Comunicação inadiável durante a 113ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Indignação com o suposto acesso antecipado, por parte de dirigentes da Petrobras, a perguntas que seriam feitas na CPI da estatal.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS).:
  • Indignação com o suposto acesso antecipado, por parte de dirigentes da Petrobras, a perguntas que seriam feitas na CPI da estatal.
Aparteantes
Fleury.
Publicação
Publicação no DSF de 05/08/2014 - Página 59
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS).
Indexação
  • REPUDIO, POSSIBILIDADE, FORNECIMENTO, INFORMAÇÃO CONFIDENCIAL, BENEFICIO, DIRIGENTE, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), SOLICITAÇÃO, ABERTURA, OBJETIVO, INQUERITO, INVESTIGAÇÃO, MATERIA.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, eu sou um desses políticos que continua, queira ou não queira - e eu quero -, com o carimbo de sua profissão: eu sou professor. E quero dizer que, entre nós professores, na vida pessoal, pode-se cometer crimes mais graves, mas, na vida profissional, nenhum crime é mais grave do que o professor entregar ao seu aluno os quesitos da prova que ele vai apresentar e, ainda, dar o gabarito.

            Senador Ruben, foi isso que foi feito, se forem confirmadas as informações da revista Veja, durante a CPI da Petrobras. Como político, claro que eu fiquei indignado ao ver essa brincadeira com uma coisa tão séria como é a Petrobras, tão séria como é o Congresso Nacional. Mas, talvez por um desvio profissional, eu considero que essa foi uma das maiores desmoralizações já feitas aqui no Congresso.

            Eu já disse aqui, não faz muito, que nós já perdemos as gorduras que tínhamos de credibilidade na opinião pública. Mas parece incrível que, cada vez mais, apesar de estarmos esquálidos, famintos, sem credibilidade, ainda conseguem arrancar um pouco mais e um muito mais da nossa pouca credibilidade.

            O que foi feito foi dizer: “Nós temos uma arrogância tal, nós temos um poder tal que nós podemos brincar com as coisas.”

            Eu, além de professor, fui reitor da universidade e digo com toda a satisfação que um dos pontos de orgulho meu foi a demissão de um professor que, em um primeiro momento, desconfiou-se e o inquérito comprovou que ele tinha facilitado informações a um aluno da prova que daria no dia seguinte. Foi demitido.

            E a gente não viu ainda ninguém falar em demissão daqueles que fizeram o mesmo com a CPI da Petrobras.

            Eu quero deixar claro que me incomoda o silêncio que o Senador Renan Calheiros tem mantido a respeito desse assunto.

            Eu nem vou dizer que saiamos já dizendo que tudo é verdade, mas temos que dizer que tudo parece verdade. E apuremos. Mas a nossa credibilidade hoje é tão pequena que, se nós formos apurar entre nós, o povo não vai acreditar.

            O Sr. Fleury (Bloco Minoria/DEM - GO) - Senador.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Se nós passamos as informações das perguntas e das respostas a funcionários de outra instituição, que é a Petrobras, imaginem na hora de fazermos inquérito em relação aos nossos próprios colegas da Casa. Alguém acredita que não serão dadas para eles as perguntas e já as respostas que a gente quer ouvir? Alguém acreditará nisso? Não.

            Sou um dos que mais combatem a judicialização da política brasileira. Cada vez mais, a justiça está intervindo na Casa do povo. Mas, hoje, eu tenho que confessar que a casa do povo não tem autoridade, diante da opinião pública, para apurar uma desconfiança que passa sobre a Casa do povo. Talvez tenhamos que pedir que, de fora, haja um inquérito para apurar se, de fato, os nossos colegas Senadores da CPI do Petrobras fizeram o que fez aquele professor que demiti quando reitor, há anos, por ter passado informação relacionada a uma prova que seu aluno seria submetido.

            Eu não posso imaginar que fiquemos calados, não tomemos medidas depois dessas acusações. Eu não posso imaginar as consequências disso para a Petrobras, porque o mercado inteiro fica sabendo disso. Se passaram informações para a Petrobras, para os diretores da Petrobras, do que seria perguntado na CPI, imagine o que vão passar para eles na hora de discutir quem é que ganha uma licitação onde estão centenas de milhões de reais em jogo! Vão passar sim! O que fizeram ali confirma ainda mais as desconfianças de que existe manipulação na hora de fazer as licitações, porque, se se passa informação em relação a uma pergunta que vai ser feita na CPI, certamente passarão informações em relação aos quesitos das licitações.

            Nós não podemos ficar quietos diante disso. A opinião pública exige que saibamos o que aconteceu e que punamos aqueles “professores” - entre aspas - que passaram as informações das provas para os alunos.

            Senador, por favor.

            O Sr. Fleury (Bloco Minoria/DEM - GO) - Senador Cristovam Buarque, eu aprendi desde menino - como eu disse em meu primeiro pronunciamento, sou um homem do campo -, aprendi com meu avô que quem rouba uma caixa de fósforos ou o cofre da Petrobras tem o mesmo nome. Agora, precisamos ir atrás, profundamente, para saber com quem está o cofre da Petrobras. Isso é uma indignação popular, desta Casa e de todos nós Senadores que lutam pela dignidade e pelo o que é sério. Nós temos que apurar, nesta CPI, urgentemente, os homens que pegaram o cofre da Petrobras. Obrigado pelo aparte.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu estou totalmente de acordo. Esse é o papel da CPI. Mas, agora, nós temos mais um problema: não é só quem tem a chave do cofre da Petrobras; é quem tem a chave das perguntas a serem feitas na CPI. Quem é que tem essas chaves? Quem é que preparou esses gabaritos? Quem é que manipulou uma instituição que a opinião pública olhava? Isso é um desprezo pela opinião pública raramente visto em um processo democrático, em qualquer lugar. Brincar com a opinião pública, que estava de olho, querendo saber. Sem falar, como V. Exª mesmo disse, da importância da Petrobras ser bem gerida. É um patrimônio nacional, é um patrimônio histórico. E nós estamos brincando com tudo isso. Prova da arrogância de quem fica muito tempo no poder e se vicia tanto no poder que acha que não tem nada mais fora desse grupo e, ao mesmo tempo, que tem todo direito do mundo de fazer tudo o que for preciso para continuar no poder. Essa é a realidade.

            Não é por acaso que a democracia, para sobreviver, precisa tanto de alternância, para quebrar os vícios.

            O que se fez, se confirmadas as matérias - eu creio que eu não tenho maneira de dizer que é verdade, mas que estão bem fundamentadas, que trazem a possibilidade de suspeita muito forte, sim -, nós temos que apurar, porque, se não fizermos isso, a opinião pública vai olhar para nós como uma Casa de deboche, como uma Casa de brincadeira.

            Nós precisamos disso, e isso tem que começar pelo Presidente Renan Calheiros, que eu, pelo menos, não tomei conhecimento de ter se pronunciado sobre o assunto.

            Sinceramente, Senador Ruben Figueiró, ele devia ter enviado uma circular para cada um de nós, como Senadores que somos, e para os Deputados também, porque ele é Presidente do Congresso, dizendo a sua posição em relação a essas matérias e propor a esta Casa o que fazer diante disso. Não fazer isso é não estar cumprindo claramente o seu papel de Presidente, de zelador da seriedade desta Casa.

            É isso, Sr. Presidente, esperando que o Presidente Renan Calheiros, ainda hoje ou amanhã, mostre que é o nosso Presidente e que, como nosso Presidente eleito aqui com os votos da maioria, zela por esta Casa e, a partir do zelo por esta Casa, cumpre o papel de zelar pela democracia, aproveitando a democracia para sabermos o que estão fazendo com a nossa Petrobras.

            É isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/08/2014 - Página 59