Discurso durante a 103ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas aos agentes políticos por supostamente não apresentarem ideias novas para resolver os problemas do País.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas aos agentes políticos por supostamente não apresentarem ideias novas para resolver os problemas do País.
Aparteantes
Blairo Maggi, Telmário Mota.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2015 - Página 157
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, GESTÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), COMENTARIO, AUSENCIA, PAUTA, DEBATE, ASSUNTO, CRISE, ATIVIDADE POLITICA, DEFESA, NECESSIDADE, REFORMULAÇÃO, ATUAÇÃO, OBJETIVO, MELHORIA, SITUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, o que me traz aqui é a surpresa de ler os jornais no sábado e domingo e ver declarações do Presidente Lula com uma força tão grande contra o atual Governo que, às vezes, nem a oposição faz esse tipo de discurso. Por exemplo, raramente eu ouvi aqui um Senador da oposição usar o verbo mentir em relação à Presidente da República. Já ouvi "enganar", já ouvi falar "para ganhar a eleição", já ouvi até “não disse a verdade”, mas "mentir" eu confesso que eu não tinha escutado, que eu lembre. E o Presidente disse isso, disse que a Presidente mentiu ao dizer que não faria ajuste, que mentiu ao dizer que não tiraria direito dos trabalhadores.

            Eu fiquei surpreso ao ouvi-lo dizer que a Presidente errou, embora errar seja um verbo que não tem característica moral, tem característica da lógica.

            Não é indecente quem erra, de maneira alguma. Mas eu nunca tinha escutado, dentro do PT, aqui dentro, alguém dizer isso. Ao contrário, esconde-se que houve, sim, erros graves na condução da economia.

            Eu vi nos jornais, Senador Ferraço, o Presidente Lula dizer que o Governo está sem rumo. Muitos dizem isso, mas não vejo, na base do Governo, pessoas falarem com tanta clareza que o Governo está sem rumo. E também improvisar. Isso eu próprio já disse aqui muitas vezes: esse é o Governo da improvisação! Improvisou quando cometeu as pedaladas. Improvisou quando fez as desonerações além do possível. Está improvisando com as medidas provisórias do ajuste. Está improvisando até mesmo quando veta o fim do fator previdenciário, porque, de fato, vai ser difícil eliminar o fator previdenciário. Mas a maneira como foi feita, foi também uma improvisação. Mas eu não vou me apegar a nada disso, Senador Telmário, nem ao fato de o Presidente dizer que a Presidente mentiu, errou, não tem rumo, improvisou. Eu vou me apegar e analisar quando ele diz que a Presidente não vai à rua e que está muda.

            Eu quero dizer que, em primeiro lugar, ela não vai à rua porque não tem o que dizer. E ela não tem o que dizer porque está muda do ponto de vista das cordas vocais; está muda do ponto de vista da mentalidade do Governo. Há uma crise de propostas, então o silêncio não vem da mudez, vem da falta de juízo, de clareza, de proposta. E aí o Presidente Lula tem que assumir que a culpa é dele também e que é do PT e que é das esquerdas em geral e que é do Partido do Senador Telmário e meu e de todos nós. Nós estamos mudos! As esquerdas neste País estão mudas por falta do que dizer com clareza.

            Basta falar que, em um encontro recente em Salvador, quem dizia coisa nova, Senador Ferraço, é porque dizia: "Nós queremos uma volta às posições da esquerda". Há uma contradição! Volta não pode ser esquerda; esquerda é avanço em direção a alguma coisa nova. E aqueles que criticaram, em Salvador, a postura do Governo, não foi propondo nada novo, foi querendo voltar ao velho. Por exemplo, querendo voltar à irresponsabilidade fiscal.

            Não se pode voltar à irresponsabilidade fiscal, voltar ao desprezo do compromisso com a estabilidade monetária. Essa é uma volta a um passado superado, que nós não podemos deixar que volte.

            A crise de mudez, no sentido da falta de ideias, Senador Ataídes, é muito mais profunda do que apenas a do Governo, embora o Governo seja mais responsável ainda. O que a gente viu é, por exemplo, proporem voltar ao Estado, em vez de avançar ao público. Estado não é sinônimo de público mais, nem privado é sinônimo de antipovo. Nós temos que trazer um discurso novo, da defesa do público em mãos privadas ou em mãos estatais. Agora, só pode se chamar de público um hospital estatal que funcione bem, senão não é público, é estatal. Um hospital que pertence aos seus médicos, que, em geral, nem trabalham como deveriam não é público, é estatal. Apropriaram-se do Estado, e não servem ao público.

            Essa esquerda que criticou querendo voltar ao passado é velha, é superada, é antipovo, não é contemporânea, não está sintonizada com o novo. Por isso está muda. Está muda não porque as cordas vocais não funcionem, mas porque a cabeça não funciona. Está muda não é por um problema de fonoaudiologia; é por um problema de neurologia. Estado não é sinônimo de público. Nisso eu queria ver o avanço.

            Prometem voltar ao consumo desvairado. Não tem como mais continuar crescendo esse consumo desvairado de vender mais automóveis do que é possível colocar nas ruas, exigindo desonerações maiores do que o Estado pode bancar, exigindo e condenando nossas classes médias baixas a um endividamento que não vão conseguir pagar. Esgotou-se esse modelo.

            Nós estamos mudos, porque não estamos dizendo o novo, cujo propósito não é mais necessariamente o aumento do consumo, mas o aumento do bem-estar; não é ter um carro para cada um, porque não tem como colocar na rua, mas ter um sistema de transporte público eficiente para todos.

            Esse discurso do novo não está vindo. Aí fica-se mudo. O Governo está mudo porque não é capaz de trazer a novidade, a novidade de que o que realmente vai definir, daqui para a frente, um bom sistema social e econômico é o bem-estar; não é necessariamente o PIB e o consumo. Aliás, se quisessem ter o que dizer, bastava ler a encíclica papal nova, que diz com clareza que até mesmo o decrescimento pode ser necessário no caso de alguns produtos.

            A revista The Economist deste semana, que aliás cita o Senador Blairo - não sei se teve curiosidade de ver e se soube que a revista cita o senhor, e muito bem -, lembra que o Papa está trazendo uma dimensão nova. Olhe que eu estou falando da revista The Economist. E cita o senhor como um dos católicos que nós temos aqui - e todos sabemos que é. A Presidente devia ler mais. A esquerda precisa ler, sim, a encíclica do Papa, como, em 1891, se leu a Rerum Novarum do Papa Leão XIII. Está na hora de ler agora a do Papa Francisco, em que ele cita os limites ao crescimento, a necessidade do bem-estar.

            É preciso que a gente saia da simples defesa dos direitos dos trabalhadores para a proposição de novos direitos, porque alguns ficaram caducos, Senador Férrer. A gente tem que ter coragem de dizer isso. Não é mais de esquerda defender os direitos trabalhistas de 80 anos atrás. É, sim, de esquerda defender os direitos trabalhistas dos próximos 80 anos, que vão ser diferentes. Não é mais a mesma coisa! Aí a gente fica mudo. A gente fica mudo porque está querendo defender as coisas antigas, velhas, passadas, e não as coisas novas, do futuro, inclusive o tipo de direito dos trabalhadores.

            Nós estamos mudos, porque ainda temos uma parcela grande das forças chamadas progressistas que acreditam em fazer economia com mágica, acreditam na magia fiscal. Eu nem estou falando da pedalada nem das operações de manipulação das contas. Não! Não estou falando desse lado. Estou falando da magia de que o dinheiro aparece, de que não há limites orçamentários, Senador Wellington. Há limites orçamentários! E propor coisas além dos limites orçamentários é acreditar em magia, e não em aritmética.

            A esquerda, daqui para a frente, as forças progressistas têm que trazer a ética dos direitos trabalhistas, a ética dos direitos previdenciários, a ética do bem-estar, sem abrir mão da aritmética financeira.

            E estão querendo abrir mão. Os críticos do Governo, em vez de criticar porque o Governo ficou atrasado, conservador, estão criticando porque não está voltando a coisas do passado. Temos que dar um salto do vale-tudo para o respeito à verdade. Isso a gente não vê o Presidente Lula falar. Ele disse que a Presidente mentiu, mas ele não disse quem tem que sair do vale-tudo para o respeito à verdade. Ele, certamente, na campanha do próximo ano, vai continuar usando o vale-tudo - e veio do compromisso com a verdade.

            A Presidente está muda - como diz o Lula, não sou eu -, porque não tem como dizer que tem um compromisso e um respeito à verdade. Ela mesma disse na campanha que em eleição vale tudo. Como é que ela vai mudar agora? Por isso está muda, presidente Lula. E ela vir para dizer outra vez que vale tudo? Ela vir para dizer outra vez que em eleição tudo é permitido, como disse faz poucos meses? O povo não vai querer ouvir. Por isso está muda.

            É preciso, e aqui é importante, Senador Telmário e Senador Blairo, é preciso sair do Estado proprietário, que caracterizou o discurso dos anos 50 a 60, para o Estado distributivo. Mas é preciso sair do Estado assistencialista para o Estado transformador, sabendo, inclusive, os seus limites, deixando ao setor privado a ação nas áreas de dinâmica econômica, um belo gesto, aliás, que a Presidente fez ao lançar, há uma ou duas semanas, um programa intenso, de 49 bilhões, para parcerias público-privadas na infraestrutura. Isso é preciso fazer. Ela não ficou muda nesse minuto, mas ela o fez de uma maneira inconsequente. Desculpe, não inconsequente. Inconsistente com o resto do discurso. Inconsistente com o discurso do seu partido. Inconsistente com o discurso do Presidente Lula, que quer que ela venha para a rua dizer as mesmas coisas do passado: que esta forma de privatização nesses setores é um atraso.

            Isso não é atraso. Atraso é abandonar a educação, como ela fez ao cortar 9,4 bilhões da educação. Isso, sim, é atraso, porque este é o papel do Estado: educação, saúde, segurança. Não necessariamente estradas, portos, aeroportos. Dá para o setor privado fazer isso.

            Um Estado que seja distributivo, que seja regulador e que não seja assistencialista, mas que seja transformador. E aí talvez o Presidente Lula não queira dizer: o principal mal do PT, nos últimos anos, é que perdeu, Senador Lindbergh, a capacidade de ter vigor transformador, é que se acostumou. E ao se acostumar se acomodou. Acomodar é um verbo irmão de acostumar. Quem se acostuma se acomoda. Quem se acomoda se acostuma. O PT se acostumou com o poder e os nossos partidos, também, Senador Telmário, inclusive o meu. Nós nos acostumamos a ter um cargo no Governo, aí nos acomodamos, perdemos o vigor transformador e, além disso, o rigor ético. Perdemos vigor transformador e rigor ético.

            Isso a Presidente não pode vir dizer, por isso ela está muda, Presidente Lula. O senhor cobra que ela fale para dizer as mesmas coisas do passado ou para vir dizer que este País precisa se transformar e que, para se transformar, precisa ter saúde, educação para todos? E não necessariamente as velhas ações do passado.

            Nós estamos mudos por falta de discurso e não por falta de cordas vocais.

            Dois Senadores, Senador Telmário e Senador Blairo, pediram para me dar um aparte, o que muito me honra.

            O Sr. Telmário Mota (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Senador Cristovam, V. Exª traz a esta tribuna, sem nenhuma dúvida, uma reflexão da fala do ex-Presidente Lula. No entanto, eu acho que a questão da Presidenta... A pressa de pensar no próximo pleito eleitoral, acho que estão antecipando os fatos. A verdade é essa. Já começa uma carreira pela próxima disputa à Presidência da República. Fica a oposição numa batida morna, sem criatividade, sem proposição. E o Presidente Lula, talvez aflito em ver uma rápida recuperação da imagem e da popularidade da Presidenta. Esse é o grande foco. E a Presidenta não está neste momento, talvez pela pressão que existe... É claro, nenhum político quer viver com baixa popularidade. Você precisa do apoio popular, até para tomar as suas decisões. Mas esta Casa tem colaborado com o Governo no sentido de acatar as proposições aí colocadas e buscando, com certeza, o desenvolvimento, a recuperação, a reestruturação e, sobretudo, o bom desempenho da economia brasileira. E, segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, citados num fórum que acontece todo ano em Paris, a previsão da economia da América Latina é perder potência, e o crescimento será de 1%. Isso engloba vários países. Lamentavelmente, não é só uma peculiaridade do Brasil. Mas eu acho que a Presidenta tem tomado algumas medidas, embora haja essa crise econômica, para colocar um pouco do que V. Exª propôs, que é colocar a economia na mão da iniciativa privada. Tivemos o Plano Safra para o agronegócio com um aumento de 20%, muito presenciado o lançamento por vários produtores, e abrindo aí uma grande expectativa. Tivemos, na sexta-feira, o lançamento do microempreendedor, que gera emprego, tira a pessoa da cesta básica, coloca a pessoa no empreendedorismo. É importante isso. E hoje, para mim, ela tomou uma das melhores medidas. Talvez mais tarde V. Exª vai tomar conhecimento do Plano Safra da Agricultura Familiar também com 20% de aumento, que vai, sem dúvida alguma, alavancar, tirar a agricultura familiar da subsistência para uma agricultura familiar de produção, uma agricultura familiar que possa vir ajudar o Estado, inclusive designando recursos que hoje o Estado gasta com educação, com presídio, com uma série de coisas, com um percentual para fortalecer a economia, com financiamento, com seguro de prejuízo, dando outra roupagem à agricultura familiar. Não vai ser aquela agricultura familiar da cesta básica, do assistencialismo, da subsistência, mas uma agricultura familiar que realmente venha somar com a produção brasileira, com o grande negócio brasileiro. Eu acho que a Presidenta... E uma das críticas, por exemplo, desse fórum é que a América Latina e o Brasil especialmente precisam investir em infraestrutura. E essa parceria foi lançada. Essa ferrovia que eu acredito possa vir a acontecer são R$40 bilhões. E, daí por diante, eu acho que o Brasil pode realmente, com essa recuperação de portos, aeroportos, estradas, ferrovias... Eu acho que isso vai trazer, naturalmente, a Presidenta para o meio do povo. Acho que, no momento, ela... Eu discordo do Presidente Lula, acho que ela não precisa estar na rua falando nada. Agora, é preciso reproduzir os fatos. E hoje, por exemplo, vi isso no Patrus Ananias. Ele destacou, com muita propriedade, que tudo isso é uma política da própria Presidenta. Quero até parabenizá-lo e vou amanhã falar sobre esse projeto, que eu acho é um projeto que atinge principalmente o meu eleitorado, alavanca o homem do campo e proporciona, sem nenhuma dúvida, a isonomia, a soberania, principalmente da alimentação do povo brasileiro. Então, eu acho que a colocação de V. Exª não é para a gente ir para a rua fazer campanha para levantar a popularidade, mas ações positivas que possam colocar o Brasil na esperança e, sem nenhuma dúvida, no sonho do povo brasileiro. Parabéns a V. Exª.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito bem, Senador. Eu também estou de acordo. Não é para falar buscando popularidade; é criando esperança, porque a estamos perdendo.

            E eu sugiro que V. Exª diga ao Presidente Lula essas coisas, porque ele não está sabendo, porque o discurso dele é de que... Aliás, ele diz, entre aspas: "Não houve uma notícia boa do Governo nesse segundo mandato inteiro".

            Mas eu passo a palavra ao Senador Blairo.

            O Sr. Blairo Maggi (Bloco União e Força/PR - MT) - Muito obrigado, Senador Cristovam. Quero cumprimentá-lo pelo pronunciamento que V. Exª faz na tarde de hoje e que passa por vários assuntos. O que me chama a atenção é quando V. Exª diz que tanto a esquerda quanto a direita ou o centro - na verdade, todos - querem conduzir o País para algum lugar. E algumas políticas, quando são implementadas e não são recalibradas ao longo do tempo, podem trazer grandes problemas para as contas públicas, para um País. Nos últimos anos, o Governo tem se preocupado muito com os programas sociais, tem ampliado os programas sociais. Não sou contra os programas sociais. Inclusive, quando Governador do Estado, a minha esposa, Terezinha, comandou a Secretaria de Trabalho, Emprego e Cidadania, e, junto com o Governo Federal, houve várias parcerias. E víamos nitidamente que aquilo mudava a vida das pessoas de um dia para o outro quando elas estavam ali inseridas; dessa forma, elas poderiam continuar crescendo e até sair dos programas sociais. Então, não é uma reclamação nesse sentido. Mas, dentro da sua fala, para mim, o que fica nítido é que o País precisa ser olhado como um todo, e não preferencialmente para um lado. Nós precisamos também dos empresários, nós precisamos das empresas porque, no fundo, no fundo, no final do mês, no final do ano, quem coloca os milhões, os bilhões de reais nos cofres públicos são as empresas, que geram empregos, que pagam salários, e isso vem acabar sendo do cofre do governo estadual, municipal e federal. Então, o que eu tenho sentido, Senador Cristovam, é que, nos últimos anos, o Congresso e o próprio Governo têm feito um ataque sistemático contra os geradores de riqueza neste País, a ponto de muitos empresários já preferirem parar as suas atividades no Brasil, transferindo-as, quando podem, para outro país onde impere o bom senso na legislação e na burocracia. E, infelizmente, no Brasil, estamos assistindo, a cada dia, ao Governo achando que as empresas vão salvar o País. Isso tem limites. Tem limites. Se nós não soubermos estancar essa sangria e cuidar disso, nós não teremos programas sociais no futuro, nós não teremos recursos, nós não teremos capacidade de distribuir. Não há como distribuir riqueza se a riqueza não existir! Então, eu percebo, em seu discurso, V. Exª chamando a atenção nessa linha, falando um pouco de política, mas um pouco de gestão, um pouco de responsabilidade fiscal. E é esse ponto que eu gostaria de ressaltar da sua fala, porque eu entendo isso também. Meu discurso, que farei daqui a pouco, também será nessa linha da responsabilidade fiscal. Mas fico muito preocupado com o nosso País quando nós perdemos a visão do macro, do todo. Nós temos que olhar a floresta como um todo, e não uma única árvore, porque a visão é muito diferente quando olhamos só uma árvore ou quando entendemos a floresta como um todo. Então, quero cumprimentar V. Exª, só fazendo esse registro de que o seu discurso é importante, chamando a atenção para a política, mas chamando a atenção também para a economia e para os rumos da economia do nosso País. Muito obrigado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador. Eu creio que essa ideia do empresariado merece uma análise, que eu procuro colocar na mesma ênfase de todas as outras análises.

            Este País, aliás, nenhum país pode desperdiçar energia. A capacidade empresarial é uma energia que a gente precisa utilizar. Quando eu luto para que este País não tenha analfabetos, pessoas vivendo no analfabetismo, é para que, através do letramento, a energia dessas pessoas fique em condições melhores de uso. A mesma coisa é um empresário quando tem sua energia liberada, e não tolhida.

            Nós estamos em tempo de falar do passado, e não do futuro. Por que o discurso do Senador Raupp aqui, agora há pouco, foi bom? Porque falou do futuro, não falou do passado. Mas a fala do Presidente Lula contra a Presidenta Dilma - que o Senador Telmário aqui acaba de trazer para uma posição melhor - é a tentativa de fazer ir para o passado, e não para o futuro. A minha crítica é porque ela está no presente, ela foi culpada, ela é responsável pela crise que nós vivemos.

            A gente tem de ir adiante. E a capacidade empresarial tem de ser incentivada, liberada, e não tolhida, como a capacidade de cada criança deste País de construir o futuro através de sua educação.

            E aí vem outro ponto, desses que eu estou colocando, Senador Ferraço, entre a esquerda velha e a futura: temos de sair da luta de classes para a busca da harmonia no País; a harmonia entre as pessoas e a harmonia das pessoas com a natureza através do meio ambiente. Nós precisamos sair do sindicato para o povo. Nossas forças ditas progressistas ainda estão muito prisioneiras de atender às reivindicações sindicais - e a gente vê isso aqui em cima a todo tempo: o povo não entra aqui; entra uma parcelazinha, que é a parcela sindical.

            O discurso tem de ser mais amplo! Lamentavelmente, a esquerda foi assassinada pelos partidos ditos de esquerda: PT, PDT, PCdoB... Nós estamos assassinando a esquerda como sonho, como proposta, como novidade, como futuro, não como aquilo que se dizia, no passado, doutrinariamente. Estamos perdendo, e o que está crescendo são as forças ditas conservadoras, as forças de direita: nos costumes, nas propostas, no egoísmo. Nós precisamos dar uma volta nesse sentido. A esquerda está sendo assassinada pelo sopro do vento dos erros do Governo atual e da incapacidade nossa de oferecer alternativas que o povo cumpra, goste, aceite, defenda, porque proposta até que a gente tem, mas fica no mundo intelectual, fica na filosofia, fica na poesia, não chega na política.

            Aí, a gente pode ter até profetas, mas não tem estadistas, porque a diferença entre um e outro é que o estadista constrói, a partir de algumas profecias, uma base de apoio para fazer as mudanças que levam a seus sonhos. Está faltando isso. Está faltando, e, lamentavelmente, o discurso do Presidente Lula não ajuda em nada isso. Ajuda numa autocrítica - se fosse autocrítica -, mas ele não fez autocrítica; ele fez crítica do Governo, crítica da Presidente, que eu também faço aqui, sim, mas estou fazendo também uma autocrítica: ponho-me junto a esses que estamos todos errando, sem trazer uma proposta nova que desperte o povo, que traga esperança para os jovens e que construa um novo Brasil.

            Estamos deixando que o velho vá continuando sem trazer as novidades que um país precisa para ser novo e servir às novas gerações.

            Concluindo, queria dizer que, enquanto o Senador Telmário falava, eu me lembrei de que houve um Primeiro Ministro na Inglaterra, Harold Wilson, que saiu do governo e voltou, Senador Ferraço. Ele foi reeleito anos depois de ter saído. No entanto, 18 meses depois de ter assumido, ele renunciou. E o argumento dele: "Meu discurso está velho" - ele disse. "Estou no governo hoje falando e propondo as coisas do meu governo de dez anos atrás. Não mereço continuar". E saiu. O nome dele era Harold Wilson.

            Está faltando isso. E não só de quem está no governo, mas de quem saiu do governo e de quem pensa um dia ser governo neste País. É preciso dizer "o meu discurso está na frente", como o Papa Francisco está fazendo com a sua encíclica. Ele está trazendo o novo. Nós estamos com o discurso velho, antigo e superado, que causou esta crise e que não vai nos tirar da crise.

            É isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2015 - Página 157