Discurso durante a 94ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a homenagear o Sr. Luiz Henrique da Silveira, Senador da República, falecido no dia 10 de maio último, nos termos do Requerimento nº 499/2015.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a homenagear o Sr. Luiz Henrique da Silveira, Senador da República, falecido no dia 10 de maio último, nos termos do Requerimento nº 499/2015.
Publicação
Publicação no DSF de 12/06/2015 - Página 22
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA, EX SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO, POLITICA, SOLICITAÇÃO, NOMEAÇÃO, PREMIO, CIENTISTA, RELEVANCIA, ANO, NOME, EX GOVERNADOR, RENATO ARCHER, EX MINISTRO DE ESTADO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Cara e querida Ivete, caro Cláudio, eu creio que vocês vão entender quando eu disser que, para mim, uma das fragilidades da Língua Portuguesa, e provavelmente de muitas, é que a palavra orfandade é só uma, mas é absolutamente diferente o sentimento de orfandade de um pai em relação ao filho, do filho em relação ao pai, do esposo em relação à esposa e da esposa em relação ao esposo. Deve haver diferentes nuances. E há uma nuance especial para mim: é a orfandade que a gente sente diante daqueles que desaparecem de repente, sem dar tempo de a gente se acostumar com a ideia, Prefeito Udo, de que a pessoa vai desaparecer. Em alguns casos, a gente se prepara - pela idade, por doença -; em alguns, a gente não se prepara. Luiz Henrique é um desses. A palavra orfandade, no caso do desaparecimento dele e de outros que morrem assim de repente, deixa um vazio diferenciado. É um vazio que chegou de repente, com que não deu tempo de a gente se acostumar.

            No caso dele, eu posso citar pelo menos três vazios imensos e mais um que eu sinto pessoalmente.

            Primeiro, é o vazio político, claro. Um homem com a dimensão e o compromisso democrático de Luiz Henrique deixa um vazio aqui dentro. Um homem do diálogo, como ele, deixa um vazio aqui dentro. Um homem que tem um comportamento exemplar na política, ao longo de décadas, deixa um vazio diferente de outros. Por isso, a palavra orfandade tem uma característica especial para ele.

            O outro vazio é a visão estratégica, que é cada vez mais rara na política. Tantos de nós citamos aqui o Balé Bolshoi, e o admiramos pela arte. Eu admiro é a visão estratégica que ele teve, quando, naquele momento, falar em trazer o Balé Bolshoi para fora da Rússia já era uma coisa notável de visão de longo prazo. Para Santa Catarina, para Joinville! Isso é uma visão estratégica, que ele tinha aqui, visão estratégica, Governador e Senador Bornhausen, que fez com que ele fosse aqui um dos políticos mais comprometidos com a ciência e a tecnologia. Daí eu fico feliz de ver a proposta de mudar o nome do campus da Universidade de Joinville para Luiz Henrique, feita pelo Senador Bauer. Ele era um homem que tinha essa preocupação com a ciência e a tecnologia. O Presidente Renan foi muito feliz quando escolheu Luiz Henrique para presidir a Comissão do Futuro e me colocou como Relator, porque Luiz Henrique tinha visão estratégica.

            Caro Presidente Jorge Viana, outro vazio é a amizade. Ele deixa um vazio de amizade aqui dentro, porque aqui nós somos 81 que não nos encontramos. Os que são de fora desta comunidade não sabem como é raro nós nos encontrarmos, não é, Senador Hélio? Salvo nós dois que somos do Distrito Federal. Cada um fica aqui dois, três dias por semana. Não temos tempo de conviver. Com o Luiz Henrique, tínhamos! E com ele, falávamos de música, de arte, do Brasil, de vinho! Ele deixa um vazio na amizade.

            E, no meu caso, especialmente, ele deixa um vazio de um desafio que eu tinha, porque, nessa minha luta, Governador Colombo, pela federalização da educação, eu tinha como desafio conquistar Luiz Henrique - aliás, ele e a Ana Amélia, que são os dois mais municipalistas daqui. No dia em que eu conquistasse o Luiz Henrique para a idéia da federalização da educação, eu ganhava a parada. E eu tentava convencê-lo de que a distribuição do poder entre os Municípios só será possível se distribuirmos o saber, antes do poder, com as crianças. Se nós não distribuímos o saber para todas as crianças, não vamos distribuir o poder para as cidadãs e os cidadãos adultos. Ficou faltando convencer o Luiz Henrique. Eu acho que estávamos indo bem nesse debate, nessa conversa, mas, Ivete, eu vou ficar com o vazio desse desafio.

            Por isso, nós estamos aqui comemorando para tentar preencher o vazio. É isso o que estamos fazendo aqui. A homenagem é uma tentativa de preencher o vazio.

            E fico feliz que o Senador Renan aceitou a sugestão que eu lhe dei de pegarmos a ideia de um prêmio para os três maiores cientistas do Brasil no ano - prêmio que foi a ideia do Luiz Henrique e que ele colocou o nome Prêmio Renato Archer - e a fazermos realidade, com o prêmio se chamando Renato Archer-Luiz Henrique. (Palmas.) Um casamento, a meu ver, perfeito em que o autor da ideia vira um homenageado depois da morte dele, numa tentativa, Senador Dário, de preencher um pouquinho, a cada ano, o vazio que ele nos deixou.

            Por isso, eu espero que esse prêmio rapidamente seja constituído e, a cada ano, Senador Jorge Viana, a gente aqui se lembre de que houve uma figura como essa que ninguém imagina que já não está mais conosco, porque, realmente, ele continua com a gente.

            Era isso, Ivete. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/06/2015 - Página 22