que o Presidente da FIFA deu à Copa do Brasil.

            Em entrevista à rede Al Jazeera, ela não se conteve e pediu mais um mandato ao povo brasileiro.

            Francamente, se tem alguém merecedor de nota máxima nesta Copa é o povo brasileiro, que assumiu a responsabilidade de receber, com hospitalidade e carinho, turistas de todas as partes do mundo. Mais do que isso: o cidadão compreendeu a necessidade de separar as questões internas do Brasil de um evento do porte da Copa do Mundo. O cidadão vaiou a Presidente em todas as aparições nos estádios, mas soube aplaudir e reconhecer o mérito da seleção alemã pela conquista do tetra. Condeno a vaia, mas a capacidade de separar as coisas é uma demonstração clara da maturidade política e crítica do brasileiro.

            E, por favor, não me venha o ex-presidente Lula tentar rotular os torcedores como "elite branca". Aliás, gostaria de perguntar a Lula, com essa pompa toda que ele ostenta, a que classe ele pertence. Essa tentativa de dividir o povo brasileiro é infame e inoportuna; é “forçar muito a barra!” Mostra que Lula não consegue mais compreender o Brasil pós-protesto.

            A questão da Copa, como todas as outras da agenda nacional, não pode ser vista por uma ótica distorcida e monocular que insiste em dividir todos entre otimistas e pessimistas.

            Nós, da oposição, temos de reconhecer que a Copa do Mundo saiu bem acima do esperado, sobretudo com tantas obras inacabadas. Reconhecemos que os jogos transcorreram com tranquilidade e segurança. Mas nossas críticas não foram infundadas. Com certeza, tiveram um papel de extrema importância para forçar o governo a, pelo menos, cumprir o mínimo necessário para não passarmos vexame.

            O Mundial chegou ao fim com uma herança de 23 obras por fazer, todas parte da Matriz de Responsabilidades da Copa, documento assinado pela primeira vez em 2010, mas alterado depois.

            Tiveram custo inicial de R$8,8 bilhões, mas o preço atualizado já chega aos R$11 bilhões - 25% a mais.

            São obras consideradas pelo governo como ações "que já seriam necessárias" e que deveriam ter sido "antecipadas e priorizadas" para o Mundial.

            Nessa lista, destacam-se, por exemplo, a ampliação do terminal de passageiros do aeroporto de São José dos Pinhais, que atende Curitiba, assim como a de outros sete aeroportos: Confins, Cuiabá, Fortaleza, Galeão, Manaus, Porto Alegre e Salvador.

            Portanto, Senhora Presidente, todas as questões que foram colocadas pela oposição permanecem atuais e merecedoras de respostas objetivas da parte do governo.

            Quanto se gastou com a Copa e qual o valor do superfaturamento resultante do Regime Diferenciado de Contratação?

            Qual o verdadeiro percentual de dinheiro público que foi colocado na Copa do Mundo?

            Por que o Brasil deu isenção tributária à FIFA, que, de acordo com o TCU, deve chegar a mais de R$1 bilhão?

            Há medo, por parte do governo, de que o cidadão descubra que Lula não disse a verdade quando, em 2007, prometeu que a Copa seria realizada com dinheiro exclusivo da iniciativa privada?

            Qual é o legado, de fato, deixado por um evento que consumiu bilhões de dólares em estádios superfaturados, como o de Brasília?

            Qual é o legado das doze sedes que jamais conseguirão lotar os estádios, mesmo que reúnam o público presente de todas as partidas de futebol durante um ano?

            Essas questões, Srªs e Srs. Senadores, não podem ser empurradas para baixo do tapete; não podem ser tratadas como se o eleitor brasileiro fosse bobo e pudesse ser enganado com manobras de marketing político para promover a reeleição da Presidente Dilma.

            Como é que uma presidente, com o mínimo de transparência e responsabilidade, tem a coragem de dizer a uma rede internacional de TV que o Brasil entrará em um novo ciclo de crescimento, independentemente da economia mundial?

            Nós queremos que isso aconteça, porque o crescimento da economia, o pleno emprego, a produtividade e a competitividade se colocam como questões de Estado, acima dos interesses políticos.

            A Presidente Dilma diz que tem tomado as medidas para entrar nesse sonhado novo ciclo de crescimento. Só uma coisa ela não diz: que medidas são essas. Muito menos reconhece que o seu desgoverno tem colocado em risco a estabilidade econômica, uma das maiores conquistas do povo brasileiro na história recente do País. Ela jamais vai reconhecer que um país sério e com um mínimo de gestão governamental não pode ter 39 ministérios, com milhares de cargos comissionados.

            No campo econômico, nenhuma previsão do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, ou do Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tem credibilidade. Praticamente todas as previsões erraram feio, porque estavam contaminadas pela falta de racionalidade, característica típica da atual equipe econômica.

            A triste verdade é que, sob o comando do PT, o Brasil está a um passo do abismo. Basta ver os números da nossa economia para qualquer brasileiro compreender que, com mais quatro anos deste Governo, teremos novas décadas perdidas.

            O Brasil encontra-se num quadro de inflação crescente, baixíssimo crescimento econômico e desequilíbrio das contas públicas. Há muito, nenhuma autoridade do Governo fala do centro da meta da inflação. Os 4,5% caíram no esquecimento. E vejam, Srªs e Srs. Senadores, que esse percentual já pode ser considerado uma meta alta para um país que almeja estabilidade econômica. Com 6,52% até junho, a alta de preços acumulada em 12 meses furou com um mês de antecedência o teto da meta. Há previsões de que, até setembro, cheguemos a 6,8%.

            O PIB, por sua vez, segue com previsões cada vez mais próximas de mísero 1%.

            A balança comercial registra déficit de US$240 milhões na segunda semana de julho. O déficit acumulado desde janeiro é de US$1,4 bilhão.

            O fato é que, hoje, o Brasil mergulha num quadro de estagnação econômica, combinada com uma inflação que tende a extrapolar a meta, sobretudo quando os aumentos das tarifas públicas acontecerem.

            Volto a dizer: a condução econômica do País é um fracasso!

            A razão mais importante para tudo isso é o mau estado das contas públicas. O Governo poderá maquiar seu balanço e tentar disfarçar o fracasso em relação à meta fiscal definida para o ano, mas isso, de nenhum modo, reduzirá as pressões inflacionárias.

            Pelo andar da carruagem, os excessos nos gastos públicos vão continuar de forma irresponsável e reforçados pelos interesses eleitorais.

            Capitaneado por Dilma, Guido Mantega vai continuar com a péssima fórmula de incentivos setoriais que não têm qualquer efeito duradouro sobre a economia.

            Srªs e Srs. Senadores, é hora de voltarmos para a realidade brasileira e discutirmos com responsabilidade as propostas para o futuro do País.

            Ninguém, no Brasil, aceita esta política econômica tolerante com a inflação.

            O Brasil quer reformas que o reconduzam ao caminho da estabilidade econômica e ao crescimento sustentável e duradouro. Isso significa necessariamente redesenhar o sistema tributário, rever o Pacto Federativo nas competências e atribuições e incentivar o empreendedorismo no mais amplo sentido.

            O Governo da Presidenta Dilma, que insiste em ser interventor, burocrático e lento, não condiz com o atual estágio de desenvolvimento do Brasil, tampouco com o potencial de nossa força produtiva.

            O brasileiro está farto de manobras de marketing para promover a Presidenta a qualquer custo.

            O brasileiro quer discutir propostas e alternativas para o desenvolvimento e a construção de um Brasil mais justo e cidadão.

            O eleitor quer definir o caminho para um país livre da violência e com uma saúde e uma educação capazes de garantir o futuro das novas gerações.

            Muito obrigado.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Permite-me um aparte, Senador Cyro Nogueira?

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Maioria/PP - RS) - Cyro Miranda

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Cyro Miranda. Desculpe-me. Às vezes, a gente se equivoca, pois há dois Cyros aqui dentro. Se permite, Senador Cyro Miranda, com todo o respeito a V. Exª...

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco Minoria/PSDB - GO) - Pois não.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Gostaria de ponderar que V. Exª deixou de assinalar alguns dados importantes. No caminho para cá, na Rádio CBN, ouvi que a taxa de inflação no último mês mostrou-se negativa. Portanto, há um progresso e o Governo brasileiro vai cumprir, até o final do ano, o objetivo de estar dentro do Plano de Metas, ou seja, no máximo 6,5%. Mas é possível que, com este último resultado, haja uma melhoria significativa. V. Exª, que tem consciência de que, se no ano de 1996, por exemplo, estávamos com o coeficiente de Gini acima de 0,601, que nos colocava dentre os três países mais desiguais do mundo e que houve uma ligeira melhora até 2002, quando estávamos com cerca de 0,59. Mas, todos os anos, de 2002 até 2012, que foi o último ano para o qual o IBGE disponibilizou o coeficiente de Gini, esse estava um pouco acima de 0,51. Todos os anos, houve uma melhoria significativa na direção de maior igualdade e diminuição muito acentuada da pobreza extrema, da pobreza absoluta. Eu tenho a minha convicção pessoal de que a Presidenta Dilma, dentro das circunstâncias da crise internacional que afetou todos os países, conseguiu um resultado muito positivo, particularmente no que diz respeito à melhoria contínua da massa de salários, do salário real. E mais do isso: também a taxa de desemprego, neste ano, tem sido a menor desde quando o IBGE passou a registrá-la. Então, proponho a V. Exª, com todo carinho e respeito, querido Senador, que leve em conta, também, esses dados. Na segunda-feira última, eu resolvi fazer uma visita a um economista de quem muito fui crítico quando foi Ministro da Fazenda e do Planejamento, mas que é considerado um grande economista, que escreve nos jornais brasileiros e nas revistas, o Prof. Antonio Delfim Netto, e fiquei impressionado quando ele me disse: “Eu tenho muita admiração pela Presidenta Dilma Rousseff. Ela não admite qualquer malfeito, qualquer desonestidade; sempre toma providências. E eu quero muito ajudá-la na sua reeleição.” Nesse propósito, eu sou inteiramente de acordo. Prezado Senador Cyro, V. Exª ajudará o seu candidato Aécio Neves - e eu tenho muita estima e respeito pelo Senador Aécio Neves -, mas eu vou batalhar muito pela eleição da nossa querida Presidenta Dilma Rousseff. Nós vamos continuar neste diálogo, mas eu faço questão de inserir alguns dados verdadeiros no seu pronunciamento. Muito obrigado, com todo carinho e respeito.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco Minoria/PSDB - GO) - Senador Suplicy, a quem eu também tenho carinho e respeito, inclusive como professor da Fundação Getúlio Vargas, mas eu tenho uma coisa que me diz que, contra fatos, não há argumentos. Os números estão aí à disposição. São números do IBGE, são números fornecidos por economistas. A situação, nos últimos quatro anos, se agravou. Nós estamos entrando num declínio. Tudo aquilo que foi capitalizado desde o Plano Real aos primeiros anos do Presidente Lula, nós estamos agora em uma trajetória inversa. Então, contra fatos, não há argumentos; quanto aos números apresentados, eu não posso discutir, é o que tenho através da mídia. Ou todos nós estamos na contramão.

            Obrigado, Senadora Ana Amélia, pelo carinho do tempo extra.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/07/2014 - Página 505