Discurso durante a 52ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a homenagear os povos indígenas.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a homenagear os povos indígenas.
Publicação
Publicação no DSF de 17/04/2015 - Página 191
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, INDIO, APOIO, LUTA, COMUNIDADE INDIGENA, DEFESA, IMPORTANCIA, OPINIÃO, GRUPO INDIGENA, DEMOCRACIA.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Telmário, eu quero parabenizá-lo por essa solenidade.

            A gente precisa de mais solenidades como essa. (Palmas.)

            Precisamos, além disso, de fazer com que, de repente, fiquem aqui não apenas vocês, no plural, índios, mas precisamos de índios como Senadores, como Deputados, como tivemos o Juruna, do Partido do Telmário, do meu Partido.

            Eu queria ver, Senador, como prova de que o Brasil é um País de povos, e não de um único povo, eu queria me ver aqui, sentado, de paletó e gravata, ao lado de um índio Senador, sem camisa, com direito de vir aqui como ele é. (Palmas.)

            Eu gostaria de ver isso. Isso ia mostrar a cara do Brasil. A cara do Brasil são vocês, somos nós. Essa variedade inteira.

            Mas eu vim aqui, Senador Telmário, porque, quando eu soube do evento que o senhor e o Senador Capiberibe organizaram, pensei em dizer aqui para vocês uma coisa: fui candidato a Presidente da República e fiquei conhecido como o candidato que só falava de educação. Mas, se um dia eu fosse Presidente, eu ia começar o discurso de posse pedindo desculpas. Pedindo desculpas, em nome do Brasil inteiro, a milhões de crianças que não conseguiram concluir o ensino médio, estudar; a milhões de mães que não têm como dar atendimento justo, correto às suas crianças; eu ia pedir desculpas aos velhos sem apoio, sem aposentadoria, mas, sobretudo, eu ia querer pedir desculpas aos povos indígenas pelas maldades que nós, os brancos, cometemos ao longo de 500 anos da nossa história. (Palmas.)

            Um dia, espero que um Presidente da República tenha esse gesto, de pedir desculpa a vocês pela maneira com que vocês e os antepassados de vocês foram tratados para que nós usássemos as terras de vocês para exportar para a Europa e para o Estados Unidos produtos que, às vezes, pouco traz para nós.

            Eu creio que seria pouco um Presidente fazer isso. O Presidente, além de pedir desculpas, tem que, sobretudo, dizer o que ele faria.

            Senador Telmário, três coisas eu creio que um Presidente da República, no Brasil, deveria dizer para vocês. Três. Primeiro, nada será feito sem ouvir vocês. Tudo aquilo que diz respeito a vocês, vocês serão ouvidos. (Palmas.)

            Vamos precisar fazer uma estrada no meio da floresta? Temos que ouvir vocês, que moram lá e que cuidam dela. Nós vamos precisar fazer uma represa para ter energia? Nós temos que ouvir vocês, que vivem daquela terra. (Palmas.)

            Nós temos que ouvir. Nada deve ser imposto.

            Eu sou conhecido como o Senador da educação. Sou contra impor às crianças indígenas a educação que os brancos querem. Nós temos que ouvir vocês, para vocês dizerem em que idioma e como é que deve ser a educação. (Palmas.)

            Segundo ponto: depois de ouvir, é garantir. Garantir os direitos que a própria Constituição já garante, e que nós devemos dar mais. E um desses, o fundamental, é o direito a terra, que é de vocês, e não essa ideia de que índio precisa de um pedacinho de hectare, porque os brancos fazendeiros usam trator, e aí não precisa de muita terra.

            Não, a relação de vocês com a terra é diferente. Por isso, tem que ser grande. Além disso, terra para vocês não é o que para nós outros aqui é capital. Não. Para vocês terra é a mãe, como disse o Yanomami. (Palmas.)

            Nós temos que ouvir vocês. Primeiro, nós temos que garantir os direitos de vocês.

            Terceiro e último, um Presidente da República, um dia, deve dizer que vai, além de ouvir, além de garantir, oferecer a vocês aquilo que vocês querem e de que precisam. (Palmas.)

            Vocês querem um sistema de saúde para aproveitar as vantagens das técnicas, a gente tem que oferecer a vocês. Vocês querem a proteção para que não chegue lá doença que nós brancos estamos levando, vocês têm direito que nós ofereçamos isso. Vocês querem escola de qualidade para os filhos de vocês, iguais às escolas das cidades, vocês querem, nós temos que oferecer a vocês. Nós temos que oferecer aquilo que vocês querem. Nós temos que garantir os direitos e nós temos que ouvir vocês. Três coisas que eu espero que um dia um Presidente da República brasileiro, um homem ou uma mulher, diga para vocês, e diga isso reconhecendo que vocês são povos, vocês não são população, como querem chamar. Cada etnia é um povo e tem direito de ser chamado como povo. (Palmas.)

            Sem deixar de ser brasileiro, mas sem diluir-se, desaparecer, sumir, como se fosse igual. Vocês têm os direitos iguais, mas vocês têm as características de vocês, têm o direito de zelar. Nós temos o direito de ouvir vocês, de garantir os direitos e de oferecer o que vocês querem e precisam.

            Parabéns pela resistência de vocês, pelas posições de vocês. Eu não sou Presidente, mas, mesmo assim, desculpem tudo de errado que nós fizemos na história do Brasil contra os povos de vocês. Desculpem. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/04/2015 - Página 191