Comunicação inadiável durante a 31ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio à continuidade das manifestações sociais.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Apoio à continuidade das manifestações sociais.
Publicação
Publicação no DSF de 19/03/2015 - Página 357
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • APOIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, OBJETIVO, REIVINDICAÇÃO, MELHORIA, ADMINISTRAÇÃO FEDERAL, CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, AUMENTO, PREÇO, ENERGIA ELETRICA, COMBUSTIVEL, CORTE, GASTOS PUBLICOS, EDUCAÇÃO, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), DEFESA, NECESSIDADE, REDUÇÃO, CARGO EM COMISSÃO, MINISTERIOS, INVESTIMENTO, ESTRADA.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Telmário, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, é assustadora a percepção que nós temos da falta de percepção que as autoridades têm da gravidade do momento que atravessamos, mas também é preocupante como as forças de oposição talvez não estejam ainda conscientes da gravidade do momento que nós atravessamos.

            Nas democracias o povo só vai às ruas quando tem um descontentamento muito forte com o governo e também quando tem uma desconfiança com as propostas da oposição. O povo não deixa de ir para a sua praia, para a sua família, para as suas diversões, os seus estudos, trabalhos para ir para a rua sem uma razão muito forte.

            A razão é um descontentamento com o poder, mas é também uma descrença em quem deveria trazer uma alternativa, porque, se houvesse uma confiança nas alternativas, não precisaria ir para a rua também, Senador Valadares, deixaria que as oposições cuidassem disso.

            Nós estamos vivendo um momento de descrença e de profundo desencanto e descontentamento. Mas o que a gente viu depois das manifestações foram as ideias do Governo, dizendo que aquelas eram pessoas que já votavam contra a Presidente.

            Não leram as pesquisas, não olharam a cara do povo.

            As pesquisas que estão distribuídas hoje mostram que a oposição ao atual Governo, o descontentamento está em todas as camadas da sociedade, em todas as regiões do País, todas. Em alguns lugares mais, como aqui no Centro-Oeste, em outros lugares menos, mas em todos os lugares o descontentamento é profundo, a desconfiança é imensa.

            O Governo, através dos Ministros que falaram, dá a impressão de que o pessoal não tem razão para ficar descontente com a imensa diferença entre as promessas feitas pelo marketing e a realidade que agora o Ministério tem que fazer.

            Claro que o povo tem razão de estar com raiva das mentiras que foram ditas. É como se o povo não tivesse razão de estar com raiva com a inflação, com o aumento da tarifa de luz, que foi rebaixada por um gesto de marketing e eleitoreiro, do preço dos combustíveis, do desemprego, que cresce, a corrupção e a devastação da Petrobras, Senador Aloysio.

            A gente está tão chocada com a corrupção da Petrobras que não percebe que a devastação nem veio da propina; veio da manipulação dos preços dos combustíveis para poder ganhar a eleição, do corte de verbas na educação depois de dizer que é Pátria educadora, dos equívocos do Fies, do baixo desempenho da nossa educação, da sensação de desamparo, da insegurança, da incerteza, do sentimento de falta de rumo no País.

            O povo tem razão de viver um desencanto, um descontentamento e de sentir um descrédito com todos nós. É assustador perceber que nessa situação de desencanto por um lado e descrença por outro nós caminhamos em uma direção imprevisível.

            Por isso eu creio que nós precisamos levar adiante não é o diálogo que a Presidente fala, mas é o entendimento entre as lideranças deste País. Nós aqui precisamos chegar a um entendimento, mas o entendimento passa por algumas coisas fundamentais.

            Primeiro, o Governo precisa fazer uma análise dos erros cometidos. E não foram erros por acaso. Nós aqui alertamos, os economistas disseram, todos de bom senso avisavam. Foi erro deliberado para poder ter uma eleição garantida.

            Segundo, é preciso mea culpa, é preciso modéstia, é preciso sair da arrogância e dizer: “Erramos, agora o problema está aí. Nós, Governo, criamos. Agora é de todos nós”.

            Terceiro, nós vamos ter que formular uma proposta que não seja apenas de ajuste, mas também olhando para o médio e longo prazo. E aí eu creio que esse ajuste que tem que ser feito, por culpa do Governo, ele tem que seguir alguns princípios, Senadores. Primeiro, tem que ser eficiente, para que os recursos que sejam conseguidos sejam suficientes para cobrir o rombo criado. E aí tem que reduzir gastos.

            Há pouco, o Senador Flexa, falava aqui em reduzir cargos comissionados, reduzir Ministérios. Tem que reduzir gastos.

            Segundo, tem que ser justo. Não pode ser um ajuste que sacrifique os sacrificados como foi a proposta do reajuste do Imposto de Renda, sacrificando os de baixo. Não! Tem que ser sacrificando os que se beneficiaram nesse período todo.

            Terceiro, tem que ter uma estratégia. Não pode ser, Senador Lasier, um ajuste que impeça certos investimentos necessários como na educação, como nos portos, nas estradas. E aí tem que quebrar, tem que quebrar esse preconceito que chega ao fanatismo de ter medo de investimentos privados na construção da infraestrutura neste País.

            Uma abertura do País com regras sérias, com respeito às agências reguladoras permitiria que o Governo levasse adiante um ajuste com estratégia.

            Quarto, precisa ter legitimidade. Legitimidade significa ouvir para chegar a um entendimento.

            E, quinto, precisa ter o tempo. Existem os ajustes bruscos, os ajustes que são feitos de choque e os ajustes graduais, que, ao longo de algum tempo, trazem sacrifícios, mas dentro de uma estratégia de benefícios globais no médio e longo prazo.

            Eu acho, entretanto, Senador, que essa ideia do entendimento, muito mais do que do diálogo, em que Oposição, Governo e Lideranças conversem para definir uma estratégia na qual o ajuste esteja, eu acho que não vai acontecer facilmente se o povo não continuar nas ruas, Senador Telmário.

            Por isso, Senador Aloysio, o que eu quero aqui, Senador Lasier, é fazer um apelo à população: que continue em manifestação. Essas manifestações não podem se repetir apenas a cada tantos meses. Mas, sejamos realistas, não é para o povo ir para as ruas tendo tantas outras coisas para fazer. A gente pode fazer uma manifestação permanente, Senador Valadares, dentro da rotina. Leve seu cartaz de protesto para o trabalho. No ônibus, leve sua panela e faça barulho. Na escola, converse com as pessoas. Vista as camisas de protesto durante o dia a dia. Faça manifestações 24 horas por dia sem quebrar a rotina do seu dia a dia. Além disso, use essa maravilha da modernidade que é a internet. Nós podemos estar em mobilização 24 horas por dia simplesmente usando a maravilha da internet.

            Eu creio, Senador Lasier, que a gente precisa fazer aqui uma vigília permanente, uma vigília permanente da sociedade brasileira com um objetivo: pressionar as lideranças para que se entendam. Quando eu digo lideranças, eu me incluo. Eu e todos nós aqui precisamos que a população nos empurre para que nos encontremos. Uma vigília permanente pelo entendimento, uma vigília permanente da população empurrando o Governo para reconhecer suas falhas, fazer seu mea-culpa, para trazer uma proposta, empurrando a nós, que somos críticos do Governo - e eu aqui alertei muitas vezes o que ia acontecer se continuasse aquele rumo - para que nós nos entendamos.

            Nós precisamos, sim, de um entendimento neste País. Não é apenas um diálogo. Diálogo é uma palavra vazia; entendimento é uma palavra concreta. Essa é a diferença entre diálogo e entendimento. Um entendimento que faça do Brasil um movimento imenso em busca da sua própria salvação.

            É isto, Sr. Presidente, que eu vim trazer aqui: a ideia de que esses movimentos existem pelo descontentamento com o Governo e a descrença conosco, que não estamos no Governo, que vêm querendo, exigindo um entendimento para cobrir o rombo dos equívocos cometidos pelo Governo, mas sem perder o rumo de construção de um país, sem cair numa recessão que nos amarre por muito tempo. E um ajuste que não seja de choque; que seja lento, que seja gradual, capaz de conviver com o futuro. Nem o choque que ameaça o presente, nem o populismo que compromete o futuro.

            E esse entendimento, eu hoje estou descrente de que nós tomaremos a iniciativa por nós próprios de fazer. É o povo que tem que nos empurrar se manifestando. E essa manifestação não pode ser a cada dois meses, a cada um ano, a cada dois anos; tem que ser permanente, dentro da rotina e usando a maravilha da mobilização pelos meios das redes sociais.

            Era isso, Sr. Presidente, que eu tinha para colocar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/03/2015 - Página 357