Fala da Presidência durante a 79ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a comemorar o Grito da Terra Brasil, nos termos do Requerimento nº 385 e 517/2015, de autoria do Senador Donizeti Nogueira e outros Senadores.

Autor
Donizeti Nogueira (PT - Partido dos Trabalhadores/TO)
Nome completo: Divino Donizeti Borges Nogueira
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a comemorar o Grito da Terra Brasil, nos termos do Requerimento nº 385 e 517/2015, de autoria do Senador Donizeti Nogueira e outros Senadores.
Publicação
Publicação no DSF de 23/05/2015 - Página 203
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • REGISTRO, INICIO, SESSÃO ESPECIAL, ASSUNTO, HOMENAGEM, MOVIMENTO TRABALHISTA, ZONA RURAL, REIVINDICAÇÃO, MELHORIA, CONDIÇÕES DE TRABALHO, COMENTARIO, HISTORIA, DEFESA, NECESSIDADE, REGULAMENTAÇÃO, CERTIFICADO, PRODUTO AGRICOLA, AGRICULTURA FAMILIAR.

O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Mais uma vez, boa tarde a to-

dos e todas.

    Vamos compor a Mesa desta sessão especial do Senado Federal, destinada a homenagear e comemorar a existência do Grito da Terra Brasil.

Declaro aberta a sessão.

Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Composição da Mesa.

Eu, que já estou aqui, Senador Donizeti Nogueira, PT, de Tocantins, requerente desta sessão.

    Quero convidar o Deputado Federal Zé Carlos, Vice-Líder do PT na Câmara Federal, do PT, do Maranhão. (Palmas.)

Nós convidamos o Sibá Machado, mas ele disse que tinha que ir para o Acre, pois é o nosso Líder lá.

    Eu quero convidar também o Presidente da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agri- cultura), Sr. Alberto Ercílio Broch (Palmas.); convidar também o nosso Vice-Presidente e Secretário de Relações Institucionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Sr. Willian Clementino da Silva Matias - tocantinense (Palmas.); convidar a Secretária Geral da Contag, Srª Dorenice Flor da Cruz (Palmas.); convidar o coordenador do Movimento de Pequenos Agricultores, o Sr. Anderson Amaro (Palmas.); convidar também o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Sr. Igor Felipe dos Santos (Palmas.); e convidar o companheiro Hamilton Pereira, o nosso poeta Pedro Tierra, um dos inspiradores e orientadores dessa luta de longas datas, resistente à ditadura militar (Palmas.).

Podemos nos sentar.

Eu, como estou ainda iniciante neste processo aqui, vou aos poucos seguindo a ordem aqui, para seguirmos. Quero avisar à companheirada que está aqui que esta sessão solene em homenagem ao Grito da Terra

Brasil está sendo transmitida pela TV Senado e também pela Rádio Senado. Então, nos quatro cantos do Brasil, neste momento, deve haver brasileiros e brasileiras nos acompanhando neste momento tão importante aqui.

    Como Presidente da Mesa e requerente, eu vou fazer um breve pronunciamento - o Osni até começou a escrever um roteiro para eu falar, mas, Hamilton, eu resolvi falar sem roteiro e sem discurso, só para falar com a alma e com o coração.

Onde começa essa história para mim, companheiro Alberto? Em 1965, eu morava na roça com os meus pais, que eram meeiros em Minas, e era um ano de eleição. Aí nós fomos convocados para limpar uma área. Viria a patrola da prefeitura para limpar a área, para a gente fazer um campo de futebol, pois no domingo ha- veria uma partida de futebol entre o povo da roça e o povo da cidade. No domingo, veio aquela coisa que, para mim, era muito nova. A única coisa que eu estava vendo ali que eu conhecia mesmo era a pipoca, porque nem futebol eu conhecia direito. Chegou muita gente. Havia carrinho de pipoca, picolé, sorvete. Era o comício de um candidato - eu não me lembro de qual, mas isso é secundário -, era eleição. Olhando tudo aquilo, eu per- guntei para a minha mãe: “Mãe, só o povo da cidade que mexe com esse negócio de política?” E ela me disse: “É, meu filho, aqui só o Sr. Zeca, nosso patrão, que fala isso para nós, que discute conosco isso, que faz política aqui. Nós só vamos lá votar”. E eu disse:“Pois, então, quando eu crescer, vou querer fazer a política dos roceiros”. Dois anos depois, eu fui para a cidade estudar, porque minha mãe era uma pessoa muito determinada e dizia que os filhos tinham de estudar para melhorar de vida. Eu tinha doze anos e meio e fui sozinho para a cidade estudar! De lá, eu fui para a Escola Técnica Agrícola e depois para o norte de Goiás para vender tecnologia para a agricultura, sementes melhoradas de arroz, milho, soja etc. Em 1982, veio a eleição. Eu via aquelas fotogra- fias na televisão, dizendo ex-isso, ex-aquilo, Partido dos Trabalhadores. Eu me vi nesse Partido. Um dia depois da eleição, eu procurei o pessoal do Partido em Gurupi - o meu grande orientador de política em Gurupi é o

Mineirinho, que está vivo até hoje - e entrei para o PT.

Eu trabalhava com grandes negócios na agricultura. Eu estava desatento à questão dos trabalhadores rurais - aquela que é minha origem -, desatento aos conflitos que existiam no campo. Mas eu sou católico, fui militante do movimento da Igreja, do movimento de teatro. E houve uma missa, Hamilton, depois que balea- ram um companheiro nosso da Agropig - entraram na casa dele, em Gurupi, e o balearam -, com Dom Celso, grande companheiro nosso, que Deus já convidou para servir em outro lugar. Ele fez uma missa muito bonita. Então, eu voltei para a questão dessa luta. Talvez os motivos pelos quais eu esteja aqui hoje sejam estes dois fatos na minha vida: 1965 e essa missa com Dom Celso Pereira, que foi Bispo de Porto Nacional e, depois, Bispo de Goiânia - eu acho que ele faleceu em Itumbiara, se não me engano.

Eu estive no sepultamento do Nativo da Natividade lá em Carmo do Rio Verde. Eu encenei uma peça de teatro na missa de sétimo dia do Sebastião Rosa da Paz, junto com um amigo que hoje é Secretário de Cultura de Uruaçu - isso foi lá em Uruaçu. Eu posso dizer que falhei, junto com alguns companheiros, porque nós che- gamos meio dia atrasados. Nós estávamos indo retirar o Padre Josimo do Bico do Papagaio - eu, Neilton Araújo e Osvaldo Alencar, saudoso companheiro nosso que também já faleceu. Quando estávamos em Wanderlân- dia, encontramos a companheira Lurdinha, que foi uma guerreira no Bico do Papagaio, no enfrentamento da violência da polícia e dos pistoleiros - uma ex-freira que era da CPT junto com o Padre Josimo. Nós estávamos indo lá, e, por volta das 15h - ou 14h, não sei -, chegou a notícia de que o Padre Josimo havia sido baleado e, em seguida, veio a notícia de que ele havia falecido. Eu não fui ao sepultamento do Padre Josimo, porque a mim foi dada outra tarefa: a de voltar para Gurupi para levar a Lurdinha, porque a Lurdinha também era jurada de morte e não poderia ir para lá. E eu voltei para Gurupi, viajando quase a noite inteira.

Eu estou contando isso para dizer para os companheiros e para as companheiras que eu chego ao Senado Federal com uma trajetória que tem a ver com essa luta. Eu estive na primeira atividade do Grito da Terra Brasil lá no Tocantins, como estive em outras, não em todas, mas em algumas. Eu estava na fundação da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Tocantins, da CUT e de outros sindicatos.

E eu fiquei muito emocionado só de pensar que podíamos fazer isso aqui hoje. Aí, eu conversei com o Willian, fui lá ao Encontro da Juventude. E aprovamos o requerimento aqui para fazer isso.

Eu acho que, mais do que homenagear os nossos grandes companheiros que já tombaram pela mão vio- lenta, truculenta, do latifúndio, da pistolagem, nós temos que comemorar as conquistas que nós já obtivemos. No ano passado, eu fui visitar aquela turma nossa, Hamilton, na Caravana Encontros pelo Tocantins, fazendo um encontro lá no Bico do Papagaio, aquele pessoal que escorou os pistoleiros lá com os marimbondos. Eles vieram pedir para nós resolvermos um problema para eles que é grave e que é grave para a agricultura fami- liar, que é a certificação dos produtos. Vejam como é: eles conquistaram a terra, trabalharam, agora precisam vender o produto e encontram dificuldade. Vamos resolvendo uma coisa de cada vez; não tem sido possível resolver tudo de uma vez só.

Eu não tenho muito para falar, mas eu sei que o que sustenta um evento deste durante 21 anos é uma coisa que eu aprendi com meu pai e outra que eu aprendi com a vida: que nada vence o trabalho e que a pai- xão move o mundo. Só pessoas apaixonadas podem superar tantos obstáculos, podem resistir aos obstáculos e não desistir, porque não é fácil, os problemas são grandes. Quando somos apaixonados pelos nossos sonhos, pelas nossas ideias, quando somos indignados contra a injustiça e apaixonados pela luta em defesa da justiça, nós seguimos em frente. E é isso o que eu quero fazer.

Eu aprendi com um outro camponês, lá no Bico do Papagaio, que quem entra na luta não se governa. Hoje, ele é professor, já estudou muito. Ele tem uma história bonita. E vejam como eram duras as coisas. Miguel Jovino era professor de uma escola e se filiou no PT. Nós resolvemos lançá-lo como candidato, e, como não havia outro professor e tinham de mandá-lo embora, fecharam a escola e deixaram os meninos sem aula. Eu pergun- tei: “Miguel, o que você está fazendo?” Ele disse: “Companheiro, é porque quem entra na luta não se governa”.

Hoje, no momento em que o nosso País precisa de ousadia e de competência, eu não estou preocupado com a crise. Não é com isso que eu estou preocupado. Estou preocupado se nós estamos preparados para per- ceber a oportunidade que temos de fazer o nosso País dar um salto muito maior do que o que conseguimos fazer nesses últimos 12 anos, companheiro Zé Carlos. Nós estamos precisando - e eu disse aqui na reunião com os governadores - não é resolver as urgências só. Temos de resolver as urgências, mas temos de pensar o nosso País para, pelo menos, mais 20 ou 30 anos. E aí precisamos de uma reforma estrutural, de um novo pacto de Nação, de um Pacto Federativo em que respondamos as seguintes perguntas: que País queremos construir nesses próximos 20 anos? Quanto ele custa e quem vai pagar a conta? Se não respondermos essas perguntas e não tomarmos as decisões certas, vamos ficar sempre tomando medidas paliativas, como as que, nesta Casa,

eu tenho acompanhado. Resolvemos muito aqui o urgente, mas não resolvemos o mais importante.

Termino as minhas palavras dizendo que não há outra coisa a fazer senão agradecer a oportunidade

que estou tendo aqui hoje, companheiro Alberto e minha companheira Vice-Presidente. É muito grande para mim e me dá uma felicidade tão grande que me emociona poder fazer o que estou fazendo aqui hoje: o filho da Dona Nina e do seu Geraldo, trabalhadores rurais, estar aqui no Senado hoje, presidindo uma sessão em homenagem aos lutadores e lutadoras da Terra Brasil (Palmas.).

Quero terminar agradecendo esta oportunidade, porque ela é muito grande e muito valiosa para mim.

    Espero estar à altura dos desafios que o País tem e das expectativas que as pessoas alimentam em torno dessa possibilidade do mandato de Senador em que estou.

    Eu poderia desistir da política, porque acho que muita coisa já foi feita. Para mim, a função do PT, o ob- jetivo do PT, que é o Partido ao qual pertenço - e tenho orgulho de ser petista -, é emancipar o povo brasi- leiro. Para isso, ele precisa governar, porque vamos emancipar o povo brasileiro a cada dia na medida em que reduzirmos as desigualdades sociais. Sem isso, não haverá emancipação. E o povo emancipado, certamente, saberá planejar melhor seu futuro.

Um beijo no coração de cada uma e de cada um, um abraço na alma de todos! Viva o Grito da Terra Brasil! (Palmas.)

Quero agradecer a presença de algumas pessoas que estão aqui conosco. Agradeço ao Sr. Francisco Urbano, ex-Presidente da Contag. (Palmas.) Muito nos honra, Sr. Francisco, a sua presença aqui.

    Quero agradecer a presença do meu companheiro Sóter, o homem das rádios comunitárias, que tanto tem trabalhado para esse movimento. (Palmas.)

Agradeço a presença do meu companheiro Roberval, que é Superintendente do Incra do Tocantins. Obrigado por sua presença aqui. (Palmas.)

Agradeço ao companheiro Líbio, que é servidor de carreira do Incra, que está aqui, em Brasília. Muito obrigado pela presença. (Palmas.)

À medida que forem falando aqui, vou agradecendo a participação das pessoas.

Vamos agora ouvir o companheiro Hamilton Pereira. Depois vamos ouvir os demais oradores.

    Companheiro Hamilton Pereira, você tem o tempo de até 20 minutos para dar aquelas aulas que você dá com o coração e com a alma para nós.

Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/05/2015 - Página 203